Megaman 9

Capítulo 13


O outro dia veio tão rápido pra mim quanto qualquer outro, eu não sonhava como seres humanos, mesmo tendo uma parte humana, então dormir pra mim se resumia a me desligar por um tempo e me religar logo em seguida, as vezes era tão veloz quanto um segundo, abaixar a cabeça no travesseiro e se levantar logo depois. Outras vezes era como ficar por um tempo no escuro, e as vezes, havia até mesmo alguns traços de cores, que eu achava serem tentativas patéticas do meu cérebro de sonhar.

O diferente foi que, daquela vez, eu acordei sozinho, novamente na minha forma humana, e havia sangue no colchão da Ryuko.

Fiquei dois segundos estático no lugar, até disparar pra fora do quarto direto para o corredor e então a sala de jantar dos Mankanshoku, onde a família se reunia pra jantar todas as noites. Eu esperava ver o lugar meio destruído, mas estavam todos na mesa, calmamente sentados lá como se não houvesse nada de errado no mundo, devorando uma bacia gigantesca de croquetes. Duas cosias passaram pela minha cabeça ao mesmo tempo, enquanto os integrantes da família adotiva da minha usuária olhavam corados pra minha nudez aparente.

Primeiro: A Ryuko tinha sido ferida, talvez sequestrada, e de alguma forma, ninguém tinha notado isso.

Segundo: Aquela gente só comia croquetes todo dia?! Isso era mesmo possível?!

Bem... eu só bebia sangue, então devia ser... De alguma forma estranha.

Não dei um segundo pensamento antes de disparar pra porta da frente, francamente, desesperado. Se tivesse ficado ali mais dois minutos, teria visto uma Ryuko mal-humorada saindo do banheiro.

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–Ne... Obaa-san, a senhora viu o Senketsu em algum lugar? – Ryuko perguntou, após reunir os lençóis sujos e insistir que ia lava-los ela mesma.

–O seu uniforme ou seu namorado?

Ela praguejou algo baixinho, ainda corada.

–Qualquer um dos dois...

–Bem... O seu namorado apareceu tem uns dez minutos na mesa do café, ele parecia meio nervoso – Sukuyo puxou Ryuko pra um abraço, por algum motivo – Eu estou tão feliz por você Ryuko-chan, seu namorado é muito bem dotado.

Ela apenas fritou em vermelho mais uma vez.

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Eu era uma roupa, portanto, estar sem roupa não queria dizer muito pra mim. Normalmente era eu que cobria a forma nua da minha usuária, não tinha nada pra ser colocado por cima de mim, portanto, enquanto corria pro único lugar que sabia que poderia obter respostas, eu não pensei nem um segundo que aquela coisa balançando entre minhas pernas era o que estava causando a comoção geral por onde eu passava.

–Vai se vestir! Seu pervertido!

–Não apareça na frente da minha família assim!

–Mamãe, o que é aquela coisa no lugar da piriquita dele?!

–Por favor, seja meu namorado!

Esses gritos e vários outros ficaram apenas em segundo plano pra mim, e sem paciência de pegar o bondinho, subi pela janela com um pulo, começando a correr por cima das cordas. Não levou muito tempo, e eu estava na academia, e tinha pelo menos um milhão – ok, nem tantos – de alunos olhando pra mim estarrecidos.

–KITIYUIN SATSUKI! ONDE ELA ESTA?!

Ela olhou pra mim com uma sobrancelha franzida, mas acabou dando as costas como algo sem importância. Mordi o lábio, pulando do muro e correndo na direção na torre. Cinco alunos de uma estrela pararam na minha frente, mas os tirei dali cada um com um soco, sem nem prestar atenção na forma como eles voaram pra longe. Os próximos foram duas estrelas, mas um soco também foi mais do que suficiente pra manda-los pra longe, capotando no chão até encontrar algo, seja um muro ou um grupo de pessoas, e derruba-los como se fossem pinos de boliche.

Por fim, o próprio presidente do comitê disciplinar ficou na minha frente, com o porte altivo como sempre e suas três estrelas cintilando em vermelho no peito do uniforme.

–Eu não sei quem é você... – Ira disse, não parecendo exatamente zangado, mas ainda gritando – Mas pessoas sem vergonha que não tem a decência de por uma roupa não merecem se dirigir a Satsuki-sa...

Apoiei as mãos no chão, e virei um chute de calcanhar bem no seu queixo. Foi preciso me esticar todo pra alcançar sua altura elevada, mas no final ele caiu de costas, apagado e com sangue manchando o seu peito. Não me preocupei que tinha tirado do ar um dos Quatro de Elite com um único chute, eu estava meio que desesperado e carregando uma quantidade extra de sangue nos meus golpes.

Satsuki, lá de cima, ao ver um dos seus generais ser derrotado por um único chute, arregalou muito levemente os olhos. Parou os outros três de pular pra cima de mim.

–Você! Estranho! – ela apontou pra mim – O que você quer?

Não soube dizer exatamente como, mas em um segundo, eu estava cara a cara com ela, surpreendendo todos os seus soldados.

–Ryuko... Onde ela esta? – eu sussurrei minha voz tremida na garganta, pra conter um grito de raiva – O que você fez com ela?

–Matoi Ryuko...? – Ela me encarou de volta, parada no lugar. Tinha que reconhecer isso, aquela garota tinha uma vontade de ferro, só o chi que estava involuntariamente escapando do meu corpo já tinha botado os Um estrela de rank baixo de joelhos, e os dois estrelas estavam ofegantes. Mesmo seus generais pareciam sentir a intenção assassina sanguinária, mas eles não recuaram – Eu não sei nada dela.

–Não minha pra mim! – A peguei pelo colarinho, a puxando até que nossas testas estivessem se tocando – Depois que te derrotamos você tinha a obrigação de nos contar a verdade, eu aposto que você organizou uma forma de sequestra-la pra não ter que se rebaixar a isso!

–Espere... nós?! – ela pareceu meio distraída – Você não poderia ser...

–Ela até me disse que não achava que você era desse tipo, mas agora eu tenho certeza – não notei o fluxo de sangue na minha boca, enquanto mordia o lábio pra não gritar. Eu não acho que já tinha ficado tão zangado na minha vida – Foi você que matou Matoi Isshin, não?! Onde esta a sua outra metade da Scisor-Blade?!

–Você não poderia ser... – a voz dela estava baixa, quase sussurrante, suas feições surpresas – Senketsu?

Apenas cerrei os olhos mais ainda. Satsuki ficou com a expressão confusa por um segundo, até voltar a sua pose naturalmente séria e meio esnobe. Ela acertou um tapa na minha mão no seu colarinho, e deu as costas. Antes que eu pudesse avançar de novo, ela disse.

–Me acompanhe...

Eu não sabia muito sobre seres humanos, e talvez exatamente por isso, era mais intuitivo em relação a eles. Foi por isso que beijei Ryuko na noite passada, e acho que foi por isso que segui Satsuki em silêncio, enquanto ela dispensava mesmo seus quatro generais, e me levava até um lugar que, eu suspeitava, ser a sala de reuniões dela e do seu círculo íntimo.

Assim que ela fechou a porta atrás de si, voltou-se pra mim, me fuzilando com o olhar.

–Prove.

Levantei a única sobrancelha a mostra pra ela.

–Prove que você é quem diz ser.

Acabei sorrindo com isso, e o meu braço direito virou tecido novamente, antes de voltar a forma humana nua. Satsuki caiu sentada numa cadeira parecendo, e eu nunca achei que fosse ver isso no rosto dela, completamente perdida consigo mesmo. Só durou alguns momentos, no entanto, e ela apertou um botão na base da sua cadeira.

–Soroi, me traga um pouco de chá, e... – ela olhou de esguelha pra mim, antes de abaixar o rosto. Não sei se foi um truque de luz da sala, mas podia jurar que ela tinha uma camada muito leve de rosa nas bochechas – Uma calça.

O mordomo apareceu menos de um minuto depois, empurrando um carrinho com um bule e duas xícaras decoradas, e nos braços um pedaço de tecido dobrado, que ele entregou pra mim com uma reverência muito educada. Olhei do tecido pra ela, sem entender nada.

–Se cubra... por favor...

Só então saquei o que ela quis dizer, e acabei ruborizando um pouco enquanto abotoava a calça jeans na minha cintura. Usar roupas era... tão estranho. Me sentei novamente.

–Onde ela esta?

–Eu não estou com ela, eu queria perguntar...

–Não quero saber o que você queria perguntar, Kiriyuin Satsuki – aquela lenga-lenga já estava me chateando – Onde esta a Ryuko, eu sei que ela esta com você.

–Ela não esta comigo, Senketsu.

–Isso é impossível! – me levantei, irritado – Quando eu acordei tinha sangue no colchão dela então é óbvio que ela foi raptada e ferida enquanto dormia, e se não foi por você, por quem seria?!

Não esperava por isso, mas o rosto dela ruborizou, dessa vez de verdade mesmo.

–Você disse que tinha sangue no colchão dela?

–É!

Até mesmo o mordomo olhou pra outra direção, meio corado. Não entendi que tipo de reação era aquela, uma pessoa sangra no lugar onde dorme e todos ficam constrangidos?! Eles deviam é ficar assustados!

–Volte pra casa Senketsu, eu tenho certeza que a Ryuko esta bem e preocupada com você...

–Você não me ouviu dizer que ela...

–Senketsu! – ela se levantou, suspirando – Só volte pra casa, ok, eu tenho certeza que a Ryuko vai poder te explicar tudo quando você chegar lá.

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Não sei por que aceitei o que a Satsuki tinha dito, mas eu acabei saindo da escola, levando a calça que ela me emprestou. Os gritos ainda me seguiam por onde eu passava, mas dessa vez era só das garotas, por algum motivo... Qual era a delas, será que todas as pessoas naquela cidade eram malucas?!

–Tadaima... Obaa-san, será que a senhora viu a...

Acabei indo pro chão com um soco, e logo a Ryuko estava gritando comigo. Mako disse alguma coisa que eu não entendi, e o vovô e a vovó, que novamente estavam ali, só acenaram tranquilamente, antes de eu ser arrastado pro quarto dela e jogado num canto da parede.

–Baka! Onde você estava?

–Eu... Ryuko?!

Ela estava ali, olhando pra mim, meio fula da vida, usando umas roupas da Mako. Acabei voando nela e a pegando num abraço de urso, sem perceber.

–Droga, eu estava tão preocupado com você! O que aconteceu?! Alguém te machucou? Tinha sangue no seu colchão então achei que você tivesse sido sequestrada e aí fui ver a Satsuki mas ela corou e disse que você estava bem quando expliquei a situação, e eu não entendi por que ela corou, mas é você mesmo, o que aconteceu com...

Mais um soco no queixo acabou me mandando pro chão. Acho que o Jiji tinha razão, eu tinha pego o hábito dela de fazer mil perguntas de uma vez, e, por alguma razão, Ryuko estava fritando vermelha de novo, dessa vez com uma boa dose de raiva e constrangimento.

–Você... contou o que pra Satsuki?

Engoli em seco, aquilo ia ser doloroso...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.