Megaman 9

Capítulo 06


Tanto Ryuko e eu ficamos em silêncio enquanto ela voltava pra casa, perdida em pensamentos. Mako, como sempre, pulou nela assim que chegamos e a abraçou tão forte que achei que nunca mais fosse largar.

–Mou... Ryuko-chan, por que você demorou tanto? E por que nunca me disse que tinha um ji-chan?

Eu gelei em silêncio com o que ela disse, mas Ryuko demorou alguns segundos pra contabilizar tudo.

–Gomen, Mako... eu tinha que fazer uma coisa, e... pera aí, vovô?!

–Hai! – mako pulou pro lado dela e a cutucou com o cotovelo com uma expressão boba – É, Ryuko-chan, sua safadinha, você é a única que tem um vovô bonitão! Ele disse que veio pra ver você! Ele parece ter a nossa idade, mas já que tem cabelos brancos tudo bem né, apesar disso a pele dele é muito bem cui...

Ryuko não a deixou terminar, a pegando pelo pulso, ela disparou correndo por entre as ruelas da favela, até a casa dos Mankanshoku. Quando abriu a porta, no entanto, ela congelou.

Sentado à mesa, tomando uma xícara de chá e jogando conversa fora com a Obaa-san de um jeito muito simpática, o próprio Alfaiate.

–hahaha, Matoi-oji-sama, o senhor é muito galante.

Sukuyo parecia ostentar um rubor leve constante no rosto, enquanto o garoto – como ninguém percebia que ele era SÓ um garoto? – elogiava sua aparência e o jeito como tinha cuidado dos seus filhos com um sorriso pontudo malicioso e simpático. Até mesmo Guts parecia confortável, sentado no seu colo.

O silêncio, no entanto, estourou na sala quando os olhos dos dois se cruzaram.

–Ahh, Ryuko-chan, você voltou, não devia ter escondido de nós que tinha um vovô bonitão!

O Alfaiate apenas sorriu pra ela, tomando um último gole de uma xícara de chá antes de se levantar, caminhando calmamente até estar bem a frente de Ryuko. Me preparei pra qualquer coisa que ele fosse fazer, mas não fui rápido o bastante.

–Ahhh, Ryuko-chan! – ele a pegou num abraço de urso, esfregando suas bochechas juntas com uma expressão boboca no rosto – Você cresceu tanto, da última vez que te vi era só um bebezinho, mas você cresceu numa mocinha muito linda! Sua avó vai ficar tão orgulhosa!

Ryuko, é claro, acertou um chute no seu estomago, se impulsionando pra trás e tirando a espada tesoura de dentro do coldre. O Alfaiate não pareceu nem ter sentido o golpe.

–Você, o que que você...

–Ara... Será que eu cheguei nela errado? Você disse que as garotas de hoje em dia não gostam de ser abraçadas assim ba-chan, mas eu achei que fosse sua implicância costumeira...

Ryuko ficou parada, com uma gota na cabeça, enquanto o garoto caía de joelhos no chão, completamente martirizado.

–A Ryuko-chan... A Ryuko-chan não gosta do vovô! – ele lançou a cabeça pra trás, chorando tanto que era ridículo – O vovô até trouxe uma porção de presentes!

Ele apontou pro canto da sala, onde uma pilha de embrulhos estava despencando da parede, e voltou a chorar novamente, esmurrando o chão e fazendo a casa toda tremer.

“Você tem familiares problemáticos Ryuko...”.

–Orusai! Ele não é da minha família, ele...

Ryuko se calou, como uma concha veio voando na direção da sua cabeça, a mandando de cara no chão.

–Ryuko-chan! – Sukuyo fez uma careta zangada que só conseguia ser fofinha, segurando a concha que apareceu magicamente de volta nas suas mãos – Isso não é jeito de tratar o seu avô, o coitado esperou aqui a manhã toda, agora vá dar um abraço e suas boas vindas pra ele!

–Mas...

–Agora mocinha!

Ryuko estremeceu de novo, estando na mira daquela concha, e acabou concordando. Ela corou em vermelho profundo, limpando a garganta, e segurou as mãos pra trás.

–B-Bem v-vi-vindo... j-ji-jj-ji-chan...

Antes sequer de terminar ela foi engolida em outro abraço de urso, com o garoto de cabelos brancos ainda jorrando seus olhos pra fora e se esgoelando todo.

–Ryuko-chan, espere só, a sua vovó vai ficar tão feliz quando te conhecer! Ela também não te vê desde que era pequenininha!

Decidindo jogar junto, ela disse, apesar de revirar os olhos:

–Onde esta a baa-chan?

–Ora... aqui, claro – ele puxou uma sacola, e de dentro, um casaco negro surrado nas bordas.

Antes que Ryuko, eu, ou qualquer outra pessoa pudesse ter a mínima reação, o garoto mordeu o pulso com os dentes afiados, arrancando uma grande quantidade de sangue que escorreu no casaco.

Silêncio.

Senti a espinha gelar, e cada fibra no meu corpo implorar pra mim ficar o mais baixo e mais quietinho possível, enquanto um Kamui de proporções épicas acordava de um longo sono. Ele, ou ela, abriu os olhos, e se agarrou no corpo do jovem, tomando a forma de um casaco comprido que deixava seu peito extremamente trincado e cheio de cicatrizes a mostra. Menos de um segundo depois, dois olhos completamente vermelhos se abriram, gêmeos, nas golas do casaco.

–Tará! – o garoto riu – Eu te apresento a sua vovó, o nome dela é... BAA-CHAN!

O próprio casaco se mexeu, a manga acertando um tapa no rosto do garoto.

“Baka! Esse não é meu nome!” – Ryuko gelou àquela voz, era claramente feminina, mas era... assustadora.

–Yare, yare... a baa-chan esta nervosa comigo de novo – O alfaiate sorriu, então voltou seus olhos pra Ryuko – Vamos Ryuko-chan... eu trouxe novas roupas pra você, por que não experimenta?

–Ahh... não, obrigado – ela disse, apontando pra mim – Eu já tenho minha roupa.

–Ahhh... essa coisa sem graça que meu filho fez? – ele sorriu, e dessa vez, foi um sorriso completamente mal, ensandecido e horrorosamente assustador – Não se preocupe com isso... Eu vou destruí-lo pra que você possa usar minhas roupas!

Ryuko gelou no lugar, enquanto ele puxava de algum lugar das contas uma imensa agulha toda avermelhada.

–Venha minha netinha... – ele abriu os braços, os olhos enlouquecidos pregados nos meus – Me deixe destruir esse seu trapo...