Cheguei em casa em menos de meia hora. Minha tia estava sentada na sala com uma xícara em uma de suas mãos e assistindo televisão.

Fui até ela avisar que havia chegado. Sentei-me ao seu lado no sofá e ela sorriu para mim.

- Oi Maria. A que horas seus amigos te buscarão? – Ela perguntou sem olhar para mim.

- Às oito horas.

Olhei para a televisão e passava um filme ou seriado. Não o conhecia. Minha tia parecia entretida com o que passava na televisão. Fiquei praticamente meia hora ali, olhando para a televisão e assistindo o seriado (percebi o que era assim que o mesmo acabou).

Levantei-me e me dirigi ao meu quarto. Entrei no banheiro e tomei um banho demorado. Saí do banho e fui para frente de meu pequeno guarda-roupa. Eu percebi (tarde demais) que eu não tinha uma roupa adequada para balada, ou festa, ou o que quer que fosse. Tirei algumas roupas de meu guarda-roupa e as experimentei. Horrível.

Depois de alguns minutos que pareceram horas tentando me vestir adequadamente, e com a minha cama inundada por roupa eu me joguei sobre a mesma e decidi não ir a esta Praça do Cais.

Fitei o teto por alguns instantes e me veio a lembrança de uma festa em que eu havia ido quando fiz treze anos.

-Ah! Eu desisto! – Me joguei na cama e fiz a pior cara de irritação.

- Calma querida! Experimenta este. – Minha mãe me ofereceu um vestido de um rosa bem claro com detalhes em rosa mais marcante na cintura e entre o leve decote.

- Não mãe! Não vai ficar legal. Este não! – disse mais uma vez e fiquei de costas para ela.

- Você nunca o vestiu! Experimenta. – ela insistiu.

Bufei e me levantei da cama. Minha mãe tinha o poder de me convencer sobre tudo. Peguei o vestido de suas mãos e fui até o banheiro. Vesti e voltei, sem ao menos me olhar no espelho. Eu sabia que não iria ficar bom.

-Viu? Está horrível! – disse com expressão emburrada.

Minha mãe me encarou por completo por alguns minutos. Eu apenas a olhava confusa e com as sobrancelhas erguidas. Ela se virou para o meu closet e ficou lá por alguns minutos. Assim que voltou, eu já estava levemente irritada. Ela riu de minha expressão e me deu um bolero de renda de um tom levemente despojado. O vesti ainda que em minha mente eu jurasse que iria ficar mais horrível ainda.

Ela foi até o closet novamente e pegou uma sandália de salto e me ofereceu, eu o calcei e então ela me guiou até o espelho. Fui ainda emburrada, mas quando eu vi a imagem no espelho, eu desconsiderei todos os meus pensamentos sobre aquele vestido, sobre aquele bolero, sobre o horrível. Eu estava realmente linda.

- Está linda, não? – Ela disse sorrindo e me abraçando por trás.

- Obrigada mãe! Eu não sei o que eu faria sem você. – Eu disse encontrando o seu olhar no espelho.

- Eu sempre estarei aqui, Maria!

- Eu queria que você estivesse aqui agora! – disse e deixei que uma lágrima caísse.

Levantei-me da cama e fui, novamente, em direção ao guarda-roupa. No canto direito, entre algumas peças de roupa, tinha uma blusa preta. Quando a retirei, percebi que apesar do corte bastante afeminado, era uma blusa de uma das minhas bandas favoritas. Era a blusa perfeita!

Voltei para minha cama e comecei uma procura quase desesperada por um short que eu havia tirado a poucos minutos do guarda-roupa. Depois de alguns minutos o procurando, eu o vi jogado em cima do meu travesseiro. O short era de um jeans escuro e levemente desfiado. Me vesti e calcei uma ankle boot preta com tachinhas em suas laterais. Fiz uma maquiagem forte, com meus olhos bem delineados e um pouco defumados. Passei perfume e peguei minha bolsa de mão.

Desci para a cozinha e minha tia arregalou os olhos quando me viu.

- Decidiu se tornar rebelde menina?

- Está tão ruim assim? – Perguntei insegura

-Não! – Ela disse sorrindo. – Você está linda!

Eu sorri e fui para a sala. Coloquei em um canal destinado a musica e me perdi em pensamentos em um clipe.

Ouvi a campainha e deduzi que eram os meus amigos. Desliguei a televisão rapidamente e fui atender a porta. Quando abri, estavam Rafael e Bianca de olhos arregalados me olhando por inteiro. Eu sorri e dei um leve tapa na cabeça dos dois fazendo com que eles percebessem a minha expressão e sorrissem para mim.

- Amiga! Você está muito linda! – Bianca disse me dando um beijo na bochecha.

- Amiga! Você está maravilhosa! – Rafael disse imitando a voz de uma menina e me dando um forte abraço.

-Bobo! – Eu disse e minha tia apareceu atrás de mim.

- Oi, Alice! Como está?

- Bem Bianca, e você?

- Atrasada, mas por hora bem. – Bianca disse e sorriu.

Alice cumprimentou Rafael e nós nos despedimos dela. Fui até o carro e cumprimentei Ana e Scott, este último estava na direção do carro.

Assim que entrei, Scott deu partida no carro e fomos em direção a Praça do Cáis. Depois de cinco quarteirões eu já podia ouvir a música alta que soava do norte. A música era boa e por estar do lado da janela eu vi que a lua cheia iluminava o mesmo lugar de onde vinha a música.

No carro, meus amigos falavam sem para em como era a praça. Parecia ser o principal meio de diversão dos jovens daquela cidade e até de outras vizinhas. Scott repetia milhares de vezes que eu iria amar e eu iria ficar implorando para voltarmos para lá toda sexta feira. Eu apenas tia dele e Rafael e Bianca confirmavam o que ele dizia.

Após mais dois quarteirões a música já era incrivelmente alta. Scott estacionou a três ruas antes da tal praça e seguimos a pé. Ana e Scott estavam abraçados. Bianca e Rafael se olhavam, mas nada faziam. A situação era engraçada mas me dava raiva de vez em quando.

Assim que chegamos eu senti meus olhos brilharem. O lugar era impressionante. Era realmente uma praça e em sua extensão via-se um cais e um largo rio. Nas laterais da praça, havia dezenas de bares. As potentes caixas de som ficavam na sacada de todas as casas que rodeavam a praça. Os jovens se enlouqueciam no centro da praça. Era aproximadamente nove horas da noite e aquele lugar estava extremamente lotado. Muitos dançavam, outros tinham em suas mãos garrafas de vodca e alguns poucos latas de refrigerante.

Bianca pegou em minha mão e me puxou para o centro da praça. Tinha alguns bancos desocupados então nos sentamos neles. Logo Scott e Ana foram dançar e ficamos apenas eu, Bianca e Rafael. Rafael se ofereceu para ir buscar bebidas e Bianca foi com ele. Eu não queria ficar sozinha então eu fui atrás deles

Chegamos a um bar e enquanto Bianca foi ao caixa pegar as fichas, eu e Rafael ficamos aguardando-a no balcão.

- Quando você vai criar coragem para chegar nela? – eu perguntei ao perceber que Rafael olhava inquietamente para Bianca.

- Eu tenho medo, Maria. Eu não sei se ela gosta de mim, eu não quero receber um não dela. – ele disse ainda a olhando.

Bianca percebeu o nosso olhar e acenou.

- Se você não chegar nela, você nunca vai saber!

-Eu não sei...

- Ah! Se isso te ajuda um pouco, ela não vai te dar um toco. Ela também gosta de você! – eu disse e ele me olhou com um brilho estranho nos olhos. Percebi que era o brilho do amor.

Bianca voltou e nós pegamos vodca e coca-cola. Voltamos para onde Scott e Ana estavam. Quando chegamos, eles vieram até a gente e pegaram as garrafas de vodca.

- Vocês vão ficar aí parados? – Ana disse depois de dar um gole em sua garrafa.

- É! Nós não viemos aqui para ficarmos parados! – Scott disse sorrindo.

- Concordo com você, cara! Bianca, você quer dançar comigo? – Rafael falou em um tom de insegurança.

- Claro que quero! – Bianca se animou de um jeito que eu nunca havia visto.

-Maria, vem dançar também! – Ana disse quando percebeu que eu ia ficar sozinha.

- Daqui a pouco eu me junto a vocês. – Eu disse dando um gole em minha coca-cola.

Eles foram dançar eu ria descontroladamente da cena deles dançando. Vi Rafael e Ana se beijando. Contive o sorriso, mas eu estava feliz por eles. Lembrei-me do meu primeiro beijo. Eu estava totalmente apaixonada por um menino da minha sala e ele dizia me amar. Nos beijamos na mesma festa para qual em me arrumava na minha lembrança passada.

- Invejando a sua amiga?- Uma voz rouca disse em meu ouvido me fazendo arrepiar.

- O que? Lógico que não. Eu estou feliz por eles! – eu disse e me virei para ver quem estava ao meu lado.

- Hm. Bom, se fosse inveja do beijo eu poderia acabar com ela, hm, digamos, agora! – Mattew disse se aproximando cada vez mais o seu corpo do meu.