Meet Me At The Pier

Montanha Russa da Vida


Acordei! Era tudo um sonho, ou talvez um pesadelo, ou os dois em um só, mas não passava de um sonho de fim de tarde. Nada de Josh me dando lições sobre a vida, nada de Mattew vir me buscar para o trabalho, nada de beijos e complicações. Ainda havia o tal trabalho, mas aí já é outro assunto e nesse assunto eu decidi por mim e por Mattew. Farei o trabalho sozinha e depois colocarei o nome de Mattew. Definitivamente, um contato com ele agora bagunçaria ainda mais a minha cabeça.

Levantei-me e tomei mais um banho demorado, durante o meu sono eu suei frio por isso talvez eu tivesse tido um pesadelo. Vesti um pijama e desci para a cozinha, fiz um sanduíche embora a minha fome quisesse que eu comesse um miojo. Mas chega de miojo! Sentei-me no sofá e coloquei um filme de ação, estava começando a pensar como a Brunna de antigamente (agora ela e Josh podem ser os casais mais românticos e melosos de toda cidade ou de todo o mundo), romances são nojentos.

Logo, quase no final do filme eu ouvi a porta de entrada se abrir. Alice veio até a sala, fez um gesto de cumprimento e subiu rápida para seu quarto. Alguns minutos depois ela voltou vestida em um vestido formal vermelho e decotada. Ri baixo, eu nunca vira Alice deste jeito e sinceramente não sei o que eu acho, mas foi engraçado.

- E então, estou bonita? – Ela girou nos calcanhares, exibindo o vestido.

Coloquei um dedo nos lábios, examinando-a por longos segundos e a deixando apreensiva. Alice fez uma careta e deixou cair os ombros. Fez menção de subir para se trocar, mas eu comecei a falar:

- Acho que a noite será boa hoje. – Ela me olhou com olhos arregalados. Sorri descontraída. – Você está linda! – Exclamei, indo até ela e a abraçando.

Após Alice sair o telefone começou a tocar. Atendi no terceiro toque, me jogando com o telefone nas mãos no sofá.

- Alô?

- Eu posso saber por que a senhorita saiu da escola mais cedo? Ah, e aproveita e responde onde você estava que não pode atender o telefone. Caramba deixou a gente preocupada! – Ri com a irritação de Bianca.

- Pra que tanto estresse? – perguntei tranqüila. – Eu não estava me sentindo muito bem e então eu vim para casa e dormi a tarde inteira.

- Ah. – Ela suspirou. – Eu posso saber o que você estava sentindo? – ela perguntou mesmo sabendo a resposta.

- Nada demais. – respondi, cruzando os dedos para que ela não continuasse.

- Eu acho que tem a ver com Mattew Bükcler. Você realmente pensa que ele vai aceitar você fazer todo o trabalho sozinha? – Ela disse rapidamente e com certa ironia. – Acorda Maria, esta é a chance de você provar que cresceu, não tem nada de mais em fazer o trabalho com ele.

Suspirei. Bianca falava praticamente a mesma coisa que Josh em meu sonho. E algo dentro de mim dizia que esse trabalho ia revelar muitos altos e baixos e sendo completamente sincera, eu não sei se eu estou preparada.

- Maria?

- Oi! Eu estou aqui. E-eu não sei o que eu vou fazer Bia, mas estou pensando nisto. – Ela suspirou mais uma vez e começou a falar, interrompi. – Eu não quero falar mais sobre ele Bianca.

- Tudo bem, falaremos de outro assunto. – Ela fez um som como se estivesse pensando. Sorri aliviada. – Já sabe com que vai ao baile?

Após conversar muito com Bianca no telefone, eu fui dormir. Acordei cedo no outro dia e com uma disposição estranha. Levantei-me e me arrumei, desci para a cozinha e preparei o café da manhã. Quando Alice desceu, nós comemos e eu aceitei a carona dela. Alice me contou sobre a noite passada, não obviamente tudo, mas boa parte sobre como foi o jantar romântico dela e do pai de Mattew, Marcos.

Chegamos à escola e eu me despedi dela. Fui até o pátio e me sentei em uma dos bancos, esperando que os meus amigos chegassem. Observei o tempo, não fazia nem calor nem frio, era um tempo ameno e gostoso. Fechei os olhos, sentindo a brisa suave passar pelo meu rosto e me causar arrepios.

- Olá. – disse alguém me tirando do meu momento de paz. Me virei em direção à voz.

- Aff! O que você está fazendo aqui? – perguntei me endireitando na cadeira.

- Bom, acho que eu estudo nesta escola, então... - Seu sorriso cínico me fez estremecer e aumentar a minha raiva.

- O que você quer garoto? Já não disse que é para me deixar em paz? – Levantei-me e fui em direção a área de esportes.

- Dá para parar de me ignorar? – Ele me seguiu e me puxou o braço. – Eu quero saber sobre o trabalho. – disse irritado.

- Eu já disse que vou fazer sozinha. – Soltei o meu braço de suas mãos.

- E você pensa que eu vou aceitar isto? Nem pensar! – fechou a cara. – O trabalho é em dupla e eu não pedi para fazer ele com você e duvido que você tenha pedido para fazê-lo comigo. – Respirou. – O que importa é que se é em dupla, nós o faremos em dupla.

Olhei para ele com raiva. Mattew me fazia sentir várias coisas, neste momento eu sentia muita raiva e uma vontade descontrolada de sair de perto dele, de ele desaparecer, não existir mais e parar de me dizer o que eu devo ou não fazer.

- Eu não vou fazer porcaria nenhuma de trabalho com você. – Ele me fuzilou com os olhos. – Eu preferia fazer com um mendigo, bêbado, sujo e retardado do que com você. – cuspi as palavras para ele.

Mattew me olhou longamente, me analisando por completo. Aquilo já estava me tirando do sério, bagunçando a minha cabeça e os meus planos. Quando percebi que ele não falaria mais nada me virei e comecei a andar, mas a praga que eu chamava de namorado me seguiu.

- Qualquer prostituta é melhor que você, queridinha. – Ri alto. – Se você não quer fazer o trabalho tudo bem. – Percebi que ele parou de seguir e suspirei aliviada. – Quero ver o que a professora vai achar disto.

Parei no mesmo momento em que ele terminou de dizer aquela frase. Idiota! Ele sabia exatamente como me fazer mudar de idéia. A última coisa que eu queria naquele momento era ter que explicar a minha vida sentimental e emocional para a professora, e ele sabia disto. E sabia que eu iria voltar com o maior sorriso cínico do mundo e esperar que ele desse as ordens. E foi exatamente isso que eu fiz, com o ódio subindo por minhas veias.

- Você é tão previsível. – Ele riu balançando a cabeça.

- Não me irrite, Mattew Bükcler. – alertei-o.

Mattew fez uma careta e deu de ombros.

- Você era mais legal quando namorava comigo. Está aí o meu efeito sobre as mulheres. – Ele riu descontraído, olhando em meus olhos.

- Vá se...

- Não ouse terminar esta frase. – Ele me repreendeu e eu mordi a língua com força. – Acho que você está em minhas mãos agora.

Olhei-o perplexa. Como ele pode ser tão mesquinho? Eu nunca desejei a morte de alguém, mas se esse ser em minha frente desaparece eu agradeceria. Porque a cada segundo que passa e minha vontade é de espancá-lo e chutar o traseiro dele tão forte que ele só vai parar em Plutão.

- Como você é otário. – respondi calmamente. – Aquela bobinha que você namorava não mora mais em mim e a única coisa que eu quero agora é viver livre de você. Mas como a professora me colocou junto a você neste trabalho o meu desejo vai demorar um pouco mais para se realizar. – disse com uma cara triste.

- Você mente muito mal. – ele riu.

- Acredite no que você quiser. – Dei de ombros. – Aqui na escola, às quatro horas. – Olhei em seus olhos. – Se você se atrasar, quem vai ter uma conversa com a professora será eu.

Ele revirou os olhos e fez outra careta. Virei-me e saí daquele lugar, voltando para o pátio. Meus amigos já estavam lá, então fui até eles e me joguei em um lugar vazio entre eles.

Eles olharam para mim e, acredito eu, perceberam que eu não estava bem e nem um pouco a fim de conversa, portanto continuaram a conversa sem me incomodar. Quando bateu o sinal, fomos para a sala. Eu passei todas as aulas fuzilando com os olhos o ambiente do lado de fora da sala onde eu estava. No intervalo eu continuei com a minha raiva excessiva e acabei fingindo estar passando mal para ir embora mais cedo. A enfermeira me liberou, mas para minha completa infelicidade eu tive que agüentar uma pessoa cujo nome é Josh me levando para a casa.

- Pode me soltar Josh, eu já disse que estou bem. – murmurei baixo, para que a enfermeira não ouvisse.

- Então por que mentiu? – Ele perguntou quando chegamos na rua, fora da escola.

- Porque a escola tem se tornado um inferno para mim. – resmunguei.

Josh riu, fazendo com que eu também o fuzilasse com os olhos. Ele revirou os olhos e me deu um tapa na testa.

- Eu não tenho medo de você pequena. – bufei. – Não adianta reclamar, bufar, me fuzilar com os olhos. A única coisa que eu sinto é vontade de rir, você é muito engraçada.

- Pois é, estou pensando em entrar para o circo. – respondi ironicamente.

Josh me olhou animado.

- Ao menos eu vou poder entrar de graça. – ele bateu palmas.

Revirei os olhos e comecei a andar mais rápido. Se eu estivesse normal eu me mataria de tanto rir, mas no meu estado a única coisa que eu posso fazer é fechar ainda mais a cara e me distanciar antes que eu mate meu melhor amigo.

- Para com isso, Maria! – ele se reaproximou. – Eu só estou brincando, mas se você prefere eu fico calado. – Fez cara triste, mas eu dei de ombros, então Josh me olhou esquisito, de uma forma que meu deu medo.

Cheguei em casa e me joguei na cama. Olhei para o travesseiro jogado no chão e tive uma idéia maravilhosa. Minutos depois o meu quarto estava completamente cheio de penas, eu havia socado todos os meus travesseiros e dois dos meus ursinhos de pelúcia. E a minha idéia havia dado certo, eu estava calma novamente.

Quando terminei de arrumar o quarto já era hora do almoço, mas eu não sentia fome. Desci e fui para a sala assistir televisão até a hora de eu me arrumar e ir me encontrar com o Mattew Irritante Bükcler. Subia para o meu quarto e vesti uma blusa branca com detalhes amarelos e rosas e um short jeans, calcei minha sapatilha e peguei minha bolsa.

Cheguei à escola às quatro horas em ponto e nada de Mattew. Aquele menino estava realmente brincando comigo. Após vinte minutos ele apareceu com a cara mais debochada que eu já vi. Bufei e desisti de começar a discutir com ele, não queria ter que socar os meus travesseiros de novo.

Após duas horas, nós já tínhamos todo o conteúdo necessário para a redação. Estávamos sentados no chão apoiados um no outro, esquecendo por um pequeno momento as nossas desavenças. Começava a ficar escuro e fazer frio, me arrepiei com o vento forte e gelado.

- Acho melhor nós irmos. – falei me levantando e dando a mão para que ele se levantasse também.

- Eu estava pensando em nós concluirmos a redação ainda hoje. – ele disse sério.

Olhei em volta. Não havia mais ninguém na escola, todas as luzes estavam apagadas e ali, com certeza, não era um bom lugar para terminar o trabalho. Mattew pareceu ler os meus pensamentos e completou:

- Eu pensei que nós poderíamos terminar o trabalho em minha casa.

Assenti sem pensar muito. O lugar também não era dos melhores, mas ao menos nós terminaríamos ainda hoje e eu teria sossego pelo resto da minha vida.

Mais algumas horas e o trabalho estava terminado. Eu estava no quarto de Mattew esperando que ele terminasse tomar banho para me levar em casa. Ouvi o chuveiro desligar e suspirei, estava na hora de eu sair do quarto. Fui até a porta, mas antes que eu chegasse a ela, algo chamou minha atenção. E eu realmente não sei o motivo, era apenas uma carta direcionada para Mattew dentro de um gaveta entreaberta.

Abri a gaveta e retirei a carta. Não havia quem mandou, somente um “Para Mattew Bükcler” escrito com letra de forma. Minha curiosidade era imensa e sem pensar nas conseqüências eu abri a carta. Meus olhos se arregalaram quando eu comecei a ler a quarta linha. Então era isso? Pensei com ódio, tudo deu errado por causa desta carta.

E por pura coincidência, eu sei exatamente de quem é esta letra!