Meet Me At The Pier

Eu não sou sua inimiga


Hoje é quinta feira e o meu penúltimo dia de trabalho com o Mattew. Depois do ocorrido de terça feira, eu apenas conversava com ele coisas do trabalho. Matt parecia não se importar, ele não tocava no assunto, apenas aparecia na biblioteca às três, estudava a matéria comigo e depois nós fazíamos mais uma parte dos exercícios. Nós combinamos que hoje nós terminaríamos os exercícios e na sexta apenas revisaremos a matéria para a prova. Eu acho que a nossa nota neste trabalho não será tão ruim. Matt já sabia toda a matéria e fazia a sua parte dos exercícios sem pedir por ajuda.

Terminei de almoçar e lavei as vasilhas. Eu ainda tinha tempo antes de ter que ir a escola, então adiantei minhas tarefas de casa e depois de terminá-las fui ao meu quarto me arrumar. Tomei um banho rápido e vesti uma roupa confortável – short jeans e baby look branca com estampa desses desenhos animados -. Peguei a minha bolsa – com o caderno, livro e mp4 – e fui para a escola.

Hoje a escola estava com mais alunos, as pessoas começavam a se preparar para o campeonato que aconteceria sábado que vem. Vi Ana e Bianca discutindo com outras quatro pessoas, elas estavam extremamente nervosas com a aproximação do campeonato. Assim que me viram, sorriram e acenaram, logo depois voltaram-se para os outros alunos. Olhei para o grande relógio no centro do pátio e percebi que já estava atrasada. Dei passos mais longos e em menos de cinco minutos eu já estavam adentrando a grande biblioteca.

Assim como em todo o resto da escola, hoje na biblioteca tinham mais pessoas que o normal para a tarde. Procurei por Matt e ele estava sentado em nossa mesa, no fundo da biblioteca, próxima a uma janela de vidro translucido. Andei até a mesa e me sentei de frente para ele, como de costume. Matt levantou seu olhar, deu um pequeno sorriso de cumprimento e voltou a olhar para o livro. Retirei o meu material de dentro da bolsa e peguei a folha com os exercícios.

– Por onde vamos começar? Exercícios ou matéria? – perguntei olhando para o livro e depois para a folha.

– Tanto faz. – ele deu de ombros.

– Acho melhor começarmos com a matéria. – disse depois de um tempo

Comecei a ler a explicação no livro e Mattew me acompanhava. Nós pausávamos a leitura de tempo em tempo para explicar a matéria do nosso modo de compreensão. Após terminarmos com as explicações fizemos os últimos exercícios e em menos de duas horas nós já havíamos terminado todo o trabalho e estávamos prontos para a prova.

– Finalmente! – Mattew exclamou depois de corrigirmos o ultimo exercício. Ele sorriu aliviado e era estranha a alegria que ele expressava, cheguei a pensar que ele estava feliz por não ter que ficar mais perto de mim...

– Acho que estamos preparados! – eu o acompanhei na felicidade.

Nossos olhos se encontraram pela primeira vez hoje e eu percebi como os olhos dele brilhavam intensamente. Aqueles grandes olhos azuis tinham um brilho diferente, mostravam um Mattew diferente do que a maioria conhecia. Hoje, eles brilhavam ainda mais e a sensação de hipnose triplicou em mim.

Peguei a folha com os nossos exercícios e as organizei. Mattew começou juntar seus materiais e eu fiz o mesmo. Nós fomos até a bibliotecária e eu pedi que ela grampeasse o trabalho. Guardei o trabalho comigo depois de grampeado e segui Mattew até a saída.

– Você vai à praça amanhã? – ele disse enquanto passávamos pela entrada da área de esportes.

– Não. Ana e Bianca estão ocupadas com a organização do campeonato. – disse dando um leve suspiro.

– Você não precisa delas pra ir. – Mattew parou e me encarou.

– Eu sei, é que eu não conheço muita gente e provavelmente eu ficaria sozinha. Não vai ter graça. – disse desviando o meu olhar do seu.

Mattew acenou indicando que havia entendido e voltou a caminhar. Me sentei na arquibancada e Mattew continuou andando, quando viu que eu não o estava acompanhando, bufou e voltou para se sentar ao meu lado. Os meninos ainda estavam treinando e havia algumas pessoas da organização no lado oposto ao nosso.

– Se você quiser pode ir comigo. – Matt disse e olhou para mim. Balancei a cabeça e o encarei.

– Ir com você? – perguntei confusa

– É. Tem algo de errado nisso? – ele arqueou as sobrancelhas.

Claro que tinha! Ele ainda tem a cara de pau de perguntar! Eu não queria ter que presenciar a cena dele beijando outra menina. Eu já tinha “superado” o que eu tinha visto terça feira, mas isso não quer dizer que eu esteja pronta pra ver isto de novo. Mas o que eu iria dizer para ele? “Não, eu não vou com você porque eu sou uma boba apaixonada e não quero te ver com outra!” Peeng, resposta errada! Eu não poderia dizer isto a ele, o que Mattew pensaria? Com certeza, seu ego aumentaria e seria insuportável conviver com ele. Bom, eu já não iria mais conviver com ele...

– É que eu não... Não conheço seus amigos... Daria no mesmo! – disse lentamente, procurando por uma resposta convincente.

Mattew deu de ombros e voltou a encarar a quadra. Continuei olhando para ele e parecia que ele procurava por algo, ou por alguém... Mattew sorriu de repente e eu segui seu olhar.

– Acho que você ter que inventar uma desculpa melhor – ele disse divertido – Vem! – Mattew se levantou e pegou em minha mão, me ajudando a me levantar. Ele passou o braço direito por meu ombro e me guiou ao grupo que acabara de entrar na área de esportes.

– E aí, Matt! – o menino loiro e alto (e agora com olhos castanhos) veio cumprimentar Mattew.

– E aí, cara! – Matt retribuiu o cumprimento sem tirar o braço de meu ombro.

– Quem é a menina? – o loiro me olhou malicioso e sorriu. Seu sorriso era bem diferente do sorriso de Matt...

– Esta é Maria Horn. – ele disse me dando me puxando um pouco mais para perto dele. – Maria, estes são Erick Dias, Jacob Haner e Igor Gonzalez – ele disse apontando para o loiro, depois para um moreno mais baixo que o demais e por ultimo para um ruivo alto e magro.

Mattew me soltou e os meninos vieram me cumprimentar. Ofereci minha mão e Erick sorriu. Ele a pegou e me deu um braço seguido por um beijo estalado no rosto. Os outros fizeram o mesmo e eu sorri. Era engraçada a situação e eu me sentia bem por Mattew ter me apresentado a seus amigos, mesmo sabendo que isso não significava nada.

– Você se esqueceu de mim! – disse uma voz de garota. Mattew olhou por cima do mais baixo e eu segui seu olhar.

Brunna Kuhn se aproximava de nós com seu jeito confiante e o sorriso debochado no rosto. Ela passou pelos meninos e me deu um abraço. Eu fiquei sem reação, mas depois de aproximadamente dois segundo ela me soltou e anunciou o seu nome.

– Eu sou Bruna Kuhn! – ela disse graciosa. Era incrível o jeito confiante e talvez falso dela.

– Eu sou... – comecei a dizer, mas ela me interrompeu.

– Eu já sei quem você é. Matt não para de falar em você. – ela olhou maliciosa para ele e Mattew deixou escapar um sorriso.

O que? Vamos voltar ao que ela disse. Mattew não para de falar em mim? Isso com certeza significa alguma coisa, não é? Talvez eu ainda tenha chance, ele nem a desmentiu.

– Como você é exagerada, Brunna! Eu comentei uma vez sobre ela. Lembra que eu e Maria estávamos juntos no trabalho de física? – ele disse calmamente

– Não interessa. –ela deu de ombros.

O silencio tomou conta de nós, o único barulho era o barulho dos meninos jogando basquete.

– Hey Matt, o nosso treinador chegou. Vamos lá falar com ele! – o ruivo disse e os meninos se foram deixando apenas eu e Brunna.

Nós nos encaramos e ela deu um meio sorriso. Eu retribuí e ela me chamou para nos sentar na arquibancada.

– E então, o que está rolando entre você e o Matt? –ela disse animada se virando completamente para mim.

– Na-nada! – arregalei os olhos e ela revirou os olhos e bufou.

– Como você é boba... – Brunna começou a dizer e antes de continuar, me olhou séria. – Eu sei que vocês ficaram, bobinha! – ela terminou de dizer e deu um pequeno empurrão em minha testa.

– Sabe? – ela confirmou com a cabeça. Bom, Mattew deve ter contado para ela, mas não vem ao caso. A complicação é, eu não sei o que responder. Eu e Matt ficamos, que ótimo, mas depois disso nós apenas estudamos e hoje é que eu fui conversar “direito” com ele. – Bom, nós não temos nada. – desviei meus olhos dos seus. – Nós só ficamos.

– E você gosta dele!– arregalei meus olhos novamente.

O meu sentimento por Mattew estava assim tão evidente? Talvez, Brunna esteja apenas tentando tirar informações de mim para depois correr e contar tudo para Mattew. Os dois tinham uma amizade colorida, não é? Isso podia significar que ela era uma inimiga, e das piores. Daquelas que fingem ser sua amiga, descobre todos os seus pontos fracos e depois, quando você menos espera, te apunha-la pelas costas, sem deixar chances de você se defender.

– Não. Eu não gosto dele. – eu disse a olhando em seus olhos. Talvez assim ela acreditasse.

– Eu não perguntei se você gostava dele Maria. Eu sei que você gosta, eu percebi a sua reação quando eu o beijei em sua frente. – ela disse séria e em seus olhos eu pude ver uma pontada de arrependimento.

Nós continuamos nos encarando, conversando pelo olhar. Por todo o tempo em que nos encarávamos, eu pude sentir que ela não era uma inimiga e se fosse sabia disfarçar bem. Senti também que ela sabia mais do que aparentava.

– Maria, eu sou assim. Quero dizer, eu e Mattew já namoramos, mas não deu certo porque nós dois não gostamos de compromisso. Apenas diversão, e eu acho que é assim que todos tem que agir, apenas por diversão. Sentimento demais acaba provocando dor de sobra e ninguém gosta de dor. – Brunna desviou seus olhos dos meus e olhou para a quadra.

Mattew e seus amigos conversavam com um homem robusto e careca. Sua expressão era séria, imitando a expressão do resto. Brunna voltou seu olhar para mim e eu demorei-me a encará-la novamente.

– Você gosta sim de Matt, é tão evidente. – ela riu. – Eu só te aconselho a excluir este sentimento. Eu conheço Matt desde pequena e eu nunca o vi sentindo amor por alguma pessoa que não fosse o pai ou a mãe dele. – ela olhou novamente para Mattew e voltou a olhar para mim, agora com uma expressão divertida. – Se eu fosse você, eu me divertiria, assim como eu faço, como Mattew faz. – ela abriu ainda mais o sorriso. – Dançar, sair, beber, beijar e tudo o que envolve diversão de verdade.

Eu sorri para ela e pensei no assunto. Talvez me divertir do jeito que ela falou fosse o melhor jeito de estar perto de Mattew e fazê-lo não odiar minha família, fazê-lo entender sobre essas coisas do destino. Olhei para quadra e Brunna fez o mesmo. Os meninos vinham para perto de nós sorrindo e brincando um com o outro.

– E Maria... – Brunna me chamou poucos segundos antes dos meninos chegarem em nós. – Eu não sou sua inimiga. Divirta-se!