Meet Me At The Pier

Correndo contra o tempo


A dor que eu vi em seus olhos me fez ter a pior sensação do mundo. Eu me senti a pior pessoa deste universo. Como pude magoar a pessoa que eu amo? Mas a pergunta que ficou em minha mente era sobre o motivo dele estar ali.

Ficamos em silencio, apenas olhando a dor dele se transformar em ódio e Mattew perder o controle. Abri minha boca para falar alguma coisa, mas eu não consegui pronunciar nada, percebi que Alice tentava fazer o mesmo e estava na mesma situação que eu.

Mattew mudou de repente. Sorriu sem mostrar os dentes, mas eu sabia que aquilo não era felicidade, era pura ironia. Eu sabia muito bem o que ele estava pensando e sentindo e mesmo assim eu não fui capaz de fazer nada, meu corpo estava congelado, minha voz não saía, eu só podia me torturar vendo ele daquele jeito, sofrendo, precisando de alguém. Senti ódio de mim, droga de boca, eu deveria ter ficado falada. Olha o que aconteceu. Minha raiva sempre desencadeia estas coisas.

Quando consegui esboçar alguma reação, vi que Marcos, o pai de Mattew acabara de chegar. Me encolhi, era hoje que eu veria sangue! Mas ao contrário da minha suspeita, quando Marcos se aproximou do filho, Mattew simplesmente recuou e saiu correndo pela porta, corri atrás dele sem deixar de perceber a cara confusa do pai dele. Cheguei em meu quintal, porém Mattew já estava em seu carro, dando a partida. Gritei o seu nome em vão, Mattew já havia acelerado e eu sabia que ele não iria parar para me escutar. Respirei fundo e voltei para dentro de casa.

Me surpreendi com o que eu vi, Marcos estava sentado no chão com as mãos tampando o rosto e soluçava alto. Olhei para Alice ao lado dele e ela retribuiu o olhar, alternei o olhar para os dois, quando encontrei os olhos de Alice novamente eu entendi o que ela queria que eu fizesse. Mas eu não tinha condições de fazê-lo, eu estava tão chocada quanto eles, nem pensar direito eu conseguia. Percebi que a vida de todos tinha virado de cabeça para baixo por culpa minha e de minha raiva e pela primeira vez entendi a reação de Mattew quando soube de quem eu era filha. Eu o condenara, mas fiz o mesmo. Claro, não era a mesma situação, mas eu agi da mesma forma e agora me sentia pior por causa disto. E Alice estava certa, mais tarde eu conversaria com ela, agora a única coisa que eu tinha que fazer é ir atrás dele e impedir que ele faça uma besteira.

Assenti para Alice e ela me deu um sorriso fraco. Saí correndo em direção à casa de Josh, ele era a única pessoa que podia me ajudar agora. Bati a campainha repetidas vezes sem intervalos. A empregada atendeu carrancuda, mas eu não me importei, passei por ela e fui em direção ao quarto dele. A porta estava trancada, então eu bati na porta com força e chamei por Josh, suplicante e desesperada. Ouvi a voz dele e me acalmei um pouco.

- Mas que porra é esta? – Josh perguntou abrindo a porta, entrei no quarto e dei de cara com Brunna sentada na cama.

Senti minhas bochechas corarem. Mesmo assim me virei novamente para Josh e comecei:

- Josh você precisa me ajudar.

Dez minutos depois, eu, Josh e Brunna estávamos no carro de Josh que dirigia rapidamente pelas ruas da cidade. Eu havia contado tudo aos dois e eles nem chegaram a ouvir tudo, se arrumaram rapidamente e se dispuseram a me ajudar. Me senti aliviada naquela hora, eu sabia que podia contar com eles, eles eram amigos para todas as horas. Josh estacionou de qualquer jeito no estacionamento do parque e nós corremos floresta adentro. Eu tinha certeza que Mattew estaria na clareira da montanha, era um lugar especial para ele e o único que eu tinha em mente.

Para a nossa decepção, a clareira não tinha ninguém, ele não estava lá. Porém não nos deixamos abalar, eu precisava entrá-lo e iria fazer isto, mesmo que eu tivesse que rodar a cidade inteira a pé, procurando em todos os cantos, eu iria encontrá-lo, eu precisava.

Algumas horas depois, apenas vagávamos pela cidade sem nenhuma esperança. Eu soluçava de tanto chorar, minha cabeça parecia a alguns segundos de explodir, meu coração estava em pedaços. Josh parou o carro em um lugar qualquer e bateu a cabeça no volante. Brunna estava parada, olhando para fora do carro, distante. Todos nós estávamos abalados, por causa do nosso fracasso com Mattew.

- Droga! – eu disse batendo minha cabeça no banco.

- Ele tem de estar em algum lugar. – Brunna disse serrando os punhos.

- A culpa disso tudo é minha. – disse resmungando. – Eu mereço morrer, ser jogada em um rio e maltratada pela correnteza forte! – joguei-me uma praga.

Josh suspirou tristemente. Era notável a tristeza em seu rosto, me fazendo sofrer ainda mais. Abaixei minha cabeça, balançando com desprazer. A cada minuto que passava eu sentia Mattew mais longe de mim e uma sensação ruim em meu coração não o abandonava. Eu sabia que ele faria uma besteira e que o nosso tempo de encontrá-lo era curto, deveria ter algum lugar que nós não olhamos, ele deveria estar em algum lugar. Me odiei por não conseguir achá-lo.

- É isto! – Brunna gritou de uma hora para outra, fazendo com que eu e Josh pulássemos em nossos assentos. – Como eu não pensei nisto antes? – Ela sorria, mas não era felicidade era alívio.

- O que você quer dizer? – Josh disse irritado.

- Pensa Josh! Pensa no que a Maria disse. – Josh a olhou confuso, então ela revirou os olhos e completou. – Josh! Rio, correnteza forte...

Josh arregalou os olhos e deu um pulo. Ele olhou sorrindo para mim, sorri sem felicidade. Eu não entendia o que eles queriam dizer, o que tem a ver o que eu disse com encontrar Mattew? Josh suspirou e respondeu, lendo os meus pensamentos.

- Maria, nós procuramos em todos os lugares menos em um. É um pouco confuso o caminho até lá, mas é um lugar perfeito quando se quer ficar sozinho e pensar na vida. – O olhei confusa. - Do outro lado do rio há outro píer, mas ninguém vai mais lá, também não tem mais barcos e a correnteza é muito forte. É um lugar abandonado, eu, Mattew e Isabel costumávamos ir lá para brincar. – Assenti e ficando feliz com a sensação que desta vez eu acharia Mattew.

Josh ligou o carro novamente e dirigiu rápido pela rodovia, depois virou em uma rua extensa e sem saída, bom tinha uma saída, mas não era asfaltado, era tudo terra e floresta. Josh prosseguiu pela trilha na floresta e só parou quando nos deparamos com uma arvore caída. Saímos do carro e pulamos a árvore, continuamos a pé e alguns minutos depois nós já estávamos à beira do rio, onde tinha uma ponte precária. Eu fui na frente sem esperar por ele, Josh vinha atrás de mim, mas Brunna o segurou e me chamou. Parei na ponta da ponte.

- Ela precisa ir sozinha Josh. – Brunna disse acariciando seu rosto.

- Mas e se ele não estiver lá? É perigoso. – Josh disse suplicante para ir comigo.

- Ele está lá! – ela disse firme. – Nós não podemos fazer mais nada, é a vez da Maria. – ela olhou para mim e me abraçou forte. – Vai lá e traz meu amigo de volta. – ela disse séria. – Assenti e beijei seu rosto e depois o de Josh. Me virei e comecei a atravessar a ponte.

Era a minha vez de acertar as coisas e acabar com o sofrimento de todo mundo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.