E agora?

Regina analisou a proposta com muito cuidado. Após inúmeras conversas com seus pais, com a universidade, e com Emma, ela decidiu embarcar nessa jornada para buscar mais conhecimento e oportunidades no exterior. Não seria fácil deixar para trás a sua família, muito menos sua namorada, mas seria cruel consigo mesma se ela decidisse não ir e sabia que iria passar o resto de sua vida se perguntando “e se…?”.

No Consulado dos Estados Unidos da América no Brasil, a morena fazia sua entrevista para o visto Americano de estudante, enquanto a namorada esperava ansiosamente do lado de fora. Dentre tantas perguntas e documentos a serem apresentados, a aspirante a astrofísica se encontrava mais nervosa do que nunca e mal podia esperar para estar fora daquele lugar, de preferência com seu visto de estudante aprovado. Depois de toda a entrevista, o oficial Americano analisava alguns dos documentos que havia pedido a Regina e então disse:

O seu visto foi aprovado e você deve receber seu passaporte dentro de 3 a 5 dias úteis - Regina encarou o homem com um semblante confuso, demonstrando que não havia entendido o que ele disse.

Desculpe, pode repetir?

Senhorita, o seu visto de estudante foi aprovado e seu passaporte deve retornar ao seu endereço dentre 3 a 5 dias úteis - ainda incrédula, a morena encarava o homem boquiaberta enquanto se perdia em pensamentos. Apenas voltou para a realidade quando ele gritou - PRÓXIMO!

Ela se dirigiu a saída, onde encontrou Emma aguardando-a animada.

E aí, como foi? - perguntou com um sorriso.

Eu fui aprovada - disse em choque.

Uhuuul!! - disse a loira enquanto corria para abraçar a namorada - você tem noção disso? Minha namorada vai estudar no exterior! Não só isso, no MIT! Eu to tão orgulhosa!! - disse enquanto seus olhos marejavam.

Eu ainda não to acreditando, parece tão irreal. Um sonho que eu nem sabia que tinha e agora ‘tá sendo realizado, sabe? Parece loucura, que ‘tô sonhando ou sei lá - Emma a beliscou no braço - Ai! Por que isso, tá doida?

Pra provar que é real! Está acontecendo mesmo! - respondeu fazendo graça.

Ai Emma, só você né?

Aham! - respondeu irônica - Mas e agora?

E agora o que?

E agora o que a gente faz, qual o próximo passo?

Agora a gente dá a notícia pros meus pais, pros seus pais, informa o Sr. Gold, e aproveita todo o restinho de tempo que temos juntas…

Ai ai, por que foi que eu te convenci a ir? Poxa, vou ficar morrendo de saudades…

Quando bater a saudade olhe lá pra cima, sabe lá no céu aquela estrelinha que eu muitas vezes mostrei pra você?

Regina, eu sei que você quis ser fofa, recitando a letra da música como poesia e tal. Mas além de essa música ser sobre alguém que morreu, ‘tá dia, um solzão, não dá pra ver estrela nenhuma no céu - disse provocando.

E o Sol é o que?

Ah Regina, dá um tempo… - disse fazendo a morena cair em gargalhadas.

Vou sentir falta de te provocar diariamente.

Ué, vai continuar provocando diariamente, só vai ser pelo telefone. Você não pode nem pensar em ligar menos do que uma vez por dia.

Emma, pode até ser que você vai ficar desocupada, mas eu vou estar estudando, ‘tá bom? - falou provocando novamente.

Ih que atitude é essa ein? Você sabe muito bem que vou trabalhar com meus pais e estudar bastante até passar em uma faculdade decente.

E o curso, já escolheu algum?

Aí que ‘tá né?! Não sei. E se eu fizer um curso de astrologia? O que você acha? - Regina começou a rir incessantemente - Ih... ta debochando dos astrólogos eh?

Eu só e tô imaginando nós duas no futuro, um casal formado por uma astróloga e uma astrônoma. Seria tão ilógico, e muito engraçado - Emma riu em concordância - Mas o futuro é seu, você faz o que quiser, o que for melhor para você e a sua felicidade profissional. Se quiser ser astróloga, não sou eu quem vai te impedir.

E quem vai então? Por que soou como se alguém fosse…

Ah não sei quanto a alguém, mas vai que o alinhamento dos planetas cause uma grande reviravolta em sua vida e te impeça de seguir com o curso? - disse em deboche. Não era segredo que a morena desacreditava de qualquer coisa relacionada a aquela pseudociência.

Pois então eu acho que vou fazer isso mesmo, só pra quebrar uns paradigmas. E se os planetas não me ajudarem nisso, que pelo menos me deem uma direção, digam pra onde ir, o que fazer. Porque eu ‘tô perdidinha - as duas riram juntas da afirmação que sabiam ser brincadeira.

Eu tenho certeza que você vai descobrir o que quer fazer daqui pra frente. Você é inteligente e talentosa, vai conseguir chegar aonde quiser! - disse a morena tentando inspirar a namorada, mas o que Regina não sabia era que Emma já havia decidido exatamente o que faria de seu futuro acadêmico e amoroso, mas ainda não podia revelar a sua amada.

Alguns meses se passaram e, quando o momento da despedida chegou, não foi fácil pra ninguém. Além da namorada de Regina, seus pais e sogros também não conseguiram segurar o choro. A morena se mostrou forte ao se despedir da família, mas se desmanchou em lágrimas assim que seu avião decolou, acabando com qualquer possibilidade de desistir. Não que ela não quisesse ir, mas imaginar viver meses longe daqueles que mais amava seria o maior desafio que já teve de enfrentar. Apesar de todas as dificuldades, a universitária mal podia esperar para viver todas as coisas que o futuro lhe preparava.

Os primeiros meses foram os mais fáceis, conhecer coisas novas e a sensação de que é tudo turismo e passageiro contribuem como distração da saudade. A dificuldade maior começou ao cair a ficha de que estar longe das pessoas que mais amava não era tão passageiro assim. Depois de todos os encantamentos momentâneos com tudo o que é novo, bateu a saudade daquele lugar chamado lar. Além de pessoas, Regina sentia saudades do seu país, cultura, da comida ao clima, sem esquecer da língua portuguesa, que tanto fazia falta no dia a dia. As ligações de vídeo com a namorada, família e amigos já não eram suficientes para acabar com a saudade.

O cansaço excessivo após seu primeiro semestre estudando longe de tantas coisas que amava quase a fez desistir do sonho que mal havia começado a se realizar. Ainda assim, o encorajamento e a força de vontade a ajudaram a continuar. Em suas primeiras férias, no verão do hemisfério norte, a morena considerou se mudar dos dormitórios estudantis para um apartamento, mas não conseguia achar um bom lugar e alguém com quem dividi-lo, devido às despesas. Regina havia postado alguns anúncios online e mandava mensagens para a namorada, expressando frustração por não ter bons retornos, quando sentiu um toque em seu ombro e, em seguida, ouviu uma voz feminina perguntando:

Hello! You are Regina Mills, right? I saw your posts online looking for an apartment and thought you might be interested in taking a look at mine. It's not really far from here and, even though it is a 1 bed 1 bath, I think you won't mind sharing it with me...

(Olá! Você é Regina Mills, certo? Eu vi seus posts online procurando por um apartamento e pensei que estivesse interessada em dar uma olhada no meu. Não fica muito longe daqui e, apesar de ter só 1 quarto e 1 banheiro, eu acho que você não vai se importar de dividi-los comigo…)

Regina sentiu que já havia escutado aquela voz antes, mas não lembrava de qual conhecida gringa se tratava. Ela estranhou o tom da última frase, já que não tinha tal intimidade com ninguém que conhecesse dali mas, ao se virar para aquela pessoa, não acreditou no que seus olhos enxergavam. Emma estava parada em sua frente, com um grande sorriso e se aproximando para um forte abraço. Após alguns bons segundos presa nos braços da amada, a morena se afastou e a encarou incrédula enquanto a tocava, como se quisesse ter certeza de que a namorada estivesse ali em carne e osso, e não fosse apenas uma miragem criada por sua mente solitária.

Emma? É você mesmo ou eu ‘tô louca? - perguntou confusa.

Eu mesma, em pessoa.

Como assim? O que você tá fazendo aqui? Minha cabeça tá um nó!

Bom, pra começar… - Regina a interrompeu.

Por isso não me respondia, falou que ia pra chácara e ia ficar sem internet mas tava era voando… não acredito que não desconfiei…- Emma riu

Pois é, você caiu como um patinho… - disse provocativa enquanto tentava imitar um bico de pato.

Há quanto tempo você ‘tava planejando isso? Meu deus! Eu ainda não ‘tô acreditando que você ‘tá aqui na minha frente.

Desde antes de você vir…

‘Tá me zoando né?

Não ‘tô não, juro pela sua vida! Todo mundo sabia.

Ou voce realmente não ‘tá zoando ou ‘tá tentando se livrar de mim - respondeu em tom de brincadeira - Eu não acredito! Até minha mãe sabia disso?

Aham, ela me ajudou com muita coisa.

Não sei como ela conseguiu segurar a língua, ou como eu não percebi. Mas me conta, quanto tempo vai ficar por aqui? Se soubesse, eu teria planejado todo um tour pela cidade.

Não prestou atenção no que eu falei antes não? Eu não ‘tava brincando. Vim pra ficar! Já até achei um apartamento perfeito ‘pra morarmos juntas.

Emma, não brinca com isso!

É sério! Fica numa distância boa da estação de metrô e é uma localização bem cômoda para nós duas!

E você vai fazer o que aqui?

Lembra todas as vezes que falei estar estudando ou me inscrevendo ‘pra vestibular? Na verdade eu estava estudando pro TOEFL (Exame de Proficiência na Língua Inglesa), SAT (ENEM Americano) e me inscrevendo ‘pra escolas daqui.

E vai estudar o que? Onde? MEUDEUSDOCEU EU TÔ EM CHOQUE!

Já ouviu falar da Academia de Dança de Massachusetts?

Claro! É a melhor escola de dança do estado e está entre as melhores do país e do mundo! Você vai estudar lá?

Aham - respondeu em um tom orgulhoso.

Emma, isso é incrível! Mas achei que você não quisesse fazer da dança sua profissão…

Aí que tá! Eu procurei, procurei e não achei um outro curso com o qual eu me identificasse. A única coisa que gosto mais do que dançar, é de estar com você! Então aqui estou eu - disse abrindo um sorriso - Eu também acabei me apaixonando por ensinar enquanto ajudava meus pais na Swan Lake então, se minha carreira de bailarina não durar muito, eu vou ser professora com o maior prazer!

Eu fico tão feliz por você, por nós. Esse é só o começo do resto das nossas vidas! - respondeu num enorme sorriso - mas e esse apartamento, vai me mostrar quando?

É pra já! - afirmou a loira antes de guiar a namorada até seu mais novo lar.

Após conhecer e se apaixonar por cada canto de seu apartamento, Regina levou sua amada para conhecer seus lugares favoritos na cidade. Com a ajuda dos pais de Emma, o peso financeiro ficou muito mais leve com as despesas fixas e possibilitou que o casal utilizasse de seus ganhos mensais para atividades de lazer, o que poupou muito estresse a um casal que não tinha morado junto ou dividido despesas até então. Ambas trabalhavam em seus locais de estudos, conforme o visto permitia. Regina trabalhava no observatório de sua universidade, normalmente fazendo pesquisa, mas ocasionalmente guiando tours para visitantes, enquanto Emma dava aulas de dança para turmas infantis iniciantes. Apesar de pequenas diferenças de vivência e organização, as namoradas se adaptaram muito bem à nova vida juntas. As poucas discussões não eram relevantes o suficiente para mantê-las brigadas por muito tempo. Com a grande necessidade de foco nos estudos, trabalho e novas tarefas de donas de casa, elas gostavam de aproveitar juntas e ao máximo o tempo que tinham livre.

Conforme passou o tempo, chegou o Natal e elas resolveram voltar ao Brasil e passar a data com suas famílias, e assim fizeram pelos anos seguintes. Já em suas férias de verão, que ocorriam de maio a agosto, elas permaneciam em Boston, trabalhando nos mesmos empregos e tentando economizar para planos futuros. Muitas vezes ouviram a pergunta: “O que vocês planejam fazer assim que se formarem? Querem ficar aqui ou pretendem voltar ao Brasil?”. O casal passou muito tempo conversando sobre isso, mas ainda não havia tomado uma decisão. A saudade de casa era grande, mas o mar de oportunidades profissionais na Terra do Tio Sam era muito maior para as duas. Dessa forma, Emma e Regina decidiram esperar até que aquele momento chegasse, para que então realmente fizessem a escolha que tanto pensaram sobre. Seus planos futuros incluíam muitas realizações profissionais, viagens, e aprendizado, mas a única certeza que tinham quanto ao futuro, e que estariam juntas, e formalmente assim que possível.