ME ENCONTRE NO TELHADO

“Hoje, no almoço,

vá ao telhado.

Estarei lá”

O bilhetinho, depositado dentro do armário do estudante de cabelos claros, não tinha remetente, mas a péssima caligrafia e a folha amarelada revelaram sua identidade rapidamente, de modo que foi impossível a Flower esconder o sorriso que brotou no canto de seus lábios, enquanto os olhos rolavam pelas palavras escritas com pressa.

Com cuidado, guardou o papel e na hora do almoço foi o primeiro a sair da sala, usando a desculpa de ter muita matéria para estudar, esquivando-se dos colegas de turma e do clube de leitura. Desesperadamente correu pelos lances de escadas, encontrando o céu azul sem nuvens e grades cinzentas, quase enferrujadas, do telhado esquecido do colégio. Sem ar após a corrida, ele apoiou-se em uma delas e ocupou-se em acalmar as batidas de seu coração. Até que a voz dele soou, sentado embaixo de uma cobertura pequena:

— Já faz um tempo, Flow.

O lilás dos olhos do estudante seguiu o som da voz, encontrando o rapaz de mechas escarlates com as penas cruzadas, escondendo as mãos nos bolsos das calças. A intensidade de seu olhar queimava como fogo e Flower viu-se com dificuldades para fugir dele.

— Você sumiu, Fukase. — Sussurrou, largando-se ao lado dele e esticando as próprias pernas, enquanto massageava o próprio pescoço.

— Eu sei.

— Eu sei? É só isso?

Fukase suspirou e lançou um olhar cansado ao céu.

— Estive pensando, Flow.

O coração do menor, dentro de seu peito, palpitou com força e ele engoliu a própria saliva, quando os olhos cor-de-fogo do mais velho lhe fitaram.

— E pensou o que durante uma semana inteira? Aposto que foi algo muito importante, afinal não retornou minhas mensagens, minhas ligações e fugiu de mim quando te procurei pelo colégio. — Flower cuspiu quando o silêncio foi tudo o que recebeu — Espero que realmente tenha uma boa desculpa, pois tive que recusar comer com a Piko hoje, só pra vir te ver. E olha que ela trouxe a flauta dela! E você, espero ao menos, sabe como amo flautas.

Pelo calor que esquentava as bochechas, Flower soube que devia estar vermelho por conta da raiva. Ele respirava com dificuldades e tinha a consciência de que a voz tremia ao expor sua irritação e raiva para o jovem em sua frente. Fukase, em contrapartida, o ouvia em silêncio, sem jamais desviar os olhos dele, prestando atenção em cada palavra que proferia.

— Acabou?

— Como assim “acabei”? Qual a porra do seu probl...

Incapaz de completar a frase, o dono das mechas claras deparou-se com os lábios de Fukase capturando os seus. De primeira, ele viu-se paralisado quando o cheiro, o hálito, o sabor e o calor do ruivo foram absorvidos por sua mente. Seu corpo estremeceu quando o estudante levou as mãos aos fios brancos, aproximando-os e selando um beijo que começou calmo, mas começou a ganhar intensidade e força rapidamente. Ele perdeu a noção de tempo e espaço quando aquele rapaz mordiscou seus lábios, provocando-o, incitando-a continuar com o beijo, quando a risada anasalada fez cosquinhas em seu rosto, quando os braços firmes de Fukase o puxaram para si e as mãos começaram a percorrer a pele exposta, brincando com seu pescoço e puxando os fios cor de alabastro, arrancando gemidos ofegantes do menor, que viu-se completamente entregue ao desgraçado em sua frente.

— Caralho, Flow. — Fukase sussurrou em certo momento no pé de seu ouvido — Senti falta disso.

— Se sentiu, por qual motivo sumiu? — Perguntou reunindo toda a coragem que possuía, só para ver as írises dele vacilarem, quando o rapaz se afastou e ofegou, bagunçando os próprios cabelos em pura hesitação e confusão — Ei, Fu. Você sabe que pode confiar em mim.

— É complicado.

— Complicado?

Ele mordiscou o canto do lábio antes de responder.

— Eu gosto de você, Flower.

— Você...

— É. É por isso que estive pensando.

— Fukase...

— Está tudo bem se para você nossa relação for resumida em encontros no telhado e no banheiro. Eu não ligo, de verdade. — Mentiu abraçando as próprias pernas e suspirando pesadamente — Só que gosto de você, Flow.

Flower encarou o dono das mechas escarlates sem saber o que responder.

Em compensação, Fukase afundou o rosto nos próprios joelhos, escondendo a face na calça do uniforme escolar, de modo que foi impossível ao menor saber qual era sua expressão. O albino abriu e fechou a própria boca incontáveis vezes, mas a voz parecia presa em sua garganta, recusando-se a sair.

— Está bem — o maior grunhiu de repente, levantando-se —, entendi sua resposta.

— Não...

— Qual é, Gasparzinho! Já te disse: está tudo bem. — Mentiu com um sorriso de canto e bagunçando os fios claros do amigo — Você só está me devendo uma Coca-Cola de café.

As mãos de Flower seguraram as dele com força, buscando sua atenção.

Fukase encarou as órbitas claras que brilhavam com tanta intensidade quanto as suas.

Eu também gosto de você. — Foi a resposta, sussurrada.

O menino de cabelos cor-de-fogo arregalou os olhos, petrificado pela confissão e ele viu-se ajoelhando na frente daquele rapaz, estudando seu rosto em busca de qualquer sinal de uma possível brincadeira. No entanto, o que encontrou foi Flower puxando-o para mais perto e o envolvendo em um adorável abraço.

— Maldito. — Flow sussurrou em seu ouvido — Você precisou mesmo de uma semana para chegar nessa conclusão?

— Eu gosto de pensar e analisar tudo para ter certeza, você sabe disso. — Respondeu, com uma de suas risadas anasaladas — Quando você descobriu que sentia o mesmo?

— No nosso primeiro beijo.

— Caralho.

— Sou trouxa, cara.

— Então também sou trouxa.

— Somos trouxas então, Fukase. — Gargalhou, enlaçando o pescoço albino com os próprios braços e sorrindo para aquele desgraçado — Mas que culpa tenho se seus beijos são tão viciantes e você me ajuda a não ser uma vergonha para nação em Álgebra?

— Como é? — Resmungou, arqueando uma sobrancelha ruiva.

— Isso que você ouviu, Palhaço-do-Mcdonalds.

— Ah, é? Pois saiba que você continua me devendo a Coca-Cola.

— Ah, não! — Exclamou com um biquinho infantil e selando os lábios dele rapidamente — Posso pagar minha dívida com beijos?

— Não. — Respondeu, após corresponder ao beijo — Na verdade, você fica me devendo vários beijos também. — Declarou, rindo da expressão emburrada do outro.

— Isso não é justo. — Murmurou enquanto distribuía beijinhos gentis no rosto dele — Se for assim, vou ser obrigado a te beijar o resto da minha vida.

— Como se isso fosse ruim.

— Quem sabe?

Os dois sorriram e Fukase entrelaçou as mãos de ambos.

— Vamos comer algo. — Sugeriu, puxando-o para as escadas — Eu pago.

— Só para eu te dever mais beijos, né? Estou entendendo sua lógica.

— Relaxa — Sussurrou em seu ouvido —, só quero que nos vejam juntos para terem a certeza que ninguém mais pode tocar na gente.

Foi inevitável a Flower não sentir as bochechas aquecerem ao ouvir aquela frase.

— E claro: garantir que você não vai ter desculpas para não pagar a Coca-Cola depois. — O rapaz de cabelos vermelhos debochou com um sorriso de canto e apertou a mão dele, enquanto atravessavam os corredores do colégio. — Pronto, agora estamos namorando.

— Caralho! — Flower gargalhou —, é tão simples assim?

— O que? Você quer que eu ajoelhe e te beije? Posso fazer isso, mas vamos tomar uma suspensão, sabe disso.

— Não, por favor, não! — Implorou rindo, pois sabia que o ordinário era capaz de algo do tipo — Isso basta para mim. — Sussurrou, o puxando para mais perto e o abraçando.

Fukase correspondeu no mesmo instante, fascinado com as batidas aceleradas de seu coração e o calorzinho que subia pelo estômago e alcançava seu rosto.

— Isso não te faz escapar de pagar a Coca-Cola.

— Qual é, não estraga o clima!

Os dois riram e Fukase o puxou para onde comprariam a comida.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.