Aquela conversa com Elizabeth tinha me deixado perturbado. Não sei por que, ou saiba, mas não tenho coragem de admitir, mas a pequena possibilidade de Joanne gostar de mim me deixava feliz. Rapidamente fiz questão de afastar esse pensamento da minha mente. Eu estava feliz possivelmente pelo fato de amanhã ser sexta-feira.

Em casa meu pai me esperava para o almoço. Ele tinha feito macarrão, que estava muito gostoso, a propósito. Não falamos nada durante a refeição. Porem quando eu estava lavando a louça meu pai começou a falar.

-Então como foi à aula?

-Boa, pai, muito boa.

Sempre que meu pai começava uma conversa assim eu sabia que ele tinha segundas intenções. Me perguntava quais eram elas.

-E como Joanne vai?

Ele seguiu com o interrogatório.

-Alegre, eu diria.

Falei pensando em como ela ria na aula de educação física e no recreio.

-E vocês estão se dando bem?

A parte racional do meu cérebro me dizia que eu odiava aquela psicopata. Porém uma voz na minha cabeça (sim eu ouço vozes!) dizia que nos estávamos dando bem até demais, que eu gostava dela até demais. Fiz questão de não ouvir essa voz chata.

-Muito bem, pai.

Menti descaradamente, ao menos era o que me dizia a razão.

-É que eu notei que depois da quinta-feira passada vocês não se encontraram fora da escola.

Tendo em vista os acontecimentos da semana passada, seria meio muito constrangedor sair com ela sozinho. Porém meu pai não sabia nada desses acontecimentos (por que deus existe e vai com a minha cara!)

-Pai, nós vamos para a escola juntos, estudamos na mesma turma e ainda moramos no mesmo prédio. Ainda quer que nos encontremos fora da escola?

Eu tentava dar bons argumentos a ele, e até que minha defesa não era tão ruim assim.

-Sim, Luke, e só para te lembrar nós temos um acordo.

Isso era totalmente injusto! Quem disse que chantagem valia?

-E o que você quer que eu faça?

Perguntei desanimado, tudo o que eu não precisava era sair com Joanne, ao menos era o que declarava meu lado racional.

-Sábado iremos jantar na casa da Eduarda. Ela me convidou hoje manhã.

Ok, agora eu ia ter que aturar lady MacBeth no sábado à noite também. A voz chata voltou mais histérica e insuportável que antes. Para ela aquela seria uma grande noite.

Eu tinha muito dever de casa para fazer, porém antes de começar a tentar resolve-los, abri minha caixa de e-mails. Ela estava cheia de e-mails (incrível não?), a maior parte era de correntes, exclui esses de uma só vez. Então e deparei com um e-mail diferente. O remetente dele era lady.bug@hotmail.com. Abri o arquivo, era uma apresentação no Power Point. Porém só tinha um slide, nele dizia isso: “Tenha um bom fim de semana... Com os cumprimentos de Lady Bug!”.

Admito que fiquei atordoado com essa mensagem. Por um instante as palavras ditas por Elizabeth não me pareceram absurdas. Porém foi apenas um pequeno lapso, mais do que rapidamente expulsei essa idéia dos meus pensamentos.

Deixei o computador ligado e fui fazer o dever de casa, com a esperança de não pensar mais nesse assunto. Dito e feito, não precisei de mais de cinco minutos de exercícios de matemática para dar um nó no meu cérebro.

Depois de ter acabado grande parte dos exercícios, o resto eu copiaria de Kevin, fui mexer na internet.

Só quando fui colocar uma musica para tocar que notei que algo estava errado. Por mais que eu procurasse, não achava minhas pastas. Quero dizer, não apenas as musicas, mas todos os arquivos salvos no computador.

Nesse instante os pedaços do quebra-cabeça se encaixaram na minha cabeça. As palavras de Joanne na aula de educação física: “Isso foi só o começo.”, essa não tinha sido uma afirmação vazia. Como eu tinha sido burro abrindo aquele e-mail dela. Agora meu computador estava com um vírus e todos os meus arquivos tinham desaparecido. Eu queria estrangular, decapitar e esquartejar aquela garota, minha vida estava naquele computador.

Fiz a única coisa que me parecia sensata.

-Alô? Joanne?

-É ela. O que foi?

-O que você fez com meu computador?

-Eu? Eu não fiz nada.

Ela deu uma risada abafada que desmentia a inocência da afirmação dela.

-Claro que fez! Me mandou aquele e-mail e agora todos os meus arquivos foram para o espaço!

-Não sei do que você esta falando.

Ela se mantinha firme no seu papel. Mas eu sabia o quanto boa atriz ela era.

-Sabe sim. E eu vou provar.

-Aé? Como?

-Não te interessa.

Na verdade interessava. Desliguei na cara dela. Estava com raiva demais para continuar aquela conversa.

Eu precisava de um contra ataque. Ela receberia o troco, mas qual seria esse? Pensei, até que o plano perfeito veio a minha mente.

Mas para que ele desse certo eu precisava primeiro de algumas coisas. Fui até um mini mercado que tem perto do prédio. Comprei o que precisava: alguns bom bons, pimenta e uma seringa.

Logo que cheguei em casa começou a segunda etapa do plano. Enfiei a seringa em uma pimenta, o liquido que saiu dela eu coloquei nos bom bons. Não muito, mas o suficiente para causar uma reação alérgica.

Fui até o armário onde meu pai guardava os remédios. Achei o que eu estava procurando: laxante. Segui a mesma técnica de antes para colocar o remédio nos bom bons.

Para cumprir a quarta parte do plano escrevi um bilhete \"Presente do seu admirador secreto.\"

Coloquei os bom bons em uma caixa junto com o bilhete. A quinta e ultima parte do plano eu só poderia acabar amanhã.