Me Adora

You make me wanna scream


– Mas foi ela que começou, Mathias! – Dinho tentava se ausentar da culpa.
– Não mesmo – Lia protestou – Foi você, quando roubou a gangorra que eu iria pintar. Poxa, diretor, a gangorra tava lá paradinha, ninguém tava pintando ela, tava se sentindo lá toda excluída, eu só fui pegar a lata de tinta pra pintar ela e esse garoto chega pra atrapalhar.
– Ah, que coração puro, Lia. Ajudando gangorras solitárias, quanta solidariedade. – Dinho foi irônico – Diretor, foi essa maluca quem começou, ela é surtada, sério.

– Foi você, garoto.
– Você.

– Você. – Os dois se encaravam já bufando de tanto ódio.
– Chega vocês dois! Olhem o estado de vocês – E então eles se olharam, sujos de tinta, os cabelos duros pela tinta já seca, as roupas manchadas, estavam em um estado realmente deplorável – Eu peço um favor a vocês de fazer um trabalho voluntário pintando e arrumando a pracinha e é isso que vocês fazem? Mais atrapalham do que ajudam, deixam a pracinha mais suja e em estado mais caótico do que ela já estava? – Lia e Dinho se entreolhavam.
– Foi mal aê, diretor. – Lia falou em um tom baixo, quase que sussurrando.
– Foi muito mal, foi péssimo, horrível, ridículo. Mas eu já sei o que vou fazer.
– Tudo, T U D O menos suspensão, diretor. Pô! – Dinho se pronunciou.
– É, mais uma e meu pai faz picadinho de Lia.

“Até que não ia ser nada mal” – Pensou Dinho.

– Não, não. Estou pensando em algo melhor. – Mathias se levantou de sua cadeira e ficou andando de um lado para outro na sala, apenas para criar um suspense para os dois que já estavam desesperados.
– Ai diretor, fala logo! – Lia quase implorou, já agoniada.
– Vocês vão arrumar/pintar a pracinha no turno inverso a escola...
– Mas a gente já está fazendo isso, diretor. – Dinho constatou, dando uma risadinha.
– Sozinhos, sem ninguém para ajudar.
– Você tá dizendo que que vou ter que passar a minha tarde inteira sozinha numa praça pintando e arrumando e sei lá mais o que? – Lia perguntou.
– Sozinha não, com o Dinho.
– Piorou! – Ela bufou, largando o corpo pela cadeira em sinal claro de irritação.
– Você tá querendo dizer que vou ter que passar minhas tardes com essa mala? Ela é louca, diretor. Faz isso aê não. – Dinho disse desesperado.
– “De louco todo mundo tem um pouco”*. Vocês fizeram, agora arquem com as consequências: uma semana de trabalho voluntário. – Os dois iam começar a reclamar mas o diretor se intrometeu antes que eles pudessem dizer algo – É isso, ou podemos conversar sobre aquela história de expulsão ou detenção, enfim, vocês me entendem, né? – Lia e Dinho bufaram ao mesmo tempo, Mathias se divertia com a situação – Agora saiam e me deixem trabalhar.


Lia e Dinho saíram se encarando, se empurrando e mostrando a língua um para o outro.

* “De Gênio e Louco Todo Mundo tem um Pouco” – Augusto Cury