Masquerade

No secret remains hidden forever


Madison Hartfold

Na cozinha, as empregadas cuidavam dos pratos. Os perus recheados estavam assados, as tortas de abóbora e de outros sabores estavam disponíveis em cima do balcão. Cranberry, blueberry e concord grape estavam presentes em quase todos os pratos. O meu pai havia reservado várias garrafas de vinhos de uma safra antiga para os convidados. A decoração estava impecável e a comida cheirava muito bem. Os convidados iam chegando e enchendo a casa. As pessoas conversavam ao meu redor enquanto eu passeava entre elas, cumprimentando rapidamente todos. Se Ação de Graças não fosse meu feriado favorito, provavelmente eu estaria agora no meu quarto dormindo.

Odiava fingir para as visitas que estava tudo bem. Andar entre as pessoas e sorrir como se fossemos amigas, como se eu me importasse com qualquer uma delas. Por mim, uma bomba poderia cair nesse exato momento e não faria diferença, desde que eu não morresse. Porque, sim, eu era egoísta o bastante para isso. Não me importava com ninguém mesmo.

Quem eu estava querendo enganar? É óbvio que não estaria dormindo. É claro que eu manteria as aparências, como eu fiz a vida toda.

Os Scotterfield chegam. Bash está incrivelmente lindo com a camisa social azul clara que eu comprei para ele no dia em que fomos ao shopping comprar o presente de aniversário da minha mãe. Tudo parecia estar em um passado tão distante agora.

Logo os van der Windsor também chegam juntamente com os Wentworth. Jonathan, sempre sem noção, trouxe a amante. Falando em pessoas sem desconfiômetro, Scarlett trouxe sua irmãzinha bastarda, Wendy. Os últimos a chegarem foram os Morgenstern com uma cara nada animada.

O circo estava armado e todos estavam sob a tenda. Aquilo era um barril de pólvora e eu estava pronta para jogar o fósforo.

§§§

– Madison - Pat segura o meu braço.

– Não posso falar agora - rosno. - Não na frente de todo mundo.

– Tenho certeza de que você vai se interessar pela informação.

Respiro fundo. Combino de nos encontrarmos no meu quarto em cinco minutos. Passeio pela sala para disfarçar. Deve ter cinquenta pessoas na minha casa. Meu pai realmente adorava um feriado para exibir seus bens.

– Os associados precisam ver como estamos, assim trazem mais investidores - ele costumava falar. Sinceramente, eu sentia como se ele fosse Gatsby algumas vezes. Até parecia um pouco com Leonardo DiCaprio. Minha versão favorita.

Era muito parecida com meu pai nesse sentido. Adorava exibir.

– Maddie, nós temos que conversar.

Me viro para Bash.

– Sobre o que, exatamente?

– Sobre aquele dia na festa azul...

– Olha, Bash, foi um momento de fraqueza. Eu já superei. Você deveria fazer o mesmo.

– Eu simplesmente me recuso a acreditar que não tem nada aqui - ele pressiona a mão contra o meu peito. - Eu sei que tem, Maddie. Você não precisa esconder. Não para mim.

Não podia negar, não para mim mesma, que seu toque me fazia estremecer. Eu amei muito esse homem, Deus, como eu o amei. Eu o idolatrava. Achava que ele era o único que poderia me fazer sorrir. Chegava a ser um amor doentio. Porém ele havia matado tudo o que ainda restava de bom dentro de mim. E por isso ele iria pagar.

Ele me puxa mais para si, me abraçando. Seus lábios roçam minha orelha, minha bochecha e o meu pescoço. Ele faz uma trilha de beijos até a minha orelha novamente e fala:

– O seu coração se recusa a lembrar de tudo o que nós fizemos? De tudo o que vivemos?

Sinto sua mão na minha e meu corpo está em uma espécie de convulsão interna. Não posso mais me segurar. Quero jogá-lo na parede e beijar cada parte do seu corpo. Quero amarrá-lo em minha cama e não deixá-lo mais sair.

Não posso permitir que ele tenha tamanho controle sobre mim.

– Que coração?

§§§

– O que foi, Patrick? - pergunto, apressada. - O almoço já vai ser servido. Precisamos ser rápidos.

– Tem algo que Tiffany contou hoje para nós - ele fala. - Você precisa saber.

Faço sinal para ele continuar.

– Ela está grávida.

Suspiro, me sentando na cama para não cair. Não é possível.

– Deve ser um golpe para ficar com Bash. É bem a cara daquela dissimulada fazer isso.

– Ela levou um exame, Madison. São duas meninas.

– Duas? - quase caio da cama. - Não pode ser...

– Nosso plano precisa ser adiado.

– Você está amarelando? - questiono, irritada.

– Não podemos dar um susto em uma grávida.

– Não me importa. O plano vai seguir. Tiffany vai perder todos aqueles com quem se importa.

– E se ela contar para seu namorado? Você acha mesmo que ele ficará com você sabendo que tem filhos com outra mulher?

– Não se preocupe com isso. Com Bash eu sei lidar. Foque no plano, Patrick. Teremos que adiantá-lo.

§§§

Adam van der Windsor

– Lett...

– Adam.

– Como você está?

– Bem.

Sinto a frieza em suas palavras. É impossível não sentir. Essa Scarlett é gélida, bem diferente de como ela costumava ser.

– O que aconteceu com você?

– Como assim?

– Você está... congelando.

– A morte congela as pessoas.

– Sinto muito, Lett. Já faz um tempo, mas nós nos afastamos e...

– Nós ainda somos amigos - ela confirma -, só que todos nós mudamos. Nós crescemos. É natural o afastamento.

Concordo.

– Eu só... eu não queria que ficasse estranho assim entre nós.

Ela dá um sorriso de lado.

– Não está estranho - ela me beija no rosto, mas eu mal sinto seus lábios na minha pele. - Ainda somos amigos.

– Eu sinto sua falta, Lett - murmuro.

Ela se afasta e me encara, o sorriso sumindo do seu rosto.

– Adam...

Decido que é a hora de confessar. Não há motivo para esconder:

– Eu te amo, Lett.

§§§

Scarlett Wilkins

– Adam, eu...

Olho para o pé da escada. Zac está descendo. Meu coração acelera dentro do meu peito. É improvável que ele me reconheça, já que a última vez que ele me viu eu mal tinha saído da infância. Eu ainda me lembro de como ele costumava me incomodar quando eu e Madison brincávamos.

Lembro de um dia quando tínhamos doze anos e jogamos verdade e consequência. Zac estava tão próximo, o cheiro do seu perfume era tão bom, estava frio aquela noite e ele me emprestou o seu casaco. Nós caminhamos pelo jardim, pulamos na piscina em meio a madrugada e...

– Lett?

Quase me esqueço de Adam. Me culpo mentalmente por isso. Ele estava ali, se declarando, e eu simplesmente...

Eu o amei. Amei muito. Pela forma como soa em minha cabeça, parece que foi há muito tempo atrás, mas não foi. Haviam se passado o quê? Cinco, seis meses? Um pouco mais, provavelmente. Ele ainda era muito importante para mim e abrir mão de Adam foi uma das coisas mais difíceis que eu já fiz. Mas era impossível dormir com ele lembrando que por causa do seu pai eu estava me prostituindo.

Com Zac era um tanto diferente. Ele era um cliente, nada além disso. Eu tinha que lembrar a mim mesma constantemente desse fato, principalmente quando meus sentimentos começam a aflorar.

– Eu também te amo, Adam, só não desse jeito. Não mais.

– Amor não deve sumir assim, da noite para o dia.

– Nós estamos afastados há meses. Esfriou.

Ele toca minha cintura.

– Então vamos esquentá-lo novamente.

Me afasto devagar.

– Desculpa, Adam.

Sou surpreendida com um beijo. Seus lábios macios tocam os meus por um breve momento e as lembranças voltam como a erupção de um vulcão. Sinto as bolas de fogo caindo e caindo e caindo, está tudo escorrendo para os lados e eu não consigo parar.

Pouso as mãos na nuca de Adam, o puxando para mais perto.

Love is blindness, I don't want to see

Won't you wrap the night around me?

Oh, my heart, love is blindness

Está tocando Jack White e tudo parece se desfazer aos poucos. Não há como negar que Adam mexe comigo ainda, de uma forma que outros não conseguiam. Tudo parecia tão confuso dentro de mim. Deus, por que ele foi me beijar?

Love is drowning in a deep well

All the secrets, and no one to tell

Me afasto. Fico o mais longe que posso para que não caia em tentação novamente. Mal consigo me equilibrar. Era como se ele fosse o ar e eu não pudesse respirar. Sinto a necessidade de tocá-lo novamente, só mais uma vez...

– Adam.

A voz de Harold van der Windsor, pai de Adam, me traz de volta ao mundo. Ele nos encara. Quando Adam se vira, ele sorri para o filho. Seus olhos azuis congelantes em mim, apesar de tudo.

– O almoço vai ser servido. Vamos.

Adam olha para mim.

– Só mais um minuto, pai.

– Você deveria se juntar à nós, Scarlett - Harold fala, o sorriso falso transbordando. - Há alguns lugares vazios em nossa mesa.

– Eu tenho uma própria mesa - falo. Me lembro de que Adam não sabe de nada ainda -, mas obrigada, sr. van der Windsor, sempre tão gentil.

Ele assente e se afasta. Adam me olha.

– Não tem motivo para nós ficarmos separados, Lett. Eu sei que você sentiu o mesmo que eu senti quando nós nos beijamos. Não vamos perder tempo.

Me lembro do terror que foi quando cheguei na Red Night e Harold estava lá. Bridget me enganou, se fez de advogada boazinha, mas no final tinha um plano com seu marido cafetão. Adam, que havia ficado com tantas antes de mim, tantas que eu tive que presenciar, fingindo que não sentia nada. Mesmo após Cancun, ele resistia, me ignorava. Nós ficamos juntos quando ele descobriu sobre meus sentimentos, mas acabou. Tudo se esfacelou quando sua família desgraçou a minha.

Eu não podia ficar com ele sabendo tudo o que estava acontecendo. Como eu reagiria ao seu toque durante a madrugada, sabendo que outros caras haviam me tocado minutos antes? Como eu encararia Harold na cozinha pelo café da manhã, sabendo que horas atrás ele era o meu cafetão?

Era egoísmo e eu não podia. Eu não permitiria. A decisão estava tomada. Adam poderia me odiar por mentir, mas eu não suportaria ver o desprezo em seus olhos quando descobrisse que sua namorada é uma prostituta.

– Eu sinto muito, Adam - sussurro. - Nós terminamos. Eu estou em outra. Não tem volta.

– Scarlett, não minta. Eu sei que você também sentiu...

– Eu não senti nada! - minha voz se altera. - Nada. Absolutamente nada. Sinto muito. Acabou.

§§§

Madison Hartfold

As mesas estavam dispostas no enorme jardim. Cada família recebeu uma mesa. A comida estava em uma enorme mesa decorada. Tudo estava tão bonito.

– Adam e Naomi não estão aqui - ouvi Bridget van der Windsor dizer ao marido.

– Eu falei com ele agora mesmo. Ele disse que estava vindo - Harold fala.

– Eles sumiram - a morena sussurra. - Vá procurá-los, Harold.

Depois do almoço, passeio pelas mesas. Meu pai sempre diz que devemos estar próximos aos convidados, puxando o saco, bajulando-os. Nunca se sabe quando precisará da ajuda de algum deles.

Paro na mesa dos Morgenstern. Bash me vê e se aproxima. Ótimo. O circo está armado.

– Tiffany - Bash cumprimenta. - Sr. e Sra. Morgenstern, Derek, Patrick.

– Olá, Sebastian - Ronald Morgenstern fala por toda a família. - Madison. Bela recepção.

– Sr. Morgenstern, desculpe me intrometer, mas não parece muito animado para um feriado - Bash comenta.

Aberto sua mão, o repreendendo. Ele me encara sem entender. Homem não tem desconfiômetro mesmo.

– Boas notícias chegaram, meu jovem, mas nada dura para sempre. Há coisas que acabam com o nosso bom humor.

Ele lança um olhar mortífero para Tiffany, que parece irritada.

– Nós esperamos o apoio daqueles que são próximos a nós quando momentos difíceis chegam, não que eles nos virem as costas.

Bash parece perceber que chegou perto demais do vespeiro.

– Eu acho que vou ver como os Wentworth estão... Madison?

– Não se preocupem - Ronald fala. - Fiquem.

– Sentem-se - Phoebe convida.

– Eles não podem ficar - Tiffany intervém. - Com certeza a anfitriã e seu par tem muito a fazer.

– Tiffany, que modos são esses? - a mãe a repreende.

– Na verdade - falo, louca para sair dali. - Tiffany está certa, Sra. Morgenstern.

– Não me importo em ficar - Bash se senta, me fazendo sentar junto.

Do jeito que aquelas pessoas estavam em seu limite, iriam revelar logo. Bash não podia saber.

Scarlett chega a mesa e senta-se conosco.

– Tiff - ela diz. - Andou engordando.

Ótimo. Mais uma.

– Não engordei - a loira se exalta. - Estou normal.

– Desculpa, mas amiga é para essas coisas, não é? Devemos avisar quando a outra está diferente.

– Inchaço - intervenho. - Típico do verão.

Tiffany me encara. Há algo em seus olhos que eu não consigo decifrar.

– Tiff anda cansada - Derek fala. - Só isso. É normal.

– Cansada do quê? Não é como se estivéssemos em uma turnê - Scarlett fala.

– Cansada de vocês todos se meterem na minha vida - ela rosna.

Olho para trás, desesperada. Patrick parece perceber que Tiffany está entrando em colapso. Frank se aproxima. Deus, isso vai ser pior do que eu imaginava.

– Tiff - Patrick chama. - Por favor. Não vamos falar sobre isso na frente de todos.

– Eu estou cansada, Pat. Eu não posso mais viajar em turnê.

– O quê? - Frank pergunta. - Por quê? Logo agora que a banda está dando certo.

– Podemos dar um tempo - Bash fala. - A banda tem futuro. Podemos terminar o colegial e então...

– E então o quê? - Tiffany questiona. - Eu nem sei se vou conseguir terminar o colégio. Vocês não entendem...

– Então nos faça entender - Bash se irrita e se levanta. - Você não conta mais nada, como vamos adivinhar o que está acontecendo?

– Mas que porra, será que ninguém percebe? - Tiffany se exalta. - Eu estou grávida!

§§§

Sebastian Scotterfield

Tiffany pegou todos nós de surpresa. Os Morgenstern já sabiam, é claro. Por isso a cara de infelizes. Uma gravidez na adolescência destruía o futuro dos pais.

– Grávida - Scarlett sussurra, olhando ao redor. - De quem?

– Isso não é da conta de vocês.

– Claro que é - Frank entra na conversa. - Tiff, se for meu, eu quero saber.

Todos já sabiam mesmo da minha relação com Tiffany, então não havia porque esconder. Se fosse meu, eu também queria saber.

– O pai deve assumir - concordo. - É do direito dele saber.

– O pai é você, ok? - Tiffany fala, olhando para mim. - O pai é você, Bash.