Scarlett Wilkins

Ando de um lado para o outro da sala esperando Bridget van der Windsor, a advogada de minha família.

Não dormia direito nos últimos dias. Olheiras se acumulavam ao redor dos meus olhos e eu me sentia pelo menos cinco anos mais velha e mais cansada. É como se todo o peso do mundo tivesse caído sobre as minhas costas.

Dei um dinheiro a Wendy para pagar as contas da casa. Minha mãe costumava esconder maços de dinheiro em pontos estratégicos da casa, se por acaso algo acontecesse. Porém o dinheiro estava acabando e eu não sabia o que fazer.

Todos os meus cartões estavam bloqueados, a editora do meu pai não tem mais nada dele que não seja o nome: Wilkins. O novo dono é mal educado demais e nós quase brigamos quando eu fui visitá-lo em busca de informações. Tentei me comunicar com a família da minha mãe no Texas, mas o meu avô havia perdido todo o dinheiro que um dia teve em cassinos em Las Vegas e agora estava em depressão, o que fez com que minha avó raspasse todas as suas economias. Minha mãe também tinha um irmão que foi morar na França com a esposa que é de lá, mas não consegui me comunicar com ele.

Enfim, tudo estava uma merda. Quando se pensa que as coisas não podem ficar ruim, elas vão lá e pioram. Parece que o mundo sempre conspira contra você e quando decide ferrá-lo...

Não sabia o que fazer, para onde correr. Há duas semanas não ia no colégio e já recebia ligações do diretor. Sai apenas hoje da cama porque a mãe de Adam, que é nossa advogada, viria nos visitar.

A campainha toca e eu dou graças a Deus. Wendy abre a porta para Bridget. Vamos para o escritório.

– E então? - pergunto.

Bridget tem os cabelos castanhos presos em um coque muito bem feito, os olhos da mesma cor destacados com um leve delineador e um batom cor de boca nos lábios finos. Estava usando um terninho preto bem comportado e uma saia tubinho na altura dos joelhos da mesma cor.

– Há boas e más notícias.

– Diga-me as boas, por favor. Eu preciso de alguma.

– O inventário foi cancelado. Como você é a única herdeira, não há a necessidade de levantar todos os bens dos seus pais para dividir, afinal não há com quem dividir.

Olho para Wendy.

– Na verdade, tem sim.

Bridget respira fundo e olha para mim.

– Acontece que não há mais bens. Chelsea colocava tudo no nome de Richard e, bom, ele perdeu tudo.

Eu sabia que minha mãe havia vendido a empresa do meu pai e que ele estava falido, mas eu pensei que minha mãe ainda tivesse algo em seu nome, apesar de sua família estar tão necessitada quanto eu.

Eu não imaginava que além de perder os meus pais, perderia também meus bens financeiros.

– Minha mãe não me deixou nada?

– Apenas uma poupança, a qual você terá acesso com vinte e um anos, se tiver terminado a faculdade.

– Mas... e do que eu vou viver?

Bridget a olha com pesar.

– Sinto muito, Scarlett, mas você vai ter que arranjar um trabalho.

§§§

Adam van der Windsor

Não vejo Wendy desde que os pais de Scarlett morreram. No dia do enterro ela também mal olhou para mim. Está na hora de partir para outra.

Sigo para a aula de Álgebra com Madison. O professor pede para a turma fazer duplas para fazer uma listagem de exercícios. Rapidamente junto minha carteira com a dela.

– Como você e Sebastian estão?

Ela suspira.

– Ele está bem distante. Você sabe como ele é, Adam. Eu esperava que me ajudasse quanto a isso.

– Podemos negociar.

Madison dá risada e encosta a mão na minha coxa por cima da calça.

– E o que você iria querer dessa vez?

Sorrio de lado, passando os dedos pela parte nua das suas costas por causa do vestido.

– Tudo.

§§§

Madison Hartfold

Encaixo meu vestido azul marinho no corpo e viro de costas para Adam. Ele puxa o zíper para mim, me viro e o beijo.

– Foi ótimo.

Ele sorri para mim e me puxa pela cintura.

– Poderíamos ir para uma segunda rodada...

– Não - me afasto. - O pessoal já vai chegar e você precisa falar com Bash. Provavelmente ele anda se encontrando com alguma vagabunda para me deixar de lado desse jeito.

Olho diretamente nos olhos cor de mel do meu amigo.

– Adam, eu posso dividir muitas coisas, menos o meu namorado - digo. - Eu quero Bash só para mim, nem que para isso eu tenha que matar alguém.

§§§

– Por que isso? - Tiffany pergunta.

– Lett precisa se animar! - digo. Levanto e puxo Bash. - Vamos para a piscina - olho para meus amigos. - Todos.

Passamos a tarde na piscina da minha casa. Todos os meus amigos. Eu, Bash, Tiff, Adam, Frank e Scarlett. Sinto que depois de muito tempo, todos os problemas foram esquecidos e nós pudemos ser nós mesmos. Éramos nada além de crianças brincando na água, competindo quem pulava mais alto e quanta água ia pra fora.

Mais tarde, cada um tomou banho em um banheiro e fomos todos para o meu quarto. Cada um mexia no seu celular de algum lugar e as vezes trocávamos algumas palavras. A questão é que ninguém queria ir embora. Scarlett parecia mais animada e eu realmente fiquei feliz por isso.

Comecei a cantarolar Bastille e de repente tive uma ideia.

– Nós poderíamos gravar o vídeo.

– Que vídeo?

– Para a inscrição da aula de música! - digo. - O professor Barrell disse que quem quiser se inscrever para música deve gravar um vídeo para a semana que vem.

Olho para Bash.

– Você sabe cantar muito bem - falo. - Adam sabe tocar bateria e Frank violino - olho para Scarlett e sorrio. - Lett arrasa na guitarra e Tiff também canta bem, poderia ser segunda voz.

Sorrio para ele.

– Por favor.

Bash olha para o pessoal.

– Vocês concordam com isso?

Todos acabam aceitando. Como minha mãe é musicista, temos um estúdio em casa. Separo algumas roupas para as meninas e os meninos pegam algumas do meu irmão. Zac é mais velho e muito formal, então só tem camisas sociais e coisas do tipo. Descemos para o primeiro andar e entramos na sala com a acústica perfeita para se gravar um vídeo.

Escolhemos No Angels, do Bastille com The XX.

Coloco um short jeans claro, uma bota de cano curto preta e uma blusa também preta com I'M BAD escrito em rosa. Tiffany pega uma calça escura, sapatilhas claras e uma blusa vermelha escrita CALM DOWN em branco. Scarlett opta por uma legging preta com estampas de cruz branca, um Vans escuro e blusa preta escrita CIAO! em dourado. Ainda me lembro de quando comprei essa blusa em Roma no verão passado. Colocamos alguns poucos acessórios, nada exagerado.

Sebastian está maravilhoso com uma jaqueta de couro, cabelos bagunçados e óculos de aviador, Frank arranjou uma camiseta esverdeada e calças com estampa do exército e Adam está com uma camisa branca cuja frente tem o desenho dos olhos e do focinho de um lobo. Embaixo do bicho está escrito House Stark e embaixo disso está escrito Winter is coming.

Pegamos tudo o que iremos precisar e nos preparamos. Respiramos fundo. Bash olha para mim.

– Acho melhor você pegar mais partes na música - ele fala. - Sua voz é incrível. Você merece mais destaque do que eu.

Sorrio para ele, agradecida. Concordo. Nos beijamos.

Frank começa sozinho com o violino e Adam e Scarlett posicionam suas guitarras. Bash olha para mim novamente e eu concordo com a cabeça, dizendo que ele deve começar.

A scrub is a guy who thinks he's fly

And he's also known as a buster

Always talkin' about what he wants

And just sits on his broke ass, so

No, I don't want your number

No, I don't want to give you mine and

No, I don't want to meet you nowhere

No, don't want none of your time

Bash olha para mim e sorri. É minha vez.

I don't want no scrubs

Scrub is a guy that can't get no love from me

Hangin' out the passenger side

Of his best friend's ride

Try to holla at me

É a vez de Bash novamente. Sua voz é tão boa de se escutar que eu fecho os olhos por alguns instantes.

I don't want no scrubs

Scrub is a guy that can't get no love from me

Hangin' out the passenger side

Of his best friend's ride

Trying to holla at me, trying to holla at me, at me

É a minha vez. É uma parte mais aguda. Minha voz sai de forma grave e mais alta do que eu queria.

But a scrub's checkin' me and his game is kinda weak

Kind I know that he gonna approach me

Cause I'm lookin like class and he's looking like trash

Can't get with no deadbeat ass, so

Bash retoma o estilo da música quando passo a vez para ele. Observo seus olhos fechados enquanto canta. Ele realmente se entrega.

No, I don't want your number

No, I don't wanna give you mine, and

No, I don't wanna meet you nowhere

No, don't want none of your time

Quando chega minha vez, me sinto mais confiante. Eu realmente amo a música e sinto que é o que eu quero para mim. Decido me entregar completamente, igual Bash.

No, I don't want no scrubs

Scrub is a guy that can't get no love from me

Hangin' out the passenger side

Of his best friend's ride

Trying to holla at me

I don't want no scrubs

Scrub is a guy that can't get no love from me

Hangin' out the passenger side

Of his best friend's ride

Trying to holla at me, holla at me

Holla at me, holla at me

Quando abro os olhos, vejo Bash cantando e olhando diretamente para mim. Ele sorri.

If you don't have a car and you're walkin'

Oh yes son, I'm talking to you

If you live at home with your momma

If you have a shorty that you don't show love

Wanna get me with no money

Oh no

I don't want, no

Tiffany canta como segunda voz enquanto eu e Bash nos preparamos para cantarmos juntos. O violino de Frank soa ao fundo e a guitarra de Scarlett e Adam é melodiosa.

No scrubs, no scrubs

No scrubs, no scrubs

No, I don't want no scrub

Scrub is a guy that can't get no love from me

Hangin' out the passenger side

Of his best friend's ride

Trying to holla at me

I don't want no scrub

Scrub is a guy that can't get no love from me

Hangin' out the passenger side

Of his best friend's ride

Bash olha para mim enquanto canta sua última parte.

Trying to holla at me, try to holla at me

Sorrio para ele e fecho os olhos novamente enquanto recebo a responsabilidade de finalizar a música.

Holla at me, try to holla at me

§§§

Depois de filmarmos e fazermos algumas mudanças no vídeo, voz e etc., decidimos beber um pouco. A noite se aproximava e como meus pais não viriam para casa... essa é noite de plantão do meu pai e minha mãe está viajando, o que é uma ótima oportunidade para receber os amigos.

Peguei algumas bebidas no ar e eu e meus amigos nos dirigimos para o meu quarto. Quando a bebida já começava a fazer efeito, decidi sugerir:

– Quem tem coragem de passar pelo detector de mentiras?

Todos hesitaram um pouco no começo, afinal todos tem segredos a esconder. Mas eu havia conseguido embebedar meus amigos tanto que eles provavelmente não se lembrariam de nada do dia seguinte. Claro que eu era a mais sóbria do lugar. Descobrir segredos é o meu forte.

Pego o celular e abro no aplicativo de detector de mentiras. Adam dá risada.

– Isso aí vai definir se eu falo a verdade ou a mentira?

– Vamos começar com perguntas simples, sim? Qual seu nome?

– Adam - ele responde próximo ao aparelho.

Verdade, aparece em verde alguns segundos depois. Começo a fazer perguntas aleatórias e eu sei que muitas vezes o aplicativo não funciona, mas meus amigos bêbados irão acreditar.

– Você já amou alguém, Adam?

Ele respira fundo antes de responder e eu já sei que está nervoso.

– Não.

Mentira, aponta o detector.

– Isso aí que é mentiroso! - ele aponta para meu celular com olhar acusatório. Tão bêbado quanto deveria.

– Quem é seu amor, Adam? - pergunto. - Wendy?

– Não! - ele nega veementemente.

Verdade.

– Vamos passar, sim? - Tiffany me interrompe. - Deixe-me fazer uma pergunta a Scarlett.

– Você ama Adam?

Scarlett sabia que não adiantava mentir, mas eu via que ela estava perdida.

– Sim - ela responde enquanto olha para seus pés.

Verdade.

Pego o meu celular das mãos de Tiffany e decido fazer a pergunta que acabará com ela.

– Você já traiu o seu namorado?

Frank espera a resposta assim como todos os olhos. Bash disfarça, olhando para o chão.

Desgraçado, rosno.

– Não.

Mentira. Para não magoar o meu amigo, decido mudar o resultado. Há como, graças a Deus. Marco verdade. Ele respira aliviado enquanto Tiffany e Bash me encaram abismados.

– A noite está encerrada - digo. - Amanhã temos aula. Todos para suas casas.

– Eu acho que vou ficar - Bash diz e eu dou de ombros, enquanto desço para guardar as bebidas.

Depois que todos já foram embora, ele vai me ajudar.

– O que está acontecendo?

Não respondo. Subo para meu quarto. Ele me segue, fecha e tranca a porta.

– Maddie, fala comigo.

Ele segura minha mão. Hora do show.

– Você mente pra mim.

Ele parece nervoso.

– Maddie...

– Eu sei de tudo, Bash. Eu sei que você já ficou com outras garotas e, principalmente, que já ficou com Tiffany. Eu sei que você ainda fica com ela.

– Madison...

– Por favor, me deixe falar.

– Eu estava decidida a contar à Frank, mas eu sei que ele gosta daquela loira vagabunda. Ele não merece isso, Bash. Frank não merece. Eu não mereço.

– Maddie, você tem que entender...

– Entender o quê? - pergunto, obrigando as lágrimas a caírem. - Que eu não sou boa o suficiente para você? Que eu não basto? É assim que eu me sinto, Bash. Uma inútil! A famosa Madison Harfold, a corna do terceiro ano.

– Não é assim...

– Por quê? - pergunto. - Quando?

– Você tem que entender que não importa com quantas eu fique, você é a única que eu amo.

– Eu quero saber o porquê disso tudo.

Bash coloca suas mãos no meu rosto, me fazendo encará-lo.

– Eu amo você, Maddie. Tiffany não significa nada para mim. As outras não significam nada para mim.

– Mas para mim significam! - me afasto. - Elas são a prova viva que eu não sou o melhor.

– Maddie...

Vejo que Bash está desesperado por uma reconciliação, mas que ele não sabe o que me dizer.

– Se você ficou esperando que eu te aliviasse, sinto muito, você deveria ter ido atrás de Tiffany - aponto para a porta com lágrimas nos olhos. - Porque eu não sou uma vagabunda como ela é.

Vejo o olhar desolado de Bash. Sim, eu realmente o tenho nas mãos, mas eu o quero sofrendo igual eu sofri.

– Eu te amo tanto que se você me mandasse matar alguém, eu provavelmente mataria - murmuro. - Se você me pedisse para fugir com você, eu fugiria. Se você me pedisse para casar com você, eu casaria. Eu faria qualquer coisa para ter você só para mim para sempre.

– Maddie, eu te amo...

– Mas parece que não é o bastante, não é mesmo? Parece que o meu amor e o seu amor não são suficientes já que as suas necessidades de homem falam mais alto do que o sentimento de qualquer pessoa.

Faço cara de magoada.

– Esse é o problema, Bash. Você afasta tudo de bom que tem na sua vida por algum motivo que eu não compreendo e acaba se aproximando de gente que não presta e que não vai se encaixar na sua vida.

Aponto para a porta.

– É hora de você ir.

Ele segura o meu braço.

– Eu quero ficar - ele me olha nos olhos. - Eu vou ficar.

§§§

Scarlett Wilkins

Adam disse que me daria uma carona até em casa. Tremi toda.

O caminho foi silencioso enquanto, por acaso, tocava No Angels.

A scrub is a guy who thinks he's fly

And he's also known as a buster

Always talkin' about what he wants

And just sits on his broke ass, so

Penso em como essa letra encaixa bem com Adam. Um babaca que se acha o tal.

I don't want no scrubs

Scrub is a guy that can't get no love from me

Sim. Ele não merece o meu amor. Ele o tem, mas não o merece.

Como todos moramos no mesmo condomínio, não leva mais do que dois minutos. Minha casa é duas quadras antes da casa de Madison, bem na entrada do condomínio.

Desço rapidamente e tento entrar na casa mais rápido ainda, mas Adam me puxa pelo braço, me fazendo dar o contorno na casa. Ele para embaixo de uma árvore com balanço no qual eu e meus amigos costumávamos brincar.

– O que foi? - pergunto, ainda meio bêbada. A minha cabeça parece prestes a explodir.

– Você realmente me ama?

Forço uma risada.

– Eu to bêbada, Adam. Deixe eu me jogar na minha cama e morrer lá.

– Eu só quero saber a verdade.

Fico séria.

– Por quê? Pra você zombar disso com seus amigos quando estiver sóbrio? Pra você dizer que sente o mesmo, aí a otária aqui acredita, e depois você me larga de novo? Não, muito obrigada, Adam. Eu já cometi esse erro em Cancun. Não vou cometê-lo novamente.

– Eu quero saber porque eu não sei como lidar com isso - ele responde. - Eu gosto de você, Scarlett. Eu só não sei até que ponto isso é amizade e desejo. Eu não sei se já ultrapassou esse limite. Eu realmente não sei... - Adam olha para mim. A luz da lua, seus olhos caramelos tornam-se ainda mais brilhantes. - eu a vejo e eu me sinto um idiota, mas eu não consigo simplesmente gostar de você... eu não posso, entende? Eu tenho uma reputação, uma fama... eu não quero acabar com ela.

– Então me deixe em paz - sussurro. - Por favor. Não me dê esperança de algo que não vai acontecer.

– Pode acontecer, se você quiser. Só não posso prometer que vai durar.

– Eu não quero assim.

– E eu não quero isso, mas que alternativa eu tenho? Eu não posso lidar com o que quer que seja! - ele me segura pelos braços. - Você não entende? Pra um cara como eu, você acha que é bom sentir algo assim? Eu nunca me senti desse jeito.

Ele toca o meu rosto e eu fecho os olhos. Não consigo suportar isso. Eu não vou conseguir resistir...

– Eu acho que eu gosto de você, Scarlett - Adam sussurra. - E para mim seria mais fácil se você sentisse o mesmo.

Abro os olhos. Nossas testas estão coladas e o meu coração dá um salto.

– E eu amo você, Adam.

E então, ele me beija.

§§§

Entro em casa com a mão nos lábios e com um sorriso no rosto. Eu nunca esqueceria daquele momento. Agora, eu sentia que poderia viver para sempre.

Chamo por Wendy, mas ela não responde. Sigo para o escritório então. Me surpreendo.

Wendy está com as mãos e os pés amarrados em uma cadeira e com a boca tampada por um trapo.

– Que diabos é isso? - arranco o pano da sua boca.

– Ele está aqui, Scarlett. Você tem que fugir.

– Ele quem?

– Eu.

Viro-me para o meu conhecido.

– Que susto! - levo a mão ao coração. - Pensei que isso fosse um assalto. Wendy o chamou? Obrigada por ajudá-la.

Ele dá risada.

– Eu a prendi.

Paro de desamarrar as cordas.

– O quê?

– Richard Wilkins deve para a máfia. Eu vim cobrá-lo.

– Meu pai está morto.

– Eu sei disso. É por isso que eu vim cobrar de você.

Olho para ele.

– Eu estou completamente falida.

– Eu tenho um contrato - ele retira o papel da pasta.

Nele dizia que meu pai devia para a máfia e que se não conseguisse pagar sua dívida, suas duas filhas seriam levadas para pagar com serviço.

– De quanto é a dívida dele? - pergunto, com raiva.

Como ele pôde assinar isso?

– Duzentos mil dólares.

Tranco a respiração. Antes, poderia não parecer muito dinheiro para mim, mas agora... agora parecia tão longe da minha realidade.

– E como você quer que paguemos? Traficando drogas, armas...?

Ele dá risada.

– Vocês são bonitas e jovens. Temos ótimos serviços para mulheres assim.

Tremo só de pensar. Eu confiava nesse homem, eu confiava no meu pai... ambos me traíram.

– E que tipo de serviço é esse? - pergunto, já sabendo a resposta.

– Prostituição, é claro.