Jantar de noivado

Scarlett Wilkins

Eu me prostituía de segunda à sábado. Eu me sentia exausta o tempo todo, mas não descansava. Quanto mais caras iam parar na minha cama, mais dinheiro eu conseguiria e isso fazia com que eu saísse de lá mais rápido.

Wendy parece não se importa muito com a nossa atividade extracurricular. Quando chega a hora, repassamos cinquenta porcento do dinheiro para Hayley, que fica no caixa da boate, e vamos para casa. Nem tiro a maquiagem ou a roupa, simplesmente me jogo na cama e durmo. Todos os dias.

Eu estava tão exausta que durante o sono pedi para Deus me levar desse mundo.

Eu realmente queria estar morta.

§§§

Madison Hartfold

Encaro Bash como ele fosse um lunático.

– Como é?

– Eu estou te propondo casamento. Não é o que você quer?

– E é o que você quer?

– Maddie... - ele toca o meu rosto. - Você acha mesmo que eu, Sebastian Julian Scotterfield, faria algo contra a minha vontade?

Provavelmente não, penso. Bash sempre foi muito independente e rebelde. Jamais eu imaginaria isso.

Aceitar poderia estragar os meus planos, mas recusar poderia por meus sentimentos à prova.

Droga, sussurro.

Coloco um sorriso no rosto e forço as lágrimas a escorrerem na mesma hora. Enlaço meus braços ao redor do pescoço de Bash.

– É claro que eu quero! - o beijo em meio as lágrimas. Ele coloca o anel de ouro branco cravejado de diamantes no meu dedo anelar direito. O anel de compromisso. - Eu te amo, Bash. E eu te perdoo.

Naquela noite, ele conseguiu o que queria: me levar para a cama.

§§§

Duas semanas depois

Estava atrás de um vestido para o jantar de noivado que Bash havia organizado para nossas famílias e amigos. Quando, de repente, algumas garotas me param.

– Madison Hartfold, certo?

– Sim?

– Você poderia nos dar autógrafos?

– Autógrafos? - pergunto, surpresa.

– Sim. Você é famosa agora. Sabe, No Angels no YouTube...

A música que o professor Barrell divulgou.

– Ah, é claro - sorrio.

Depois dos autógrafos, tiramos algumas fotos.

Apesar de tudo, eu estou gostando de ser famosa.

§§§

Tiffany Morgenstern

Hoje, provavelmente, era um dos piores dias da minha vida. O jantar de noivado e Bash e Maddie.

Eu sentia o meu corpo explodir de raiva enquanto colocava o vestido. Fui ao salão, arrumei o cabelo, fiz as unhas, maquiagem... absolutamente tudo, como se o jantar de noivado fosse para mim.

A tristeza me invadiu quando cheguei e vi os dois abraçados, trocando beijos e carinhos. Deveria ser eu, eu sabia disso.

Me distanciei um pouco, imaginando quanto tempo eu demoraria para vomitar: dez ou quinze minutos? De qualquer forma, fui para o banheiro perto da sala de estar e antes que pudesse fechar a porta, Bash entrou.

– Nem no seu noivado você consegue me deixar em paz? - pergunto.

– Eu só estou aqui para dizer que nós não podemos mais ficar juntos.

– Eu sei disso. Faz quase um mês que nós não temos nada.

– Ótimo que você tenha entendido. Eu realmente quero ficar com a Maddie agora.

– Por quanto tempo? - pergunto. - Três meses, quatro, quem sabe? Não vai durar.

– Maddie não é como você, Tiffany. Eu a amo de verdade, ela sim significa tudo para mim. Ela não é mais um caso qualquer.

Eu estava cansada de me humilhar, mas não conseguia parar de pensar nem por um segundo naquele homem. Ele me deixava louca mesmo quando estava longe e quando estava perto como agora, nós dois trancados em um banheiro tão apertado...

Me jogo, o empurrando contra a parede.

– Eu não me importo de ser mais um caso qualquer na sua vida - sussurro em seu ouvido, colocando a minha coxa no meio das suas pernas. - Eu realmente não me importo, Bash.

– Tiffany, por favor... eu estou tentando terminar com você de um jeito educado, mas... ah!

Ele parou de falar quando minha mão tocou seu membro já excitado. Eu sabia que ele me deseja tanto quanto eu o desejo.

– Qual é o problema de ficarmos juntos? - pergunto. - Há muito tesão entre nós. Isso não precisa acabar só porque você vai se casar.

O beijo com verocidade, mostrando que ele nunca vai ter nada daquilo com a sem sal da Madison. Eu sim sou mulher de verdade para um homem como ele.

Minhas mãos começam a desabotoar sua camisa social branca enquanto eu beijo seu pescoço. Toco seu abdômen exposto e faço uma trilha de beijos desde a sua clavícula até a sua cintura. Ele segura minhas mãos quando elas estão prestes a desabotoar sua calça.

– Eu já disse que nós acabamos, Tiffany - ele abotoa a camisa novamente e se olha no espelho, tirando as marcas que meu batom deixou nele.

Engulo a minha raiva e o meu orgulho quando me jogo novamente nos seus braços.

– Bash, por favor...

Faço questão de deixar meus lábios vermelhos pelo batom marcados na sua camisa. Ele logo me afasta, não percebendo o meu intuito.

– Acabou, Tiffany.

Ele destranca a porta do banheiro e sai.

– Isso é o que você pensa - digo para o nada.

Esse noivado pode até ter sido firmado, mas esse casamento nunca vai acontecer, digo a mim mesma. Nem que para isso eu tenha que matar um dos dois.

§§§

Scarlett Wilkins

Olhava para o relógio, aflita. Estava atrasada. Harold me mataria na primeira oportunidade.

– Eu já fiz o pedido e Madison já aceitou, mas eu gostaria de fazê-lo aqui na frente de todos - Bash diz, pegando a caixinha de veludo preta com o anel que havia dado a Madison há um mês atrás. - Maddie, você quer casar comigo?

Ela sorri, chora e assente com a cabeça. Ele se levanta, a beija e encaixa o anel de diamantes no seu dedo anelar direito. Ele já havia dado o anel para ela, mas teve que pegá-lo para fazer o pedido novamente, dessa vez na frente de seus pais e dos pais de Madison.

Ele olha para Joseph e Grace, os pais de Madison.

– Eu gostaria de saber a opinião de vocês, Sr. e Sra. Hartfold.

Joseph é ligeiramente baixo, levemente gordinho, só um pouco, mas tem os cabelos loiros cor de ouro e brilhantes olhos azuis escuros. Grace é mais alta e seus olhos azuis são mais claros, além de seus cabelos loiros terem um tom mais esbranquiçado, como trigo.

Como uma Targaryen, me lembro de Game of Thrones, a série favorita de Adam e logo sinto um aperto no peito. Olho para o lado e o vejo sorrir para mim e eu retribuo, tentando esconder minha tristeza. Como eu podia estar com ele sabendo que estava mentindo? Como conseguiria olhá-lo sabendo que por causa do pai dele eu me vendo todas as noites? Como eu contaria a Adam que sou agora uma prostituta? E se Harold contasse antes?

Eu sempre pensei que quando ficássemos juntos, tudo seria perfeito. Acontecesse que o destino decidiu brincar com a minha cara e fazer isso. Eu me senti tão feliz com Adam, até aquela notícia me atingir em cheio, na boca do estômago, revirando tudo por dentro... toda a minha dignidade, o meu orgulho e a minha vontade de viver haviam sido vomitadas depois do primeiro homem com quem tive de dormir na Red Night.

E ainda havia muitos outros pela frente. Eu sabia que não suportaria por muito tempo.

Depois do jantar, caminho até o lugar de Madison.

– Hum, Maddie...? Eu tenho que ir. Sinto muito.

– Já? - ela parece ligeiramente magoada por eu ser a primeira a ir.

– Eu tenho algumas coisas para fazer ainda. A situação que meu pai me deixou não foi fácil.

Ela concorda com a cabeça.

– Quanto a aquele dinheiro... eu posso te arranjar mais, se quiser.

– Sério? - pergunto, surpresa.

– Sim. Vamos marcar para eu entregar na sua casa semana que vem, sim?

Concordo com a cabeça.

– Obrigada, Maddie. De verdade. Você é um anjo - beijo sua bochecha. - Prometo que algum dia você vai entender tudo.

– Eu não preciso. Você é minha amiga e eu te amo. É por isso que faço o que eu faço.

Sorrio novamente, a abraçando.

– Você é a melhor amiga que alguém poderia ter. Eu também te amo.

Me despeço de todos com um aceno rápido e caminho em direção ao meu carro quando sinto uma mão agarrar o meu pulso.

– Onde você pensa que vai?

– Eu estou atrasada, Adam - digo. - Preciso ir para casa, me trocar e ir para... outro lugar.

– Nem pensar - ele me empurra contra o carro e suas mãos param em minha cintura e seus grandes olhos cor de mel encaram os meus antes que ele os feche e me beije com vontade, fervor e um pouco de nostalgia.

Sinto uma de suas mãos tocando minha pele por baixo da blusa bege enquanto a outra levanta a minha coxa. Como eu estou de saia, a minha intimidade toca a sua coxa, enquanto eu enlaço a minha perna ao redor do seu corpo.

Coloco minhas mãos entre seus cabelos e revezo entre beijar seus lábios, seu pescoço, seu rosto...

– Adam.

– Hum?

– Eu tenho que ir.

– Mas agora?

Eu preciso contar, decido.

– Adam, eu... - as palavras não saem. Eu não consigo... - Adam, eu não posso mais.

– Não pode o quê?

– Eu não posso mais ficar com você.

– Por quê? - ele pergunta. - Não é você que me amava?

E ainda amo, digo a mim mesma, mas ele não pode saber. Meu peito dói quando digo:

– Eu me enganei.

– Por que eu tenho a impressão que você está mentindo?

– Bom, eu não estou.

– E você vai me deixar aqui assim? - ele pergunta, apontando para o seu membro já excitado. - Eu não acredito nisso.

– Você achou que eu ia transar com você no capô de um carro?

Fico indignada quando ele não responde.

– Eu não sou assim, Adam. Eu não quero ser assim.

Olho para ele.

– Se você não me ama ou sequer gosta de mim, por que está comigo?

– Eu gosto, mas eu não consigo amar... você não entende, né? Eu já disse para você aquele dia na sua casa...

– E eu entendi. Eu sabia onde estava me metendo e eu decidi cair fora antes que eu me machuque.

– Scarlett...

– Olha, Adam, eu não nasci para amar por dois. O meu amor é grande demais para você simplesmente dizer que gosta de mim... eu prefiro desapegar do que ver você me magoar depois.

– Mas eu nunca iria magoar você.

– Isso é o que você diz agora. Acontece que você é impulsivo, rebelde e não consegue se prender a uma menina só. Quanto tempo levaria para eu flagrar você ficando com outra? Você realmente acha que eu perdoaria? Eu não sou a Madison. Esse tipo de traição não é algo que eu consiga esquecer.

Respiro fundo e toco seus lábios com a ponta dos meus dedos trêmulos.

– O dia que você conseguir me amar de verdade, me procure.

O beijo devagar. É mais um selinho de despedida do que um beijo. Assim que saio da casa de Maddie, começo a chorar.

§§§

Coloco a minha máscara negra e ornada por alguns detalhes que cobre apenas ao redor dos meus olhos. Ninguém poderia me reconhecer assim.

– Essa máscara está fazendo sucesso - Hayley me disse. - Há vários clientes atrás da Mulher Mascarada.

Sorrio, sem humor e volto a circular pelo salão.

– Espera - Hayley me chama. - O chefão quer ter uma com você.

– O chefão? - pergunto, enquanto caminho atrás dela.

– O chefe da Máfia - ela diz. - Na verdade, ele é o herdeiro. O primogênito - Hayley sorri para mim. - Ele é o tipo de cara que se gostar de você, a tira daqui, te dá uma casa grande, empregados, jóias, atenção...

Sorrio.

– Então ele pode ser meu passe para a liberdade.

– Mas você sabe o que ele quer em troca.

– Não me importo. Melhor dormir com um do que com vários.

– Exatamente. Uma hora você se acostuma.

Concordo com a cabeça enquanto ela me leva para o quarto em que ele me espera. Tranco a porta por dentro e abro meu roupão, mostrando meu conjunto de lingerie vermelho sangue, da mesma cor do meu batom, e a cinta-liga em minhas pernas.

Caminho até a cama, onde ele está sentado, bebendo algo. Pego a taça de suas mãos e tomo um gole. Vinho branco. Coloco a taça no criado-mudo e fico entre suas pernas, afrouxando sua gravata.

– Você parece tenso - digo, subindo na cama e massageando os seus ombros antes de retirar seu paletó. Tento desabotoar sua camisa social, mas são muitos botões e eu não posso me demorar. Quanto mais rápido terminar, mais dinheiro posso ganhar com o próximo cliente. Então arranco sua camisa de qualquer jeito, espalhando botões pelo quarto.

– Isso era Aramis - ele fala, nervoso.

– Há coisas bem mais valiosas aqui do que a sua camisa de marca - digo, beijando sua nuca -, não acha?

– Prove.

Sorrio e saio de cama, ficando de frente para ele novamente.

– Você quer começar?

Ele se levanta e me puxa pela cintura, me beijando com vontade. Seu braços fortes ao redor do meu corpo, sua voz levemente rouca, seus cabelos loiros cor de trigo e seus olhos azuis tão vivos...

Cabelos cor de trigo. Olhos azuis vivos.

Olho novamente para seu rosto. Eu sabia que o conhecia de algum lugar.

Tento esconder o espanto. Sorrio e volto a beijá-lo, mas não consigo parar de pensar.

Zachary Hartfold. O Zach, aquele garoto que quando mais novo costumva ser chato, nerd e feio. Aquele que arrancava a cabeça das barbies e ria de desgraça dos outros. O irmão mais velho da minha melhor amiga. Eu pensei que ele estava em Londres.

Ele estava tão diferente. Tão forte. Tão bonito.

O primogênito. O herdeiro do chefão.

O pai de Madison é o chefe da Máfia.