Mask a Splicer
Machuque ele Sr.B
‘’Rapture. Uma cidade onde o artista não temeria o censor. Sempre que o cientista não se encontra vinculado por moralidade mesquinha. Onde o grande faria não ser limitado pela pequena. E com o suor do teu rosto, Rapture pode tornar-se sua cidade também. "
–Andrew Ryan
A cidade era fantástica na época em que cheguei. Por qualquer lugar que eu andasse encontraria a arquitetura organizada e perfeita. Meus amigos e os de Mabel eram filhos de cientistas inteligentíssimos, como o pai de Ford.
Enquanto andávamos pelo corredor escuro de Rapture, sorri com lembranças aconchegantes de bons momentos com minha família. Entre eles Mabel dançava com a mãe e o pai, minha mãe acabava me fazendo dançar também. Sempre íamos dormir tarde da noite, depois de um longo tempo no bar, com apresentações de teatro, jazz, e muitos shows de piada.
Eu sabia que meus pais estavam vivendo seus sonhos, e Mabel os dela.
Minha irmã olhou pra mim. Parecia querer perguntar se eu estou focado no que estávamos fazendo. Voltei pra realidade e segurei mais forte a chave de grifo, pronto pra agita-la na cara de algum louco se fosse preciso.
Uma voz foi ficando mais alta a cada vez que nos aproxímavamos do fim daquele corredor. Até que a ouvimos claramente:
–Quando suas luzes se apagam, o Sr. B e eu chegaremos para uma visita.
A sala em que estávamos tinha piso xadrez, com janelas nas paredes e no teto, era claramente o último andar de um dos prédios. Se olhássemos pra cima, quase não víamos a luz do sol. E lá em baixo, descendo as escadas, era possível ver uma little sister. A garotinha era tão pálida que parecia morta, seu cabelo loiro estava amarrado em um laço preto e vestia um vestido rosa sujo. Estava caminhando direto para o centro da sala com os pés descalços, e como se fosse uma das peças de teatro era o único local onde havia luz. No chão estava deitado um homem com máscara de nariz pontudo.
Quando a garota chegou perto do corpo morto, se ajoelhou, e de repente enfiou uma agulha gigante no difunto.
Me aproximei para ver melhor, tinha certeza que Mabel e Ford só queriam observa-la também, pois não moveram um músculo.
–Este anjo é preenchido com ADAM! – Disse ela derrepente, me fazendo tremer.
A garota ficou lá durante um tempo, vulnerável a qualquer ataque.
–Onde ele está? – Sussurrou bem baixinho Ford. Olhei pro rosto dele no escuro, pensando a quem ele se referia.
–Acho que ela não tem nenhum– Disse Mabel, e logo soube que era um Big Daddie.
A garota ouviu ruídos da nossa voz, olhando pra trás pela primeira vez, e conseguimos ver seus olhos. Aquelas coisas amarelas como lâmpadas, e seu rosto era como o de um zumbi.
–Fique longe! – Falou ela com o escuro.
Ford se moveu, e pelo íncrivel que possa parecer, ele fez o contrário. Começou a andar em direção as escadas. Mabel ficou agitada, agoniada com a necessidade de silêncio, e com a vontade de paralisar Ford naquele instante. O garoto desceu até o meio das escadas, e parou quando a little sister falou de novo:
–Ele é o homem mau. – Parecia dizer isso a si mesma, com muito medo na voz.
Mabel sacudiu minha blusa pra que eu fizesse algo, mas eu não queria que ela nos notasse, traria uma tragédia com o escândalo que faria.
Ford saltou o resto da escada sem cerimônia, e com a faca pontiaguda ele se jogou em cima da garota, aparecendo na luz e ficando em cima dela.
–NÃO! – Gritou Mabel.
O loiro levantou a arma, havia fúria em seu rosto. Se preparou pra dar um único corte na garotinha.
–Ajuda-me, ajuda-me! Ele machuca, ele dói! - Gritava a garota em desespero.
Com um barulho alto, alguma coisa gigante e pesada começou a correr. Suas botas enormes pareciam querer quebrar o chão e no escuro já era possível notar a roupa de mergulhador de um homem grande, com ruídos de uma broca girando no lugar que ficaria sua mão. Ford se afastou da garota o mais rápido que pode.
–Machuque ele Sr.B, machuque ele! – Dizia a little sister em pânico.
O Big Daddie contornou a Little Sister e avançou no escuro. A broca perfurou alguma coisa, e Mabel gritava em desespero, fiz como quem ia descer em busca de Ford, mas ela me segurou forte, me mantendo onde estávamos.
–Mate ele! Mate ele! – Gritava a garotinha agora em um escândalo.
Por um momento ouvi apenas os gritos, até que Ford saiu correndo e passou por uma porta lá em baixo. Estava vivo e inteiro.
O Big Daddie fez como quem fosse correr atrás dele de novo. E foi nesse momento que fiz a maior burrice da minha vida. Atirei a chave de grifo naquela coisa, que acertou-o no braço com precisão, e o fez virar urrando pra nós. Seu capacete, que era iluminado por uma luz amarela, ficou com uma luz vermelha.
Mabel parou de gritar, e com um movimento rápido nos viramos e começamos a correr, e ele nos seguiu pelos corredores escuros pisando forte e furando tudo que estivesse no caminho.
Quando chegamos em um corredor iluminado, percebemos que ele parou de nos seguir e estava voltando. Respirávamos ofegantes, e Mabel se agachou, e emitiu um som frustrado.
–Trevor, temos que voltar... e achar o Ford. – Disse ela pausadamente, enquanto recuperava o fôlego.
Pensei em chama-la de louca, convence-la a não passar por aquele lugar nunca mais. Mas ela levantou a cabeça e me olhou antes que eu respondesse, me fazendo mudar de ideia.
–Vamos achar um jeito de contornar aquele lugar, está bem? – Falei, ajudando-a a se levantar.
Ela concordou com a cabeça. Olhei em volta e sorri vendo um pouco de água perto da parede. Dei pra ela e bebemos a garrafa até que acabasse.
–Pelo menos não é cerveja. – Disse eu, sorrindo. Ela concordou parecendo feliz.
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