II

Acordei com a cabeça explodindo, ressaca de merda, por que você existe? Olhei para o lado. Um menino bonito estava deitado, uns dezenove anos. Ele estava sem camisa, deixando a mostra seu abdômen definido. Olhei para mim mesma, é claro que a camisa não estava nele, sua retardada, estava em você. Não tinha importância, tinha certeza que nada demais tinha ocorrido ali, não porque se lembrasse - a noite passada era um borrão - mas porque, se algo realmente tivesse acontecido, a camisa não estaria nem nela, nem nele. Levantei-me em busca da Fê, onde essa menina estava? Rondei o apartamento, procurando por ela e no caminho recuperando minhas roupas. Ela estava ao lado de um garoto, dezenove, também. Acordei-a delicadamente

- Acorda, porra!

- Que? – Disse ela sonolenta

- Temos de sair daqui, vai logo.

Ela captou a mensagem, antes que eles acordassem, eu gostava disso nela, ela entendia as coisas rapidamente, gente burra me irrita.

- Sabe? Eu vou fuder toda a minha reputação te falando isso Fê, mas eu estou feliz de estar aqui, fazendo essa viagem, e mais feliz que é com você.

- Ai que linda! - disse ela exageradamente

- Menos.

- E agora?

- Hotel?

-Albergue?

- Muito caros.

- Tá pensando o mesmo que eu?

- E ainda acham que você é santinha e eu sou a má influência, vamos logo.

Eu sabia o que ela estava pensando, sinceramente , quando decidimos fazer essa coisa toda, eu já sabia, ela também. Só não queríamos admitir. Entraríamos nas baladas de penetras e dormiríamos na casa de algum cara da balada, não dormir com o cara, mas na casa dele, não éramos vadias também.

-Por que a pressa?

- Eu não sei, só acho que precisamos ir rápido.

- Relaxa, Gabi. Vai dar tudo certo.

- Será que a gente fez merda, fazendo essa viagem?

- Acho que não.

- A gente precisa de dinheiro.

- Vamos nos separar e procurar emprego tá?

-Emprego? – disse como se tivesse nojo dá palavra.

- Isso. – disse ela estendendo uma nota de dez reais.

- E o resto?

- Você vai perder.

- É faz sentido.

Eu tinha isso, perdia tudo, absolutamente tudo. Ela apontou pra um Mcdonalds.

- Quatro e meia, ok?

- Tenho outra opção?

-Não - e saiu andando.

Ótimo, e o que eu devia fazer agora? Sair andando e gritando: “PROCURO EMPREGO!”?

- Você vai morrer atropelada assim.

- Bom se eu morrer atropelada, o problema será meu não é? – disse automaticamente, virando-me para ver quem era.

Merda. Era o menino de dezenove anos que eu acordara do lado.

-Fugiu de mim pra se matar,Gabi?

Merda. Ele me reconhecera, e pior, sabia meu nome. Resolvi chutar o dele.

- Dá na mesma não é? Morrer ou ficar com você, não é mesmo João?

- Tão simpática como na noite passada. Viu, eu também sei ser irônico? – disse ele me pegando pela cintura.

- Tão menos bêbada que na noite passada, ainda bem, porque se não cometeria os mesmos erros - tirando a mão dele da minha cintura, disse- Agora se não se importa, tenho mais o que fazer.

Então andei, sem olhar pra trás, coitado do “João”. Mas eu precisava de um emprego.

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Paulo não era de se apaixonar, na verdade, estava pouco se fudendo pro romance. Mas ela era diferente, não corria atrás dele, na verdade havia acabado de fugir dele, literalmente. Ela o deixara sozinho numa rua movimentada, e nem sequer se lembrara do seu nome, chamara-o de João. Tirou o celular do bolso, tinha ela no BBM, não iria se livrar dele tão facilmente assim.

Lembrou-se de quando a vira, noite passada, ela tinha cara de quem manda todo mundo se fuder, ela te olhava como se tivesse irritada só de você estar vivo, e realmente, estava irritada, não só de você estar vivo, como de que você estivesse respirando. Ele sorriu. O celular tocou, era sua tia.

- Tia Susana?

Era estranho chamar de tia uma mulher que era apenas 5 anos mais velha que ele.

- Não vai dar pra sair hoje.

Nunca dava, Susana trabalhava como investigadora, sempre trabalhava, já que as pessoas ficavam sempre morrendo. Sentiu-se como Gabriela ao pensar isso. Irritada porque as pessoas viviam e também porque morriam, típico dela.

-Por quê? – perguntou, apesar de já saber a resposta.

- Trabalho, tenho que ir. – e desligou.

Ah, foda-se também. Se ela não iria, tinha quem fosse.

-Tom? – disse colocando o celular no ouvido.