— Solte-o!- Susana gritou para os dois homens que estavam no barco segurando o homenzinho amarrado, mas estes o largaram na água. Su atirou neles e Pedro se jogou no mar tentando salvar o homenzinho, quando Ed estava quase a ir também, eles apareceram, Lu tratou de tirar as cordas que o prendiam e o anão tirou a mordaça.

— 'Solte-o'?- o anãozinho perguntou indignado cuspindo água.- Era o melhor que você podia dizer?

— Acabámos de salvar a sua vida.- Su respondeu confusa.

— Os Telmarinos estavam me afogando muito bem sem a ajuda de vocês.- continuou resmungando indignado.

— Talvez devêssemos tê-los deixados.- Pedro falou com ironia. O anão fica quieto e os seus olhos azuis miram a espada que Susana entregara a Pedro.

— Vocês estão de brincadeira...Então aquela trompa funcionou? São vocês? Quem é você?- apontou para mim curioso.

— Isso realmente não importa agora.- Pedro interrompeu-me.- Sou o Grande Rei Pedro, o Magnífico.

— Você podia ter deixado essa parte de fora...- Su comentou como quem não quer nada e eu ri de leve.

— Eu sei bem quem vocês são, os grandes reis que desapareceram e nos abandonaram logo que os telmarinos nos invadiram...- o anão falou com rancor.

— Não queríamos ter feito isso.- Lu interviu.- Porque estavam tentando matá-lo?- perguntou preocupada.

— São Telmarinos, é o que fazem.- respirou fundo.

— E quem são esses Telmarinos?- Ed perguntou.- Não me lembro de ninguém com esse nome em Nárnia.

— Eles chegaram logo depois que vocês foram embora.- respondeu.

— E o que aconteceu com Cair Paravel? Onde estão todos os outros?- Lucia parecia aflita.

— Cair Paravel não existe mais faz cem anos e nós quase fomos reduzidos a pó tentando protegê-lo.- Lu mordeu os lábios e baixou o olhar.

— Você disse que uma trompa funcionou?- Susana perguntou.

— Sim. Um tal príncipe Caspian tocou a trompa.- o homenzinho resmungara. Passei um braço por cima dos ombros de Lucia, sorrindo fraco quando ela me olhou.

— Minha trompa. Eu devo tê-la esquecido na cela quando voltámos.- Su comentou pensativa e Ed franziu o cenho.

— E onde estão os outros? Não vimos ninguém desde que chegámos.- perguntou curioso.

— Nárnia está...diferente. Bem diferente.- comentou o homenzinho.

— O que quer dizer com isso?- Pedro perguntou.

— Mais selvagem e dez vezes mais perigosa...Não só por causa dos Telmarinos.

— Por causa do quê, então?- Ed continuou.

— Animais selvagens, entre outras coisas.- suspirou pesadamente.- E então Majestades, o que desejam fazer?

— Nos leve até Caspian.- Pedro comandou. Achei estranho o seu tom...parecia forçado, desde pequeno que ele tinha o senso natural de liderança, mas para mim era estranho.

— Então me ajudem com o barco, majestades.- o anão resmungou sarcástico.

Susana, Pedro e Edmundo assentiram e eu me mantive ao lado de Lucia, ela estava muito quieta e calada desde a resposta que recebera. Não sabia o porquê de não estar surtando, mas tinha uma leve ideia. Desde pequena que tenho sonhos com este lugar, mas ele estava mais gelado, havia uma mulher de olhos negros e vestes brancas, havia centauros e criaturas mitológicas, eu tinha uma amigo centauro, mas não me lembrava do seu nome.

— Você não ouviu nada do que eu disse, não é Mary?- olhei perdida para Lucia que riu.

— Desculpa, querida...- sorri de leve.- Sobre o que falava?

— Estava falando sobre como era isto antes.- sorri imaginando.

— Vocês parecem bem felizes de estar aqui. Nunca vi Susana sorrir tão abertamente.- comentei.

— Sim...é triste vê-lo tão vazio. Esperamos um ano para voltar e quando voltámos, é pior do que da primeira vez que estivemos aqui.- falou triste, me abaixei e sorri a encarando nos olhos.

— Eu acho...que com você e seus irmãos aqui, Nárnia será um lugar ótimo.- ela sorriu e me abraçou.

— Eu posso te mostrar as árvores que dançam você vai gostar.- sorriu melhor.

— Tenho a certeza que sim, minha querida.- sorri.

— Ah, olha...- apontou para um urso enorme e se aproximou, eu não tinha um bom pressentimento.- Olá!- sorriu abertamente, mas o urso virou o focinho na nossa direção.- Está tudo bem. Somos amigos!- o animal rugiu e eu coloquei Lucia atrás de mim instintivamente.

— Majestade, não se mova.- o anão pediu.

— Lucy corre.- mandei vendo o urso correndo na nossa direção, empurrei ela para que corresse, ficando entre ela e o urso que se levantou e bufou me fazendo perder o equilibrio.

— Deixe-a em paz!- Su ordenou.

— Atire, Su!- Ed falara. Eu estava pronta para me encolher quando uma flecha passou por mim acertando o urso que caiu no chão. Me levantei com a ajuda de Lucia.

— Obrigado.- agradeci ao homenzinho, fora ele quem atirara.

— Não agradeça, isso é só o começo. Vamos andando antes que outro animal decida se aventurar por aqui.- andou até ao barco e Pedro o ajudara.

— Obrigada por proteger Lucia!- Ed me agradeceu e eu sorri quando Lucy me abraçou.

— Eu faria novamente se fosse preciso.- sorri afagando os cabelos da minha prima.

….

Tirei a espada que eu carregava para me defender, Pedro me dera para que acidentes como os do urso não voltassem a acontecer. No cabo da espada, estava esculpido perfeitamente um leão, era estranho, mas o leão...me era familiar, ele estava em meus sonhos, assim como a mulher branca que invadira um reino belo e o transformara num reino gelado, onde aqueles que se opunham se tornavam estátuas de gelo. O leão me tirara da terra gelada e me enviara de volta para casa, ele falava, a sua voz grave me confortava e me dava a sensação de estar segura, em casa. Fazia anos desde que eu parara de sonhar com a terra mágica e o leão...fazia anos desde que eu perdera, algo. A minha cabeça doera tal como das outras vezes que eu tentava me lembrar do algo que perdi.

— Ela é assim tão falante?- o anão perguntara e eu olhei para Lucia que me encarava preocupada.

— Desculpe...estava pensando.- pedi suspirando.

— Aslam...é o nome dele.- Lucia me contou indicando o leão que eu tocava sem me aperceber. Aslam...o leão do meu sonho também se chamava assim.

— Ele nos ajudou no passado. Foi ele quem criou Nárnia.- Susana falou desta vez.

— E também sumiu, assim como vocês.- o anão continuou resmungando.

— Acha que nós queríamos ir embora?- Pedro perguntou sarcástico.

— Não faz diferença agora.- olhou para o lago e por breves momentos, consegui sentir a sua dor e a dos outros, foram abandonados á própria sorte, não armas para combater contra o enorme exército que quase os dizimou e para finalizar, não tinham os seus reis e rainhas para os comandar na guerra. Nem Aslam estava ao seu lado.

— Nos leve até aos Nárnianos e fará.- Pedro retrucou no fim, voltando a remar.