Os portões da base militar em Nevada se abriram. Armado com duas metralhadoras e uma enorme bazuca nas costas, o sargento Frank Simpson acenou com a cabeça para o soldado de plantão na única torre de vigilância, que se assemelhava a uma cabine de porteiro, e começou sua caminhada. Pegou em seu cinto um pote com pílulas vermelhas e engoliu uma. Sentiu-se revigorado.

Começou a caminhar. Não havia naves alienígenas em meio ao deserto, pois eles provavelmente passaram direto pela simples cordilheira montanhosa cujo interior abrigava a base militar. Isso não surpreendia Simpson. Se Talbot estivesse correto, os alienígenas mais próximos estariam na cidade de Rachel, próxima a Groom Lake.

Enquanto avançava na direção de Rachel, pensou no que sabia sobre a cidade. Por ser conhecida como o lar oficial da Área 51, a base militar em Groom Lake, os cidadãos de Rachel usavam o tema alienígena em estabelecimentos públicos.

Simpson riu. Eles não faziam ideia do que realmente acontecia em Groom Lake. No passado houve, sim, UFOS sendo analisados na Área 51, mas a S.W.O.R.D. tomara posse de todos. A maior parte da Área 51 agora servia para testes de aeronaves militares. Porém, havia uma estrutura no coração da base onde o governo ainda trabalhava engenharia reversa com OVNIS.

Infelizmente para os militares da Área 51, todos os extraterrestres cuja anatomia fora estudada lá foram confiscados pela S.W.O.R.D., que concedera corpos para suas agências parceiras: a S.H.I.E.L.D., a A.K.A., a A.R.M.O.R. (cujos experimentos com outras dimensões constantemente geravam prejuízo) e (na época) a S.T.R.I.K.E.

Rachel surgiu no horizonte. Havia algumas poucas naves sobrevoando a cidade, e Simpson sorriu ao vê-las. Conseguia sentir o sabor da batalha. De repente, um enorme feixe de luz surgiu na cidade. Simpson levou a mão aos olhos para cobri-los, intrigado com aquilo que pensara ter visto acontecer.

No Triskelion, Nick Fury assistia ao jornal da NBC em sua sala. O sol da manhã iluminava todo o cômodo, dando a ele uma visão terrível. Viu fumaça subindo de alguns pontos de Nova York, e naves alienígenas voando de um lado para o outro e disparando.

Abriu uma das gavetas de baixo, encontrando uma garrafa de uísque que Alexander Pierce lhe dera tempos atrás. As lembranças pareciam tão distantes... Logo se lembrou de sua última visita à cela de Alexander Pierce na Balsa.

Balançou a cabeça, tentando esquecer. Abriu a garrafa de uísque e deu um gole. Deu uma leve engasgada, devido ao tempo que passara sem consumir álcool. Em seguida, seu telefone tocou.

Fury? É o Tony. Estou indo com os Vingadores para aí. É urgente. Acho que tenho algumas informações chocantes.

— Certo. Virão todos?

Sim.

— Posso saber o que aconteceu?

Stark suspirou.

Viu sobre o memorial de 11 de setembro?

Fury levantou o olhar para a televisão, que mostrava imagens exclusivas do memorial destruído.

— Sim. Está em todos os noticiários.

Bom. Você provavelmente sabe que os Vingadores estiveram presentes.

O secretário assentiu novamente. O título da notícia era claro. “Destruição no memorial: Vingadores contra alienígenas”.

A Feiticeira Escarlate teve acesso à mente do líder daquela missão. Ela descobriu muitas coisas.

— Ótimo. Venha o quanto antes.

Na verdade, já estou a caminho.

— Melhor ainda. Vejo você aqui.

Certo, até.

Fury desligou surpreso. Parecia que as coisas estavam começando. De repente, projeções de humanos começaram a surgir. Era o Conselho da S.H.I.E.L.D.

— Conselheiros... A que devo a honra?

Secretário Fury. Acho que já se apercebeu da invasão iminente.

— Sim. Creio que seja impossível não perceber.

A única conselheira mulher ajeitou o cabelo.

Secretário, precisamos urgentemente que você se encontre conosco.

— Conselheiros, receio não ter compreendido.

Enviamos uma quinjet para trazê-lo para Washington imediatamente. Ela já está no hangar do Triskelion.

Ele concordou, sabendo que não poderia negar. De repente, abriram a porta. Era Zebediah Killgrave.

— Killgrave? — perguntou Fury, irritadiço.

— Secretário, há uma quinjet aguardando por você no hangar principal. Me deixe ir junto. Os conselheiros não vão se importar.

­— Deixe-o vir — disse um dos conselheiros.

Fury concordou, e se despediu do Conselho. Não conseguiu contatar Tony, então teve que partir. Por algum motivo, Fury tinha uma péssima sensação em relação a essa viagem. Deixou Maria Hill no comando e embarcou na quinjet.

No trailer de Skye, Coulson estava abaixado atrás de uma prateleira enquanto atirava em Hércules. O trailer estava todo amassado por dentro, e alguém estava batendo à porta. As batidas, primeiramente calmas, estavam se acelerando o ritmo, como se a pessoa estivesse se irritando.

— Deixe-me entrar! — gritava a voz. — Não me faça arrombar a porta!

Era um homem, isso era claro para Coulson. Mas ele não conseguia nem se aproximar da porta, pois Hércules estava ali. Phil estava tendo trabalho suficiente apenas mantendo Hércules afastado.

— O que querem com ela?! — gritou Hércules, parando para respirar.

— Ajuda — disse Coulson, esperando que ela acreditasse.

— Mentira! É uma grande mentira! Skye falou sobre vocês!

Phil pensou em como prosseguir. Sabia que ela devia ter dito algo para Hércules. A questão era o quanto.

— Você não sabe o quanto agentes da S.H.I.E.L.D. se arriscam diariamente para proteger as pessoas. As coisas que Skye sabe fazem parte de um lado obscuro do passado da S.H.I.E.L.D. Ela descobriu sobre fracassos que a S.H.I.E.L.D. prefere esquecer.

— É isso que você chama de proteger? Nocautear uma jovem indefesa que defende o que acredita? De onde eu venho, deuses tem poder absoluto sobre todos. Ainda assim, entre eles, a liberdade de expressão prevalece.

— Apenas entre eles. Ou seja, um grupo controlando os demais.

Hércules se irritou.

— O Olimpo representa a ordem. Sem Zeus, os humanos não existiriam.

Acompanhando a linha de raciocínio de Hércules, Coulson respondeu na mesma moeda.

— Ainda assim, sem Prometeu para roubar o fogo, os humanos seriam escravos eternos dos Olimpianos.

— Até mesmo os deuses erram.

— Claro que sim. Até mesmo seus deuses cedem aos pecados que eles julgam humanos.

— Por que diz meus deuses? Não acredita que eles existam?

Coulson vislumbrou uma lembrança. Uma mulher tocava violoncelo em uma sala. Então, se surpreendeu com a presença dele. “Senhor Coulson? A que devo a visita?”. Ele logo largara a foto que observava numa estante e se voltou para ela.

“Vim para poder ouvir mais de sua música tão bela”. Ela sorriu e começou a tocar. Quando ela parou, apertou com força seu colar com um símbolo de cruz. Ele olhava fascinado.

“Viu um fantasma, senhor Coulson?” E ele respondera: “Talvez sim”. Largando o colar, ela se voltou para ele. “Acredita em Deus, senhor Coulson?”.

A pergunta o havia pegado de surpresa. “Na minha área de trabalho, não temos tempo para frequentar a Igreja”. Ela balançara a cabeça negativamente. “Não estou perguntando se acredita no que a Igreja diz sobre Ele. Quero saber se o senhor acredita em Deus. O senhor sente o olhar carinhoso d’Ele sobre todos nós, como um Pai que observa seu filho andando de bicicleta pela primeira vez?”.

Então, ele entendera. E a resposta fluíra naturalmente. “Sim”. Assim arrancara um sorriso dela. Um sorriso que o marcava até aquele momento. Mesmo depois do corpo dela ter sido encontrado em meio a uma rua, vítima de atropelamento.

Coulson voltou ao mundo real com uma batida à porta. Analisou Hércules da cabeça aos pés.

— Há um Deus. E ele não se deixa cair em tentações, e não se envolve com problemas que não sejam necessários. Ele é um Pai, que observa seus filhos crescendo, errando e aprendendo com seus erros.

Hércules negou instintivamente.

— O Olimpo é real. E eu posso provar isso.

— Pois me mostre.

­— Eu sou Hércules, filho de Zeus e Alcmena. Sou o detentor de uma enorme força. Sozinho, derrotei monstros como a Hidra de Lerna e o Leão de Nemeia. Libertei Prometeu de sua prisão, e fiz frente ao cão guardião dos portões do Mundo Inferior.

Quando Fury lhe apresentara a missão, Coulson não acreditara que aquele fosse realmente Hércules. Mas agora tinha a impressão de estar errado.

Foi quando a porta foi arrombada. O pó das dobradiças fez uma leve cortina de fumaça, que permitia que eles identificassem a silhueta de um homem musculoso. O sargento Fury saiu da fumaça.

— Hércules, mantenha distância. Caso contrário, usarei força.

O musculoso filho de Zeus soltou um rugido feroz, se negando a obedecer. Quando ele começou a avançar, Fury deu de ombros.

— Você pediu por isso.

E atirou. Hércules gritou, mas o disparo não o parou.

— Coulson, leve a garota — mandou o sargento.

Phil deu uma última olhada para Hércules e algemou a inconsciente Skye. Aquelas algemas supostamente neutralizariam os poderes dela. Ele pegou uma rápida amostra de sangue e colocou Skye no ombro, saindo com ela em direção ao carro.

Ouviu Hércules xinga-lo, e pensou se estava fazendo o certo. Apenas obteve uma resposta de si mesmo: era um agente da S.H.I.E.L.D., e tinha ordens a seguir.

Quando entrou em L.O.L.A., seu carro tão querido, ouviu os gritos de Hércules. Colocou a amostra de sangue em um scanner e enviou os resultados para Fury. Então, acelerou.

Ao seu lado, Skye começou a se mexer. Coulson parou na rua deserta e passou-a para o banco de trás, onde ela poderia se deitar. Então prosseguiu.

Mas não adiantou. Ela acordou, e sua primeira reação foi gritar. Coulson conseguia distinguir os olhos assustados das pessoas os observando-os pelas janelas fechadas.

Então começou o tremor. As algemas não estavam contendo seus poderes como deveriam. Isso significava que ela era um caso especial de super-humano, que a S.H.I.E.L.D. ainda desconhecia, já que a algema poderia conter o poder de qualquer mutante ou outro super-humano, além de neutralizar os dispositivos tecnológicos que a pessoa estiver portando.

Infelizmente, o tremor fez o que Coulson não queria. Quando tudo parou, uma nave alienígena estava parada no começo da rua. Dela, desceu uma mulher azul calva com duas armas e alguns implantes robóticos ao longo do corpo. Ela girou o pescoço e apontou a arma para eles.

Frank Simpson adentrou Rachel, procurando pela fonte daquela luz enorme. Passou por restaurantes familiares e lojas com desenhos de alienígenas, todos vazios. As pessoas estavam escondidas em suas casas.

Então, ele achou. Batalhando contra alienígenas de pele azul, guerreiros espectrais com armaduras laranja portavam espadas e saíam de um enorme portal laranja. Na abertura, uma mulher de vestido observava a todos com um livro sob o braço.

Deve ser uma líder alienígena, pensou Frank. Mas por que estão batalhando entre si? Indiferente, se aproximou. Aquilo apenas facilitaria seu trabalho. O inimigo do meu inimigo é meu amigo. No caso, o inimigo do meu inimigo é meu inimigo. Portanto, ambos servem como amigos, concluiu.

Pegou as metralhadoras e começou a atirar nos aliens. Derrubou alguns, mas chamou a atenção de todos. Os guerreiros espectrais se voltaram para a mulher no momento em que os azuis avançaram.

— Podem avançar — ela disse. — Magus virá ao nosso encontro se necessitarmos.

Frank Simpson derrubou alguns azuis e engoliu uma pílula vermelha. Sentindo-se muito forte, pegou a bazuca em mãos e disparou. Alguns guerreiros e alienígenas foram lançados pela explosão, enquanto outros morreram.

Ele mirou a mulher com sua metralhadora, mas, quando disparou, ela desapareceu. Então, uma mão suave tocou seu pescoço. Se virou e deu de cara com ela. Levou a mão ao cinto, procurando pela pílula vermelha.

— Procurando por isto? — ela perguntou, mostrando os potes de pílula em sua mão.

Simpson tentou pegar, mas ela jogou para um guerreiro.

— Acho que não.

Ele mirou com a metralhadora, mas parou de repente. Algo o estava forçando a não disparar. Olhou para trás ao ouvir um grito, e viu os alienígenas azuis no chão se contorcendo de dor. Pairando acima do chão, um homem de cabelos brancos divertia-se com a dor de seus inimigos. Ele voou até Simpson.

— Magus — disse a mulher, fazendo uma reverência.

Levante-se. O que está acontecendo?

— Nada demais. Apenas um mero humano comum tentando fazer frente a nós.

Magus analisou Simpson da cabeça aos pés.

Como você se chama?

Simpson cuspiu no rosto de Magus, mas a saliva pairou no ar. O ar começou a ficar escasso nos pulmões de Frank, que tentava cada vez mais respirar.

Vou perguntar de novo. Como você se chama?

— Beije... a minha... bunda — disse Simpson, irritado, com dificuldade.

O ar sumiu mais ainda.

Sua última chance antes de sufocar. Como você se chama?

Ele pensou rapidamente no primeiro nome falso que lhe veio à mente.

— Bazuca — disse, sentindo o ar voltando assim que respondeu.

Magus suspirou, satisfeito.

O que sabe sobre a Joia da Alma?

Ele pensou rapidamente, buscando a informação em sua mente. Simpson sabia já ter ouvido aquilo antes.

— Espere, você também quer isso? Parece que tem concorrência das grandes — disse, indicando os alienígenas mortos.

— Thanos não é páreo para Magus — disse a Matriarca.

Pare — ordenou Magus. — Sabemos muito bem que Thanos é um adversário à altura. Meu ego não precisa ser inflado, Matriarca.

Ela ficou calada imediatamente.

Enquanto isso, rumo a Groom Lake, um grupo de Krees falava com Ronan sobre Magus.

Comunicarei Thanos — confirmou o Acusador.

A reação do Titã Louco fora surpreendente.

— Magus é Adam Warlock — confirmara o Outro.

— Eu sei — respondeu Thanos, irritadiço. E se virou para Korath. — Prepare uma nave para mim. Estou indo para a cidade de Rachel.