Após a cerimônia, todos foram convidados para comparecer no Salão das Mil Lareiras, onde poderiam comer e dançar. Um imenso estrado fora montado, com um toldo cobrindo a parte principal das mesas de montar, onde ficariam a Família Real, seus parentes (no caso, apenas os Tully) e seus amigos próximos.

Margaery não ficaria nada triste de voltar para os seus aposentos e ficar por lá, ficando fora daquela patifaria, mas era melhor não irritar os monarcas. Então, acabou por ficar sentada ao lado de Daenerys.

As lareiras esparsas pelo ambiente o tornavam bem aquecido naquele inverno tão engelante em que estavam. As chamas fulgentes davam um belo tom de dourado e vermelho ao escuro salão. As pessoas dançavam em volta da lenha que queimava, como se fossem as comemorações das fogueiras de ano novo, embora sem muita animação. (Claro, quem se animaria após tamanhos infortúnios? Até o motivo para o festejo era uma desgraça na opinião de muitos.)

A música era até bem alegre, embora nada que animasse muito os ânimos das pessoas do salão. Cantava sobre como Daenerys matara a Donzela Louca, com a ajuda do príncipe do inverno, que, com a sabedoria das antigas músicas da natureza que aprendera com os filhos da floresta, convocou corvos para rasgar a maligna bruxa de Harrenhal.

Como as mĂşsicas aumentam as coisas, pensou Margaery. A banda agora tocava sobre uma nova versĂŁo, de como a Velha ajudara a guiar o jovem rapaz, abrindo a porta que dava para o Reino do Estranho, de onde uma coorte de corvos surgiu.

(Lembrava-se da velha cantiga que ouvia, contando que o primeiro Corvo surgiu quando a Velha no CĂ©u espiou o mundo dos mortos. De certo, a mĂşsica que fizeram unia a versĂŁo dos Novos Deuses, ignorando os antigo deuses.)

Os cantores tocavam em gaitas de fole, harpas e violas. Pelo menos cantavam bem.

Margaery podia não estar com ânimo para dançar, mas o mesmo não poderia ser dito sobre a princesa Sansa, que estava estava mais radiante do que nunca, dançando com Lorde Waynwood, que contava algo que a fazia rir, fazendo a saia de seu belo vestido azul-celeste esvoaçar conforme ela rodopiava, tal qual o seu cabelo acobreado, que brilhava com a fulgência das chamas. Sabia que a princesa devia estar cheia de pretendentes, mesmo que não estivesse viúva... Ainda.

Daenerys, porém, parecia compartilhar mais a antipatia de Margaery. Estava carrancuda, sentada no alto do estrado, bem acima do sal, esquadrinhando a todos no salão com seus olhos púrpura. O rei estava ao seu lado, duro como uma pedra, com olhar introspectivo (seu único olho bom, o olho vermelho-sangue, não fitava nada, não seguindo ninguém que estava dançar), sem tocar na comida. Ele e Daenerys pareciam nem se falar.

Ela se esconde demais, Margaery ralhou em pensamento. Daenerys devia estar dançando no salão, tal como Sansa, pois isto talvez ajudasse-a a criar alguma aliança útil.

Não apenas isso, Daenerys também devia ter um séquito de damas de westeros. Isso ajudaria-a a criar uma possível aliança com mulheres de grandes casas. (Os únicos que ela tinha eram Sor Jorah, que era odiado por todos, e Margaery.)

Talvez Daenerys tenha aceitado cedo demais que era odiada? Ou apenas temia que fosse assassinada?

Sentado perto de Jon, estava Edmure, que fazia companhia para sua esposa, já imensa de grávida. Ambos estavam rindo e Edmure alisava a barriga voluptuosa dela.

Tão felizes… Edmure nem parecia ser tio de sobrinhos tão problemáticos.

— Concede-me uma dança, Milady? — uma voz indagou para ela, enquanto estava distraída vendo o casal feliz comer e rir.

Ao virar-se para encarar quem era, vira um rapaz alto e em pé, com nariz adunco e cabelo e olhos escuros. Usava um manto de negro e emplumado, feito de penas de corvos.

— Oh, olá — disse Margaery, tentado se recompor. — Chama-se Brynden, não? — indagou.

Ele fez que sim, entĂŁo, uma mesura.

— Brynden Blackwood, ao seu dispor — ele respondeu, pegando na mão dela, e dando um beijo na pele de porcelana. — Então, uma dança?

Margaery olhou para Daenerys. Esta a olhou de esguelha e assentiu, friamente, entĂŁo, voltou a olhar para frente.

A moça Tyrell levantou, deu sua mão para Brynden, que não tardou em pegá-la, e ambos dirigiram-se para o centro do salão, esperando a música acabar e uma nova começar.

Quando as notas começaram a rodar, Margaery e Brynden também.

— Lamento por todos os vossos infortúnios, milady — disse o companheiro de dança, enquanto se locomoviam entre os outros no salão, passando perto das brasas —, espero poder lhe dar alguma felicidade nesta noite.

Dificilmente ele poderia, mas Margaery sabia que nĂŁo seria educado falar algo assim.

— É muito galante de sua parte, Milorde — ela respondeu, polidamente. — Pelo que soube, também tem passado por perdas difíceis. — Ysilla havia sido boa em falar para ela sobre tudo que havia acontecido durante a guerra. Ela lhe contou, inclusive, sobre as perdas que aquele jovem homem havia passado… E de sua possível inimizade contra Gendry.

Brynden assentiu, denotando um semblante triste, embora parecesse querer escondĂŞ-lo. (Claro, homens dificilmente gostavam de mostrar o que achavam ser fraqueza, entĂŁo ela nĂŁo ficou surpresa.)

— Tem sido dias difíceis — comentou ele. — Meu pai morreu na guerra, assim como dois de meus irmãos. — Olhou de soslaio para uma área do salão. Quando Margaery acompanhou a direção, percebeu uma das mulheres Manderly (a loira, que deixado o traje de baleia de lado e envergava um belo vestido azul-marinho com renda de prata, com forma de cavalos-marinhos) conversando com um rapagão magrelo que sempre aparecia ao lado da princesa Sansa.

— Seu irmão, não? — ela indagou. — Está prometido a uma das Manderly? — Lembrava-se de ouvir Ysilla falar aquilo, mas preferiu não falar com certeza.

O companheiro de dança assentiu, voltando a fitá-la.

— Hoster. Nós chamamo-no de Hos. Um fraco que prefere a leitura.

O irmão mais velho de Margaery, Willas, também preferia leitura. Ele valia mais do que 10 Bryndens juntos.

— Aparentemente — continuou o Blackwood —, meu irmão achou uma esposa para ser capacho. Meu pai preferia que ele se casasse com a mais velha, Wynafryd, entretanto.

— Ele levou suas opiniões ao rei?

Brynden bufou, irritado.

— O rei disse apenas que veria tais assuntos no pós-guerra. De todo modo, ele disse que casamentos eram um assunto para a princesa.

— E imagino que ela está bem contente com o casamento de Hos — disse Margaery, ao que Brynden confirmou com um meneio da cabeça.

— Ela parece gostar daquela tagarela. Aquela moça Manderly simplesmente não fecha a matraca e dá ordens como se fosse a própria Lady de Porto Branco. Acredita que ela me chamou de idiota quando me viu uma vez? Disse-me que não é da minha conta o que ela e meu irmão fazem, que eles vão casar e ponto. Dá para acreditar em tamanha insolência?

Margaery quase sorriu (a garota lhe lembrou da avĂł), mas se segurou.

— Inimaginável — respondeu, quase deixando escapar um sorriso. Controlou-se, mordendo o lábio.

Antes que pudessem falar mais, os casais mudaram, e Margaery se viu diante de um outro recém-lorde. Seu gibão era verde, com uma roda quebrada cozida no peito. Pendendo em seus ombros, uma capa de couro encerada, presa por pingentes de ambar negro, com o formato de uma roda quebrada, cada uma em um lado do ombro.

— Milady — disse Lorde Waynwood. Um homem jovem, porém feio.

— Lorde Rolland — ela o cumprimentou de volta, sorrindo. — Boa noite.

— Espero que esteja bem, dada a sua atual situação.

— Quer dizer, ser aia da rainha?

Ele deu um dar de ombros como resposta, parecendo descartável.

— A grosso modo… Sim. A princesa seria alguém melhor ao meu ver.

Prisioneira da mulher com um lobo ou com um dragão, eis a questão? Ambas são tão tentadoras…

— A rainha tem sido boa para mim.

— Está com ela há cerca de poucas horas.

— Foram belas horas, devo dizer.

O homem deu um sorriso amarelo.

— Eu imagino, milady. Bem, sentir-me-ia honrado se viesse a falar comigo novamente. Sei como deve precisar de companhia.

Um novo pretendente? Bem, talvez as terras dele fossem melhores do que as do Blackwood, visto que o Vale nĂŁo era a pilha de cinzas que o Tridente havia se tornado.

— É sempre bom ter um amigo, Sor — respondeu ela. — Muito obrigada. Mas, poderia me fazer um favor?

— Qualquer coisa para uma bela donzela como você.

— Lady Ysilla Royce tem sido alvo de fofocas tendenciosas, temo lhe dizer — falou ela. — Juro pelo nome de minha Grande Casa, Ysilla nada teve haver com minha loucura no Forte Vermelho. Por favor, milorde, não poderia ajudar um pouco? Convidá-la para uma dança, talvez? Afinal, se um lorde tão importante como você lhe desse apoio, iria ajudá-la a ser bem quista pelos outros. — Concluiu: — E sinto-me muito culpada pela atual situação em que ela se encontra; a culpa foi apenas minha e de Sor Albar.

Rolland pareceu um pouco surpreso com o pedido, e parecia receoso em responder-lhe.

— Beeem — redarguiu ele —, eu ouvi certas coisas sobre Lady Ysilla, admito. Entretanto, duvido que uma bela donzela como você seria capaz de mentir para mim sem motivos. Fora que os Royce tem muito mais honra do que mulheres Myranda e Mya. — Deu de ombros. — Não leve-me a mal, adoro aquelas duas safadas, mas os deuses são testemunhas de como são mexeriqueiras.

Margaery deu-lhe um sorriso complacente em resposta.

— Obrigada, Milorde. É bom saber que ainda existem bons lordes nos dias de hoje.

Rolland sorriu, lisonjeado.

— É bom saber que ainda existem boas ladies neste reino.

Quando se separaram, Margaery dançou com Lorde Creighton Redfort, de forma um tanto embaraçada. Então, dançou com o amável Lorde Dayne, apreciando suas belas palavras eloquentes, um dos irmãos de Lorde Brynden, com dois lordes das Terras da Tempestades, e dois rapazes que eram juramentados a casa Piper.

Após tantos passos de dança, outro Waynwood veio até ter com ela.

— Sor Ronnel… — ela o cumprimentou, sentindo-se desconfortável.

— Lady Margaery — sua voz era um tanto ríspida. — Que tem falado com meu sobrinho?

— Nada demais, Sor. Eu apenas…

— Não minta para mim — avisou ele. — Sei que não foram boas coisas.

Vendo que nenhum joguete que tinha iria adiantar com esse homem, ela respondeu:

— Por acaso a sua dona mandou-lhe me observar?

Ronnel nĂŁo se abalou.

— Sei bem que tramoia aprontou no Forte Vermelho — pontificou. — Seu rostinho angelical não me engana.

Ela deu um sorriso em resposta.

— Me acha perigosa?

— Perigosa? Isso eu não sei. Mas sei que você e Myranda não se dão, e não vou deixar você…

— Ah, que fofo — Margaery o interrompeu, com um ar sarcástico —, o escudo juramentado protegendo a sua donzela. — Franziu o cenho, fingindo confusão. — Mas, espere… Oh! Como sou tola! Você não é um escudo juramentado, não é? — Seu sorriso morreu. — Muito menos Randa é uma donzela.

Sor Ronnel franziu o cenho.

— Se acha que vai sair impune…

—... Eu já sai, sor — ela retrucou, olhando-o bem nos olhos escuros, sem vacilar. — O castelo daquela cadela da sua amante é um pilha de rochas quebradas e neve, e mesmo assim, vale mais que a imagem dela.

Em resposta aos seus insultos, Sor Ronnel apertou as mãos de Margaery, que fez uma careta ao sentir a pressão de seu aperto. Quase caiu, mas conseguiu manter-se dançando, mesmo que estivesse quase aos tropeços.

— Que pouco cavalheiresco da sua parte, Sor — zombou, entredentes, furiosa.

O semblante de Sor Ronnel era sombrio.

— Não ouse se meter com Myranda — avisou ele. — Ou você verá como sou capaz de deixar meus bons modos de lado e ser bruto.

A pressão nas mãos de Margaery cessou, Sor Ronnel afastou-se, outro veio dançar com Margaery. Um homem de olhos aracnonegros, cabelos castanhos, com a raiz um tanto grisalha e uma barba castanha por fazer. Seu porte era grande e forte.

— Milady — sua voz, mesmo calma e sorridente, era um ribombar trovejante.

O homem usava um gibĂŁo marrom com dois homens arando o pasto e dois javalis negros e brancos. O sĂ­mbolo da casa Darry unido ao javali dos Crakehall.

— Olá. Sor Lyle, certo?

— Lorde Lyle — corrigiu-a.

Margaery sorriu.

— Sim, claro. Erro meu. Soube que lutou gloriosamente no Tridente.

O homem de olhos crueis e brutais sorriu e aquiesceu.

— Obrigado.

— Meus pêsames pela sua perda.

Ele franziu o cenho. A confusĂŁo em seus olhos negrumes.

— Hum? Ah, sim. Minha querida esposa Amerey. Era uma boa esposa.

— Eu imagino.

— Pelo menos ela pode me dar um filho antes de morrer.

— A Criança está bem? — indagou.

Lyle fez que sim.

— Sobreviveu a viagem para cá, graças aos deuses.

Um herdeiro para Darry, pensou. Uma pena que Darry era uma terra esquecida pelos deuses, deixada para os cadáveres e a neve. Pelo que Margaery sabia, os Dothraki fizeram a farra por aquelas bandas — ótimo. Era mais um inimigo para Daenerys.

— Eu imagino — disse ela — que não pretende ficar viúvo para sempre.

O feio e bruto homenzarrĂŁo sorriu.

— Ora, um homem sempre está em busca de novas flores no bosque. Flores essas que estão menos usadas, de preferência.

— É claro — concordou ela, antes da dança mudar novamente.

O seu parceiro na dança era alguém um tanto inusitado.

— Então, você é o Esfinge de quem tanto falam? — indagou ela, ao sentir as suas mãos de Alleras tocarem as suas.

O rapagĂŁo deu-lhe um sorriso complacente e galante. Loras tinha um sorriso parecido.

— É uma honra ser conhecido por uma dama tão bela — comentou ele, fazendo-a rodopiar. Quando ela parou de girar, eles ficaram mais próximos. — Permita-me acalentá-la esta noite, milady. Uma beleza como a vossa não merece ser ignorada.

Margaery começou a escrutinar o rosto de Alleras. Um belo rosto, devia admitir. Galante, esguio, escuro, com traços viris, porém, ainda contendo algo de feminino. Tinha de admitir: era um belo rapagão. Margaery tinha mais preferência pelos belos e galantes cavaleiros, como os de Highgarden; não podia, entretanto, negar que Alleras deixava muitos ofuscados por seu rosto.

Aquele rosto… Havia algo naquele rosto. Algo que lembrava Margaery de algo ou alguém.

Mas quem?

— É um convite galante, meu caro — Margaery respondeu. — Mas temo que a princesa o ocupe em demasia, pelo menos foi o que eu ouvi.

Sansa e o Esfinge andavam bem prĂłximos. Sim, Ysilla lhe avisara daquilo, e Margaery pode confirmar ao ver como Sansa estava sempre com ele desde que chegou em Harrenhal.

Mas Allera era um homem de Marwyn, Margaery tinha certeza… Ou teria algo mais?

— Um homem humilde como eu faria milagres para satisfazer damas tão belas.

Se ele Ă© mesmo um espiĂŁo de Daenerys e/ou Marwyn, por que se aproximar de mim?

— Acredito que a princesa deve ter tarefas mais importantes para você, caro Esfinge.

O rapagão assentiu. Havia algo em seus olhos. Olhos um tanto oblíquos e escuros. Sim, eram o que mais chamavam a atenção dela. (Onde já os vira?)

Alleras assentiu as suas palavras.

— De fato, tenho ajudado muito a adorável princesa. — Ele continuava a sorrir, porém, foi perceptível que seus olhos começaram a esquadrinhar o rosto de Margaery. — Vocês duas eram amigas na corte, não é? Quando o tirano Joffrey era vivo.

Ela assentiu.

— Sim, éramos amigas naquela época. Ajudei-a com relação a Joff.

— Foi um grande ato matá-lo, madame.

Ao ouvir aquilo, Margaery ficou vermelha. Podia sentir as bochechas arderem.

— Não se envergonhe, por favor — pediu Alleras. — Estou a elogiá-la. — Seu semblante ficou sério. — Os Lannisters não merecem piedade. Todos merecem sofrer. Foi um erro Daenerys não ter matado Cersei e o anão retorcido dela quando teve a chance.

Margaery arqueou as sobrancelhas, surpresa com a raiva fria e rancorosa que envenenavam as palavras proferidas pelo Esfinge. (Claro, ela sabia dos pecados dos Leões do Rochedo, mas havia algo pessoal nas palavras daquele misterioso rapagão.)

Alleras, talvez vendo que a reação de Margaery, talvez vendo que logo os pares da dança iam mudar novamente, suavizou sua fisionomia.

— Bem, eu apenas estou curioso, milady.

Ele pronunciava a palavra (“milady”) com perfeição, tal qual Edric Dayne, Sor Albar e todos da alta classe; o oposto de pessoas baixas, como Sor Gendry.

— Curioso?

Ele acenou com a cabeça.

— Sim. Gosto de saber das coisas… — Seu semblante ficou nervoso, vendo que a música estava a mudar. Voltou a fitar os olhos de Margaery. — Assim como gosto de saber de minha amada princesa. Saberia algo que ela gosta?

— Bem, ela adira bolos de limões — brincou, sabendo que o deixava ansioso. — Mas temo que não tenha trazido limões de Dorne, não é?

Alleras não pareceu achar graça alguma.

— Temo que não — respondeu, seco.

EntĂŁo vocĂŞ veio mesmo de dorne, nĂŁo Ă©? Mas de onde?

— Imaginei. Bem, lamento, não sei o que dizer.

Ele acenou com a cabeça.

— Entendo…

— Gosta mesmo de Sansa, não é? — perguntou. — Teria o galante Alleras sido enfeitiçado pela cara princesa Stark?

O rapagĂŁo corou, deixando a pele marrom de suas bochechas avermelhadas e mais escuras.

— Ela é linda, de fato, e temo ser fraco a belos rostos.

— Mais bela que eu? — questionou, curiosa para ver até onde ele iria.

O rapagão pareceu um pareceu um tanto surpreso com a indagação, mas não tardou de anuir.

— Milady é bela, nunca teria coragem de negar. Mas Sansa é uma beleza outonal sem igual.

Certo. Isso ela podia aceitar. Agora, antes que a música mudasse os pares dançarinos, arriscou:

— Mais bela que Daenerys.

O Esfinge pareceu quase engasgar com a pergunta, se atrapalhando.

— Bem… hããã… Não ouso comparar belezas… Mas, para mim, é um fato que Daenerys se aproxima, mas não supera, a princesa Stark.

Era amor. Sim. Podia ver isso no brilho dos olhos do homem, do tom da voz ao falar de Sansa Stark. Alleras não era um homem da rainha coisa nenhuma. Ele estava com Sansa. Mas… Por quê? Apenas amor? Não, talvez tivesse algo a mais. Algo que não estava vendo…

É algo nos olhos, sabia. Havia algo naquele olhar açucarado e feminino. Algo que agia como um mnemônico para Margaery.

— Eu adoraria falar com você novamente, mais tarde — ela disse.

Alleras assentiu, e ambos se separaram.

Enquanto o Esfinge dançava de forma elegante, bem fluída, os próximos dois pares de Margaery eram duros em seus passos; dois grandes e brutos Umbers, que faziam-na sentir-se uma pequena boneca. Edmure Tully, em contrapartida, era mais galante e disse que “tinha certeza que a sobrinha tinha Margaery em boa memória, pois arriscou tudo para soltá-la.”

— Eu agradeço por isso, Milorde — ela respondeu, enquanto a música o faziam ir e vir em volta das imensas lareiras.

Andar Royce, o irmão de Ysilla, era um bom dançarino, mas frio nas palavras (isso quando ainda falava algo).

Os dois irmãos Ryswell eram dançarinos desajeitados, mas, em contrapartida, o Magnar de Thenn era um exímio dançarino, mesmo sendo um selvagem.

O próximo par, porém, foi como um banho de água fria.

— Milady — a voz de Mychel era ríspida.

— Sor… — Podia sentir seus pés cansados e desengonçados, tamanho número de passos que havia dado. Tropeçou nos próprios pés, mas o companheiro de dança a manteve erguida.

— Soube que anda a matraquear — comentou Sor Mychel. Seus cabelos acobreados brilhavam com a luz das fogueiras.

Margaery não se amedrontou. Havia enfrentado gente pior do aquele Redfort arrivista. Ergueu a cabeça, encarou-o nos olhos, disse:

— O que eu faço não é de vossa conta, Sor. Na verdade, até onde sei, devia ficar de olho em sua esposa, mas não vejo-o muito próximo dela.

Sor Mychel torceu a boca.

— Você tem botado ideias erradas nela…

— E você a tem ignorado — retrucou.

— Não atreva-se a me censurar! — avisou, entredentes.

— Não se atreva você a me ameaçar!

— Toque em Mya…

— Ah, aquela bastarda? É ela quem lhe preocupa? Acredite, tenho problemas maiores. Gente de melhor estirpe para perder meu tempo.

Ele respirou fundo, tentando acalmar-se.

— Ótimo. Então, fique longe de Mya, assim como deve afastar-se de minha esposa. Ysilla e eu temos problemas, mas são nossos. Não se…

— Ysilla tem muitos problemas — ela concordou, depois sorriu.— Eu apenas quero ajudá-la a aliviar seus fardos, pois o marido e a princesa, ao quais ela serve, não estão fazendo nada por ela.

— Eu…

— Largar a esposa, que tanto lutou para manter, praticamente sozinha, as suas terras, num inverno como esse, cercada de selvagens… — Abanou a cabeça. — Tsc, tsc, tsc… Acho que ela merecia mais do que ser largada por uma bastarda fedida de forma tão descarada, não acha, Sor?

Dessa vez, Sor Mychel pareceu mais envergonhado do que irado, com o rosto parecendo quase tĂŁo vermelho quanto os cabelos.

— Ysilla…

Margaery o soltou de supetão, deixando-o confuso, quase tropeçando e caindo.

— Nossa dança termina aqui, sor — ela disse, dando-lhe as costas, indo até o estrado.

Olhou de esguelha para os outros dançarinos. Randa dançava com Hos, enquanto Wylla dançava com um dos Ryswell. Wynafryd compartilhava uma dança com Edmure, que parecia exausto de tanto dançar.

Edric estava novamente sentado no estrado, parecia falar algo galante para alguma lady nortenha qualquer — uma mulher que era magra como uma vara, mas com uma barriga que crescia. (Quase achou ser Arya, de tão parecida que elas eram, mas logo se corrigiu — era uma dama muito mais velha.)

— Cansada de dançar? — indagou Arya, atrás dela, fazendo Margaery dar um giro, assustada.

— Pelos deuses, você não anda? — Perguntou, irritada, com o coração parecendo quase a saltar pela boca.

A princesa Stark tinha um sorriso divertido e atrevido nos lábios, quase sensual. Seus olhos cinzentos pareciam divertidos com a irritação de Margaery. Ela havia deixado o colete de couro de lado, usando um vestido azul-escuro, feito de veludo. Havia safiras e jades verde-claras no peitilho da roupa. Encimando a sua cabeça, havia uma coroa de prata com dentes de tubarão — um espólio de guerra, se o que ouviu ser cantado numa das músicas do salão fosse verdade, retirado do cadáver azul de Euron.

Margaery nunca imaginaria ver Margaery usando algo tĂŁo fino. (Entretanto, nĂŁo deixou de notar que a princesa-guerreira ainda tinha uma espada presa no cinto.)

— Lamento, milady — desculpou-se Arya, ainda atrevida. — Apenas quis vir lhe parabenizar pelo fato de ainda estar viva.

— Para o seu desgosto, princesa — disse Margaery, pegando uma taça meio cheia e sorvendo.

Arya deu um risinho de escarninho.

— Acredite, torcia pela sua vitória — insistiu ela. — Na verdade, tenho certeza de que você será um belo adereço nesta corte tão homogênea.

Margaery franziu o cenho, estranhando os modos da princesa. Olhou para Edric, do outro lado, depois voltou-se para a princesa.

— Por acaso a princesa realmente esqueceu do vosso antigo amante e trocou por um de melhor estirpe? — indagou, sentindo-se atrevida.

Arya nĂŁo ficou brava. Na verdade, seus olhos pareceram mais alegres ainda.

— Sor Gendry tem um bom pau, mas nenhum bom dote — respondeu, fazendo Margaery arregalar os olhos, espantada pelas palavras da princesa. — Oh, não finja que não faria o mesmo no meu lugar. — Arya deu um risinho.

Ela abanou a cabeça em resposta.

— Pelos deuses, não!

— Oh, Margaery, você e minha irmã simplesmente não sabem se divertir! — ralhou Arya, com um atrevimento que só vendo, ainda mantendo aquele maldito sorriso naquela cara de cavalo dela. — Por acaso não apreciam o fato de ter dois homens brigando por vocês? Oh, Ned é um amor, ele me dá tudo o que lhe peço. Acho até que não se casaria com ninguém se eu lhe ordenasse…

(Margaery estava farta de ouvir as vanglĂłrias dessa princesa. Quando tentou falar algo e se afastou, Arya a ignorou, e continuou a falar.)

— Gendry é mais bruto, mais insaciável. Entretanto, não tem nada para me dar. Mesmo que deixasse a semente dele vingar em mim, seria só um bastardinho qualquer, que só ia servir para estragar o meu corpo e murchar meus seios. E, mesmo que eu fosse estúpida de casar com ele, o filho não ia herdar nada: Se Jon tiver mais de um filho, ele é quem herdará Winterfell; de toda forma, mesmo que isso não aconteça, Bran ainda viria primeiro, embora não creia que ele tenha filhos. E, é claro, Sansa ainda estaria aqui para herdar no meu lugar e no de meus filhos. — Deu de ombros.

Margaery apenas a fitava, chocada com as palavras brutais e sem considerações daquela princesa infame. Achava que Arya pelo menos tivesse consideração pelos amantes, mas estava errada. Absolutamente errada.

— Eu… — Tentou falar, mas logo se viu interrompida.

— Todavia, sabe por que realmente fiz tudo isso? — ela indagou, segurando o riso. E, antes que Margaery pudesse responder, ela mesma o fez: — Porque é divertido! Quero ver até onde posso levar esses dois patetas a irem por mim.

Margaery ficou incrédula.

— Princesa — tentou lhe avisar —, se acha que é seguro jogar…

— Ora, eu sei que não é seguro! Por isso o faço! — Ergueu uma mão aberta, com a palma voltada para o teto. — Acredite, logo Gendry vai estar aqui, comendo na minha mão.

Margaery meneou a cabeça, com um olhar severo.

— Mesmo que esteja certa — disse —, e se Gendry resolver fazer algo a Ned? Ou vice-versa? Ou os próprios lordes que desgostam de Gendry?

Arya deu de ombros.

— Você acha mesmo que tudo isso é engraçado?

Arya assentiu, olhou para além de Margaery, levantou-se, esticou a mão, sorrindo.

Quando Margaery se virou, viu Edric aproximando-se e pegando a mĂŁo de Arya. Ambos deram um beijo, antes de Arya voltar-se para Margaery.

— Estava falando com Lady Margaery — disse ao marido. — Ela nos parabenizou pelo casamento.

Edric deu um sorriso em agradecimento.

— Obrigado, Milady. Que possamos ser amigos, após o fim de tudo isso.

Margaery forçou um sorriso. Sentia muita pena de Edric, mas nada do que ela lhe falasse iria o convencer. Ele estava enfeitiçado por aquela princesa-bruxa.

Antes que qualquer um pudesse falar algo, o Rei do Norte, outrora calado em seu estrado, levantou e ergueu a voz:

— Milordes! — ribombou ele. Margaery o observou, pensando em como ele parecia mais parente da rainha do que das princesas. — Chegou a hora de eu e a rainha cumprirmos nosso dever! — Alguns homens (é claro) deram boas gargalhadas ao ouvir aquilo. — Então, que me dizem?

— PRA CAMA! — Foi a resposta de diversas vozes. — PRA CAMA! PRA CAMA! PRA CAMA!

Daenerys pareceu ficar nervosa, sussurrou algo para um homem de pele escura ao seu lado. (NĂŁo era Tumco Lho, e sim um homem mais velho, obeso e muito maior, cheio de cicatrizes.) O homem a ergueu no ar, levando-a para baixo do estrado.

Os homens no salão começaram a se fechar em volta de Daenerys, aos risos, rasgando-lhe seu vestido com mãos tempestuosas. A rainha parecia apavorada, mas tentava disfarçar com um sorriso.

Margaery se viu surpreendentemente compadecida com a rainha, enquanto a acompanhava com o olhar. Devia estar apavorada com que algum punhal surgisse e lhe matasse… Ou algo pior. Algo que nenhum homem iria sentir.

— Eu… — Edric disse, enrubescendo. — Eu devo ir, princesa. Cumprir meu dever.

Arya pareceu quase rir da cara dele, assentindo e o dispensando com o beijo. (Margaery não entendeu o nervosismo; era esperado que todos os homens fossem despir a rainha — podia não ser um dever como lorde falava, mas ela imaginou que ele estivesse com medo da reação de Arya.)

Ao olhar para o Rei, ainda austero, enquanto as ladies da corte o acompanhavam para fora do salĂŁo. Ele parecia frio e severo, nĂŁo se divertindo com nada daquilo.

Margaery nĂŁo fez a menor questĂŁo de o acompanhar. Que as ladies e meninas fossem se divertir.

— Edric sempre tentando agradar a todos — comentou Arya, enquanto observava o marido sair do salão.

Margaery franziu o cenho.

— Que quer dizer?

Arya voltou-se para encará-la. Novamente, deu um sorriso, junto de um dar de ombros.

— Ah, nada! Nada com deva se preocupar! — Rindo, a princesa saiu andando.

Ela está aprontando alguma coisa… Mas o que seria? Arya escondia as coisas para si.

Quando a maioria das pessoas deixou o salão, acompanhando os monarcas, alguns servos vieram, prontos para recolher os pratos, bandejas e taças. Uma moça estava sentada no colo de um cavaleiro, que lhe desamarrava o justilho do vestido. Uma selvagem estava montada em cima de um nortenho — um dos Umbers com os quais Margaery havia dançado —, por cima da mesa de montar do salão, com os seios amostra. Lorde Lyle também não perdia tempo, parecendo dar em cima de uma serva. A música que tocava agora era fraca, contando sobre como a Valente Princesa Sansa defendera Winterfell contra a rainha dragão. (Sansa ainda estava no salão, mas não parecia prestar atenção na música que tocava em sua homenagem, trocando palavras com Alleras. Sandor estava com eles, alto e terrível)

Levantando-se, Margaery resolveu deixar aquele ambiente abafado. Deu a volta nas mesas de montar, andou pelo chĂŁo de ardĂłsia, passando pelas lareiras e saiu pelas imensas portas do SalĂŁo das Mil Lareiras.

Do lado de fora, naquele que era o maior pátio que Margaery havia visto em toda a sua vida, a neve caia em peso. Lamentou-se não ter um manto com capuz naquele momento, mas pelo menos o cheiro acre e pesado da fumaça das lareiras havia ficado para trás.

— Quer companhia, Milady?

Margaery virou, vendo o que parecia um velho lorde. Então, corrigiu-se, e percebeu que era, na verdade, Sor Gendry, parado nas sombras, com uma camada açucarada cobrindo o cabelo preto e salpicado de cinza do rapagão. Havia uma crosta feia ao longo de sua bochecha.

Mas o que mais chamava a atenção dela, eram os olhos: estavam tristes, baços, avermelhados e inchados.

Ele andou chorando.

A moça sorriu e estendeu o braço.

— É claro, Milorde — chamou-o pelo novo título, tentando animá-lo.

Ele deu-lhe um sorriso triste, estendendo o braço e deixando Margaery deslizar por ele.

— Não estava no salão — pontificou ela. Notou que a mão dele exibia sangue seco. Sabia que aquele era o sangue do próprio cavaleiro-ferreiro. De certo, ele havia deixado algum sangue numa das imensas e escuras paredes de Harrenhal.

Ele fez um muxoxo.

— Meu pau pode ser do agrado da princesa, mas isso ainda não faz minhas nádegas terem boa estirpe para sentar à mesa com os lordes pomposos. E eu não sei dançar.

Ela assentiu.

— Sor Gendry, não deve sofrer por Arya…

— Não é só por ela. — A voz dele pareceu fraquejar, e seus lábios tremeram. Ele parou antes de continuar, parecendo temer estar prestes a chorar. — Doninha morreu.

Margaery franziu o cenho. Esperou ele lhe explicar.

— Ela era… — limpou a garganta. — Era uma amiga. Minha e de Arya. — Abaixou os olhos. — Ela morreu e Arya nem veio falar comigo sobre isso. Pareceu nem se importar! Nem se importar com Torta Quente!

Novamente, aquela maldita metáfora com torta.

— Gendry — disse Margaery, com a voz severa —, não pretende voltar para ela, não é?

O cavaleiro com terras pareceu evitar olhar para ela, como se temesse o olhar repreensor dela.

— Ela é tudo que tenho…

— Não pode estar a falar sério!

— Não me orgulho, mas amo-a. Não consigo largar ela, Margaery! Não posso!

Ela soltou o braço dele.

— Ela vai ser sua ruína se continuar assim! Sua, e de Edric!

Gendry nĂŁo respondeu com raiva. Apenas parecia triste e cansado.

— Não tenho mais nada… — Ele repetiu, cansado.

— Você tem terras!

— Nem sequer as quero. Apenas as tive para estar perto de Arya.

Margaery fez um som irritado e chutou a neve, fazendo os flocos flutuarem.

— Cuide-se, Sor — disse ela. — Que os deuses o protejam de sua própria loucura. — Quando virou-se para se afastar, ouviu-o chamar ela.

— Não quer meu manto? — ele indagou.

— Não preciso de nada seu — deixou-o sozinho, na neve.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Quando todos os lordes deixaram-os a sós, Daenerys estava nua, com frio, abraçando-se, coberta por um cobertor de pele de foca gordurosa. Jon estava ao seu lado, nu, com a cintura para baixo coberta pela pele oleosa de foca. Seu rosto era de pedra, com lábios machucados, um longo e quebradiço cabelo grisalho e olhos desiguais e frios.

Dany estava feliz por todo aquele caos ter passado. A ideia de ser cercada e tocada por inúmeros homens, sendo exposta, tocada… Pensar naquilo lhe dava calafrios.

Ao olhar para o lado, via como seu marido parecia introspectivo ao mundo. Ao seu lado, uma pequena vela de gordura derretia.

— Foi difícil esconder as mãos? — indagou Dany ao marido.

Lentamente, como se saísse de um transe, Jon virou-se para encará-la.

— Hum? Ah, sim. Meus dedos. Bem, eu…

Antes que terminasse de falar, foram ouvidas batidas na porta.

Era o sinal.

— Entre.

Arya trazia uma candeia de madeira simples. Ao seu lado, estava o seu marido, o belo Edric. Seus cabelos loiro-cinzentos estavam caindo até os ombros e seus olhos púrpuras estavam vidrados. Ao contrário da esposa, ele estava completamente nu.

Daenerys o olhou, surpresa. Esperava ver alguém envergonhado, tal qual Cetim. Mas aquele jovem estava com olhos febris, bochechas escarlates e um falo empinado. Era possível ver a respiração entrecortada dele.

O que ela fez com ele?, indagou-se Dany. Pelo modo como olhava para Arya, era visĂ­vel que ele nem havia percebido os outros no quarto. Parecia prestes a rasgar o vestido dela.

— Dei-lhe um conjunto de ervas — explicou a princesa. — Talvez seu arquimeistre possa lhe contar algo sobre elas, depois. — Continuou: — Ele está tão tomado pela luxúria que, se eu demorasse um pouco mais para subir, teria me estuprado nos degraus.

Dany fez uma careta e se encolheu entre a coberta, assustada pela frieza daquelas palavras.

— Dei-lhe e vim correndo — continuou ela a falar —, mas os degraus são muito longos.

Jon deu um olhar severo para os dois. Olhou com desconfiança para Edric, que nada havia dito.

— Arya… — A voz de Jon era severa.

Arya acenou para Daenerys com um gesto da mĂŁo que segurava a candeia, fazendo o marido olhar para ela. (Ela evita o olhar, com medo de que o contato visual o fizesse se descontrolar de vez, pulando para cima dela.)

Quando Lorde Dayne viu a rainha, seus olhos escureceram. Dany tremeu. Precisou de todas as forças que tinha para não chamar os guardas.

— Arya, ele não deve machucá-la — avisou Jon.

Arya o olhou, irritada.

— Você quer um herdeiro ou é só um tarado querendo ver um transa?

O Rei irritou-se com as palavras da princesa, tremendo os lábios escuros.

Arya ergueu o queixo, apontando para Daenerys, e Edric finalmente foi até ela.

Vai acabar logo, Dany disse a si mesma. Tinha de ter um herdeiro. Talvez as ervas que Marwyn dera para ela tomar, mais o cataplasma para as regiões íntimas, a ajudassem. Ele lhe prometera serem milagrosas.

E ela o faria pagar se aquilo nĂŁo desse certo.

— Meu marido vai estar bem agitado — avisou Arya, divertida —, então, talvez você possa fazer bom proveito, irmão.

Jon a olhou encolerizado.

— Saia — sibilou ele, e a irmã o obedeceu, fechando a porta.

O quarto era imenso, de modo que Edric, mesmo a passos largos e acelerados, demorou para chegar na cama do casal. Ele tropeçou num banco, mas nem pareceu notar. Estava com a mente anuviada, o rosto, lívido. Seu falo parecia uma lança, nunca abaixando.

Ele nunca tirava os olhos de Daenerys. Aqueles olhos alucinados, que a fez lembrar de Viserys. Os olhos a viam sem enxergar.

Quando aproximou-se, Edric agarrou o cobertor e o jogou para longe, fazendo-o chicotear no ar. Daenerys sufocou um grito, cobrindo os pequenos seios, assustada, enquanto Edric agarrava os seus calcanhares com extrema força e a puxava para mais perto de si, e ela sentiu deslizar pelo colchão de penas.

Jon, tentando se conter, virou-se, assoprou a vela, apagando a chama e deixando tudo tomado pelas sombras.

Arya gostaria de ter visto a cena. Ah, sim, nada iria lhe divertir mais do que ver aquela puta segurando o choro. Quem sabe, Jon acabasse por matar o marido dela. Ou eles podiam ambos se matar.

De toda forma, um banho de sangue ali iria causar um furdunço e, logo, todos saberiam a devassidão do Rei e da Rainha.

Claro, ela poderia simplesmente ter dado as ervas para Daenerys e Jon, mas, que graça isso teria? Lágrimas eram o que davam alguma graça numa tragédia!

Que seja. Não podia ficar para ver o espetáculo. Tinha de ir ver sua irmã, que parecia ter algo urgente para lhe dizer.

Depois, quem sabe, ela nĂŁo pudesse ir aos seus aposentos, e tomar um pouco daquela deliciosa bebida que Euron havia deixado.

Sim. Ia fazer isso. Ia saborear o sabor daquela bela bebida. EntĂŁo, talvez, fosse buscar Gendry, pois o marido nĂŁo era o bastante para lhe satisfazer.