Euron estava morto. Ă“timo, pensou Asha. Assim, seu caminho estava livre. Livre para tomar as ilhas de ferro para si.

— Se Cabelo-Molhado estivesse conosco — ralhou Tristifer Botley, sentado ao lado dela. Estavam no salão de Fidalporto, sede de sua casa. — Ele ajudaria a levantar o povo contra o povo.

Asha estava certa de que seu tio Aeron estava há muito. Olho de Corvo, de certo, o havia matado.

— Não importa, seus fieis já pregavam contra o meu tio — ela respondeu. — Com Euron morto, e sem mais nenhum tio para tentar me passar a perna, a Cadeira de Pedra do Mar pertence a mim.

— Fácil falar, Asha — disse Dagmer, balançando seus quatro lábios bizarros. — Acredite, as Ilhas não vão aceitar uma mulher no poder.

Eles quase me aceitaram antes, lembrou-se. Teria ganhado, nĂŁo fosse Euron.

Conforme as notĂ­cias chegavam, seu Ăşltimo tio vivo havia morrido. Finalmente. Junto dele, diversos lordes e guerreiros morreram.

Isso lhe deixava com terreno livre.

Devia agradecer a rainha Sansa — agora princesa, se o que Asha ouvira estava certo —; não fosse ela, estaria ainda no Norte, como refém. Ou, então, morta.

Dagmer, seu querido tio, ainda estava na Praça Torrhen, esquecido por todos; os nortenhos apenas deviam estar esperando que ele e seus homens morressem de fome ou apenas voltassem para a Casa.

Graças aos deuses a Praça não ficava longe de um rio, o que permitiu que Asha e seus aliados voltassem a sua terra natal.

Quando chegaram, não foram para Fidalporto de imediato, pois o tio de Tristifer havia obtido metade das terras para si, após Euron matar seu irmão mais velho. Ao invés disso, foram para Velha Wyk, nas Dez Torres dos Harlaw. Por sorte, apesar da inimizade que havia nas Ilhas de Ferro, Asha e seus companheiros não tiveram problemas para tomar as terras por um tempo. Três dentes, a antiga Castelão do castelo, havia morrido há muitas luas, mas o castelão atual deu apoio a Asha e aos seus.

Dez Dentes podia estar morta, mas o marido de Asha, Erik Ironmaker, ainda estava vivo e governava as Ilhas de Ferro como Lorde Intendente.

Asha sabia que a governança de seu forçado era fraca quando ele mandou uma carta exigindo sua presença, assim como as de seus colegas, ameaçando-os caso não o viessem. Ele não mandou um exército desde então. Estava fraco.

Apesar da confiança de Euron no gordo lorde, a supervisão de Ironmaker não rendeu bons frutos: o clero de sacerdotes afogados das Ilhas estavam furiosos com a governança de Euron, e, mesmo que Cabelo Molhado não estivesse lá para pregar contra o governo do irmão, seus discípulos o fizeram por ele; o povo também estava em revolta, pois a fé pregava contra Olho de Corvo — e o Lorde intendente veio a piorar a situação ao torturar o séquito de Aeron Greyjoy —, por mais que a maioria dos lordes o apoiassem, não ajudou o fato do dito os largar num inverno rigoroso; a facada final no governo de Ironmaker, por fim, foi a morte do próprio Rei que ele ajudou a coroar.

Quando soube da morte de seu tio, Asha reuniu seus companheiros, mais uma boa força de soldados restantes nas Dez Torres, subiu em sua frota de navios, e partiu para Fidalporto. Enviou corvos, dizendo que qualquer lorde que quisesse se unir a ela era bem-vindo.

NĂŁo apenas o tio de Tristifer havia morrido no Tridente: diversos lordes estavam mortos. Boa parte dos navios, se nĂŁo foram destruĂ­dos, pertenciam ao Rei do Norte e a Rainha DragĂŁo.

Asha não sabia qual a verdade por trás da morte de seu tio — as histórias diziam que a irmã mais nova do Rei Jon havia o matado, outras que ele e sua “Donzela Louca” lutaram contra Daenerys montados em um dragão e perderam. Havia até relatos de que Euron era uma bolha disforme, ou até um polvo roxo, quando morreu.

Não importava a versão: o fato era que Euron estava morto. Seu tio estava morto, e ela tinha certeza de que ele havia matado Aeron também. Daenerys matara Victarion, assim como Stannis matara Theon.

Nenhum Greyjoy restava além de Asha. Era ela quem se sentaria na Cadeira de Pedra do Mar.

NĂŁo apenas seus tios e irmĂŁo estavam mortos: seu tio Rodrik morreu, ainda em batalha contra Campina; sua irmĂŁ morreu pouco depois, apĂłs um resfriado forte se espalhar pelo seu corpo.

A mĂŁe de Asha estava viva, mas sem lucidez alguma. Talvez a morte fosse uma misericĂłrdia para ela.

— Asha — Tristifer disse —, mesmo que possa conseguir o trono para você, o que fará depois?

— Tris tem um bom ponto, minha rainha — pontificou Qarl, o Donzelo. — As ilhas não podem ficar de fora dessa guerra e…

— E não vão! — Asha respondeu. — Temos um acordo com a princesa Sansa, lembra?

Todos os homens no local se entreolharam.

— O quê? — ela indagou, irritada, franzindo o cenho.

— Asha — Tris começou a falar —, Sansa é uma princesa. O Rei é Jon.

— Além do mais — grunhiu Roggon Barbaferrugem —, ele agora é aliado de Daenerys. Ela matou Euron…

— Nós estávamos contra Euron — ela o lembrou.

— Mas não a maioria dos Lordes das Ilhas — retrucou ele. — Claro, muitos não devem ter uma boa imagem dele agora, após toda essa insanidade de ir para o Tridente. Entretanto, ela também matou seu tio Victarion.

Asha fez um estalo irritado com a lĂ­ngua.

— Temos apoiadores. Recebemos cartas de…

— Sei que temos apoio contra Erik — Dagmer disse. — Todavia, não tenho confiança de que os Lordes vão apoiar sua causa após isso, Asha. Pense, as Ilhas nunca foram governadas por uma mulher antes. E, se você vier com palavras de subserviência…

— Desculpem se não acho que temos condições de lutar mais — interrompeu-o, ácida. Esses idiotas realmente acreditam que as Ilhas de Ferro podiam continuar lutando para sempre? Se Daenerys tivesse mesmo dragões e fosse a insana que diziam ser, duvidava que ela seria piedosa como Aegon I. Ela iria queimar as ilhas.

— Você sabe que é verdade, Asha — Tris disse, com compaixão na voz. — Todos nós sabemos que você é capaz de reinar as Ilhas, mas, se você não conseguir fazer os lordes verem isso, bem…

— Eu sei — admitiu, a contragosto. Os Nascidos de Ferro não eram um povo muito esperto, temia. Sempre voltando aos modos antigos e brutos de seus antepassados.

O modo antigo nĂŁo lhe ajudara quando seu tio Aeron ordenou que fosse feita uma Assembleia dos Homens Livres.

Entretanto, os tempos mudaram.

Asha levantou-se da cadeira e olhou para Tristifer.

— Ordene que mais corvos sejam enviados.

Tris assentiu, olhando-a com seus enormes olhos escuros. Era um homem bonito agora, nĂŁo o rapazinho imberbe e espinhento do passado.

— Para onde?

— Todas as casas.

— Todas? — Ele piscou, surpreso.

Ela assentiu.

— É óbvio. Para uma Assembleia ser feita, é necessário que todas as casas estejam presentes nela, só assim terá alguma validade. — Sorriu. — Depois disso, preciso vá para os meus aposentos.

Tris franziu o cenho. A mudança de assunto foi tão abrupta que ele ficou confuso.

— Mas por…

— Sou sua rainha, lembra? Tenho de ver se meu futuro consorte está a altura.

X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X O X

Os montes de Nagga eram imensos ossos petrificados. Se as lendas estavam certas — e, nos últimos tempos, pareciam ser bem verdadeiras —, eram as costelas de um dragão marinho, morto pelo Rei Cinzento.

Em tempos antigos, ali existia um imenso castelo, aquecido pelo fogo de Nagga. O Rei Cinzento fizera uma coroa com seus dentes, e um trono com seu crânio. As costelas de Nagga serviram como pilares do Salão Cinzento.

Verdade ou nĂŁo, tudo que se havia ali agora eram costelas petrificadas, junto a um monte de terra e pedra. Ali, Reis eram eleitos.

Há tempos o tio de Asha, Aeron Greyjoy convocara uma Assembleia. Foi a primeira em quatro mil anos. A eleição fizera Euron Rei, mas Asha quase conseguiu. Teria sido a primeira Rainha de Ferro, não fossem seus tios imbecis.

Estavam mortos agora, porém. Ela teria o que lhe for negado.

E as casas vieram. Todos os Goodbrothers, todos os Harlaws, Benefort, Blacktyde, Codd, Drumm, Greyiron, Merlyn… essas e muitas outras casas haviam vindo até os Montes de Nagga. Trazendo seus navios.

A tropa de ferro estava perdida, assim como tentos outros outros navios. Mas ainda existiam navios nas ilhas; parte das frotas que as casas nĂŁo levaram consigo para a Guerra, fosse para proteger territĂłriou, ou apenas porque estavam muito velhos.

Não importava. Todos os navios seriam necessários para o que Asha queria após o fim da guerra.

— Existem bastante mulheres entre eles — Fez notar Tristifer. Virou-se para Asha. — Elas podem votar?

Ela respondeu com um dar de ombros.

— Se me ajudarem, sim.

Diversos homens morreram nas chamadas Terras Verdes. Assim como alguns de seus filhos. Suas viúvas, filhas, ou até mesmo suas irmãs, comabdavam suas casas. Seja porque eram as herdeiras ou porque os homens que haviam eram jovens demais para comandar castelos e terras por ora.

Perfeito. Talvez algumas delas estivessem dispostas a aceitar uma rainha; isto ajudaria elas a ter menos represálias para governar as terras que detinham — Além do mais, duvida que alguma delas ousasse arriscar ser rainha. Todas tinham mais chances de ser estupradas do que respeitadas ali.

— Acha que aquela bolha velha do seu marido veio? — indagou Qarl. Ele era um contraste interessante com a aparência bruta e suja dos Nascidos de Ferro, parecendo quase uma uma mulher.

Asha sorriu.

— Meu querido marido não perderia a chance de rever a esposa — Respondeu. Apontou para trás de onde estavam.

— Não que ele vá viver muito para isso — comentou Tris, carrancudo com o título pelo qual ela usou para falar de Erik.

Asha achava seus ciúmes bobo e divertido. Claro, Erik era apenas uma tentativa de Euron impedir que sua sobrinha conseguisse alguma aliança matrimonial, ela nem sequer estava na cerimônia — o estúpido Ironmaker casarasse com uma foca num vestido de noiva.

(Asha só resava para que ele não tivesse ido tão loge e consumado o matrimônio…)

De qualquer modo, ele e Asha nunca dormiram juntos. O casamento poderia ser invalidado… Embora não achasse que Erik vivesse para ver isso.

Quando todos os lordes estavam prontos, de pé, em frente ao Monte de Nagga, Asha acenou com a cabeça. Era um sinal para um sacerdote que estava perto do Monte. Um antigo discipulo de seu tio Aeron.

Que o Deus Afogado guiasse todos esses homens. A fé podia cegar, mas podia abrir caminho. Só precisava ser usada pela pessoa certa para tal.

O sacerdote limpou a garganta e bradou:

— Meu antigo líder, Cabelo Molhado, convocou uma Assembleia como esta, pois ele sabia que era o caminho certo. O caminho verdadeiro. O Costume Antigo era usado pelos nossos ancestrais há séculos atrás! Agora, devemos seguir seus costumes! — Varreu a área com os seus olhos pequenos e escuros. Perguntou: — QUEM SE ATREVE A TENTAR SENTAR-SE NA CADEIRA DE PEDRA DO MAR!?

Os homens e mulheres ao pés de Nagga trocaram olhares. Asha não falou nada. Nada fez para subir subir o Monte de Nagga.

NĂŁo podia ser a primeira. Devia deixar os homens tentarem antes, para perderam seu tempo.

Nenhum homem se dispôs por um bom tempo. Até que um criou coragem:

— Eu tenho! — Erik Ironmaker disse. Asha sorriu; aquilo era tudo que ela precisava para a vitória.

Acompanhou a subida de Ironmaker com os olhos. Seus netos o erguiam em uma cadeira de pedra. Era um homem flácido, velho, cheio de vincos na pele cinzenta. Os cabelos grisalhoa da barba e do cabelo quase alcançavam ao chão de tão longos.

Os Homens de Ferro nunca seguiriam uma pessoa como essa; incapaz de comandar uma frota por si mesmo. Erik podia ser bem lembrado por seu passado, mas, tal qual o SalĂŁo Cinzento, isto era apenas uma histĂłria antiga.

Quando o pousaram no topo do monte, o velho limpou a garganta para falar.

— Todos aqui sabem de minha de história! — ribombou o velhote. — Muitos aqui bradaram meu nome em glória na primeira Assembleia, onde todos nós elegemos Euron IX, Olho de Corvo, como nosso soberano…

Asha fez um aceno com a cabeça para o seu grupo. Ela subiu o monte, em direção a onde estava seu marido; seus companheiros estavam logo atrás.

—... Olho de Corvo mostrou a glória que teríamos ao serguir seu caminho. E nós o fizemos. Somos Nascido de Ferro! Nós não obedecemos mulheres, nós seguimos guerreiros! Sim, Euron morreu, mas seu reinado continua! Ele me colocou no comando das Ilhas, e eu assim o fiz. Eu…

— E que regente você tem sido! — ralhou Asha, agora no topo do monte. Estava perto de seu marido, que a olhou de soslaio, com cólera. — Você torturou os fies seguidores de nossa fé, sentado com a bunda num trono que não era seu, enquanto os guerreiros de ferro morriam nas terras verdes!

Erik grunhiu.

— Quieta, mulher! Saiba seu lugar como esposa!

Asha riu.

— Ah, claro, imagino que nosso querido Regente já está cansado de dormir com focas!

As pessoas aos pés do Monte começaram a rir fo comentário, fazendo Ironmaker ficar escarlate e ranger os dentes.

— Não tente achar que vai conseguir alguma coroa aqui, mulher! — Bradou ele. (Asha se perguntou se ele realmente achava que chamá-la de mulher era um insulto, afinal, ele só a chamava assim.) — Eu me lembro de sua tentativa de ser rainha: foi um fracasso!

Asha nĂŁo se abateu. Virou-se para frebte, olhando para as pessoas abaixo dela, deu um passo para frente, e falou:

— Sim, eu me lembro. Lembro-me de como vários que estavam aqui quase me aceitaram como rainha — virou-se para Irommaker —, enquanto riram de você por nem sair dessa cadeira feia.

Novamente, risadas. Nem as mulheres temeram rir de seu regente, que voltava a ficar escarlate com os comentários e risadas.

Asha voltou a olhar para frente.

— Lembro-me dos tesouros de Euron, de seus baús jorrando ouro e joias. Diga-me, Ironmaker, onde está esse ouro? As joias? As glorias. — Apontou para a multidão. — Onde estão os amigos e parentes desse povo? Seus filhos e irmãos?

Asha notou como alguns ficaram abalados com aquilo. Uma mulher afundou o rosto nas mãos, escondendo as lágrimas. Alguns homens também se encolheram ao ouvir aquilo. Eram ensinados que a guerra era um símbolo de glória, mas ela apenas tirou tudo deles.

A filha de Balon voltou-se para o marido. Até ele parecia abalado; desesperado pelas palavras de Asha afetarem as pessoas.

— E seus filhos, querido marido? E seus outros netos além destes? — Os netos de Erik se trocaram olhares, parecendo entender o racíocinio dela. — Quantos morreram na guerra? Ou nas rebeliões de nossas ilhas?

Antes que ele pudesse falar, Asha girou os calcanhares, ergueu os braços, e gritou para a multidão:

— Me sigam como rainha, e prometo paz. Liberdade, sem morte e guerra. Nós vamos usar o mar para ganhar dinheiro. Acreditem em mim: chega de pobreza, desgraça e morte! Chega de perdemos aqueles que amamos por reis insensíveis e agraciar tal selvageria!

As pessoas lá embaixo gritaram em resposta. Ela conseguiu! Havia os conquistado!

— Diga-ke, esposa, a quem você nos vendeu? — Erik indagou.

Ela voltou a encará-lo, irritada.

— Cale a boca, velho — crocitou Tris, dando um passo a frente. Qarl o parou, pousando uma mão firme em seu ombro coberto por pele de foca.

— Diga-nos, esposa! Diga à todos nós para qual monarca verde você abaixou a cabeça!

Os gritos pararam. Apenas as ondas da maré e os gritos das gaivotas ecoavam. Todos a olharam, confusos, em silêncio.

— Eu não vendi minhas terras — ela explicou. — Apenas fiz um acordo de comércio. Ponta do Dragão marinho será nossa para fazer comércio. Isso irá salvar nosso povo. Vamos fazer paz.

Erik Ironmaker cuspiu no chĂŁo cheio de musgo.

— Paz! Paz é para os fracos! — Olhou para as pessoas que o ouviam. — Os Nortenhos, pois por séculos… milênios, na verdade… temos saqueados suas terras, queimados suas vilas, matado seus homens e levados suas esposas como espólios.

— Os tempos mudaram! — Asha rebateu. — Nós temos de mudar junto! Temos de deixar o passado para trás, seguir em frente!

— O Rei do Norte aliou-se a Daenerys! — Pontificou Ironmaker, sem olhar para ela, ainda com os olhos cravados na plateia que ali havia. — Ela matou Victario, assim como matou nosso rei! Asha quer nos vender para ela!

Um mĂşrmurio se seguiu; todos pareciam seguir as palavras de Ironmaker.

Tendo de ser rápida, Asha retrucou:

— Todos aqui falam de seguirmos o Caminho Antigo, não é? O Costume que todos os nossos ancestrais seguiam! O preço de Ferro!

Seu marido a olhou de esguelha, desconfiado.

— Sim… — ele grunhiu.

Ela assentiu.

— Pois bem. E o que Daenerys fez? Ela tomou os homens de Victarion e seus navios pagando o preço de ferro!

O queixo de Ironmaker caiu, sua pele ficou pálida, seus olhos a fitaram como se ela estivesse insana.

— Euron caiu nas mãos de Daenerys, não é? Não seríamos agora o reino dela? Ela não seguiu nossas tradições?

A algazarra começou. As pessoas pareciam perdidas e irritadas com o que ela dizia.

Tris foi até ela e sussurrou:

— Asha…

— Confie em mim — ela murmurou, irritada. Voltou-se para a multidão e disse: — São esses os antigos costumes que vocês querem? Querem ser escravos de pessoas no poder? Ou querem confiar em mim como sua rainha e defensora?

A algazarra parou. Todos a olharam, petrificados. Era ela, o fraco Ironmaker ou a rainha DragĂŁo.

— Asha! — uma mulher gritoum — Rainha Asha!

— Rainha de ferro! — um homem berrou.

E, entĂŁo, todos gritaram juntos:

— RAINHA ASHA! RAINHA ASHA! A RAINHA DE FERRO!

Ela ergueu os braços, agradecida pelas honrarias gritadas. Finalmente, tinha o que era seu por direito.

Virou-se para encarar o marido uma Ăşltima vez. Ele olhava para a multidĂŁo como se tivessem todos ficado insanos. Virou-se para os netos.

— Me tirem daqui! — ordenou, desesperado.

Os netos fizeram nada para obedecĂŞ-lo, nem para barrar Tristifer.

— Não precisamos mais de você, velhote — Tris disse, assustando Ironmaker, que não o vira se aproximar por trás da cadeira dele.

Tris não precisou fazer muita força; Ironmaker estava na beirada do Morro. Um empurrão foi tudo o que precisou para fazer o velho gordo cair e deslizar no fosso. Seu flácido corpo bateu contra as pedras e deslizou nas algas e musgos.

Asha não ouviu seu flácido marido gritar; talvez por causa dos sons da gritaria ou ele apenas não teve tempo. Não importava. Ele estava morto antes mesmo de terminar de rolar.

— Isso quer dizer que não vou mais visitar sua cama? — indagou Qarl, sorrindo, enquanto Tris se aproximava deles.

A Rainha de ferro riu.

— Depois vemos isso.

— Quais são as suas ordens, minha rainha? — Tristifer indagou quando se aproximou de sua noiva recém-enviuvada. Ele falou bem alto, pois o grito das pessoas lhe abafava a voz.

— Reuna os navios para frota.

Ele assentiu.

— Quando partimos?

— Não partimos. Não ainda. — Ao ver o seu futuro marido juntar as sobrancelhas, confuso, ela explicou: — Vamos esperar a Rainha dragão dar suas ordens antes. Quando ela mandar, nós vamos agir; até lá, vamos nos preparar para a guerra.

Tris não pareceu compartilhar a certeza da esposa — certamentmente acreditava que Aegon tinha mais chances de ganhar. Entretanto, Asha era sua rainha, esposa e o amor de sua vida. Então ele apenas assentiu.