Mar de Lírios

Graças a Aslam!


Caspian

Saltei para o convés, deixando Susana e Rince lá em cima. Enquanto lutava, tentei ficar de olho na Su vez ou outra e vi quando ela começou a lutar com um pirata. Concentrei-me em minha luta e quando matei meu oponente sendo logo cercado por outros, de relance a vi sendo derrubada com um golpe fortíssimo no rosto e depois vi o movimento de chute se repetir seguidas vezes. A ouvi gritar. Senti meu sangue ferver de fúria, usando-a para matar meus oponentes.

Corri para a escada que levava à popa, mas fui derrubado no meio do caminho. Lutei o mais rápido que pude. Notei que Susana ainda reagia aos golpes, mas não levantava, o que começou a me perturbar. No calor da luta, acabei me afastando da escada e pouco depois vi o pirata cair com a flecha no pescoço.

O Tarcaã afundava à bombordo. Tive um pouco mais de trabalho para me livrar do pirata com o qual lutava, mas o matei quando os marinheiros gritaram a vitória. Mas o chamado de Rince os fez calar, trazido para nós pelo vento que começava a nos afastar dali.

–CAPITÃO! CAPITÃO!

Tornei-me em direção ao som, disparando para lá. Subi a escada aos saltos, caindo de joelhos ao lado de Susana. Ela estava no chão, arfando asperamente e saltando leves gemidos de dor, tinha sangue no rosto e uma poça de sangue formava-se do ferimento, provavelmente agravado pelos golpes do pirata.

–Su...! - chamei. Sua respiração continuava irregular, ela não se mexia.

–Está doendo muito... - ouvi-a queixar-se, num sussurro baixíssimo.

Tirei a mão de Susana de cima do ferimento devagar e ergui a camisa o suficiente para ver o ferimento. Estava muito maior e profundo do que antes, rasgado pelos golpes. Senti um aperto no peito e um nó na garganta.

–O elixir... - pensei alto, logo buscando-o no cinto de Susana. Meu coração gelou. - Su, onde está?! - ela não conseguiu responder. Olhei em volta e não encontrei nenhum sinal dele. - Rince, procure! Achem o elixir! - ordenei aos berros e ele logo obedeceu.

–Senhor, é melhor levá-la para dentro. - sugeriu Drinian. Com cuidado, ergui Susana nos braços e a levei para a cabine. Deitei-a com cuidado na cama. Ela não se movia nem um pouco.

–Rince! - gritei, quando Drinian entrou na cabine. - Rince! - Rince chegou à porta correndo, esbaforido. - Onde está o elixir?!

–Estamos todos procurando, senhor! - garantiu.

–Drinian, olhe pelo quarto! - ordenei. Susana estava pálida, os olhos fechados e sua respiração era quase imperceptível. Drinian começou a procurar por toda parte sendo ajudado por Ripchip. - Vamos, Su, abra os olhos! - pedi baixinho antes de procurar novamente o elixir em seu cinto. - Por que você não está com ele, Su? Você prometeu que estaria...!

Fui interrompido em meu monólogo quando uma nova figura surgiu à porta.

–Que bagunça toda é essa aqui?! Já não basta lá em baixo como chiqueiro?! Susana, chega disso, iremos...! - Eustáquio estacou à porta ao vê-la deitada na cama. - Oh, meu Deus!

–Será que você pode parar de resmungar e ajudar?! - indagou Ripchip.

–Pedro não vai gostar nada disso! O que você fez com ela...?! - questionou para mim, marchando em nossa direção, mas logo recuou alguns passos. - Oh, céus.. - a expressão de pânico o assombrou e ele mal conseguia falar, apontando para Susana. - Isso é... é...?!

–Quer parar com isso e ajudar...! - esbravejei, mas fui interrompido quando Eustáquio revirou os olhos e desmaiou. Rolei os olhos, voltando a atenção para Susana.

–Acho que ele gostou de ser tratado por Tarvos. - ouvi Ripchip.

–Agora não, Rip. - falou Drinian que continuava a revirar tudo.

–Nada ainda? - perguntei quase em pânico, olhando-os por cima do ombro. Eles pararam.

–Não está aqui, senhor. Já olhamos tudo. - respondeu Drinian.

–Majestade! Majestade! - Rince gritou, chegando correndo, tropeçou em Eustáquio e cambaleou até mim. - Encontramos! - estendeu-me o frasco de diamante.

–Graças à Aslam! - exclamou Rip quando apanhei o elixir das mãos do marinheiro.

–Deve ter-se desprendido do cinta da Rainha durante a luta. - disse Rince, ofegante. Aquela altura eu já arrancara a tampa, com uma das mãos segurei o rosto de Susana e em seguida pinguei duas gotas entre seus lábios.

Apreensivos minutos se seguiram enquanto eu sentia meu coração quase explodindo no peito. Tinha que fazer efeito, tinha que fazer efeito. Então, alguns instantes depois, eu a vi, quase sedado de alívio, abrir os olhos. O sangue estancara e não me contive em puxá-la para um abraço quando seus olhos focaram em mim. Pude notar os outros saindo devagar e Drinian e Rince arrastarem Eustáquio pelos pés para fora antes de fechar a porta.

Tarvoos!– ouvi Rip cantarolar lá fora.

Abracei Susana fortemente, quase flutuando de tanto alívio.

–Graças à Aslam! - arfei. Então desfiz o abraço para olhá-la, embora com um leve sorriso, Susana ainda estava um pouco pálida. - Você está bem, Su? De verdade?

–Sim – sussurrou, tocando meu rosto. - Apenas um pouco cansada.

–Estava pronto para lhe dar uma bronca por não andar com o elixir como pedi. - confessei, sorrindo.

–Mas eu andava, como prometi. - sussurrou de volta. Assenti duas vezes antes de beijá-la. - Você está bem, Cas? – perguntou.

–Estou, estou sim. - beijei-a brevemente. - Agora descanse, Su, foi um longo dia.

Ela assentiu e eu deixei a cabine, tranquilizando os marinheiros que aguardavam do lado de fora.

–A Rainha está bem, homens! - assegurei, vendo o alívio no rosto de todos. - Está fora de perigo!

–Graças à Aslam! Graças à Aslam! - diziam eles. Pus-me a atravessar o convés, sorrindo de alívio, em direção à cozinha, quando fui parado por um novo som.

SAIA DE PERTO DE MIM! - era a voz histérica de Eustáquio.

Ora, estou cuidando de você. - a voz de Tarvos, algo me dizia que ele estava se divertindo com aquilo. Os marinheiros riram.

[…]

Quando anoiteceu, depois de limparmos o navio e a nós mesmos da forma que foi possível, nos reunimos para comer. Não chamei Susana, queria deixá-la descansar. Depois de muitas risadas, jogos de baralho e um pouco de música, separei algo para levar para ela. Havia apenas a sentinela no mastro ali fora. Atravessei o convés silencioso sob a luz da lua e das estrelas rumo a cabine principal. Dei duas batidas na porta antes de abri-la. Susana estava na cama e ergueu a cabeça do travesseiro quando entrei. A cabine estava escura, as portas da varanda abertas, pelas quais entrava uma suave brisa, e a luz da lua iluminava suficientemente o ambiente.

–Desculpe acordar você, Su. - falei, deixando a bandeja sobre a mesa.

–Acordei já faz algum tempo. - respondeu sentando-se na cama. Ela lavara-se também, usava uma camisa limpa azul, dispensando as calças e botas. Por sorte minhas camisas eram compridas o suficiente para cobri-la até metade das coxas. Obriguei-me a olhar para cima.

–Trouxe algo para comer. - falei. Ela se aproximou de mim, ainda parado ao lado da mesa. Serviu-se das uvas.

–Obrigada – falou. - Já estava quase indo atrás. - riu. Sorri e observei-a comer mais um pouco. Alguns segundos se passaram até que eu falasse.

–Não sabe o quanto é bom vê-la bem. - confessei de repente, fazendo-a olhar-me. - Quando a vi a beira da morte hoje...

–Cas... - ela largou as uvas, se aproximando de mim.

–Eu estava quase em pânico... Se não achássemos o elixir, se o pior acontecesse... E-eu...

–Caspian – interrompeu docemente, segurando minhas mãos, parando bem perto de mim, olhando-me nos olhos. - Já passou, não pense no que poderia ter sido.

Toquei-lhe o rosto, afagando a pele alva suavemente.

–Está certo. - minha testa tocou a sua e eu fechei os olhos. Ficamos assim por poucos segundos antes de nos beijarmos outra vez, a princípio lenta e castamente. A parte casta logo se perdeu e em seguida a lentidão. Seus braços deram a volta por meu pescoço e os meus por sua cintura, colando-a a mim. Minhas mãos subiam e desciam por suas costas, separadas de sua pele apenas pela fina camada de tecido. O que lhe disse era a mais pura verdade. Se eu a tivesse perdido hoje, não faço ideia do que teria acontecido comigo. Aquele beijo, poder tê-la ali tão perto depois de tudo o que acontecera me fez ver convictamente, que eu seria incapaz de viver sem que ela respirasse. Incapaz de viver sem tê-la por perto.

Perdidamente perdido naquele momento, interrompi o beijo quando percebi o quanto seu corpo estava colado ao meu e o quanto aquilo era perigoso. Rompemos o beijo num estalo suave, sem desfazer o abraço totalmente. Beijei-lhe a face, depois a testa e então Susana deitou a cabeça em meu peito e permanecemos os incontáveis minutos seguintes apenas abraçados, ouvindo a respiração um do outro.

[…]

Navegamos pelo dia seguinte inteiro com um vento constante de velocidade regular. Usamos os remos apenas por um período de tempo pela manhã, mas logo não foi mais preciso. Aquelas poucas horas remando foi suficiente para me deixar exausto, era um trabalho muito pesado apesar do pouco tempo. Alguns outros marinheiros puxaram água do mar para que nos refrescássemos e eu quase pude ver o vapor subindo quando a água fria encontrou meu corpo quente pelo esforço. Desci para apanhar peças secas de roupas no dormitório, mas não encontrei nenhuma limpa, então tive que ir, completamente encharcado, até a cabine pegar mais roupas com Susana.

O dia a dia num navio era muito restrito e os narnianos são conhecidos por apreciarem a limpeza, então toda vez que ancorávamos em alguma ilha arrumávamos um jeito de mandar lavar as roupas, quando o lugar era habitado, ou alguns marinheiros escalados se encarregavam disso, quando não havia moradores.

Abri a porta e entrei depois de bater. Susana lia, sentada à mesa. Ergueu o olhar e me olhou de cima abaixo com uma cara do tipo “te jogaram do navio?”, mas no momento seguinte pareceu levemente nervosa.

–Preciso de roupas. - prendi o riso.

–É, eu notei. - ela riu, fechando o livro e o deixando sobre a mesa. Levantou-se. - Estão no baú. - indicou, caminhando para a porta ao tempo que eu ia até o baú e tirava a camisa. Ouvi a porta fechar e não pude sorrir e sentir um certo constrangimento. Sorri pela doce timidez de Susana e fiquei um pouco constrangido pelo fato de naturalmente não ter me preocupado com a presença dela enquanto começava a tirar a roupa.

Susana.

–REMEM! REMEM! REMEM! - ouvi os marinheiros entoando em coro. Estava na varanda da cabine olhando o mar que deixávamos para trás quando eles começaram a remar. Até pensei em ir lá em baixo remar com eles ou até mesmo só para falar “remem” no mesmo ritmo, para incentivar, mas eu sabia que minha ajuda seria educadamente rejeitada. Então, sentindo-me uma completa inútil, apanhei um livro sobre contos e pus-me a lê-lo.

Foi uma boa escolha de passatempo. A voz uníssona dos marinheiros era o som de fundo, o dia estava ameno, com um céu azul e poucas nuvens. Os contos me distraíram perfeitamente, sequer notei quando começou a ventar de novo e o som dos marinheiros parou. Então só espantei-me quando Caspian adentrou a cabine completamente encharcado. Olhei-o intrigada de cima abaixo, logo me arrependendo quando notei o quanto a camisa molhada delineava seu corpo, e, para que eu ficasse vermelha de vez, as calças também faziam o mesmo. Desviei o olhar imediatamente para seu rosto.

–Preciso de roupas. - ele sorriu sem mostrar os dentes, parecendo nem notar meu constrangimento.

–É, eu notei. - ri, torcendo para não ter demonstrado meu nervosismo. Deixei o livro sobre a mesa e pus-me a caminho da porta para que ele pudesse se trocar. - Estão no baú. - indiquei-o com a cabeça.

Caspian tranquilamente foi até já tirando a camisa. Meu coração falhou brevemente antes de eu lembrar que tinha que sair. Aguardei-o no convés, sentando sobre um dos barris que ficavam à borda deste.

–Fico muito feliz em vê-la bem, Majestade. - Ripchip saltou para a beirada do navio, vindo até mim. - Ficamos todos muito aflitos quando se feriu. - dirigiu-me seus olhinhos piscantes.

–Obrigada, Rip. - sorri. - Tudo terminou bem, apesar do infeliz fato de termos perdidos marinheiros. - o sorriso se desfez. Rip concordou.

–Sim, é uma grande pena. - falou solene. - Mas, suas vidas serão honradas quando retornarmos à Nárnia com o grande feito que é esta viagem.

–Você tem razão. - concordei antes de ele continuar, depois de um breve silêncio no qual observamos o mar.

–Sabe, alteza – tornou ele tranquilamente, ainda olhando o horizonte. - Estão havendo comentários por entre os marinheiros, a respeito de sua pessoa.

–Comentários? Que tipo de comentários? - preocupei-me.

–Nada maldoso, eu lhe asseguro. - explicou ele, calmamente. - Seríamos incapazes de pensar qualquer coisa maldosa a seu respeito. O que quero dizer é que todos ficamos muito surpresos com seu retorno, uma alegria nova começou a pairar por todos no navio. E nenhum marinheiro deixou de perceber o quanto Rei Caspian está mudado desde então. - eu o ouvia pacientemente, fazendo perguntas mentais as quais ele respondia como se as lesse. - Desde que a senhora e seus irmãos deixaram Nárnia, Rei Caspian não foi mais o mesmo, sabe? Andava sempre quieto demais, introvertido demais, parecia não estar realmente onde estava. A senhora compreende? - olhou-me, quando assenti, voltou a fitar o mar. - Então vossa alteza chegou e todos notaram a diferença do rei. Como eu disse, uma nova alegria chegou ao navio, contagiante que, além de sua presença, parece irradiar do rei. Estamos todos muito aliviados por ele voltar a sorrir, por sair da prisão na qual parecia estar. - fez uma brevíssima pausa. - Devo lhe dizer, Majestade, que estamos todos muito contentes com sua vinda, e muito esperançosos quanto a sua estadia em Nárnia ao lado do Rei Caspian. Não queremos ver nosso rei outra vez como ele estava antes.

Pisquei algumas vezes.

–Era tão grave assim, Rip? - sussurrei. Ele assentiu uma vez. Outra pausa. - Realmente espero ficar, Rip – confessei, sentindo os olhos arderem com a possibilidade de lançar Caspian novamente naquele poço. - Eu seria a pessoa mais feliz do mundo se pudesse ficar...

–Discordo. - interrompeu ele, risonho. - Rei Caspian seria. - nós rimos.

–Nós dois seríamos. - cedi, logo voltando ao tom sério. - Mas como toda vez que venho à Narnia, não sei se poderei ficar.

–Garanto-lhe, Alteza, que todos aqui estão torcendo para que o Grande Aslam nos conceda essa graça.

Não pude deixar de sorrir.

–Obrigada. - falei, poucos segundos depois, Caspian chegou até nós.

–Como estão as coisas, Rip? - perguntou.

–Em perfeita ordem, senhor. - respondeu prontamente, logo fazendo uma reverência a nós dois e saindo.

–Do que vocês falavam? - perguntou Caspian, olhando Ripchip se afastar.

–Rip estava me contando uma história. - contei. - Sobre um rei que foi atacado por uma profunda tristeza quando teve que se despedir de sua rainha e dos irmãos dela.

–Acho que Ripchip e eu precisamos ter uma conversa séria. - franziu os lábios, fingindo irritação.

–Deixe ele, Caspian. - eu ri brevemente.

–E o que mais ele fofocou, quer dizer, contou. - fingiu atrapalhar-se com as palavras, permanecendo de pé, apoiando-se na beira do navio.

–Que todos no navio perceberam o quanto você mudou desde que cheguei, e o quanto todos querem que isso continue. Que eu possa permanecer em Nárnia para que seu rei não volte a sentir-se tão triste quanto antes.

–Não sabe o quanto eu também desejo isso. - confessou com um meio sorriso.

–Eu também, Caspian, eu também. - assegurei. - Mas contei à Rip que, como das outras vezes, eu não tenho nenhuma garantia de que ficarei.

Pude vislumbrar uma sombra de dor passar pelos olhos de Caspian antes de ele desviar o olhar para o mar.

–Isso me assombra, Su.

–A mim também. - sussurrei. - Se tiver que deixá-lo depois de ter voltado, seria mil vezes pior do que antes.

Silêncio.

–Você se arrepende de ter sido trazida de volta? - perguntou de repente, olhando o mar, espantando-me.

–Claro que não, Caspian...! - assegurei antes de ele interromper.

–Você sabe, aquela primeira dor era bem menor do que essa segunda possivelmente será...

–Caspian, pare. - falei. Ele parou, olhando-me. - Antes de voltar eu daria qualquer coisa para passar mais tempo com você. Jamais poderia abrir mão dessa segunda chance, ou muito menos me arrepender.

–Não quis dizer isso, Su – emendou. - Só digo que você tem razão. Não temos garantia alguma de que você ficará, e sem dúvida, se você for, a dor da separação será mil vezes pior que antes. - segurei sua mão. - Eu não posso passar por isso de novo.

Ele segurou a minha de volta e logo cercou-me com seus braços. Permanecemos ali, apenas abraçados, observando o mar, perdidos em nossos próprios pensamentos.

[…]

Depois de um tempo, a presença de Caspian foi solicitada por Drinian e eu voltei para a cabine, deitei na cama e continuei perdida em devaneios. Caspian tinha razão. Seria muito pior do que antes. Mas eu também estava certa do que lhe dissera. Não abriria mão dessa nova chance de estar com ele pela possibilidade de maior sofrimento depois, afinal, se essa situação de separação chegasse de novo, a lembrança dos momentos que passei com ele seriam meu único alento.

Ripchip trouxe de volta uma questão incomoda da qual eu já tinha esquecido. E se eu não ficar? E se eu tiver que voltar ao meu mundo de novo? Mas se teria que voltar, por que razão Aslam teria me trazido até aqui? Duvido muito que seja para sofrer outra vez e eu começava a chegar a conclusão de que era melhor não pensar muito nisso e apenas garantir que todo tempo em que eu estiver aqui, especialmente ao lado de Caspian, seja aproveitado intensamente, para que, caso eu vá, não me arrependa de nada que fiz ou deixei de fazer aqui.

Eu ainda estava pensando a respeito quando o pôr-do-sol chegou inundando a cabine com o mais lindo tom dourado deixando o céu do lado de fora em tons de rosa. Permaneci na cama, admirando o lado de fora pela varanda aberta, sentindo os raios amenos de sol aquecerem minha pele. Então veio a voz da sentinela.

TERRA À VISTA!

Levantei e saí da cabine indo até Drinian e Caspian que estavam junto ao manche. Drinian passava a luneta para Caspian.

–Parece deserta. - concluiu o mesmo, passando a luneta a mim. Ao olhar por ela avistei uma praia deserta, onde haviam pedras perfeitamente redondas cobertas de musgo. Pareciam ter sido esculpidas.

–O que sugere que façamos, Alteza? - perguntou Drinian.

Ia dizer a ele para desembarcarmos e passarmos a noite na praia, explorando pela manhã, mas me detive de última hora, lembrando o quanto a palavra da rainha é menos importante com o rei por perto.

–Preparem os botes. - respondeu Caspian, prontamente. Agradeci por não ter dito nada. - Acamparemos na praia até o amanhecer.

Contive um sorriso, deliciada por Caspian ter tido o mesmo raciocínio. Fechei a luneta e a devolvi para Drinian que começou a gritar ordens para preparar os botes. Fui até a cabine, peguei meu arco e flecha junto com a trompa e o elixir de Lúcia, então retornei ao convés onde já era esperada para embarcar num bote. Descemos até o mar e Caspian remou junto com os marinheiros rumo à ilha.