CAPÍTULO TRINTA E CINCO - DEIXANDO-ME CURIOSA

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"Quando o amor vos fizer sinal, segui-o; ainda que os seus caminhos sejam duros e escarpados. E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos; ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir."

(Khali Gibran)

_É! Acredita que ela disse isso, Raissa? _comecei, contando-lhe o que Nath me pediu.

_"Ta", mas assim do nada? _disse distraída. Céus! Ela é pior do que eu quando está apaixonada.

_Sim. _suspirei a contragosto.

_E por que não negaste? _declarou, provavelmente não tinha ouvido metade da história.

Sabe, que ninguém me ouça, mas preferiria virar uma freira do que perder a concentração ao amar alguém. Se é que isso já não ocorreu.

_Você não a conhece mesmo, não é? Ela me chantageou, disse q-que ia contar ao Matthew que eu o amo se eu não a ajudasse. _declarei nervosamente, nem querendo imaginar isto.

_Então está explicado. E... quando você vai começar a escrever o discurso dela? _questionou.

Isso mesmo, minha tarefa era escrever um texto. Mas não um qualquer, pois minha amiga quer um daqueles que envolvam assuntos de todas as matérias. Yeap! Ela queria mostrar que, além de ser bonita, era inteligente.

_ Amanhã. _desanimada.

_É? Mas vamos deixar isso para lá, agora quero falar de outro assunto. Já sabes com que vestido vai ao baile, Manu? _comentou com os olhos brilhando. É... Raissa não mudava.

_Você só pensa em vestido, em? _retruquei, meio irritada.

_Alguém tem que pensar nesta casa, não é? Por que se depender de ti, você ia com uma calça e blusa básica para a festa mais esperada de seus anos no colégio. _confessou sonhadora, provavelmente se lembrando da vez em que participou da mesma coisa que eu.

_Tens razão, amanhã eu providencio algum vestido. _disse tediosa.

_Achas que me engana, não? Eu te conheço muito bem para saber que você não vai fazer isto, deixando para o último instante. Deixa que eu faço isso por ti. _disse animadamente, já pensando nos vários vestidos que ia encomendar.

_Esta bem, mas não quero nada tão exagerado, Raissa. _alertei-a.

_Pode deixar. _finalizou, sumindo por entre o corredor.

***

Bem... estou em um biblioteca procurando alguns assuntos nos livros mofados de história, geografia e entre outras matérias, enquanto Nath está no recreio pedindo para todos votarem nela. Provavelmente, está sendo hipócrita ao contar que ajuda as crianças carente e que doa metade de suas roupas para elas, tudo fábula de quem quer ser a melhor em concurso de beleza.

Dá para perceber que odeio essas coisas de miss, não é? Pois é, para mim a beleza não deve se por na balança, pois todos tem gostos diferentes em relação a alguma pessoa. Além de que, prefiro muito mais os campeonatos de matemática, pois avalia resultados certos e precisos do participante.

Passei pela prateleira novamente, procurando um livro que preste, já que não encontrei nada nos outros. Yeap! É difícil encontrar diversos assuntos em uma pequena cidade. Mas, consegui fazer metade do discurso com os existentes aqui.

Quando abaixei para pegar um que achei interessante ao ler o título, vi pares de olhos me fitando. Verdes como oliva, os mais lindos que tive o prazer de mirá-los todo o dia. Matthew, por incrível que pareça, estava do outro lado da prateleira. Ouvi ele rindo antes de aparecer atrás de mim, fazendo-me perguntar como o mesmo chegou tão rápido.

_Bom dia, feiosa. _disse zombeteiro, encostando em meus ombros ao fazê-lo.

Podem me achar covarde, mas eu não me virei para falar com ele. Estava tão envergonhada por ter o rejeitado, que tinha a certeza que o moreno ia me menosprezar ao olhá-lo. Já imaginava até o mesmo me fulminando, de uma maneira tão expressiva que chegava a me queimar. Yeah! Eu estava prevendo antes que tudo ocorresse.

_Bom dia. _respondi timidamente, fitando o livro em minhas mãos.

Céus! Por que eu tive que mostrar o quanto era tão fraca ao pronunciar essas palavras de forma tão baixa? E, isso fez com que o moreno me virasse e me puxasse para si. Agora eu podia ver seus olhos, mas eles não estavam raivosos, mas sim.... doces.

_Que foi? Não vais dizer que está com medo de mim, Manu? _começou, o sorriso divertido em seus lábios.

_Infelizmente sim. Estou com medo da maneira como você me trata, das brincadeiras que você faz comigo e por sempre me humilhar sem propósito. Pior, machuca saber que você não liga para isso, ou finge não saber. Quer saber? Cansei. _desabafei, olhando-o diretamente. Vendo seu sorriso morrer aos poucos, dando lugar a um de angústia.

É... acho que ele já sabia o quanto me feria.

_Eu sei, mas não consigo parar de irritá-la. Você é tão fechada, inalcançável, que faço isso para tentar ser pelo menos seu amigo. Não sabes o esforço que fiz para tentar arranjar uma forma de conversar contigo, sendo que seu jeito me deixava com receio. Mesmo não sabendo, Manu, parece que tu tentas repelir todos ao seu redor, de uma maneira que nos afeta. _comentou, na mesma intensidade. Declarando, mesmo indiretamente, que sempre quis se aproximar de mim.

Não tem como eu dizer que isso não me abalou, sendo que é uma verdade. Lembro-me de estar no último dia de aula e desejar que ninguém ficasse perto de mim, exceto o Florêncio. Sendo que, o outro pode ser meu amigo pois me identifiquei com ele ao ver o modo como o resto o tratavam.

Talvez ele tivesse razão, eu queria que ninguém fosse meu amigo, principalmente pessoas como ele. Daquelas que fazem de tudo pela popularidade e que perdem sua essência em troca disso, porém estive errada. Eu, que sempre julguei os outros e me achava a dona da verdade, percebi que as aparências enganam.

_Sinto muito. _sussurrei simplesmente, o fôlego faltando pelas lágrimas. Digo que, não haverá ninguém que possa me afetar tanto quando Matthew. Yeap! E que enrole mais do que ele também não existirá.

Sendo que, eu o caracterizo como um popular esperto, com cérebro, irritantemente determinado e completamente irresistível.

Era esperto ao conseguir me influenciar de uma maneira que eu me sinta culpada. Tendo cérebro por passar direto mesmo saindo quase todas as noites, e sendo muito galinha em todas elas. Determinado o bastante para conseguir fazer com que eu virasse sua amiga, mesmo eu o mandando se afastar. E completamente irresistível ao quebrar minhas barreiras, aquelas da qual demorei anos para construir, e ainda terminar ganhando meu coração.

Sei que é clichê, mas e daí? O amor é assim.

_Ta chorando? _Não! Apenas caiu um cisco no meu olho.

_O que tu achas? _comentei furiosa, tentando guardar novamente em minha armadura as angustias que temiam em sair.

_Isto é óbvio, mas eu quero saber o motivo, Manuela Toledo! _declarou, com uma falsa irritação.

Ah, tive vontade de rir depois dessa. COMO EU O ODEIO!

_Nada. _menti, sorrindo em seguida.

Ele é tão chato que até já imaginava o que faria a seguir. Depois diz, na maior cara de pau, que se importa comigo.

_Já que não tens nada para me falar, eu vou indo. _comentou, dando as costas para mim.

Era assim que acabava, então? Sem um acerto ou um afago? Simplesmente assim, de uma maneira morta e sem sentimentos. De repente, uma dúvida veio rapidamente em minha mente, o que o moreno disse ontem.

_Espere! _gritei quando ele estava quase na porta, esquecendo-me que estava em uma biblioteca.

O que veio a seguir foi vários comentários de censura, mandando-me calar a boca. Até a recepcionista do local não o fez, deixando a responsabilidade para os alunos que queriam estudar. Ele se voltou para mim, caminhando enquanto colocava as mãos nos bolsos.

_Então... resolveu deixar de ser orgulhosa e me contar o que ocorreu? _questionou, fazendo-me fechar a boca em descontentamento.

_Não, mas preciso que me responda algo. Pode ser? _comecei, corada enquanto o fazia.

Podia ser o início de uma história de amor ou uma rejeição em público. Ou talvez, nenhum dos dois.

_Sim? _comentou em dúvida.

_A quem você se referia qua-quando disse que terminou com Bianca por que descobriu que a alguém mais importante que ela que o ama? _perguntei, vendo-o dar um lindo sorriso.

Fechei os olhos, fortemente, em defesa, esperando o pior acontecer.

_Não sabes? Pois é melhor pensar com cuidado, pois se não sabes disso ficarás muito surpresa com o resto. _disse antes de ouvir passos se afastando.

Eu não queria abrir os olhos e ver o mesmo saindo da biblioteca, principalmente pelo choque que tomei. O que ele disse com isso, e por que desta maneira? Sem uma rejeição ou algo que responda minha pergunta?

Nunca poderia arriscar um palpite, já que há várias meninas nessa escola. Aliás, achei me muito importante ao pensar que era eu a pessoa a quem ele se referia. Por qual o motivo ele terminaria com a exuberante Bianca por causa de mim? Acho que "nenhum" seria a resposta.

***

Quando cheguei em casa, particularmente em meu quarto, notei que havia um pacote de presente em minha cama e duas pessoas na porta, olhando-me com curiosidade. Yeap! Acho que era para mim abrir a caixa.

Coloquei as mãos em minha boca pelo choque que levará, pois o que vi era algo esplêndido. Era um vestido tomara que caia, em formato de coração, branco, rodado e de cetim. Havia varias armações embaixo dele, e as jóias serviam como enfeite. Olhei atrás e havia um grande laço atrás, no local onde fica a cintura. Simplesmente DI-VI-NO!

_Gostou, meu anjo? _começou D. Carla, olhando-me admirada.

_É lindo, mas acho que não devo aceitar. Ele deve ser muito caro e... _ia completar, mas Raissa me interrompeu.

_Aquela noite será única em sua vida, Manu, e você merece aproveitá-la. Nada melhor do que ter o melhor vestido. Vamos, experimente-o! _incentivou-me, pegando o vestido em suas mãos.

_Mas... _tentei retrucar novamente, desta vez minha mão interviu.

_Filha, estou fazendo o que deveria fazer a tempo, dar roupas que mostre o quanto você é elegante. Além de que, agora eu posso pagar por tudo isso. _declarou, fazendo-me lembrar do dia do tribunal. Como eu podia me esquecer?

Após isso não tive mais nada o que argumentar, provando o vestido. Achei-me maravilhosa, não tanto quanto as outras, mas dava para o gasto. Ri ao pensar o que o pessoal do colégio acharia, já imaginando como eu ficaria dançando com Matthew. Ah! Como eu sonho.