— O que me diz de um exemplo, senhorita... Milena?

Max parece procurar algum aluno na turma e só levanto a cabeça ao ouvir meu nome, de repente achando que fui pega. Não me entrego logo, observo a sala rapidamente enquanto escondo o celular na bolsa que trazia ao colo. Pois é, enquanto tá todo mundo já na pizzaria, na festa de aniversário das meninas, eu tô na aula. Sou jeitosa com os estudos, não duro fazendo a rebelde de matar aula. Não que estivesse com grandes propósitos de matar, mas estive faltando tanto que daqui a pouco me chamam de turista. Ou pior, me lasco nas provas.

Para falar a verdade, acho que já estou me lascando. Não vai ter nem evento acadêmico pra me salvar nesse fim de ano, como da vez passada. Ao menos tô bem cotada nessa questão de pontos extras.

— Eu?

— Você mesmo.

— Errr... acho que... errr... Ainda preciso pensar mais sobre a teoria.

Max apenas me olha por sobre o ombro com um sorrisinho de “te peguei totalmente”, quase maldoso. Engulo em seco meio que sem reação. Acho que ele não faria ceninha comigo. Não que tivesse tanta plateia assim até. Não sei se por ser sexta-feira, e último horário, quase metade da turma resolveu desaparecer. Pra quem devia estar muito preocupado sobre isso, Max aparenta tranquilidade. Professor Sanches, no entanto, no horário anterior, ficou chateado, achando que era boicote à aula dele.

Nem comento que tinha uma penca de gente querendo dar uma de penetra na festa das meninas. Foi um burburinho só essa semana com o pessoal comentando que teria o níver da Flá, que a banda MP-3co tocaria (depois de anos testando nomes, Dani e banda decidiram por esse nome) e que... por incrível que pareça, o fato de ser níver da Iara, a na-mo-ra-da do Sávio, a garota da foto, aquela por quem o Sávio deu o fora na Keila, insira outro apelido aqui, tava deixando todo mundo alvoroçado.

Quase posso ver Fabiano me dando bronca por fazer turmas matarem aula. Melhor que ele nem me veja hoje! Por enquanto, o Bruno – com quem eu tava no aplicativo de chat do celular – disse que não tinha muita gente fora dos reais convidados, menos mal. O Bruno era afiliado do Gui, que não ia deixar as pendências aos cuidados de Sávio, visto que veio pra aula comigo. Já eu, contava com a pest... com o Murilo e a Aline. Dizem os dois que está tudo nos trinques e que o movimento tá a toda por lá.

Vou só passar na casa do Gui pra tomar um banho e me aprontar, o mais rápido possível. Djane também vai conosco, pois passar o dia trabalhando e ir direto pra festa sem um digno banho é sacanagem. Passar em casa, nesse caso, seria ruim por que era um pouco longe e a festa já está rolando faz um tempo. Chegaríamos no fim basicamente. Negativo!

Max rabisca no quadro mais exemplos do tópico que discutia e seguia à risca um guia que faz um tempo ele tem levado às aulas. Djane me contou que ele ainda andava deslizando em temas, assim achou interessante dar uma reforçada no material base dele. Engraçado era que ele era bem entendido nessa parte de gestão administrativa, que é a matéria da minha turma, mas o que o faz penar são as nomenclaturas e teorias. Acredite! Max diz que isso complica tudo. Vai entender.

Quando Djane me solta dessas histórias, fico rindo adoidado até bater a consciência. Essa investigação deve ser de suma importância, porque para o diretor deixar uma papagaiada dessas passar, só sendo caso extremo mesmo. Eu tentava não ficar assustada com isso.

Quando achei que o assunto tinha morrido, Max puxa minha orelha, ainda me espiando de rabo de olho enquanto traça detalhes do esquema que trazia em mãos. Quase podia ver seu sorriso sarcástico.

— Seria tão melhor se prestasse mais atenção para o quadro, senhorita Milena. O que está nesse celular com certeza não vai te salvar na hora da prova.

— Desculpe, professor. Foi... hã... Não vai se repetir.

— Espero que não.

Volto a anotar o cronograma que ele então traçava, tentando me orientar mais. Preciso urgentemente me atualizar dessa matéria, tô começando a ficar pra trás. Vou exigir da Flávia uma aula particular. Do jeito que ela vai ficar me devendo por conta dessa festa e por ser essa sua matéria preferida do momento (dispenso comentário do porquê), ai dela se se negar, penso comigo enquanto vou fazendo as anotações, sem mesmo me atentar para o sentido daquilo que escrevia ao caderno. Quando acho que Max vai retomar o tópico para explicar seus rabiscos, ele faz uma coisa estranha. Mais estranha do que de costume.

Ele fala direito com o Gui. Sem mensagens subliminares, sem segundas intenções, sem provocação. Será que ouviu meu pedido enfim?

— Turma, o que acham de eu repassar logo o exercício pra vocês? Senhor Aguinaldo, poderia me ajudar aqui a distribuir? Aproveite e pegue um para sua namorada também. Acho bom que todos peguem para seus companheiros, não quero ninguém prejudicado por falta de material.

Se a Flávia tivesse nessa sala, aposto que faria um maior carão pro namorado, reafirmando sua teoria sobre Max ser um poço de gentileza. Eu, por outro lado, só levanto as sobrancelhas, tal qual o outro, que mal se mexe, também surpreso pelo pedido. E por Max ser gentil de novo.

— Senhor Villaça, uma ajuda aqui, por favor?

Max pedindo por favor pro Gui? Nem eu sei o que pensar depois dessa, só termino de copiar a matéria e espero meu amigo vir pro meu lado entregar as folhas do exercício. Pego pra mim e pra Sávio. Enquanto guardo na minha pasta, os dois continuam caminhando pela sala entregando papeis e o clima tá bem... sereno. Ok, meio assustador por essa atitude muito da repentina, e mais surpreendente quando os dois quase topam um no outro numa passagem entre cadeiras e Max sai do meio, SE DESCULPANDO.

— Ok, turma, acho que já podemos encerrar por aqui. Terminem de copiar e façam os exercícios. Não se preocupem, eles são da aula passada, vou retomar essa matéria do quadro na semana que vem, quando a turma estiver mais completa. Podemos ficar assim acordados?

Todo mundo assente e eu tento não quebrar cabeça imaginando coisas. Se ele quer encerrar a aula, ótimo! Posso correr, surrupiar Djane do escritório e ir logo me aprontar. É quando estou com quase tudo pronto pra sair, que Gui se levanta pra me esperar e a turma tá toda dispersa, Max se aproxima de mim e diz:

— Dê meus parabéns à senhorita Flávia e manda um abraço. Diz que perdoo a falta dela. Mas só dessa vez, viu.

Claro ou com certeza ele diz isso alto o bastante para certo cidadão ouvir?

Quando um Gui emburrado se afasta, Max complementa, bem vendo que estávamos sozinhos:

— Divirta-se, senhorita Milena. E cuidado... Sabe como me contatar.

— É só um aniversário, professor. Acha que...?

— Não sei dizer, mas os alunos falaram a respeito a semana toda. É algo a se observar. Mas não se preocupe com isso. Sério, divirta-se.

Ele põe a mão sobre meu ombro muito seguro de si. Parece estar mesmo me apoiando, bondoso. Só me pergunto o que colocaram no café dele na sala dos professores. Max bem sabe que sou desconfiada e por isso mesmo ele ri, contido, mas ri. Parece que sabe de alguma piada que não quer contar.

Maluco. Quero nem pensar no assunto. Quero é tomar meu banho e ir pra festa!

Mas, convenhamos, se tenho a chance de pentelhar, pentelho.

— Eu assisto filmes, viu, Max. Filmes e séries e já vi essa história de policial bom e policial mau. Tô de olho!

— É assim que gosto, meu doce.

Ele ainda inventa de piscar pra mim, vê se pode!

Pois é, ele também goxxxxxxxxxxta de pentelhar.

~;~

— Me lembre de não juntar mais minha mãe com Djane.

Aguinaldo retruca mais pra si mesmo do que pra mim, emburrado com a demora. Não é que a gente esperava por Djane e pela mãe dele pra ir pra festa? Quero só ver a cara da Flávia!

Verdade seja dita, se Djane não convidasse a mulher, acho que eu teria, sabe? A gente chegou lá na casa dos Villaça, já foi entrando e dominando o quarto de hóspedes. A mãe do Gui estava quieta na sala lendo um livro quando irrompemos pela porta. Nos recebeu super bem e disse que tinha até esquecido dessa arrumação, andava com a cabeça longe ultimamente. Com aquela cara mais ou menos dela, não era mentira.

Ela foi super gentil mesmo. Enquanto eu corria pro banho primeiro que Djane, ouvia as duas papeando no quarto, nada muito claro por conta do barulho da água saindo do chuveiro. Murilo ainda me fazia pressão, dizendo que era pra avisar quando estivéssemos chegando e que era pra ser logo. A coisa não me explicou por quê, só pediu. Não dava pra tentar ligar de novo, eu tinha que me apressar isso sim.

Quando Djane estava no banho e eu me arrumando depressa, a senhora Villaça reapareceu no quarto, toda solícita, perguntando se eu precisava de algo. Fiquei um pouco desconfortável. Não por nosso passado um pouco conturbado – e que já fora superado. Mas é que eu tava ali na casa dela e via como ela parecia pra baixo. Logo mais íamos sair e ela ficaria sozinha. Gostaria de fazer algo a respeito, só não sabia o quê. Então embromei que não achava meu rímel preto e pedi o dela emprestado, que correu para pegar. Mais iluminada, parece que só precisava de um pouquinho de atenção.

E de esquecer seus problemas.

Foi quando Djane entrou no quarto para se arrumar, que ela logo percebeu o mesmo que eu. Quando a senhora Villaça saiu pra atender um pedido do Gui, Djane começou, discreta:

— O que acha de ela ir também? Eu sei que essa família anda passando uns maus bocados e ela parece tão... Você vê, não vê, Milena?

— Pior que vejo, mas não tenho muito o que fazer a respeito.

— Podemos levá-la, não podemos? Vocês podem ir na frente se for o caso.

— Acho que não teria problema. Mas nada de convencê-la a ir sem querer ir, viu.

— Conheço aquele olhar, Milena. Foi meu olhar por muito tempo. Acho que não conseguiria ir muito tranquila se a deixasse.

Antes que eu pudesse concordar com um “eu também”, a mãe de Gui reapareceu e Djane fez a proposta, assim, como quem não quer nada, mas querendo muito. No começo, a mãe do meu amigo só achou que era por gentileza e não quis incomodar, declinou. Aí eu acrescentei que seria muito bom por lá, que não tinha essa de convite fechado, que não havia nada de incômodo nisso, só precisava ser rápida. Ela ainda nos entreolhou umas duas vezes, tentada, e preocupada com o que Gui falaria, e Djane disse que a esperaria.

Pois pronto, logo as duas estavam amigas, escolhendo ligeiro um vestido no quarto. Nesse meio tempo fui cuidar de checar algumas coisas e noticiei rapidamente ao Gui a novidade. Ele achou que era brincadeira, mas não pareceu encanar com isso. Só com a demora mesmo e, pelo seu tom, fazia isso por sua natureza de implicante.

— Até que é bonitinho, sabe.

— Porque não é com sua mãe.

Estamos no terraço de sua casa ajeitando o laço do presente de Flávia que ele daria, que de alguma maneira tinha amassado e saído do lugar. Ao ouvir sobre minha mãe, dou um tapa no braço do meu amigo. Ele se finge de enfezado por um segundo e logo deixa isso de mão.

— Tá, tá, eu sei, a sua mãe e Djane são super amigas. Mas, fala a verdade, é estranho.

— O que é estranho?

— Sei lá, ter uma relação assim com sua professora fora do ambiente da faculdade. Parece que estamos cruzando mundos. Você que já tá acostumada.

— Me admira é que depois de todo esse tempo, que Djane melhorou tanto, e também já te ajudou muito, que você ainda sinta essas reservas com ela.

— Nem sei dizer o que é, pra falar a verdade. Só... é estranho.

Coloco o presente de Flávia na cadeira de balanço do lado logo que está pronto. Na espera das mais novas amigas, checo meu celular pra ver se tem nova mensagem e Gui faz o mesmo com o seu celular. Continuo a implicar porque não me vejo não implicando por isso que ele fala de Djane.

— Se bem me lembro, até outros tempos tu tava me pedindo pra “consertar” a professora Silvana.

— Essa aí é outra que também anda estranha, já viu? Acho que tá se “consertando” que nem Djane.

Dou outro tapa no braço dele, fingindo chateação por falar de quem eu gosto dessa maneira. Defendo mesmo! O Gui? Ele ri.

— É, sério, Lena. Silvana tá vindo com uns papos ultimamente... toda gentil. Tem dia que ela nem me olha ruim. Tem dia que até vem puxar papo comigo.

Pior que já vi mesmo isso e nem eu sei o que pensar da mulher. Tento não julgar, claro. Acho engraçado como ela tem puxado papo com os alunos. Não esqueço de uma vez que ela insinuou que o Gui tinha engravidado a Flávia. Os pombinhos ficaram tão encabulados que mal conseguiram desmentir a impressão.

— Seu preconceituoso.

— Ok, tô sendo injusto com ela. Mas, sei lá, como te disse, anda tudo muito estranho.

— Tudo pra ti agora é estranho, essa é a verdade.

— Ué, mas se tá estranho, que eu posso dizer?

— Acho que você quer dizer que está surpreso, não?

Me encosto na coluna do terraço e ele faz o mesmo, do outro lado.

— Que seja. Só pra constar, lembro bem da tua cara quando pegamos Djane com Renato.

— E eu lembro da tua, viu. Mas aquilo foi diferente e nem vou dizer o quanto.

A conversa meio que morre aí. Como num estalo, Gui acorda pra vida e traz o assunto da mãe dele de novo, sobre ir com a gente:

— Espera aí, Djane sabe onde é a festa?

— Sabe.

— E o que a gente ainda tá fazendo aqui, criatura?

— Te aquieta, aí, coisa. Temos consideração, tá? Vamos esperar elas. Além disso, eu disse pra Dani cantar Girlfriend do N’Sync só quando você estiver no recinto. Vê se não dança de novo em cima de um capô. Melhor, dança sim, que agora tô com uma câmera melhor no celular.

— Ha-ha-ha, vocês me fazem rir.

— Acredite, a gente ri também.

— Não me enrola, Lena, bora logo pra essa festa que a gente tá atrasado.

— A gente tá na hora. Max liberou cedo, lembra? Elas já devem estar vindo.

Logo depois a mãe dele grita para fechar algumas janelas da casa, que estava ventando e a gente via que poderia chover. Ajudo meu amigo nessa já que também estava de bobeira. Aproveito essa hora pra colocar minha maleta de roupas, acessórios, e meu material de estudos logo no carro antes que esqueça. Quando voltamos para o terraço, que sento na cadeira de balanço, ele fica ao meu lado, encostado na coluna de novo, um pouco calado, e então puxa um assunto que eu não esperava pra essa noite:

— Ei, Lena, me diz uma coisa... Quando o Bart tava pegando no teu pé, era só Djane que te segurava mesmo? Tipo, o motivo.

— Por que pergunta?

— Só responde.

— Ah, acho que sim. Ele usava nossos pontos fracos a favor dele. Me provocava pra prejudicar Djane e... Você não tá pensando em falar com Fabiano sobre Max, ou tá?

Na meia luz do terraço, vejo que meu amigo dá de ombros.

— Não sei.

— Como não sabe? E por que dessa pergunta agora?

— Ah, você vê como ele é comigo. Hoje foi uma baita duma exceção. Eu sei que não tô ficando doido. Só não posso imaginar o porquê disso e logo comigo. Quer dizer, quê que eu fiz pra esse cara? Sério, o que ele tem contra mim? E por que foi tão gentil hoje?

— Sei lá, cara, Max é estranho.

— Ah, agora ele é estranho.

— Você que... Enfim, você vai falar com Fabiano mesmo?

— Por quê? Acha que não devo?

— Acho que a gente já tá no meio do período. E ele não tem te dado nota baixa, tem? Nem te impede de fazer trabalhos, certo?

— Afinal, o que ele te falou no fim da aula?

— Nada demais, te disse. Queria saber de Djane. Olha, você mesmo disse que ela tá diferente, que SILVANA tá diferente, então... se Max mudou hoje, vai que ele melhora mesmo? Confesso que também não sei qual é a dele, mas aí levar isso pra Fabiano... não sei, acho que ele vai te pedir mais consistência nos fatos.

— Eu sei que não tô ficando louco, eu se...

Nessa hora um carrão estaciona praticamente na porta de sua casa e ambos paramos pra olhar. Definitivamente não era seu pai, ele não daria as caras assim. Aguinaldo inclusive trocou todas as fechaduras da casa, pra garantir que ele não entrasse nem quando ninguém estivesse lá. Quietos, observamos quem sai do carro. Uma mulher, bem arrumada e que parece nervosa – do tipo atrasada. Ela olha o relógio de pulso e logo puxa um envelope do banco. Quando se vira, o celular dela toca e ela atende rapidamente, quando nos avista, surpresa.

— Oi? Tô chegando. Me espera.

Ela sobe a calçada e um perfume doce eu sinto da onde estou. Era tão doce que quase procurei ver se tinha formigas seguindo a mulher. Mas estava escuro, mal dava pra ver o rosto dela. Ainda assim, dava pra notar que era muito bonita e tinha aquele ar de pompa.

— Oi? Boa noite. A senhora Alba...? Alba Villaça? É aqui?

Gui assente, abre a porta da casa e recebe o envelope amarelado das mãos da mulher, tão quieto quanto eu. Ainda nervosa e apressada, ela se afasta andando de costas de volta ao carro enquanto volta a falar:

— Esses papéis são pra ela. Eu tenho que ir.

Assim que ela sai, pergunto:

— Você conhece?

— Não.

Quando acho que ele vai entrar na sala pra deixar na mesa, Gui caminha para o outro lado do terraço de casa e aperta em um interruptor pra ligar a luz. Sem cerimônias, ele abre o envelope, puxa uns papéis de lá, sem tirá-los totalmente.

— Hey, cara, o que v...

— São os papéis do divórcio.

Fico sem ação, não sei o que dizer a ele. Espio a porta da sala para ver se Djane estaria saindo com a mãe dele, mas só ouço as duas conversando baixo, já um pouco por perto dali. Suspirando em chateação, meu amigo recoloca os papéis que puxou e fica tenso. Me reaproximo, cuidadosa da situação.

— Ela não pode ver isso agora. Não depois de tudo que meu pai fez.

— Concordo com você, ela não merece esse banho de água fria agora.

— Vou esconder isso em algum lugar.

— Vai e volta rápido. E melhora essa cara.

— Depois de ter visto isso... eu não sei se consigo não fazer essa cara.

— Mas você precisa, ok? Você vai esconder isso, vai passar no banheiro, vai tentar relaxar e a gente vai pra festa. Do mesmo modo que você quer protegê-la disso agora, você não precisa lidar com essa situação no momento. Só vai, vai logo, antes que elas saiam.

Tento dispersar a repentina tensão logo que ele some pela porta da sala. Logo Djane e a mãe de Gui reaparecem, animadas e sigo no embalo, roubando um pouco dessa vibe delas.

— Onde está o Aguinaldo?

— Ele esqueceu o celular no quarto, foi pegar.

Foi só eu falar, que ele aparece, mostrando o aparelho nas mãos.

Finalmente vamos para os carros. Como a senhora Villaça já está super dada com Djane, elas vão juntas. Assim que sento no meu banco, Gui está socado no seu, apertando os olhos.

— Hey, cara. Quê que eu te falei ainda agora?

— Ela não merece isso.

— Sim, ela não merece. Vamos fazer com que ela tenha uma boa noite. Melhor, que todos tenham, né?

Ele inspira fundo e tenta recobrar a razão. Ajeita o cabelo, coloca a chave na ignição e antes de colocar o carro em movimento, ele vira-se pra mim:

— Obrigado, Lena. Se a gente não tivesse ficado, se ela tivesse recebido isso...

— Não fiz nada, cara. Foi só...

— Não, sério. Obrigado. Obrigado por sua consideração.

E assim vamos finalmente para a festa de aniversário das meninas.