Maneiras de dizer eu te amo

Capítulo 24: Decisão precipitada


(Ponto de vista)Aiko

No dia do suposto passeio,descobri um defeito de Kewin: Ele não é pontual. Fiquei uma hora e meia o esperando no parque,naquele céu escaldante da Califórnia sentindo minha pele delicada sendo queimada pelo sol. Fui ao banheiro e vi que meu rosto estava todo vermelho das queimaduras solares e eu estava suando. Pego um protetor solar do meu bolso e passo delicadamente com os dedos. Logo menos,uma garota olha para uma revista e depois para mim. Oh,eu mereço.

—Você é modelo iniciante.-Ela afirma olhando para mim com os olhos brilhando de inveja.

—Sim. Algum problema?-Questiono pegando um pó na minha bolsa.

—Não,nenhum...-Ela desvia os olhos e respira fundo.-Eu só... Gosto de coreanos. Eu gosto de K-pop,por isso perguntei. Você é muito bonita.

—Obrigada.-Sorrio abertamente e ela sorri de novo,fazendo o brilho maligno sair de seus olhos verdes.-Aliás,meu nome é Aiko.

—Esther. Prazer em conhecê-la!-Estendeu a mão. Eu aperto.

—Igualmente. Agora tenho que ir. Até mais!

Quando voltei ao banco em que eu estava sentada antes,a sombra da árvore estava presente. Sentado,Kewin observava a hora no relógio e respirava fundo cada vez que olhava para todos os lados. Mas quando virou os olhos para minha direção,ele sorriu. Eu fui até ele vagarosamente e me sento delicadamente em seu lado.

—Oi.-Cumprimento timidamente sem olhá-lo nos olhos. Ele franze a testa e olha para frente.

—Olá. Faz muito tempo que está aqui? Eu quase pensei que você já tinha ido embora.-Falou com receio. Eu respondo seca e um pouco rude.

—Mais ou menos.

Reviro os olhos com desinteresse. Não sinto atração pelo Kewin,mas talvez se eu der uma chance a ele,quem sabe isto não acontece.

—Você tem namorado?-Ele tenta puxar assunto. Apenas me lembro daqueles assuntos clichês dos chats de redes sociais,mas mesmo assim tenho que respondê-lo. Por mim,sairia dali agora mesmo e iria para minha casa sem mais delongas.

—Não. Qual o motivo da pergunta? Você namora?-Questiono. Ele franziu a testa e respirou fundo.

—Perguntei por precaução. Fico até bem feliz por você não ter namorado,sabe...-Sorriu de canto. Reparei que ele tem uma covinha na bochecha.

—Legal. Sabe,até que você não é tão idiota quanto eu pensei. Sabe puxar assunto...-Afirmo sarcástica,fazendo o garoto de pele bronzeada rir com o nariz.

—Por que você riu?

—Você se fazendo de difícil. É engraçado.-Murmurou enquanto olhava as horas no relógio. Odeio isso,parece que quer que o tempo passe logo pra querer logo ir embora. Na verdade,eu também quero muito ir embora.

—Não estou me fazendo de difícil. É apenas desinteresse mesmo.-Informei com a voz sonolenta iniciando um bocejo.

O sorrisinho some dos lábios dele,assim como as covinhas de seu rosto.

—Desinteresse? desculpa,eu não sei do que você gosta,Aiko.-Deu com um dos ombros e se levantou.-Vamos para a sorveteria pedir um milk shake? O sol está escaldante e eu estou quase morrendo de calor.

—Finalmente algo divertido. Vamos,parceiro.-Brinco enganchando meu braço no dele e caminhando em direção da sorveteria com logotipo azul.

Chegamos. Algumas garotas me olham torto por estar com o Kewin e se retiram,algumas da minha sala e as outras das mais diversas classes que haviam no grande colegial.

Tomo assento. Kewin pergunta o que eu queria e eu respondo,então vai até a caixa fazer o pedido. Olho na bancada. Haviam alguns cupcakes azul,rosa e branco com uma cereja em cima e vários confetes.

Parece saboroso.

Quando Kewin voltou,eu sorri para ele na tentativa de manipulá-lo.

—Quer algo mais? É só falar.-Afirmou ligando o celular e colocando um dos fones no ouvido para ouvir a música e me ouvir falando.

—Kewin,me dá um daqueles cupcakes?-Aponto com o dedo para a guloseima que parecia de isopor por tanta beleza.

—Você parece uma criança apontando um brinquedo.-Brincou.

—E você é infantil. Eu quero um daqueles,Kewin,pode me dar um?-Implorei fazendo biquinho.

Ele me conhece a semanas. Não acredito que me fez implorar.

—Claro que sim. Só esperar a garçonete chegar,então vou pedir um daqueles pra você.-Afirmou olhando as mensagens do celular.

Quando a moça de cabelos negros com uma sombra de azul aparece,ela dá os milk shakes. Kewin gosta de chocolate e eu de abacaxi.

—Moça,pode me dar um daqueles cupcakes?-Ele questiona observando a bancada.

—Claro que sim. São 5 dólares. Estou indo buscar.-A jovem falou afinando a voz e indo até a prateleira. Kewin pega 5 dólares da carteira. Quando a garota chega e coloca o cupcake na mesa,ela se abaixa e dá um jeito de abrir o decote. Kewin apenas levanta levemente a sobrancelha e dá os cinco dólares da atendente. Ela com uma cara de insucesso,volta para sua rotina de trabalho.

—É todo seu.-Ele afirma com um sorriso radiante.

—Obrigada!-Respondo. Então,abraço o doce com os dedos das minhas mãos e dou uma mordida profunda. Senti um gosto estranho de crocante. Não sei se deveria ter isso,mas não achei necessário continuar.

Primeiro porque Kewin estava olhando pra cá com um olhar espantado. Segundo porque senti algo se mexendo na minha boca.

Quando afastei o lindo doce para olhar,vi o motivo da coisa crocante.

Baratas. Uma delas pela metade se mexendo no doce.

Cuspo tudo oque estava na minha boca e faço uma careta. Logo menos,gritei alto e joguei o cupcake em direção do teto.

Kewin ficou todo sujo por mim ter cuspido acidentalmente nele. Ele estava ainda paralisado. Quando voltou aos sentidos normais,olhou para o milk shake que estava tomando e deixou-o na mesa. As pessoas que estavam na sorveteria olham pra cá assustadas.

Merda. Deu muita merda. Vou correndo no banheiro e pego a escova de dentes que estava na minha bolsa,protegida por uma capinha. E minha pasta de dentes.

Começo a escovar meus dentes como se fosse o último dia da minha vida,vendo o aparelho que os corrigia da cor vermelha.

Quando achei o suficiente,cuspo tudo na pia e enxáguo a boca. Pelo uma das minhas balas de menta e jogo dentro da boca,então saio do banheiro e volto para a mesa de Kewin.

Ele tinha tirado a blusa e estava se limpando com um lenço. O moreno jogou a blusa dentro da mochila que trouxe por algum motivo e pareceu que nem havia levado uma bomba de baratas a minutos atrás.

—Kewin,vamos embora daqui antes que apareça mais desses insetos terríveis.-Supliquei. Ele se levantou e pega meu braço. Saímos da sorveteria e voltamos no parque. Kewin me leva até perto de uma pista de skate,onde os meninos faziam várias manobras radicais.

Até que ele me olha com um olhar pensativo.

—O que foi?-Perguntei com os olhos focados nos skatistas.

—Desculpa a cena da sorveteria. Olha,todo mundo está indo embora.-Apontou para o comércio,em que todos os clientes estavam saindo.

—Céus,aquilo precisa de um belo inspetor de saúde. Buda que proteja-nos de um lugar desses!-Afirmo batendo com a palma da mão na testa. Vi que as nuvens do céu começaram a se formar.

—Parece que vai chover.-Kewin afirma olhando para o céu junto comigo.

—Sim. Vamos embora?-Peço.

Ele ri com antecedência,depois responde.

—Antes,vamos para um lugar legal?-Indaga me olhando nos olhos. Eu assinto com a cabeça,como uma criança inocente.

Ele liga para um Uber. Alguns minutos de viagem,ele me leva para um clube de dança. As pessoas estavam dançando super bem e todos o cumprimentam. Alguns meninos perguntaram oque uma criança como eu estava fazendo num lugar daqueles,mas Kewin debateu dizendo que já tenho 16 anos. Mas alguns também me chamam de gatinha,de coisa fofa ou coisa assim. Confesso que eu até gostei,pois minha autoestima aumentou.

(Ponto de vista)Kewin

Levar a minha baby girl a lugares que frequento é ótimo. Talvez assim ela se acostume com o clima dos adolescentes californianos.

Olho para o lado. Minha amiga Marie estava conversando com George. Ela se mudou do Brazil pra cá á um tempo. A garota tem 15 anos e se mudou no final de agosto do ano passado,mas mora em Los Angeles. Está em Reddington porque a mãe é bailarina e por esse motivo a garota veio acompanhar a progenitora.

—Marie,pode me dizer aonde fica a sala de jogos?-Questionei a platinada que continha cabelos no estilo bob com fios brancos.

—Fica lá em cima. A sala está vazia.-Respondeu com seu forte sotaque brasileiro. George tem uma queda forte por ela,mas não confio nesse cara.

—Obrigado. Aliás George,a Jena sabe que você está aqui?-Pergunto com uma voz nada conformada. O loiro ri.

—Eu terminei com a Jena. Agora meu objetivo é outro.

Ele pega na cintura da minha amiga e obriga-a a se aproximar. Porém,a mais jovem o empurra e tira o braço do garoto de sua cintura.

—Você entendeu errado George,eu não quero nada contigo.-Afirmou.

—Acho tão sexy esse seu sotaque brasileiro!

—Ha ha ha ha,eu já tenho namorado. O Spike.-Ri com reprovação na atitude do maior.-Aliás,ele está me chamando. Estou indo. Até mais Kewin,George... E vê se cuidam da Monique,ela está alterada.

A menina sai pela porta de vidro,em passos delicados e postura invejável. Os motivos eram óbvios,ela faz balé junto com a mãe adotiva.

—Monique? Agora que eu me dou bem.-Olha com olhar de lascívia para a loira. Eu nego com a cabeça.

—Acho que quem está alterado é você. Chora,criança. Vai embora,joga PS4 porque tá precisando.

Aiko estava apenas observando a conversa. George olha de mim para ela e sai do clube.

Minha baby girl olha para a tela do celular e seu olhar se altera para espanto.

(Ponto de vista)Aiko

Quando olhei para o celular,fiquei espantada. Mamãe estava me dizendo para ir embora imediatamente pois precisava dizer algo importante.

—Kewin,eu tenho que ir.-Digo indo em direção da porta.

—Hey,espera!-Ele diz apressando os passos. Quando saímos pela porta,eu paro.

—Eu tenho que ir,já está tarde.-Afirmo.

—Mesmo? Não quer jogar?-Pergunta sorrindo.

—Eu tenho que ir. Na escola nos vemos.

Começo a andar. Ele vem até mim e me faz olhá-lo nos olhos.

—Esqueceu de uma coisa.-Ele diz.

—Do que exatamente?-Indago com inocência. Ele ri e não me responde.

Fiquei alguns segundos pensando e quando encontrei a resposta,levanto vagarosamente meus pés e selo seus lábios com um beijo breve. Senti meu rosto esquentar e dou passos demorados que vão ganhando velocidade para trás,então viro meu corpo para a direção certa e vou embora.

Pego um táxi pois não confio muito em Uber. Então,quando cheguei em casa,vi mamãe e papai conversando na sala de estar.

—Mãe,queria falar comigo?-Questionei.

Ela assente com a cabeça.

—Aiko,nós vamos voltar para a Coreia no próximo semestre por causa da sua carreira de modelo.

Fiquei sem reação. Apenas corri para meu quarto e me tranquei,joguei minhas coisas no chão e me jogo na cama sentindo o líquido quente escorrendo em meu rosto.

Eu não posso ir para a Ásia. Não agora.

Aiko.