Malibu Vodka

Como chantagear um embaixador semi-nu


Acho que só me lembro de ter entrado na limousine e de ter ouvido Natasha sussurrar no meu ouvido: "Bebe. Vai aliviar um pouco. Deixa que eu faço o resto".

Fiquei com medo, tentando imaginar que "resto" Natasha pretendia fazer. Depois de alguns drinks fui perdendo a conta. Acabei bebendo demais. Eu não era a única. Depois de ver um Embaixador de respeito dançando I'm sexy and I know it sem camisa e usando uma gravata é de se imaginar que ele esteja meio 'drunk'.

Não me lembro de mais nada depois disso. Na próxima cena estou acordando em uma cama d'água. O Embaixador (que até agora eu não sabia o nome), estava deitado ao meu lado, só de cueca. Ainda dormia, até roncava um pouco.

Natasha estava do outro lado da cama.

Ele lembrava um gorila com tantos pelos no peito. Só que grisalhos. Aquela vista era repugnante.

Eu e Natasha estávamos de langerie. O que era até surpreendente, levando em consideração o fato de eu ter imaginado que acordaria nua.

Percebi um cigarro na mão de Natasha.

- Não sabia que fumava.

- E não fumo - quando ela disse aquilo percebi duas coisa: eu estava com uma puta de uma ressaca, e Natasha estava bêbada - raramente, pra ver se some meu desespero, acendo um para relaxar.

- Vai acabar morrendo.

- Eu adoraria, sabe? Mas parece que até a morte me rejeitou.

Depois daquelas palavras, o clima ficou meio pesado, então eu tentei mudar de assunto.

- Natasha, não me lembro de nada.

- Mas não aconteceu nada. Ele desmaiou logo que chegamos no quarto.

- Colocou o que no copo dele? - perguntei, assustada.

- Nada de diferente ou perigoso. Só que ele prestava tanta atenção nos seus seios que nem pecebeu que toda hora eu abastecia o copo dele.

- E quanto a mim?

Ela deu de ombros.

- Você? - ela perguntou, de deboche, e depois soltou uma risada - Você se embebedou por conta própria, meu bem.

- E o que vai acontecer agora?

- Eu conheço o cara. Ele se acha o galã machão, não vai querer admitir que estava bêbado na noite passada, então vai dizer que se lembra de tudo e que a noite foi ótima. Nós, por outro lado, vamos deixar a mente dele fluir - ela começou a rir, antes de continuar - Ele acha que rolou um "menage a trois" ontem.

- E não rolou?

- Mas é claro que não, Ashley! Já disse que não somos prostitutas. E outra, nem por um bilhão de dólares eu daria o meu lindo corpinho para esse velho nojento.

- E você tem um propósito nisso tudo?

Ela sorriu e apontou para uma câmera que estava do meu lado, no criado mudo.

Apertei o botão de ligar e me deparei com uma foto que eu não lembrava de ter tirado. Eu e Natasha sentadas no colo do Embaixador e lambendo as bochechas dele, só de langerie.

- Olha só o quanto ele está sorridente! - ela disse, rindo - Vamos chantagear ele.

- O que? - gritei abismada.

- Ele não vai poder dizer que mentimos, Ashley. Porque ele não se lembra, não pode provar o contrário.

- Tem razão... - eu disse, pensativa.

- Vamos triplicar a grana.

Guardei a câmera novamente e fiquei pensando.

Foi quando o meu telefone tocou. Era Nathan. Eu não podia recusar a chamada. Saí de fininho da casa dele e sumi por um dia inteiro.

Atendi.

- Onde você está? - ele perguntou, preocupado

- Eu estou bem - respondi, gaguejando.

Ele suspirou.

- Olha, Ash. Eu te conheço desde a infância, e a gente prometeu que não mentiria um pro outro, certo?

- Certo.

- Sei que está acontecendo alguma coisa, só pelo tom da sua voz. Se você mentir pra mim, eu vou saber. Então me responde: O que está acontecendo?

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Eu teria que contar pra ele. Teria que contar tudo. Nathan sabe quando minto, omito ou escondo alguma coisa dele. E ele sempre soube me ajudar com todos os meus problemas. Quando não sabia, ele me apoiava, ficava do meu lado. Agora não seria diferente.

- Ahn... Nathan, eu juro que ia te contar - suspirei - Vou comprar um apartamento de frente pra Praia de Malibu.

- Qual é o problema de morar comigo? - ele perguntou, indignado.

- Nenhum, Nath. Eu só não quero incomodar. Se eu ficar muito tempo na tua casa vou sentir como se jogasse o dinheiro da tua mãe no lixo. E o seu também.

- É a maior besteira que eu já ouvi, sabia?

- Será que a gente pode conversar depois?

- Não. Primeiro você vai me dizer onde você está.

- Estou no apartamento de um cara.

- Você dormiu aí.

- Não. Quer dizer, sim! Mas não é o que você está pensando. A Natasha... Ou melhor, eu e a Natasha vamos chantagear esse cara.

- Como é que é?

- Olha, Nathan. Me desculpa. Eu entrei nessa e agora não tem como sair. Mas você tem que prometer que vai aceitar as minhas escolhas. Porque elas são minhas. Só minhas.

- Por que você fez isso, Ashley? - ele perguntou, com voz angustiada.

- Porque eu precisava do dinheiro, Nathan. Eu não quero depender de você. Eu não quero precisar de você pra resolver a minha vida o tempo todo. Você me ajudou tanto, tanto, que eu queria fazer alguma coisa por minha conta. Acho que já estou muito grandinha e já posso me virar pra conseguir o que quero.

- E é assim que você se vira sozinha? Passando os outros para trás?

- Eu juro que essa é a primeira e última vez.

- Você quem sabe.

- Sabe que eu odeio quando fala isso.

- Vou desligar.

- Espera.

- O que foi?

- Eu te amo, Nath. Não esquece disso.

- Tudo bem.

- Você me ama também?

- Tchau, Ashley.

Ele desligou. Assim, sem me responder, nem nada. Eu precisava segurar o choro, tentar ser forte. O velho repulsivo acordaria em pouco tempo e não poderia me ver chorar. Nem pensei que talvez, se conseguisse o dinheiro poderia perder a única coisa que me importa de verdade. Nathan. De repente, percebi que ele foi a única coisa boa de verdade na minha vida. Percebi tarde demais...

- Ele tá acordando. Deita e se faz de sexy - Natasha disse, enquanto tirava o sutiã. Virei o rosto antes que ela o tirasse por completo.

Deitei ao lado do cara e fiquei lá, de cara fechada, esperando ele abrir os olhos.

Quando assim fez, ele sentou e ficou com uma cara de "ontem" no rosto.

Ainda com nojo, fiquei alisando o ombro dele, com uma risada forçada. Logo ele sorriu e finalmente disse alguma coisa.

- Que noite, hein? - ele disse, rindo.

- Não posso dizer o mesmo - Natasha disse.

Eu ainda tentava não olhar pra ela. Tentava manter a imagem amiga-vestida-e-quase-descente na minha cabeça.

- Como assim, minha linda? - ele perguntou, franzindo o cenho.

- Em primeiro lugar, acho que você mentiu o tamanho do documento. Pro seu governo, ele é bem menor. E segundo, eu não me senti satisfeita.

Ele olhou para mim.

- E você, lindinha? Concorda com ela?

Assenti, fazendo biquinho.

- Que pena. Como é que a gente vai resolver isso? - ele perguntou.

- Que tal assim? - peguei a câmera e mostrei a foto.

Em um susto, ele tentou, sem sucesso, tirar a câmera da minha mão.

- Na-não - eu "cantei", levantando-me da cama - Você vai escutar tudinho que a Natasha vai falar.

- Queremos mais dinheiro. Um pra ela e um pra mim.

- Um o que? - perguntei para ela.

- Um milhão, é claro.

Pasmei.

- Não acha muito dinheiro? - ele perguntou.

- Primeiro: Você deve daquele trabalhinho que eu te fiz; Segundo: Se você não nos der a grana, sua mulher e seus filhos vão ficar sabendo dessa foto. Simples assim.

- Ou eu posso dar só o que devo e se você tentar qualquer coisa, eu mando alguém atrás de você.

Natasha riu.

- Parece até que não me conhece. Conheço gente que me deve favores. Gente tão próxima de você que te mata antes de você falar um a. Sabe por quê? Porque eu estou sempre um passo a frente de você.

- SUAS CRETINAS! Ordinárias! Não sabem quem eu sou?

- Sei - Natasha disse - Você é o cara que se tentar ferrar com a gente, vai se dar muito mal. A gente não tá te roubando não, amor. A gente tá é pegando nosso dinheiro de volta, seu ladrão de uma figa. Você me pagou pra eu esconder seus podres, lembra? Eu posso muito bem sair gritando a Deus e o mundo tudo o que você fez. Então sim, eu sei quem você é. E você sabe quem eu sou. - São épicos os momentos de embriaguez dessa Natasha.

Ele engoliu a seco.

- Okay, okay. Posso assinar um cheque.

No final, acabou que deu tudo certo. No fim do dia o dinheiro já estava na minha conta.

Me despedi de Natasha e fui na casa de Nathan ver se ele estava lá.

Quando ele abriu a porta, senti uma coisa, como se tivesse ficado um ano sem vê-lo.

Tentei abraçá-lo, mas ele se esquivou.

- O que você quer?

- Não acredito que vai ficar com raiva de mim de novo - eu disse.

- Não estou com raiva. Estou chateado, Ashley. Estou me sentindo... Sei lá, traído. Queria que você tivesse me dito primeiro. Eu não faria nada além de te aconselhar. Mas você escondeu de mim, poxa. Por que isso?

- Me deixa entrar. Eu juro que vou te explicar tudo.

Ele suspirou e depois respondeu:

- Tudo bem.

Entrei, me sentei e contei toda a história, com todos os detalhes, tomando um pouco de cuidado na parte da minha apresentação no palco.

No final de tudo, eu não entendia a expressão dele. Ele parecia meio desnorteado, o olhar meio distante, e ao mesmo tempo parecia que ele sugava toda a minha energia. Seu olhar me deixava cansada, pequena, destruída.

- Não me olha assim...

- Vou te olhar de que maneira, Ashley? De tantos jeitos de condeguir dinheiro, por que escolheu logo o mais perigoso?

- Não é tão perigoso assim...

- É sim, Ashley. É extremamente perigoso. Tenta imaginar que tipo de gente trabalha pra esse cara. E outra. Se queria arrumar uma forma de dinheiro, por que não recorreu a mim? Eu poderia ter te ajudado, poderia ter te aconselhado... Mas não, você foi atrás da Natasha. Uma stripper bêbada e irresponsável. Ela não sabe nem cuidar dos próprios problemas, Ashley. Ela age por impulso, por isso vive quebrando a cara. Só que ela é adulta. E só porque você tem 16 anos e é emancipada não significa que seja adulta também.

As palavras de Nathan me atravessavam como facas. As lágrimas jorravam do meu rosto e eu me sentia mesquinha. Ao mesmo tempo eu sentia raiva. Por que ele estava sendo tão duro comigo?

- Quantas vezes eu já pedi pra você parar de agir como um pai?

- Quantas vezes eu já te pedi pra pensar mais nos seus atos? Quantas vezes tive que te lembrar das consequências, e que você não é um bebê e que devia parar de agir como tal? E outra, desde que você começou a se envolver com aquela garota eu não te reconheço mais. Você começou a beber, começou a fazer coisas erradas e começou a tratar a sua vida como se fosse um lixo.

- Não foi a Natasha nem ninguém que fez isso comigo, Nathan. Fui eu. Eu. Eu mudei e você tem que aceitar isso.

- A Ashley que eu conheço era cuidadosa, sóbria, respeitava a família dela, se respeitava em primeiro lugar. A minha Ashley jamais tiraria a roupa em cima de um palco pra ganhar dinheiro nem chantagearia ninguém. A minha Ashley...

- Não sou mais a sua Ashley, já entendi. Mas se você não consegue me aceitar, Nathan... Então eu não sou mais nada sua.

Saí pela porta sem pensar duas vezes.

Estava acabado. Estava tudo acabado. Agora sim eu tinha perdido tudo que mais me importava. Agora eu só tinha a mim mesma e um milhão de dólares no banco.

E agora, olhando bem, nada disso importava.