Malfeito feito

Vamos precisar de uma pegadinha, Potter


No fim de semana após o dia dos namorado haveria um passeio até Hogsmeade. O que significava que os hormônios, que haviam se acalmado durante a semana, voltaram a tona e logo parecia que era dia dos namorados outra vez. Bem, não para todo mundo.

Na segunda, Lily ainda tinha um namorado, Dorcas ainda tinha um namorado e as coisas estavam no mínimo aceitáveis. No sábado, elas acabaram fazendo parte de um grupo improvável de solteiros indo para Hogsmeade com Remus e James, já que eram os únicos que também não tinham par.

Marlene e Sirius nem sequer pensaram em ir para Hogsmeade. Antes mesmo dos garotos saírem do quarto, ela já estava lá em cima para expulsá-los. Peter e Mary estavam animadíssimos com sua reserva na Casa de Chá Madame Puddifoot e Alice e Frank andavam radiantes pela vila comemorando o quinto ou sexto dia dos namorados juntos.

— Quem é que iria imaginar que nós seríamos os únicos sem par... — Lily comentou, enquanto os quatro andavam lado a lado entrando nas lojas.

— Quatro é par, Lily. — James sugeriu, apenas para irritá-la um pouco. — Ainda mais nós quatro.

— Quieto, Potter. — Lily revirou os olhos e o empurrou, brincando.

— Como foi que vocês acabaram o dia dos namorados sem namorado mesmo? — James estava todo engraçadinho, radiante com a ideia de Lily estar solteira. Ela parecia bem com o término, mas ele se sentia um pouco culpado por estar tão feliz. Finalmente podia ver a possibilidade dela se apaixonar por ele um pouco mais alcançável.

— Pontas! — Remus repreendeu o atrevimento do amigo. Ele estava um pouco nervoso com a presença de Dorcas, mas ela ainda não tinha lançado nenhum olhar de ódio para ele e isso já era um grande avanço considerando os últimos dias.

— Não que seja da sua conta, James... — Dorcas começou, antes que Lily o fizesse. — Chang se mostrou um idiota e eu entendi porque Lupin socou a cara dele. — Ela virou para Remus e abriu um sorriso tímido, lembrando da discussão dos dois no começo do mês. — Obrigada por ter me defendido, aliás.

Remus sentiu seu coração se apertar e derreter com o sorriso de Dorcas direcionado para ele.

— E você, Lily? — Remus provocou, ainda sorrindo pelo agradecimento de Dorcas. Ele sabia exatamente o motivo do término de Fabian e Lily, talvez mais do que a própria garota.

— Eu... Eu e Fab decidimos que vamos ser só amigos, nós crescemos e queremos outras coisas agora. — Lily respondeu, de forma nobre. De longe ela conseguiu ver Fabian e Grace entrando na Zonko's. Ela estava realmente feliz por ter sido um término pacífico.

— E o que você quer agora? — Remus mordeu o lábio, ainda com a ideia de que Lily estava gostando de James. James lançava um olhar esperançoso para Lily enquanto andava ao seu lado.

— Uma cerveja amanteigada! — Contornou bem a situação e eles seguiram para o Três Vassouras.

O clima melhorou bastante com a trégua entre Remus e Dorcas e a amizade de James e Lily e logo o grupo todo estava junto novamente. Sem Chang, sem Fabian, sem Gideon, apenas os marotos e as garotas. Mesmo com o sumiço repentino dos marotos durante a lua cheia, março chegou com o calor da primavera e os jardins logo lotaram de alunos querendo aproveitar o sol.

No fim de tarde de quinta-feira, todos estavam torcendo para aula de herbologia acabar logo. Era o aniversário de 17 anos de Remus e os marotos estavam planejando uma coisa arriscada, mas diferente. Tudo dependia de quanto tempo eles teriam depois da aula.

— Com licença, Professora Sprout, eu não estou conseguindo retirar as vagens de arapucosos! — Donna Shacklebolt levantou a mão e atraiu a atenção de Pomona, dando abertura para os marotos discutirem o plano para a noite.

— Eu ainda acho que não é uma boa ideia. — Remus agia sempre como a voz da consciência. Ele usava luvas e uma pinça para retirar as vagens da planta e colocá-las num pote de vidro.

— Você quer parar de... De fazer o que a Pomona pediu? — Sirius levantou as mãos rapidamente levou as mãos à cabeça com raiva e, em seguida, tirou a planta de perto de Lupin. A nerdisse de Remus lhe irritava as vezes. — Se concentra, é o seu aniversário.

— E é exatamente por isso que vocês deviam considerar a minha opinião pelo menos dessa vez. — Remus largou a pinça na bancada.

— Sua opinião de monitor não conta, Aluado. — James ajeitou o óculos, abrindo o mapa do maroto sob a bancada. — Se a gente se dividir em duplas não vamos levantar suspeitas, Sirius e Lenny vão na frente e todos vão achar que eles só estão indo procurar algum lugar para transar.

— Podemos ir mais cedo e realmente fazer isso. — Sirius considerou.

— Foco, Almofadinhas. — Peter riu, debruçando sobre a bancada. Eles observavam o caminho até a passagem para a Honeydukes, pensando numa estratégia de levar dez pessoas para lá sem levantar suspeitas.

— Vocês já acabaram, garotos? — A Sra. Sprout se aproximou deles, um pouco desconfiada. Assim como todos os professores, ela sabia que quando os marotos estavam cochichando concentrados em alguma coisa, era melhor ter atenção. Eles guardaram o mapa e Remus indicou o vidro com as vagens para a professora.

Como quase todos os alunos tinham concluído a tarefa, Pomona Sprout finalmente os liberou, mas antes que todos pudessem sair de dentro da estufa, um grito estridente ecoou pelo ambiente de vidro. Todos correram para ver o que tinha acontecido e encontraram o corpo de uma garota da Corvinal caído na grama, com alguns pequenos cortes em seus braços.

— O que aconteceu? Será que ela tentou se matar? Ela está bem? — Algumas vozes no fundo perguntavam, nervosas.

— É a Jade! — Donna, a melhor amiga da garota, se ajoelhou na grama ao lado dela. — Ela estava um pouco nervosa com o que está acontecendo sobre Você-Sabe-Quem, mas eu nunca imaginei que ela pudesse se machucar... — Donna estava boquiaberta, com lágrimas escorrendo em suas bochechas pensando no que poderia ter acontecido.

No alto da montanha que ficava o castelo, Snape parou para olhar para trás e percebeu Lily olhava fixamente em sua direção. Alguma coisa dentro dela dizia que ele estava envolvido naquilo, e ela iria descobrir o que era.

A Professora Sprout chegou afobada e examinou rapidamente a menina. — A Srta. Finch vai ficar bem. Alguém viu o que aconteceu? — Todos balançaram a cabeça negativamente, inclusive Mulciber, ainda que este tivesse um esboço de sorriso nos lábios. — Vamos para dentro, vou levá-la para a Ala Hospitalar. — Agitou sua varinha e a garota levitou a sua frente, com todos os alunos as seguindo um tanto receosos.

A verdade é que poucos sabiam sobre o que havia acontecido com a Mary, então parecia ser o primeiro incidente dentro de Hogwarts. Quando já estavam quase alcançando o castelo, Donna alcançou o grupo.

— Ela é uma nascida trouxa. — Ela explicou para Lily, andando ao seu lado. Isso foi o suficiente para Lily se convencer que, de alguma forma, Snape realmente tinha algo a ver com aquilo. — Ela deve ter sido atacada... Ela é sempre tão animada, nunca pareceu que poderia tirar sua vida assim...

— Será que os seguidores de Você-Sabe-Quem tem algum tipo de rito de passagem ou coisa do tipo? — Mary pareceu ler sua mente, lembrando-se do que aconteceu na noite em que foi atacada.

— Não sei, mas nós vamos descobrir. — Lily concluiu. Talvez ela estivesse andando demais com os marotos, mas algo dentro dela saltitou com a ideia de descobrir o que Snape e seus amigos estavam aprontando. E ela iria descobrir o que era. — Se souber de algo, me avise! Eu prometo que nós vamos descobrir o que aconteceu com a Jane.

— O que você está tramando, Lily? — Dorcas perguntou, ao ver uma expressão nunca antes vista surgindo no rosto da amiga.

— Por hoje, nada. Vamos esperar a Madame Pomfrey liberar a Jane e amanhã começamos a investigar... — Ela deu de ombros, intrigada com o que havia acontecido. — Porque hoje é aniversário do único maroto que eu nunca odiei... — Ela saltitou, colocando o braço sobre o ombro de Lupin.

— Ei! — Reclamaram os outros três, ofendidos.

— Se quiserem saber, temos um plano bem interessante para hoje. — Sirius continuou, introduzindo a ideia sobre a noite. — Durante o jantar vamos nos dividir em duplas para ir para Hogsmeade para a festa do Remus.

— Como é que a gente vai fazer isso? — Marlene levantou as sobrancelhas para Sirius, curiosa.

— Sempre temos uma carta na manga, McKinnon. — Deu uma piscadela para ela. — Nós somos os primeiros. Se quiser fazer alguma coisa antes de irmos, a gente se encontra às seis e meia, se preferir fazer só depois, sete da noite. — Ele deu uma piscadela, insinuando que queria ficar com ela à noite.

— Sete e cinco, eu vou com a Mary. — Peter continuou.

— Sete e dez, Alice e Frank vem junto comigo e com a Dorcas, já que vocês não conhecem a passagem. — James completou, bagunçando os cabelos rapidamente antes de olhar para Lily, ainda andando com o braço sobre o ombro de Remus. — E então vocês dois fazem uma pequena ronda e às sete e quinze entram na passagem.

E seguindo o plano, cada um dos grupos passou pela Estátua da Bruxa de um olho corcunda e seguiu pelo caminho tortuoso até a Honeydukes. Lily e Remus foram a última e mais relutante dupla a aceitar sair do castelo, mas quando finalmente chegaram no Três Vassouras esqueceram o receio de deixar Hogwarts.

Parecia que eles tinham voltado para a festa dos vizinhos de James. Os marotos seduziram Madame Rosmerta o suficiente para conseguirem usar o porão para a festa particular e estava perfeita: tinha música, uma decoração improvisada e muita bebida.

— Então é assim que vocês conseguem todas as bebidas das festas? — Dorcas encheu uma caneca com hidromel. Ela voltou ao habitual quando percebeu que Remus estava certo ao tentar protegê-la de Chang.

James estava dançando com um copo na mão. — Nós temos nossos truques. — Deu de ombros, virando o copo.

Como monitora da Grifinória, Lily não deveria permitir que festas acontecessem e muito menos que os alunos saíssem de Hogwarts, mas alguma coisa nos marotos a fazia esquecer um pouco as regras. "Não era nada perigoso e não prejudicaria ninguém", ela justificava em sua mente. Por mais que não fosse do tipo que quebrava regras, Lily estava gostando cada vez mais da adrenalina de correr alguns riscos.

Possivelmente isso estava relacionado com a nostalgia do último ano chegando antes da hora, mas ela queria ter memórias com seus amigos ao invés de lembrar apenas de como ela era a aluna perfeita e exemplar. Ela queria curtir um pouco, e foi isso que todos sentiram naquela noite.

Duas horas depois que chegaram, todos estavam exageradamente bêbados. Até mesmo Lily tinha passado um pouco do que normalmente permitia. Suas bochechas estavam rosadas e ela estava dançando com Remus alegremente, balançando de um lado para o outro e levantando os braços no ritmo da música.

James a observava de longe, no bar improvisado com dois barris servindo de mesa. Por cerca de meio segundo, ele e Remus trocaram um olhar e seu amigo entendeu. Era hora de James agir. "O mais importante é que você seja amigo dela, fortaleça bem a amizade, mas deixando claro que você não desistiu dela. Só vá com calma, e não gaste suas cantadas com ela. Você já sabe que não funcionam", a voz de Rose ecoou em sua cabeça enquanto ele se aproximava dos dois.

— Hey! — Ele deu um copo cheio de Fire Whiskey para cada um. — Está gostando da festa? Eu disse que seria seu melhor aniversário.

— Perfeeeeita, Pontaaaas... — Remus falava mais devagar quando estava bêbado.

— Viu? Vocês tem que relaxar um pouco e parar de pensar tanto nas regras. — James piscou para Lily, que estava dançando incrivelmente solta ao seu lado. Vantagens do álcool.

— É verdade! — Lily falava mais alto quando estava bêbada, como se não precisasse pensar mil vezes até formular uma frase, ela podia falar o que estava pensando. — Mas nós ainda temos que voltar antes do toque de recolher! — Ela realmente pensava nesse tipo de coisa quando estava bêbada. Mas também reparou que outro pensamento passou por sua cabeça quando James começou a dançar ao seu lado: "Quando foi que o Potter ficou tão bonito?". Ele estava dançando no ritmo da música, indo para frente e para trás. Seu cabelo estava todo caindo para a direita, bagunçado como sempre. A camisa sob o moletom de zíper estava com dois botões abertos e atraiu os olhos de Lily por mais tempo do que gostaria.

— Lily? Está se sentindo bem? — Remus chamou com um sorriso nos lábios, vendo que ela tinha parado de dançar e estava encarando James. — Eu vou pegar mais bebida.

— Então está gostando de quebrar as regras? — James levantou a sobrancelha para Lily e se aproximou um pouco. — Acho que estou sendo uma má influencia pra você.

— Eu não disse isso.

— Então?

— Eu só acho que eu devia relaxar um pouco de vez em quando.

— E se relaxar incluir quebrar algumas regras?

— Se não for prejudicar ninguém, posso quebrar uma regra ou outra. — Ela não conseguia tirar o sorriso do rosto, assim como ele.

— Parece que o que eu disse no ano novo fez efeito. — Ele ainda não tinha tocado no assunto.

— O que? — Lily se afastou um pouco e seus ombros ficaram um pouco tensos, mas continuou dançando, torcendo para ele não citar o beijo. Ou tentar beijá-la de novo. Isso iria estragar tudo e eles voltariam a estaca zero, quando ela o odiava.

— Eu falei que você devia correr alguns riscos. — James precisou se aproximar dela para falar, porque Sirius tinha aumentado a música e começado a cantar junto. — Foi bem legal, no ano novo... — James abriu seu sorriso galante, fazendo algo dentro de Lily vacilar por um segundo. "Não seja ridícula, Lily. Ele não está falando sobre o beijo!".

Listen, baby… Ain't no mountain high, ain't no valley low, ain't no river wide enough, baby…

— Eu amo essa música! — Lily desconversou, empolgada demais com a música e nervosa demais para continuar falando com James às sós. Ela pegou sua mão e o puxou para mais perto da vitrola que tocava Ain't No Mountain High Enough. Estava tão distraída cantando o dueto com Sirius que não percebeu que seus dedos ainda estavam entrelaçados com os de James.

Remus estava encostado nos barris do estoque da Madame Rosmerta, olhando James e Lily cantando com Sirius e Marlene de mãos dadas. Ele era tão grato pelos amigos que tinha, por ter a chance de conhecê-los... Eles fizeram aquela festa para ele, era incrível.

— Hey. — Dorcas encostou num barril ao lado de onde ele estava. — Gostando da festa?

— Tá bem legal... — O efeito do álcool estava começando a passar, então ele encheu seus copos novamente, precisando de uma dose de coragem.

— Eu pedi seu bolo preferido. — Ela apontou para o restante do bolo de chocolate em cima de uma mesinha. — Eles te conhecem desde o primeiro minuto em Hogwarts e iam arranjar uma torta de limão. — Comentou, indignada. Ela estava bonita usando uma tiara para prender parte de seu cabelo loiro, com algumas mechas escapando sobre suas bochechas coradas.

— Obrigada, Doe. — Ele usou o apelido dela, o que não acontecia há muito tempo. — Me desculpe por, você sabe... Se intrometer no seu namoro e bater no Chang.

— Você não me contou o que ele disse, no fim das contas. — Deu um gole na sua bebida.

— Ele... Eu não quero repetir.

— Qual é, Remus.

— Ele disse que ia dormir com você, meio que sugeriu que eu e você já... — Ele parou de falar, ficando extremamente vermelho.

'Cause you're fine, and you're mine, and you look so divine… Come and get your love, Come and get your love… James e Marlene estavam realmente animados cantando. Sirius estava dançando e rodopiando com a Lily.

— E o que você disse? — Dorcas ficou um pouco sem graça. Quando estava com Remus, ela realmente pensou que fosse acontecer, mas ele sempre se esquivava. Eles eram muito novos, é verdade, mas namoraram por bastante tempo.

— Eu neguei, é claro. E depois soquei a cara dele... Não deu tempo de dar muitos detalhes sobre até onde a gente chegou. — Remus ria de nervoso, falando rápido. Ele queria poder dizer o contrário, os hormônios dentro dele ferviam ao ver Dorcas usando as meia calças que ele tanto gostava, mas aquilo nunca aconteceria.

— Obrigada, Remmy. — Dorcas se aproximou dele e deu um beijo em sua bochecha, mas não se afastou logo em seguida. Pelo contrário, ela manteve seu rosto próximo do dele, com a respiração pesada. Seus olhos se encontraram com os olhos cor de mel de Lupin e os dois prenderam a respiração, com a ponta dos narizes se encostando.

Ele queria beijá-la. Seria o aniversário perfeito se ele pudesse beijar Dorcas naquele momento e fazer todas as coisas que seu subconsciente estava pensando. Mas ele não podia. Ele precisava contar a verdade primeiro e, com certeza, aquele não era o momento ideal para contar. Se é que existia momento ideal para contar.

— Doe. — Ele se afastou um pouco.

— Eu sei. — Ela sabia que eles não podiam simplesmente se beijar. Tinha muita coisa não resolvida entre os dois. Ela se afastou, pegando o copo em cima do barril e virando o resto de Fire Whiskey de uma vez.

x

Na manhã seguinte, sem nenhum vestígio de ressaca, Lily acordou cedo para passar na enfermaria antes da aula. Ela tinha prometido para Donna que iria descobrir o que tinha acontecido com Jane, e mesmo que não tivesse prometido, ela estava realmente curiosa com aqueles cortes nos braços da garota. Não parecia que ela tinha caído ou tentado se machucar e aquele olhar de Severus pareceu suspeito demais para ser ignorado.

— Bom dia, Madame Pomfrey... — Lily sorriu para a enfermeira, que anotava num pequeno pergaminho a frequência que um garotinho da sonserina deveria tomar sua poção para dores de estômago sentada na escrivaninha logo na entrada da Ala Hospitalar.

— Bom dia querida, você precisa de algo? — Pomona olhou a garota de cima a baixo, tentando encontrar algum problema.

— Eu vim ver a Jane, a Professora Sprout a trouxe ontem... Com alguns cortes... — Tentou lembrar a mulher, enquanto pescoçava para ver entre os vãos do biombo que tampava a visão do resto da enfermaria.

— Ela já foi liberada. Está tudo bem. — Madame Pomfrey levantou da escrivaninha rapidamente e andou com Lily até a saída. — Ela estará descansando no Salão Comunal da Corvinal, então você não precisa perder tempo a procurando. Ela está bem. — Sorriu forçadamente e fechou a porta na cara da ruiva.

Tinha algo errado, Lily podia sentir. Ela pensou em voltar à Ala Hospitalar e insistir para entrar, mas acho que isso só faria Madame Pomfrey ficar ainda mais resistente a falar sobre o assunto, por isso ela precisava achar alguém que tivesse passe livre para entrar na enfermaria, alguém que não levantaria suspeitas, que fosse confiável.

— Remus! — Lily viu os cabelos cor de areia entre dezenas de alunos, ao lado dos cabelos irritantemente bagunçados do Potter. Ela correu até eles, se enfiando entre os dois com um animo um tanto quanto assustador. — Preciso de um favor.

— Oi pra você também, ruiva. — James resmungou, ao seu lado, enquanto arrumava os óculos. Ele estava um pouco receoso sobre a noite anterior, porque percebeu a mudança de Lily quando ele falou sobre o ano novo. Talvez ele tivesse a assustado, mas ela não pareceu brava o suficiente para soltar a mão dele enquanto cantava com Sirius. As garotas podiam confundir muito a cabeça de James.

— Oi Potter... — Ela falou, com um tom de indiferença que fez o coração dele se apertar. O que ele não sabia é que Lily se lembrava da conversa na noite anterior, lembrava dele falando sobre o ano novo e principalmente, se lembrava de ter ficado de mãos dadas com ele por tempo demais para ser simplesmente algo espontâneo. E ela não podia lidar com isso agora. Ela tinha que descobrir se Jane estava bem. — Então, Remus... Eu preciso que você finja que está passando mal e vá para a Ala Hospitalar. — Desconversou, um pouco nervosa ao lembrar de seus dedos entrelaçados com os dele. Remus notou que ela estava um pouco corada, mas decidiu dar atenção para a última frase que ela havia dito, que por sinal, não fazia muito sentido.

— Pontas, você lembra da Lily ter roubado alguma garrafa de Fire Whisky ontem?

— Não me lembro, Aluado... Ela parecia bem consciente de suas ações... — James deu uma leve provocada, apenas para ver se conseguia alguma reação dela sobre a noite anterior. Eles entraram na sala, Remus sentou ao lado de Lily e James sentou atrás dele, colocando sua mochila ao seu lado para reservá-las para Sirius.

— Eu estou falando sério, eu preciso entrar na Ala Hospitalar e a Madame Pomfrey me despistou. — Lily sentou na carteira na frente da de Lupin e virou para trás de braços cruzados.

— O que você está tramando, Lily? — James estava começando a esquecer seu pequeno aborrecimento, vencido pela curiosidade.

— Jane Finch provavelmente ainda está na enfermaria, mas a Madame Pomfrey não me deixou vê-la e eu tenho certeza de que tem algo de errado nisso tudo. — Ela falava rápido demais, era até bonitinho ver como ela estava empolgada.

— E desde quando você se interessa tanto na Finch? — Remus franziu a testa.

— Ela é nascida trouxa. — Respondeu, de prontidão. Os dois não viram nenhuma ligação. — Eu vi Snape saindo mais cedo da aula ontem. — Nenhuma reação. — Vocês dois são marotos ou não? Acho que o álcool afetou o cérebro de vocês! — Ela revirou os olhos e deu um tapinha na testa de cada um. — Eu acho que ele pode ter atacado ela!

— Não que eu precise de algum motivo para ficar com raiva do Ranhoso, mas isso não é meio aleatório? Ele pode só ter saído antes da aula e... Quem eu quero enganar, você acha que eu devo esperar até o fim da aula ou vou agora? — Remus começou a colocar suas coisas de volta na mochila.

— Agora, com certeza. — Ele levantou, com um sorriso maroto nos lábios. Sirius, Marlene e Peter cruzaram com ele na saída.

— Explico depois!

— O que deu no Aluado? — Sirius apontou para a porta enquanto sentava ao lado de James, que imediatamente pulou para a frente, sentando no lugar de Lupin ao lado de Lily.

— Lily resolveu se tornar uma de nós e está investigando um possível ataque realizado pelo nosso querido Ranhoso. — Ele explicou para Sirius, virado de lado para poder ver Lily, Marlene e Sirius. — Então ruiva, apresente as evidências...

— Jade é nascida trouxa, Donna disse que ela nunca se machucaria propositalmente ou algo assim, e aqueles cortes estavam perfeitos demais para ela simplesmente ter caído e se arranhado entre os galhos. Tem que ter sido um ataque. E eu vi Snape saindo mais cedo, olhando para trás de um jeito bem suspeito.

— São muitas hipóteses, Evans. — Sirius comentou, fazendo anotações num pedacinho de pergaminho. — Vamos ter que investigar.

— Pode ser que eles tenham algum tipo de teste, eu não sei... — Mary comentou, da carteira na frente da Lily. — Os metidos a comensais.

— Só tem um jeito de descobrir sobre isso... — Lily lançou um sorriso sugestivo para Sirius, que franziu a testa sem entender o que ela estava pensando.

— O que?

— Você vai ter que ir falar com seu irmão. Qualquer informação pode ser útil.

— Evans, eu acho que você bebeu demais ontem...

— Vamos lá, Sirius! Não vai ser tão ruim irritá-lo um pouquinho. — Marlene encorajou Sirius, cutucando-o na barriga para fazer cócegas.

— Vou pensar no caso... — Ele cruzou os braços sobre o peito e se balançou na cadeira.

— Enquanto isso, Remus foi ver se... — Lily começou a falar, mas foi interrompida pelo Professor Flitwick querendo começar a aula.

Não era necessária muita explicação quando Remus aparecia na Ala Hospitalar. A lua cheia seria dali a uma semana, então Madame Pomfrey o deixou entrar sem pestanejar. Parecia que estava tudo tranquilo no salão onde as macas ficavam, uma garota reclamando de cólica numa das camas e um garoto dormindo abraçado com um balde. Nada fora do comum, a não ser por uma das camas no final do salão estar cercada por um biombo branco. Jane devia estar ali, afinal. Lily estava certa.

— Algum sintoma além do habitual? — Pomona se aproximou de Remus segurando sua ficha. Era uma ficha com muitas e muitas folhas lotadas de observações e detalhes graças ao seu probleminha peludo.

— Um pouco de enjoo, e dor de cabeça... — Ele tentou distrair Madame Pomfrey para poder dar uma olhada em Jane enquanto ela pegava as poções, mas ela voltou rápido demais para que ele pudesse atravessar o salão.

— Tem certeza que não está se sentindo assim graças ao seu aniversário ontem? — A enfermeira esboçou um sorriso enquanto lhe entregava as poções.

— Não, sei que é por causa da lua... — Apalpou os bolsos em busca de alguma coisa que pudesse ajudar e encontrou o Espelho de Dois Sentidos. Assim que a mulher deu as costas, ele usou o espelho para chamar James.

— Jane está aqui, mas preciso de uma distração.

— Aluado, a gente tá no meio da aula... É meio difícil sair discretamente sem a capa. — Remus conseguiu ver os óculos retangulares de James no reflexo, mas logo a imagem mudou para uma cabeleira ruiva. — O que é isso? Por Merlin, vocês inventam cada uma... Remus, descobriu alguma coisa? — Lily sussurrou para o espelho, sobre a carteira de James. Mais uma vez, ela não reparou que sua mão estava sobre as mãos dele.

— Ainda não, preciso de algo que distraia a Madame Pomfrey!

— Sr. Potter e Sra. Evans, eu estou atrapalhando vocês? — O pequeno Professor Flitwick apontou a varinha para os dois, e James guardou o espelho.

— Vamos precisar de uma pegadinha, Potter.