Capítulo 50

O arcanjo da humanidade estava se sentindo eufórico, pois já havia se passado quase um dia e Gaia ainda não havia despertado. Por não entender o que ocorria quando a imortal se comunicava com os anciões, ele ficava ainda mais cheio de ansiedade.

O anjo apenas sabia que a filha dos elementos estava viva e que acordaria em algum momento, mas não saber quando isso ocorreria estava o deixando completamente nervoso.

Dimitrius queria estar com ao lado de Gaia e vê-la cheia de vida, não um corpo deitado em sua cama sem movimento nenhum além da sua respiração. O anjo se preocupava por não saber quanto tempo ela ficaria daquele modo e por causa disso seus pensamentos focaram em quantas vezes o corpo da filha dos elementos havia ficado sem nenhuma vida nas florestas das dimensões por Gaia sempre estar sozinha.

O imperador queria acreditar que a natureza a protegia assim como ela a protegia, mas ele sabia que estaria se enganando desde que a imortal sempre precisou de grande proteção e sempre foi ignorada por ser considerada como um ser tão poderoso.

Gaia podia ser a criatura mais poderosa já criada, mas também era mais delicada quanto os humanos.

Dimitrius observou a filha dos elementos e desejou absorver em sua mente cada traço do seu rosto delicado, mas antes que tivesse a chance, o arcanjo sentiu a presença dos seus irmãos em sua mansão.

Ele saiu do seu quarto para que os outros imperadores não vissem Gaia em um momento tão frágil, pois não parecia certo que seus irmãos a vissem de tal maneira, mesmo que Dimitrius confiasse neles com a sua própria vida, ele sabia que a imortal odiava ser vista como fraca.

O anjo foi até onde seus irmãos estavam e não demorou para encontrá-los com suas expressões fechadas e sem nenhum humor. Quase que imediatamente Dimitrius soube que não eram boas notícias que traziam os outros arcanjos para a sua casa. Ainda mais quando Ryan estava ao lado deles em um silêncio mortal.

Dimitrius sempre gostava de fazer brincadeira com seus irmãos mais velhos para irritá-los de forma que melhorasse o humor de todos, mas ele sabia que aquele não era o momento adequado para pequenas piadas.

— O que aconteceu?— Ele perguntou para Maximus e Meridius.

— É sobre Argent, Dimitrius.— Maximus falou.— Ellylan estava conversando com as empregadas do meu castelo e descobriu algumas coisas sobre a casa dele e de Nahia.—

— Agora vocês acreditam em fofocas de empregadas?— Dimitrius perguntou ao arquear uma de suas sobrancelhas. Ele sabia muito bem que todas as empregadas fofocavam e criavam mentiras para torná-las ainda mais chamativas.

Ele não julgava Ellylan por acreditar nas empregadas das dimensões, pois ela ainda era muito inocente no mundo imortal para ser tão esperta quanto os demais.

— Eu quebrei o nosso código de lealdade entre familiares para saber se era verdade o que Ellylan descobriu.— Meridius disse e recebeu sua atenção.

Os arcanjos podiam saber de tudo o que desejavam por causa de seus poderes e por ter fácil acesso a alma de todos os imortais, mas como isso sempre incomodava a privacidade deles, eles quase nunca invadiam a alma dos seus familiares. Afinal, isso podia afetar o relacionamento deles.

Contudo, também podia destruir.

Por não checar a alma de Diane, ela acabou sendo consumida pela magia negra e ficando louca pelo poder.

— O que Argent fez?—

Maixmus olhou para Meridius e acenou de forma calma para que o mais velho entre eles continuasse a falar.

— Quando os irmãos dele ainda eram arcanjos, alguns deles tinham planos abusivos que envolvia Gaia, Dimitrius.—

De certa forma, Dimitrius sabia disso desde que a filha dos elementos havia sido dada de presente para ser estuprado por Gregory, mas ele continuou em silêncio para não atrapalhar Meridius.

— Ele sempre soube que seus irmãos tinham esses planos e agora que os antigos arcanjos não estão mais presentes, Argent quer continuar a fazer o que eles faziam.—

Por mais que estivesse obvio, Dimitrius não conseguiu compreender.

— Você está dizendo que Argent quer machucar Gaia?— Ele perguntou.
— Sim.— Meridius concordou.— Argent já a machucou de diversas formas, Dimitrius, mas nunca conseguiu chegar até onde queria por sempre bater demais em Gaia até que estivesse inconsciente.—

Dimitrius sentiu o seu sangue ferver. Principalmente ao lembrar do estado em que encontrou Gaia na floresta e de como a imortal esfregava o seu corpo machucado no rio da sua dimensão quando haviam se encontrado no passado logo depois de Niffie e Meridius se divorciaram.

Havia sido Argent.

Seu tio.

Dimitrius fechou suas mãos em punhos e imaginou o pescoço de Argent entre elas enquanto o sangue quente escorria por elas.

Não podia acreditar que tinha sido traído novamente por alguém da sua família.

— E Nahia?— Ele perguntou de forma sombria.
— Ela sabe de tudo.— Foi Maximus que o respondeu.— E até mesmo incentiva Argent a continuar.—

O imperador da humanidade olhou em direção de Ryan que se manteve em silêncio o tempo todo ao lado dos seus irmãos. Em seus olhos não existia nenhum sentimento, mas Dimitrius sabia que ele se sentia enojado o suficiente para fazer um ótimo trabalho.

— Mate-os.— O arcanjo ordenou.— Mate-os depois de contar o motivo de estarem sendo mortos.—
— Dimitrius.— Maximus disse o seu nome para chamar a sua atenção.

Por ser da sua família, o anjo sabia que o correto era fazer um julgamento e não agir por causa do ódio que o consumia, mas era impossível ser sensato naquele momento.

A maldade de Argent e Nahia eram até mesmo maior do que a de Diane.

— Eu não tenho tempo para isso.— Ele disse.— Eu… Eu...— O anjo queria vingança, mas também havia algo maior que isso.— Eu tenho que cuidar de Gaia.— Suas palavras foram um sussurro.

Dimitrius não podia perder tempo com a sua sede de vingança, ele tinha muitos problemas para resolver com a imortal.

Se ele permitisse que a escuridão da sua alma tomasse conta dele por causa dos pecados de Argent, Dimitrius podia perder Gaia.

Ele não queria perdê-la.

O arcanjo da humanidade, depois de muito tempo isolado da sua família por causa da traição de Diane, queria construir a sua própria com a filha dos elementos.

Dimitrius havia desejado a escuridão em sua alma para que nunca mais pudesse se sentir traído novamente.

Para que seus sentimentos jamais pudessem destruí-lo e ser sua fraqueza.

Contudo, naquele momento, o anjo havia percebido que tudo o que Gaia fazia com ele era reacender os seus sentimentos que tinha tentado apagar a todo custo.

Dimitrius sorriu para o nada ao pensar na imortal.

Ela, realmente, era uma pequena gata traiçoeira.

Tão traiçoeira que havia conseguido despertar sentimentos que o anjo pensou nunca ser possível existir dentro dele.

— Eu nem mesmo tenho tempo para vocês.— Dimitrius riu ao ver a cara de assombro dos seus irmãos.— Vão embora. Tratem do problema vocês mesmo se desejarem, mas eu quero Argent e Nahia mortos o mais rápido possível.—

O arcanjo da humanidade não esperou por uma resposta dos outros anjos, pois tudo o que desejava naquele exato segundo era estar ao lado de Gaia para que ele fosse a primeira pessoa a ver quando ela despertasse.

E isso também era o que Dimitrius queria que acontecesse todos os dias no seu futuro com a imortal.