Gaia entrou na biblioteca que pertencia ao castelo de Maximus, sendo aquele ambiente o lugar que Dimitrius havia escolhido para se esconder do baile que acontecia no andar de baixo.

No primeiro momento ela tinha pensado que o imperador da humanidade estaria com o seu amigo demônio, mas quando invadiu a sua mente para encontrar o local em que estava, a imortal acabou descobrindo que Dimitrius desejava se isolar.

E foi exatamente isso que o fez.

Parecia errado invadir a privacidade de alguém que queria ficar sozinho, mas Gaia queria estar com o anjo e, principalmente, fugir de Argent.

Para não atrapalhá-lo, desde que parecia estar perdidos em seus pensamentos enquanto observava a paisagem do lado de fora na varanda, a filha dos elementos se sentou no enorme sofá de couro que existia na biblioteca para deixar as leituras mais confortáveis. E desde que as sombras, que ameaçam a sanidade de Dimitrius estavam longe da sua alma, a imortal permitiu que ele continuasse se afundado em seus pensamentos sobre Diane.

Ele se sentia triste por não ter a sua irmã presente naquele momento tão especial para a família deles e lamentava ainda mais que o último baile que participou na casa de Maximus só tivesse trazido desgraças.

Gaia não sabia exatamente o que fazer, então preferiu ficar em silêncio até que o anjo se sentisse pronto para conversar com ela. E ela nem ao menos pode omitir sua surpresa quando o mesmo entrou na biblioteca depois dela concluir os seus pensamentos.

— Você deveria estar no baile, gatinha.— Sua voz era macia, apesar das lembranças que atormentavam sua mente naquele momento.
— Você também.—

Dimitrius se afastou da porta que o tinha levado até a varanda, mas não se aproximou completamente do lugar em que ela estava sentada.

— Estar sozinho na biblioteca é muito mais agradável do que estar em meio da nobreza.— O anjo falou.— E acredito que você pense o mesmo.—
— Sim.— Ela concordou apesar de ter fugido do baile por outro motivo.— Mas eu sei que você não esta aqui por causa deles.—
— Algumas vezes eu esqueço que você adora bisbilhotar a mente dos arcanjos, gatinha.—
— Eu recebi a sua permissão para isso.— Ela o lembrou.

Dimitrius ficou em silêncio por alguns segundos, mas logo voltou a falar.

— Você não irá me fazer perguntas sobre os meus pensamentos?—

Gaia o olhou e por um momento se perguntou o que ele queria dizer com aquelas palavras, mas logo os seus pensamentos foram mais altos e a imortal percebeu que todos na família de Dimitrius o cercavam com diversas perguntas sobre Diane e como ele se sentia, não dando o espaço necessário que ele precisava. E era exatamente por esse motivo que o arcanjo da humanidade acabou se afastando de todos.

— Eu não preciso.— Ela foi sincera. Afinal, Gaia podia ver as almas dos arcanjos e não existia mais danificada quanto a de Dimitrius.

Perguntas apenas fariam com que o anjo se sentisse pior e isso apenas faria com que ele se afastasse.

E Gaia não queria que Dimitrius se afastasse dela.

O arcanjo da humanidade desviou seus olhos em direção das portas fechadas da biblioteca quando o silêncio entre eles fez com que o som do baile se tornasse ainda maior.

— Nós estamos perdendo uma grande festa.— Dimitrius disse.
— Eu gosto de estar aqui.— Gaia o respondeu.— Com você.—

O imperador sorriu com as palavras da imortal e ela se sentiu completamente encantada ao ver o seu sorriso sincero sem nenhuma ironia ou sarcasmo.

— No começo desse relacionamento você não suportava ficar próxima de mim.— O arcanjo pareceu ronronar as suas palavras e conforme ele falava, Dimitrius se aproximou de Gaia até que estivesse de joelhos em frente dela.

Ele apoiou suas palmas no assento em que a imortal estava sentada e aproximou seu rosto do seu até que ela quase tivesse que ficar vesga para vê-lo.

— Tudo está diferente agora.— Gaia sussurrou as suas palavras.

Agora, a filha dos elementos estava apaixonada e prestes a destruir a vida do anjo por ser a única a ter esse sentimento.

— Não, Gaia.— Dimitrius discordou.— Tudo é o mesmo de antes. É você quem está diferente.—

Gaia ficou em silêncio diante da resposta que o anjo havia lhe dado, pois sabia que aquilo era verdade. Até mesmo Patrick havia a alertado sobre isso minutos antes.

— Agora você está vivendo,— Dimitrius permitiu que seus lábios roçassem nos delas enquanto dizia as suas palavras. O cérebro da imortal parou de funcionar no primeiro toque da sua boca macia contra a sua, mas ele somente explodiu no momento em que ela sentiu os dedos frios do anjo contra o seu tornozelo, por baixo da saia do seu vestido.— Agora você não é mais uma traidora por causa dos anciões.—
— Os imortais ainda pensam que não sou leal aos arcanjos.— Gaia conseguiu dizer, mesmo que os dedos do arcanjo tivessem se movido lentamente até a sua panturrilha em uma caricia torturante.
— Mas eu não penso mais assim.—

Dimitrius pressionou a panturrilha da imortal com a sua palma e logo em seguida movimentou a sua mão para cima novamente até o inicio da parte interna da sua coxa.

Gaia soltou o ar que havia prendido sem ao menos notar e todos os seus pensamentos fugiram com a sua respiração.

Contudo, por mais que a imortal estivesse apreciando o toque do arcanjo, quando Dimitrius movimentou a sua mão para mais perto da sua região íntima, tudo aquilo que Gaia sempre prendeu em sua mente para não apavorá-la se soltou em um único clique.

Ela congelou ao se lembrar de tudo o que sentiu da primeira e da única pessoa que a tocou naquela região. E seus sentimentos foram todos horríveis, ainda mais por essa pessoa ter sido Gregory.

Por alguns segundos, novamente, ela viu o antigo arcanjo em sua frente ao invés de Dimitrius.

E isso a deixou apavorada.

Gaia fechou seus olhos para controlar a raiva que surgiu em seu interior depois que o anjo em sua frente retirou a mão do seu corpo. Ela não podia acreditar que havia visto um monstro enquanto Dimitrius a acariciava.

— Me desculpe.— Gaia sussurrou as palavras ainda com os seus olhos fechados, pois tinha medo de ver raiva nos olhos de Dimitrius por causa da sua reação.

Ela sentiu o arcanjo se mover para longe e a imortal torceu para que ele saísse daquela biblioteca com toda a sua fúria para que pudesse se preparar para enfrentá-lo depois de algum tempo. Contudo, Dimitrius agiu de forma diferente do que ela esperava.

A filha dos elementos sentiu o assento ao seu lado afundar e logo em seguida as plumas macias de uma asa tocaram seus dedos que descansavam em seu colo.

Gaia abriu seus olhos imediatamente pela surpresa e tentou se afastar da asa de Dimitrius que descansava em cima dela, mas o anjo foi mais rápido em segurá-la para não fugir.

— Pare de fugir de mim, gatinha.— Ele disse de forma calma.
— Mas...—
— Você não está pronta para isso.— O anjo a cortou com as suas palavras.
— Suas asas,— Gaia tentou falar ao mesmo tempo que tentava se afastar, mas Dimitrius continuava a segurando no lugar.
— Elas pertencem a você, Gaia.— O imperador da humanidade desfez a pressão que fazia em seu braço para não machucá-la.— Elas sempre foram sua.—

O coração de Gaia se apertou em seu peito diante das palavras de Dimitrius, desde que elas apenas tornavam a sua situação cada vez mais dificil de suportar.

— Pare com isso.— Ela pediu com sinceridade.
— Por quê?—
— Você está me destruindo aos poucos, Dimitrius.—

O anjo soltou Gaia de vez depois que ela falou e retirou sua asa de perto dela, mas não se afastou. Ele se moveu apenas o suficiente para que pudesse encontrar o olhar da imortal.

— Eu estou apenas tentando ser bom.—
— Esse é o problema.— A filha dos elementos sentiu as lágrimas crescerem em seus olhos e teve dificuldades para contê-las.— Ninguém é bom comigo.—
— Como isso pode ser um problema, Gaia?— Ele a questionou com curiosidade.
— Aqueles que foram bons comigo, Dimitrius, sempre ganharam muito mais do que a minha lealdade.—

Naquele momento, o anjo que governava toda a humanidade, ficou paralisado diante das palavras de Gaia. E isso apenas fez com que ela sentisse ainda mais remorso por ter falado tudo o que não devia.

— Você não tem a obrigação de corresponder meus sentimentos, Dimitrius.— Ela disse para corrigir o que tinha feito.— O futuro deixou bem claro como seria o nosso relacionamento antes do casamento acontecer.—

Dimitrius ficou em silêncio por diversos segundos, até que esse tempo se tornou minutos. E tudo o que ele fazia era encará-la com seus olhos escuros e vazios.

Quando Gaia estava prestes a questioná-lo por não aguentar mais o seu silêncio, o anjo voltou a falar.

— Maximus está nos esperando no salão.— Foram as únicas palavras que saíram da sua boca antes que ele se levantasse do sofá para caminhar até a entrada da biblioteca.