Gaia entrou na sala em que Dimitrius estava com Luna no momento em que o arcanjo se perguntou por onde a imortal andava desde que não havia a visto naquela manhã. Os pequenos lobos entraram correndo logo atrás dela e só pararam quando se aproximaram dele para se sentarem aos seus pés e observarem o bebê anjo que estava dormindo em seus braços.

O anjo desejou se abaixar para mostrar aos filhotes o que ele segurava, mas desde que eles eram agitados demais, a filha de Maximus podia acordar e se assustar.

Dimitrius moveu seus olhos em direção de Gaia que ainda estava parada perto da porta e a observou em silêncio até perceber que estava hesitando em se aproximar por causa de Luna.

Naquele instante, ele se deu conta que talvez a imortal nunca tivesse se aproximado de uma criança antes. Afinal, Gaia sempre foi odiada por todos e isso a fez se tornar distante. Ela era apenas uma observadora que nunca havia tido contato com muitas coisas que conhecia, mas que também desconhecia completamente.

Era quase impordoável que os anciões a obrigassem a participar de uma vida que não entendia quase nada e Dimitrius apenas não se sentia com pena da imortal pelo fato de tudo isso tê-la feito se casar com ele.

Deixando todos os problemas deles de lado, o arcanjo da humanidade desfrutava muito de estar próximo de Gaia.

Desde que Diane havia sido descoberta e levado uma parte de sua alma para longe dele, o anjo desejou estar sozinho e longe de qualquer sentimento que pudesse fazê-lo se sentir da mesma forma que se sentiu por sua irmã. No entanto, a imortal de cabelos brancos estava fazendo com que ele não tivesse mais medo desses sentimentos.

— Hey, gatinha.— Dimitrius a chamou para ter sua atenção.— Luna não é um animal selvagem para você estar com medo de se aproximar.—

— Eu não estou com medo.— Ela rebateu de forma afiada.

Um pequeno sorriso se formou nos lábios do anjo.

Ele realmente gostava quando a filha dos elementos se tornava toda ácido e irritada para o seu lado, pois Gaia ficava completamente adorável.

A imortal se aproximou de Dimitrius para observar Luna de mais perto e mostrar que não estava hesitanto, só que no momento em que ela fez isso, a filha de Maximus despertou em seus braços apenas para chorar como se realmente estivesse próxima do perigo.

Gaia levou um susto pelo barulho repentino. Em um momento ela estava a alguns centimetros dele e no segundo seguinte estava próxima da porta em que havia entrado, os pequenos lobos também a acompanharam até lá e tentavam se enfiar atrás da filha dos elementos por também estarem assustados com Luna chorando.

O arcanjo acariciou a cabeça da sua pequena sobrinha para acalmá-la e foi apenas questão de segundos para que ela voltasse a se tornar calma novamente enquanto ele a balançava em seus braços.

Dimitrius não sabia ao certo, mas imaginava que Luna havia sentido a força que existia ao redor da filha dos elementos. Era uma sensação que dava para ser fácilmente ignorada por todos os imortais que estavam próximos de Gaia, mas uma surpresa para aqueles que nunca haviam visto algo parecido antes.

Luna havia se sentido ameaçada por causa dela.

Ele levantou seus olhos para encontrar a imortal próxima da porta, mas acabou sendo surpreendido quando viu que estava novamente sozinho com sua sobrinha.

***

Levou alguns minutos para que Dimitrius encontrasse Gaia em sua mansão já que ele teve que procurá-la por quase todos os cômodos desde que a imortal havia fechado o link mental entre eles.

O arcanjo da humanidade odiava quando Gaia fazia isso, mas decidiu ignorar o fato já que imaginava que a filha dos elementos estava chateada por ter assustado Luna sem ter feito praticamente nada além de se aproximar.

Dimitrius observou a imortal por alguns segundos antes de caminhar até a sacada em que ela estava com seus olhos fixos na natureza em sua frente. E para variar, Gaia nem ao menos tinha notado a sua presença.

A pele da imortal parecia brilhar contra os raios de sol que batiam nela, assim como os seus cabelos tão brancos. Se havia algo que Dimitrius nunca pensou, era que o branco poderia se tornar uma cor fora do simples e normal.

Quando as pessoas olhavam para Gaia, a primeira impressão que podiam ter era que ela era uma tela que havia sido esquecida de ser pintada por seu artista. Contudo, Dimitrius não podia dizer que ela era feia por causa disso.

Antes o anjo nunca havia prestado atenção nela e muito menos a visto como uma mulher ou alguém que merecia as suas palavras. Ele se arrependia muito das suas atitudes do passado em tudo que era relacionado a Gaia e estava agradecido por ter uma nova chance para mudar os seus erros.

E que ele tivesse uma pequena chance de reconstruir a sua personalidade que havia sido destruida por causa de Diane.

O arcanjo da humanidade não sabia o que Gaia fazia, mas ela conseguia manter sua sanidade estável e as sombras que existiam em sua alma ficavam mais fácil de se controlar. Algumas vezes Dimitrius se perguntava se isso foi o que aconteceu com Maximus quando conheceu Ellylan, mas parecia ser impossivel que ainda existissem sentimentos tão bons dentro dele.

Ele caminhou em direção da imortal depois que afastou seus pensamentos e se colocou ao lado dela de um modo que sua asa quase esbarrou no pequeno corpo de Gaia. E Dimitrius se deu conta de que não se importaria se isso ocorresse.

— Luna não tem medo de você, gatinha.— Ele disse tudo o que podia para tentar arrumar aquela situação.— Essa foi apenas a primeira vez que ela sentiu o poder que existe ao seu redor.—
— Eu nunca estive tão próxima de uma criança.— Ela sussurrou.— E os anciões ainda me obrigam a me tornar uma mãe quando elas me temem.—
— Eu também não sei o que é ser um pai, Gaia, mas nós vamos aprender juntos quando a hora chegar.—

Gaia encontrou o seu olhar e Dimitrius viu que seus olhos azuis estavam tristes.

— Você acha que nosso filho também chorará quando eu me aproximar pela primeira vez?—
— Não.— Ele discordou com um pequeno sorriso.— Eu acredito que ele sorrirá.—

Pela expressão de insatisfação que surgiu no rosto de Gaia, o arcanjo sabia que ela não tinha colocado nem um único pingo de fé em suas palavras.

Dimitrius levou seu dedo indicador para o centro da testa da imortal e usou sua força para empurrar levemente a cabeça dela.

— Pare com esses pensamentos negativos.— Ele a repreendeu de forma gentil e a filha dos elementos manteve seus olhos fixos nele.
— Você deveria estar com Luna.—
— Você não desejava minha companhia, Gaia?—
— Eu não falei isso.— A imortal murmuriou.— Mas Ellylan e Maximus deixaram Luna aqui para que a protegesse caso fosse necessário.—
— Luna está junto com três dos meus tenentes e acredito que ficará muito mais segura do que comigo.—

E isso era algo que Dimitrius não duvidava, pois seus tenentes estavam no mesmo nível de confiança dos seus irmãos mais velhos e o anjo era ciente de que eles dariam a vida para proteger Luna.

Um pequeno sorriso surgiu nos lábios da imortal e o simples ato fez com que o coração do arcanjo se agitasse completamente.

Gaia estava sorrindo novamente para ele.

— Essa foi a primeira vez que falamos sobre nosso futuro filho sem envolver nossas obrigações.— Ela comentou.

Dimitrius não podia discordar da imortal, pois sempre que esse assunto era trazido à tona, era para ser lembrado o que os anciões desejavam que eles fizessem.

O arcanjo dificilmente pensava nele como um pai e imaginava que com Gaia ocorria o mesmo. Contudo, ele estava curioso para descobrir esses novos sentimentos junto com a sua nova imperatriz.

— Agora nós apenas precisamos produzir um herdeiro, gatinha.— Dimitrius falou em um tom provocador para fazer com que Gaia esquecesse seu primeiro encontro com Luna.— Eu acredito que essa parte será muito interessante.—

As bochechas da filha dos elementos imediatamente se tornaram vermelhas pelo constrangimento e mesmo sem estar em sua mente, o anjo sabia que ela estava pensando em coisas depravadas.

Dimitrius se sentiu feliz por isso, pois a imagem de Gregory era algo que já não existia mais na mente dela quando estava próximo. Era evidente que Gaia não sentia mais medo dele por causa do seu passado com o antigo arcanjo.

— Você não devia falar isso assim.—
— Eu não sou um puritano, Gaia.— Dimitrius sorriu com irônia, mas logo se tornou sério.— De qualquer maneira, o momento ainda não chegou.—

Gaia desviou seus olhos de Dimitrius para voltar a observar a natureza que existia de forma quase infinita em sua frente. E antes que ela virasse seu rosto, ele havia visto certa decepção surgir em seu olhar.

— Eu preciso perguntar uma coisa.— Ela falou sem nenhuma emoção em sua voz e o anjo esperou que ela fizesse a sua pergunta.— Por que você me beija, Dimitrius?—

Dimitrius franziu o seu cenho ao ouvir as palavras da imortal, pois não estava acostumado a ter que responder perguntas desse tipo.

— Você precisa ser mais clara em sua pergunta, gatinha.—

A filha dos elementos o olhou e viu que ela estava constrangida por ter que fazer aquela pergunta e o arcanjo se odiou por não ter compreendido logo.

— Você me beijou por que é sua obrigação?— Ela perguntou novamente.— Quando me beija você pensa nos anciões?—

Dimitrius teve que se segurar para não rir, pois a imortal nem ao menos conseguia imaginar em tudo o que ele pensava quando a beijava. Ela deveria estar mais presente em sua mente, assim saberia que os anciões nem existiam em seu cérebro nesses momentos.

Talvez nada existisse em sua mente no momento em que tocava os lábios quentes da imortal e isso fazia com que a pergunta dela se tornasse dificil.

— A primeira vez que eu a beijei, Gaia, foi para ajudá-la com o veneno que estava progredindo em seu corpo.— Dimitrius foi sincero, pois o anjo apenas pensou que ao beijá-la as coisas se tornariam melhores desde que era exatamente aquilo que os superiores desejavam. Seu método havia funcionado e ele não se arrependia disso.— Mas nas outras vezes em que nos beijamos, eu apenas conseguia pensar em como você é linda.—
— Você acha que sou bonita?—
— Muito.— O arcanjo sorriu.— E eu me considero um tolo por nunca ter percebido isso antes.—
— Você cometeu muitos erros comigo, Dimitrius.— Ela sussurrou e o imperador da humanidade sabia que a imortal estava se referindo a todas as vezes que ele a ameaçou. Dimitrius sempre soube que Gaia o temia e aproveitou da sua fraqueza para atormentá-la com palavras.— Mas eu também fiz o mesmo quando o comparei com Gregory.—

Dimitrius moveu sua mão até que ela cobrisse a de Gaia que estava apoiada sobre o muro que estava ao redor de toda a varanda. Gaia encontrou o seu olhar no mesmo instante em que ele a tocou e neles o arcanjo não viu o pavor que estava tão acostumado a ver.

— Se os anciões não tivessem nos ordenado a se casar, nada teria mudado em nosso relacionamento.— Ele disse.— E talvez um dia eu teria me tornado como Gregory.—
— Não poderia.— Gaia discordou rapidamente.— Mesmo com tantas sombras atormentando a sua alma, você continua sendo bom. A bondade nunca existiu em Gregory, Dimitrius, e nem em Phillip.—
— Por que você se apaixonou por ele, Gaia?— Dimitrius perguntou ao se lembrar do antigo arcanjo que havia a traído tão facilmente por causa do seu irmão. Gaia podia ser muito inocente, mas ela ainda podia escutar os pensamentos de todos.— Você deveria ter sabido que Phillip não gostava de ninguém além do poder.—
— Os imortais sempre me temeram por ser o que sou e naquela época eu fingia que meus poderes não existiam.— Ela disse.— Eu apenas acreditei nas palavras dele e me apaixonei por ele ser o único que me tratava como uma pessoa.—
— Isso foi o que aconteceu com Patrick também?— O anjo não pode segurar sua curiosidade.— Você se apaixonou por ele por causa de receber atenção?—

Gaia demorou para responder a sua pergunta e isso o incomodou bastante. A imortal não deveria pensar tanto para responder uma pergunta que estava relacionado a outro homem.

— Sim.— A filha dos elementos falou envergonhada.— Isso parece um pouco desesperado, não é mesmo?— Gaia riu secamente.— É tão incomum que me tratem bem que eu acabo me apaixonando quando isso ocorre.—

Não, aquilo não era desesperado.

Era solitário.

— E quanto a mim?— Dimitrius perguntou.— Você também pode se apaixonar por mim?—

O arcanjo da humanidade sabia que já não era capaz de amar alguém, pois esse sentimento era muito grande e destruídor quando a pessoa amada se tornava uma traídora. Agora que Dimitrius era ciente disso, ele não fazia nenhuma questão em amar alguém.

No entanto, parecia errado que Gaia se apaixonasse por outros homens. Ela estava casada com ele e devia amá-lo também já que era tratada como uma rainha.

O imperador sabia que era seu lado possessivo que estava tomando conta do seus sentimentos em relação a imortal, mas Dimitrius não se importava. O arcanjo da humanidade desejava a proteger de todos e escondê-la do mundo para que apenas ele pudesse observá-la.

Ele queria que a imortal também pensasse da mesma forma.

Gaia estava sem reação diante da sua pergunta e se ela não estivesse respirando com certa dificuldade, o anjo poderia jurar que a imortal era uma estatúa com traços delicados para encantar o público que a via.

— Então?— Ele voltou a falar para cobrar uma resposta.
— Antes de nos casarmos você disse para não me apaixonar.—

Não se apaixone por mim.

Dimitrius lembrou de suas palavras no mesmo instante em que a imortal falou e foi impossivel não sentir raiva dele mesmo por ser tão imbecil com Gaia no passado.

— Por sua causa eu estou me arrependendo de muitas coisas que já fiz e falei.— Ele murmuriou mais para si mesmo do que para a filha dos elementos.

O arcanjo focou sua atenção na natureza em sua frente e ficou em silêncio por não ter o que dizer para a imortal além de que ele era um grande tolo. Só que Dimitrius ainda não se sentia confortável para se auto xingar em frente de alguém tão pura como a filha dos elementos. Afinal, ele tinha muito o que dizer.

— Não é algo impossivel.— Gaia sussurrou sua resposta para a pergunta feita depois que o silêncio caiu entre eles por algum tempo e Dimitrius foi obrigado a esconder o sorriso de satisfação que surgiu em seu rosto.