Gaia já havia despertado a algumas horas, mas ela não tinha coragem nenhuma para se levantar da sua cama depois do que tinha ocorrido no dia anterior. Por algum motivo estranho, ela não se importava de ter compartilhado a verdade sobre seu passado com Gregory para Dimitrius, a imortal se sentia aliviada por ter explicado para o arcanjo da humanidade que ela não o odiava.

A filha dos elementos já pensou que odiava o anjo por causa da sua arrogancia e o modo como a tratava, mas Dimitrius estava se demonstrando ser completamente diferente daquilo que ela imaginava. No entanto, o que não permitia que Gaia levantasse da sua cama, era o fato de que havia chorado até adormecer nos braços dele.

Naquele momento ela se sentia constrangida demais para encarar aqueles olhos escuros que sempre mostravam o divertimento.

Era verdade que Gaia odiava que Dimitrius a tocasse, pois seus toques lembravam os de Gregory em seu corpo, mas no momento que o arcanjo a tocou, apesar do incomodo, ela se sentiu diferente. Existia sinceridade naquele abraço e Gaia sentiu conforto.

Foi nesse instante que sua lista de motivos para chorar aumentou, pois a imortal não desejava criar nenhum tipo de afeto com Dimitrius, mas aparentemente isso seria impossivel. E a filha dos elementos tinha medo de que sua paixão por Patrick fosse esquecida e o anjo substituisse o lugar do demônio. Afinal, a nutereza deixou claro que alguém se apaixonaria por essa relação.

Gaia não queria se apaixonar por Dimitrius, mas queria esquecer Patrick para o próprio bem da criança que os anciões exigiam.

O arcanjo da humanidade estava certo em dizer que antes de qualquer coisa a criança seria filho deles e não parecia certo Gaia criar ilusões de um futuro com o tenente de Maximus. Ela tinha que pensar nessa criança e em seu relacionamento com Dimitrius.

Gaia não queria que essa criança se sentisse como ela no futuro.

Como uma peça que era facilmente manipulada pelos anciões, mesmo possuíndo tanto poder para dizer não.

Os pais de Dimitrius nunca se amaram e isso não era nenhum segredo para os imortais, pois o casamento deles apenas aconteceu com a intenção de gerar herdeiros para o trono. Contudo, não existia dúvidas que ambos amaram seus filhos. E eles respeitavam um ao outro para que o bom relacionamento não fosse afetado.

Gaia queria que isso também acontecesse em seu casamento com Dimitrius.

Só que antes de qualquer bom relacionamento, ela teria que tolerar ao menos estar próxima do arcanjo da humanidade sem pensar nas monstruidades que Gregory fez.

Gaia. A voz de Dimitrius invadiu a sua mente de forma calma e a imortal imediatamente se sentou na cama, agarrando o cobertor que a cobria. Me encontre no salão dos tronos.

A imortal fechou seus olhos ao mesmo tempo que desejava se enterrar em algum buraco no meio da natureza. Ela ainda não estava preparada para enfrentar Dimitrius por vários motivos e o principal deles era que ele provavelmente a considerava como uma fraca agora que conhecia uma parte da sua história.

Tudo bem que ela estava traumatizada por causa de um parente distante que era sósia de Dimitrius, mas isso não significava que Gaia precisasse de piedade. Isso parecia apenas piorar os seus sentimentos ao invés de superá-los.

A imortal jogou seu cobertor para o lado e se levantou da cama para obedecer o que o arcanjo da humanidade pedia, mas antes ela foi até o banheiro para se preparar tanto psicologicamente, como fisicamente.

~ ~ ~

Gaia empurrou as portas duplas do salão real no momento em que o encontrou, não foi um caminho dificil, pois ela podia achar qualquer pessoa que desejava por ter acesso a qualquer alma. Até mesmo a alma danificada de Dimitrius não podia ser oculta com as suas inúmeras sombras que escondiam aquele brilho branco quase cegante.

No entanto, a imortal nem ao menos olhou para o imperador da humanidade quando entrou naquele salão tão grande e quase vazio se não fosse pelos tronos que ocupavam um bom espaço.

Três pequenos lobos vieram correndo em sua direção e Gaia teve que ser rápida em fechar as portas para que eles não fugissem, mesmo que não tivessem a intenção desde que começaram a pular em alregia sobre os seus pés.

A filha dos elementos se abaixou e acariou o pelo dos pequenos animais para acalmá-los e por um instante ela não podia acreditar que os filhotes orfãs estavam diante dela para pedir carinho.

— O que eles estão fazendo aqui?— Gaia sussurrou para Dimitrius, mantendo seus olhos presos aos lobos para não ter que encará-lo.
— É um presente para você.— O arcanjo falou e a imortal teve que levantar seu olhar.— Sem uma mãe e um bando é provavel que morreriam em questão de dias.—
— Eles são lobos e não cachorros, Dimitrius.—
— Você prefere cachorros? Talvez eu possa arranjar alguns após você se livrar dessas bolas pulguentas na floresta.—

Gaia lançou um olhar fuzilador em direção do anjo, pois ele sabia que ela nunca conseguiria fazer tal coisa. E a ofendia que ele falasse de tal maneira tão facilmente.

— Eu não posso me intrometer no destino dos seres vivos.— Ela explicou.— Se forem para morrer, assim deverá acontecer.—
— Então vamos apenas dizer que fui o único que os adotou e lhe dei a responsabilidade de cuidar deles por mim.— O imperador da humanidade cruzou seus braços.— Um arcanjo não tem tempo para cuidar de animais.—

Gaia desejou sorrir naquele momento pela lógica de Dimitrius, mas não se sentia confortável para isso.

— Qual é o nome deles?— Ela perguntou animada, pois finalmente teria a natureza dentro dessa casa tão fechada.
— Chame-os como desejar.—
— Os lobos pertencem a você, não a mim, lembra?— A imortal se levantou para encarar o anjo melhor.— Uma cuidadora não da nomes para animais.—

Dimitrius ancarou os pequenos lobos agitados por alguns segundos e depois começou apontar para cada um deles conforme dizia os seus nomes.

— Horus, Anúbis e Osíris.—
— Por que você esta usando a mitologia egípcia dos humanos para nomeá-los?— Ela perguntou curiosa.
— Meus animais não terão nomes sem significados.— Ele murmuriou contrariado.

Gaia não iria discutir sobre os nomes dos pequenos lobos, mas a mitologia dos deuses egípcios era algo que não combinava com eles. Só que a imortal não estava pronta para deixar o arcanjo da humanidade ainda mais contrariado por questionar os nomes escolhidos.

Ela tinha assuntos muito mais importantes para tratar com o anjo ao invés de perder tempo escolhendo nomes para os pequenos selvagens agitados.

— Dimitrius,— Gaia falou o nome dele de forma baixa, pois não conseguiu encontrar a sua força.— Sobre a noite passada...—
— Esta tudo bem, gatinha.— O arcanjo sorriu gentilmente.— Eu a ajudarei superar esse medo que tem por mim, tudo o que peço é que se esforce também.—
— Mas nós não temos tempo.— A imortal sussurrou.— Os anciões estão matando a natureza e logo serão pessoas.—
— Eu não sou como Gregory, Gaia. Se você não possuir nenhum desejo em estar comigo de forma tão intima, isso nunca vai acontecer.—
— Mas você falou que apenas precisaria de correntes para me prender na cama e gerar herdeiros.—

Dimitrius olhou em sua direção de forma incrédula e naquele momento parecia que Gaia tinha o ofendido mortalmente.

— Eu estava apenas tentando assustá-la com as palavras... Você acredita muito nas coisas que digo, Gaia.—
— Você é um arcanjo e sua palavra deve ser sempre considerada como verdade.—
— Bem,— Dimitrius cruzou seus braços.— Eu não sou como Maximus e Meridius. Mentir faz parte da minha lista de truques especiais.—

Por um momento Gaia considerou a opção de sempre invadir os pensamentos do anjo em sua frente para poder compreendê-lo melhor, mas isso não seria algo adequado para se fazer. Além do mais, os pensamentos sombrios de Dimitrius podiam ser assustadores demais.

— Mas eu posso confiar em você?— Ela perguntou.— Mesmo quando estiver com raiva e me ameaçando posso acreditar que não é verdade?—
— Sim.— Dimitrius falou de forma séria e em seus olhos Gaia viu que o arcanjo estava sendo sincero. Naquele instante ele deixou de lado todo o divertimento que sempre cobria seus olhos escuros para mostrar os seus verdadeiros sentimentos e ela apreciou tal atitude com respeito.— E eu? Eu posso confiar em você mesmo que seja dona de tantos segredos?—
— Eu não pretendo machucá-lo de forma alguma.—
— Confiança não se trata de apenas machucar, Gaia, é algo muito mais profundo que isso.—
— Eu não posso dizer o futuro pra você.— Ela se adiantou rapidamente, pois isso era algo completamente errado e que poderia causar diversos danos.
— Mas você pode compartilhar outras coisas que não estejam envolvidas com o título que carrega. Como fez na noite passada.—
— Você quer que eu conte minha história?—
— Não é isso que desejo.— Ele disse.— Mas eu quero ser seu amigo.—


Um amigo, Gaia pensou, ela nunca havia tido nenhum.

O único que se aproximava disso era Patrick e ela havia se apaixonado por ele a ponto de não desejar sua amizade, mas uma relação muito maior do que isso.

O anjo em sua frente estava agindo de forma amigável para ajudá-la e ela nem ao menos podia rejeitá-lo para o bem de todos e da própria natureza. No entanto, por um momento a imortal temeu que o futuro se realizasse quando Dimitrius se aproximasse dela.

Apenas um se apaixonaria e seria infeliz.

E se essa pessoa fosse ela?

Gaia nem ao menos teve uma chance de superar Patrick e foi obrigada a se casar com outro homem... E se Dimitrius conseguisse chegar até o seu coração como Patrick conseguiu ao se tornar seu amigo?

Isso não podia acontecer.

Por mais que Gaia o temesse por ser tão parecido com Gregory, ela não descartava a possibilidade de ser a pessoa que o futuro disse que se apaixonaria. Afinal, a imortal já havia visto muitas coisas impossiveis acontecer durante o seu longo tempo de vida.

— De qualquer maneira,— Dimitrius voltou a falar e recebeu a sua total atenção.— Cameron esta vindo para ajudá-la a encontrar um lugar paara essas bolas de pelo na mansão. E mais tarde, você deve se juntar a Ellylan e Niffie, pois foi convidada para tomar chá com elas no paraíso.—
— Apenas eu?— Gaia perguntou.— Você não estara junto?—

Desde que a filha dos elementos se casou com Dimitrius, o arcanjo se tornou presente em todos os casos em que devia se tornar sociavel. Não parecia certo que ela se encontrasse com as cunhadas dele sozinha, principalmente quando o arcanjo havia mentindo para a sua família em diversas causas sobre a união deles.

— Não se preocupe, Elly e Niffie não são tão espertas quanto meus irmãos.— Ele falou.— Elas não irão deixá-la desconfortáveis com perguntas que podem revelar as pequenas omições do nosso problema.—
— Eu não quero ir.—

Dimitrius sorriu enquanto a encarava e seus olhos escuros brilharam com o divertimento.

— Talvez você queira me acompanhar para ver meus irmãos aos invés disso?— O anjo perguntou e Gaia o fuzilou com os seus olhos, pois sua segunda escolha não era melhor do que a primeira.— Foi o que pensei.— Ele murmuriou e logo começou a andar em direção da saída, mas tendo que parar diversas vezes em seu trajeto para se livrar dos pequenos lobos que o seguiam como se fosse seu verdadeiro mestre.

A imortal suspirou para encontrar a sua calma e coragem, pois sabia que lidar com Ellylan e Niffie era tão complicado quanto lidar com arcanjos.

Aquele dia, definitivamente, não seria fácil.