Gaia saiu para a varanda do seu quarto quando Dimitrius pousou nela e bateu no vidro da porta para que ela saísse lá fora. A imortal teria negado o pedido se ainda vestisse aquela camisa masculina que cobria o seu corpo antes, mas como uma serviçal havia devolvido o seu vestido durante a tarde, não havia mais motivos para ficar em baixo das cobertas para se esconder.

Ela respondeu a ordem do arcanjo da humanidade sem questionar e se manteve o mais longe possivel para não correr o risco de esbarrar em suas asas depois de deixar o quarto para trás. E também, Gaia não tinha nenhum tipo de desejo de ficar próxima do anjo.

Dimitrius pareceu ficar incomodado com a distância que ela deixou entre eles e a imortal não pode deixar de ouvir os pensamentos irônicos que passaram pela cabeça dele.

Todos falavam sobre como a filha dos elementos o tratava como um bicho selvagem, e obviamente, Gaia não se sentiu culpada por ouvir isso, pois ele não a tratava melhor.

— Meus irmãos não ficaram felizes com a nova ordem dos ancões, mas não vão se intrometer em nossa decisão.—
— Maximus e Meridius sabem que está fazendo isso por eles?—
— Não.— Dimitrius apoiou seu corpo contra o muro que cercava a varanda e seus olhos escuros mostraram um tipo de divertimento misturado com irônia.— Eu apenas falei que sempre tive o desejo de me casar com você.—
— Quando a união irá acontecer?— Gaia preferiu ignorar as brincadeiras nas palavras do arcanjo.

Tudo se tornava melhor quando ela ignorava pelo menos metade das coisas que o anjo falava. E se não fosse pela raiva que Dimitrius a fazia sentir, a imortal sempre sentiria o medo, então Gaia não se importava em ser um brinquedo para o imperador.

— A qualquer momento, gatinha, mas antes disso temos que deixar algumas coisas claras sobre esse relacionamento.—

Ótimo, pois Gaia também tinha que dizer sua condição.

— O seu relacionamento com Patrick irá acabar hoje.— Dimitrius falou de maneira fria.— Eu não sou uma boa pessoa para lidar com traições, seja em um casamento com sentimentos ou sem.—
— Patrick é meu amigo.—

Bom, pelo menos era assim que o demônio a tratava, já os seus próprios sentimentos não correspondiam ao tratamento.

— Não irei proibir sua amizade com ele, pois acredito ser a única que possuí, mas não tome atitudes que se arrependa depois.— Gaia não deveria se sentir ofendida pela verdade, mas o modo como o anjo falou a atingiu de maneira brusca.— Você não pode esquecer que se tornará uma imperatriz e terá que manter sua postura, não a obrigarei a assumir esse papel e estar sempre ao meu lado, só que durante alguns eventos terá que agir como minha esposa, pois não desejo que a raça pura, muito menos os demônios, descubrão que os anciões estão nos manipulando tão fácilmente.—

A filha dos elementos não podia discordar de Dimitrius, por mais que seu pedido fosse desagradável, quanto mais os imortais soubessem, mais caos seria gerado. Ainda mais se a maldade do inferno descobrisse que eles estavam se tornando fracos com a evolução da magia do demônio.

— Algo mais?— Gaia perguntou.
— Não se apaixone por mim.—

O pedido de Dimitrius deixou a imortal surpresa, ainda mais quando o anjo era ciente que ela o temia. Gaia não diria que era impossivel se apaixonar, pois a natureza havia lhe mostrado o futuro, mesmo que não soubesse quem se apaixonaria, alguém iria cair nas armadilhas dos anciões. No entanto, se a imortal fosse a primeira a se apaixonar, antes que isso ocorresse, ela teria que superar seus pesadelos.

E eles eram muitos.

— Isso não é nem mesmo uma questão.— Gaia o respondeu secamente.
— Ótimo. Você tem algo para dizer?—
— Eu não posso lhe dar o link para a ligação das nossas almas.— Ela falou.— Você não pode estar em minha mente e descobrir tudo sobre o futuro.—
— Mas você terá que, pelo menos, me dar o acesso necessário em sua mente para me cominucar e localizá-la quando for preciso.—
— Isso vai ser tudo o que conseguira da minha mente.—

Dimitrius se moveu para se aproximar de Gaia e com apenas alguns passos sua em direção, seu coração começou a se agitar com o medo que ela vivia trancando dentro do seu corpo. A filha dos elementos não tinha para onde fugir e não teve outra opção além de aceitar a aproximidade do arcanjo da humanidade.

— Você terá a minha proteção de agora em diante, então... Não permita que ninguém a maltrate.—
— Eu não preciso da sua proteção.—

O imperador sorriu de maneira diabólica.

— As imortais que sonham em se casar com um arcanjo vão odiá-la ainda mais por ter roubado o último deles que não estava em um relacionamento sério.—
— Eu não o roubei, eu fui obrigada a fazer isso.— Ela rebateu.— Por você e pelos anciões.— E por sua própria consciência também, mas Dimitrius não precisava saber disso.
— Bem, a raça pura nunca irá saber o motivo pelo qual nos unimos e deixarei que a imaginação deles criem o motivo disso.—

E era provavel que aquelas mulheres desagradáveis falassem que Gaia obrigou Dimitrius a isso.

O arcanjo se moveu para se afastar e a filha dos elementos aproveitou o momento para fugir em direção do quarto. Seu desejo era se trancar e não ter mais que ver o arcanjo por pelo menos algumas horas.

— Gaia.— Dimitrius falou seu nome de maneira calma, se virando para encontrar o olhar dela.— Ao se tornar minha esposa, você não se tornará uma prisioneira dessa mansão. Sua liberdade continuará a mesma com a única diferença de que agora possuí uma casa para voltar durante a noite.—

Uma casa.


Gaia nunca havia imaginado que alguma dia teria uma.

— Mas não fuja.— O arcanjo a olhou novamente como uma besta faminta e Gaia fechou suas mãos em punhos quando sentiu que seus dedos começavam a tremer pelo medo que surgia lentamente em seu interior apenas pelo olhar que trouxe tantas lembranças em sua mente.— Eu irei prendê-la com correntes em meu quarto depois de encontrá-la.—

A imortal sabia que havia chego em seu limite e que já não podia mais estar próxima de Dimitrius, suas barreiras estavam desabando e as lembranças do seu pesadelo estavam se aproximando para deixá-la presa no passado.

Se o anjo não se afastasse, Gaia entraria em colapso.

Ela pensou que Dimitrius iria embora depois que entrasse no quarto, mas ela acabou sendo seguida pelo imperador que, aparentemente, não havia terminado de falar. Ele entrou no quarto como se o pertencesse e tudo o que a filha dos elementos pode fazer foi se manter afastada em um canto para não perder o controle do seu corpo por estar próxima de Dimitrius.

Gaia já sentia sua respiração se tornar sufocante por causa da sua garganta que se trancava, mas o arcanjo não parecia notar que ela desejava ficar sozinha.

— Nós iremos realizar a cerimônia da união durante o dia de amanhã e na parte da noite pretendo organizar um jantar para a minha família com a intenção de “comemorar”.— Dimitrius falou como um verdadeiro imperador que criava planos para a melhoria da sua dimensão.— Eu penso que Maximus e Meridius irão tentar impedir o casamento, então é melhor que o ritual ocorra sem a presença deles.—

As palavras do anjo faziam ecos na mente de Gaia, por mais que ela tentasse prestar atenção e parecer lucida, os sintomas do panico já estavam a atingindo com força para derrubá-la.

— Você deseja algo para a cerimônia, Gaia?— Dimitrius a olhou de forma irônica.— Talvez um vestido de noiva.—
— Não.— Ela sussurrou com sua respiração atrapalhada por causa da quantidade de ar que estava inspirando.

O arcanjo da humanidade se aproximou de Gaia depois de notar a dificuldade dela para respirar e naquele momento a imortal sentiu a sua garganta se trancar completamente. Ela também perdeu o controle das suas pernas, que vacilaram com o seu peso, mas Dimitrius a segurou por seus braços antes que Gaia encontrasse o chão.

Ela, realmente, desejou que o arcanjo não tivesse a tocado e sua maior vontade era se afastar, só que seu corpo já não respondia mais aos comandos do seu cérebro.

— Gaia?— Ele perguntou de forma séria.— Qual é o problema?—

Dimitrius continuou a tocando, a segurando por seus braços de forma que mantivesse seu corpo firme e a imortal desejou gritar para que ele se afastasse, mas sua visão se tornou um borrão de cores alegres até que tudo se tornou negro.