O campo diante dos olhos de Dimitrius era tão simétrico que chegava ser até mesmo assustador, a grama perfeitamente verde também não crescia mais do que era nescessário e não existia nem um único fiapo fora do lugar. Para todos os lados que o arcanjo olhasse, não existia nada além do verde vasto que compunha aquele lugar.

O céu era de um incrível azul que quase chegava a ser mais único que os olhos claros de Maximus e não tinha nenhuma nuvem para esconder a beleza daquela cor tão bonita. No entanto, bem no centro daquele campo, existia algo que chamava mais atenção do que o céu e o gramado.

A árvore com enormes raízes que saíam do chão e formavam uma perfeita toca para animais, se eles existissem ali, era o que mais chamava a atenção de Dimitrius e os outros arcanjo que encontravam aquele lugar em seus sonhos. Afinal, não eram todas as árvores que possuíam folhas verdes tão brilhantes como esmeraldas.

A árvore da humanidade.

A árvore que todo arcanjo destinado a humanidade via quando chegava a hora de se tornar um imperador.

E mesmo que todo esse lugar fosse considerado como um sonho, não era. Esse era o único momento da vida de um imperador que os superiores se comunicavam com eles.

Dimitrius olhou ao redor, procurando por algo que sabia que não encontraria.

Os anciões, os primeiros arcanjos a deixarem o trono para seus sucessores, nunca foram visto ou ouvidos, assim como um arcanjo nunca via esse lugar pela segunda vez enquanto dormia.

A primeira coisa que chegou na mente de Dimitrius foi que estava morto, realmente morto, e agora estava no lugar em que todos os arcanjos iam depois que suas vidas acabavam. Por um momento o anjo desejou matar Gaia por ter feito isso a ele e depois torturá-la, mesmo morta, por ter mentido ao dizer que os seus poderes não o matariam.

Aquele pequeno coelho silvestre e traiçoeiro havia o matado sem nem ao menos ter dado a chance de conhecer a sua sobrinha que nascia naquele mesmo dia em que foi atacado por folhas cobertas de gelo...

Gaia.

Dimitrius olhou ao seu redor novamente.

O arcanjo da humanidade estava no meio da natureza e ela estava tão, tão silenciosa. Esse era um sinal que significava que a filha dos elementos estava próxima, ele não sabia ao certo o que acontecia para a natureza ficar tão quieta quando a imortal estava no local, mas o anjo sempre a achou desse modo quando precisava conversar com ela.

Claro que Dimitrius não esperava ouvir barulho de animais e insetos naquele campo, mas não existia nenhum vento que movimentasse as folhas brilhantes da árvore. E ele se lembrava claramente de ver as folhas se movimentarem no passado.

O momento em que os anciões entravam em contato com eles, definitivamente, não era algo que poderia ser esquecido fácilmente.

Dimitrius abriu suas asas e as bateu com força para que seus pés não tocassem mais o chão, pois tendo uma visão de cima, seria mais fácil encontrar o ponto branco naquele lugar em que só existia o verde e o azul.

Por um momento o arcanjo da humanidade quase voltou ao chão, pois parecia tolice que Gaia estivesse presente naquele lugar em que só os escolhidos conheciam, mas ainda assim, Dimitrius não ficaria com sua mente em paz se não a procurasse.

Além do mais, ele parecia estar preso naquele campo.

O anjo observou com paciência o local, mas tudo o que podia ver era o solo com a grama verde. Se virando em direção da árvore, Dimitrius procurou por algum ponto branco que se destacasse em meio do tronco escuro e as folhas brilhantes, e ele achou o que procurava.

De baixo das enormes raízes da árvore, o corpo de Gaia estava deitado como se tivesse sido joga ali, mas ao invés das raízes se parecerem com tocas que protegeriam pequenos animais durante a noite, elas se pareciam mais como uma gaiola.

O arcanjo da humanidade voou em direção da árvore e ao se aproximar dela, ele desceu para o solo com a intenção de ficar mais próximo da filha dos elementos e olhar para o corpo completamente sem vida dela.

A outra imortal sempre teve um tom de pele mais claro que os demais, mas naquele momento ela estava com o azul manchando o seu corpo levemente e com lábios quase roxos. A única cor que se destacava em sua pele eram as veias do seu braço esquerdo que se transformaram em linhas negras e o anjo nem ao menos podia ouvir as silenciosas batidas do coração da imortal.

Gaia estava morta.

~

Dimitrius abriu os seus olhos antes que aquela visão se prolongasse mais e de imediato a dor em seu corpo protestou mais do que os seus pensamentos sombrios. E antes que ele pudesse processar tudo o que estava acontecendo, diversas mentes se conectaram com a sua, o deixando levemente atordoado por ter ficado tanto tempo em um sono profundo sem que os diversos pensamentos fizessem eco dentro da sua cabeça.

O arcanjo se levantou segundos depois de se acostumar com esses ecos em sua mente e checou cada parte do seu corpo para ter certeza de que estava inteiro. Apesar dos músculos das suas asas prostetarem pela falta de uso, aparentemente tudo estava conforme era esperado, mesmo que tivesse pequenas cicatrizes avermelhadas que manchavam a pele do seu peito.

Nada havia sido amputado ou perdido nesse ataque em que usou seu corpo como um escudo para atrapalar os poderes de Gaia...

Gaia.

Ele tinha que encontrá-la.

Dimitrius tinha que ter certeza de que a imortal estava bem, tinha que se certificar de que tudo não passará de um simples sonho. Por um momento o anjo se sentiu paranóico por estar se sentindo tão incomodado com um sonho que tomou conta da sua mente enquanto estava dormindo, só que ele sabia que ninguém sonhava com aquele campo mais de uma vez, então Dimitrius preferia ser chamado de louco do que ignorar algo relacionado com os anciões. Ainda mais quando eles estavam tão agitados.

Ele se vestiu o mais rápido que pode, mesmo que seu corpo chiasse por cada movimento, o anjo ignorou as dores, pois precisava encontrar Gaia para ficar em paz. E também precisava de alguém para relatar tudo o que aconteceu durante o tempo que estava desacordado.

Dimitrius estava quase tocando a mente de Ryan, o seu tenente responsável por tomar atitudes enquanto ele estava fora, quando abriu as portas do seu quarto e encontrou Liv sentada no meio do corredor, de frente com as portas que antes estavam fechadas.

Os cabelos loiros e ondulados da tenente aliquis tampavam o seu belo rosto delicado, mas no momento em que ele deu um passo para frente, ela revelou os olhos de um azul profundo e escuro para encontrar o seu rosto.

Liv tinha a beleza tipica de uma boneca delicada e era muito bonita apesar de já ter sido humana um dia. E ela poderia ser uma grande dama no mundo imortal, se não fosse pela sua educação tão conturbada.

— Bom dia, raio de sol.— Liv se levantou de maneira elegante.— Como foi o seu período de sono de beleza?—
— Não é nada educado ficar sentada na frente do quarto de um homem, Liv, ainda mais quando ele é um arcanjo.— Dimitrius comentou para irritá-la.
— Eu posso mostrar diversas coisas que, realmente, são falta de educação, Dimi.— Ela sorriu em sua última palavra.— Quero dizer... Imperatore.— A tenente se corrigiu quando ele a fuzilou.

Tentar irritar Liv nunca funcionava, pois a única pessoa que saia irritada era quem tentava provocá-la.

Dimitrius se perguntava se havia deixado a aliquis muito tempo na companhia de Patrick e Gate, a deixando se contaminar com a idiotice deles, mas ai o arcanjo se lembrava de que todos foram humanos e compartilhavam a mesma formula de vida.

Além do mais...

Período de sono de beleza.

A mente do anjo da humanidade ficou em branco por um momento ao prestar mais atenção nas palavras anteriores da tenente, fazendo com que Dimitrius encarasse Liv sem nenhuma expressão.

— O que foi?— A aliquis deixou suas brincadeiras de lado e assumiu a posição de um soldado.
— Por quanto tempo eu fiquei naquela cama, Liv?—
— Amanhã faria exatamente 3 semanas que você estava em coma.—

3 semanas. 21 dias em coma.

Dimitrius, definitivamente, mataria aquele coelho branco e traiçoeiro se ainda estivesse vivo.

Ignorando a presença de Liv, o arcanjo se moveu para longe da porta do seu quarto e caminhou em passos largos para a saída da sua mansão.

Se algo estivesse acontecendo com Gaia durante todo esse tempo em que ele esteve fora do ar, ela poderia estar em grandes problemas naquele momento.

— Hey!— A voz de Liv o seguiu por todo o caminho.— Onde está indo? Você precisa falar com seus irmãos e com seus tenentes. Existem muitas coisas para fazer antes que saia voando por sua dimensão, seu idiota! Você tem que conhecer sua sobrinha também... —

O arcanjo parou de caminhar de repente, fazendo com que Liv quase se chocasse com o seu corpo. Mas o anjo foi mais rápido em se desviar do toque da sua tenente em suas asas.

— Minha sobrinha?— Ele perguntou calmamente.— Maximus teve uma filha?—
— Sim. Ela se chama Luna.—

O arcanjo quase sorriu de forma abobada, mas se segurou para não parecer tolo na frente de um tenente. Ele queria conhecer a sua sobrinha, realmente ansiava por isso, ainda mais quando ganhou um nome tão precioso.

Luna era o mesmo nome que sua mãe tinha, a imperatriz do inferno que gerou três arcanjos e causou espanto por tal capacidade. E Dimitrius tinha certeza que essa nova Luna entre eles, causaria o mesmo sentimento por ser a primeira mulher a se tornar uma arcanjo.

— Ela é saudável? Sem nenhuma anormalidade perigosa por ser filha de uma canibal e arcanjo?—
— Luna é perfeitamente incrivel.— Liv garantiu.
— E Niffie?—

Niffie, a esposa do seu irmão mais velho, foi alvo de um grande feitiço que envolvia o voodoo e sua alma foi amarrada a um demônio qualquer quando vários deles estavam invadindo sua dimensão para um ataque. A fim de protegê-la, já que podia ser morta caso algo acontecesse com o demônio portador de sua alma, Dimitrius acabou sendo ferido por Gaia.

— Ela já é dona de sua própria alma novamente.— Liv respondeu.— Tudo está bem e seus irmãos vivem em uma lua-de-mel eterna.—

Apesar das boas noticías e alivio, Dimitrius se sentiu irritado por todos estarem em meio de romances enquanto ele apodrecia em uma cama durante 21 dias e sonhava com Gaia durante todo esse tempo.

— Liv, entre em contato com meus irmãos e diga que estou acordado.— Ele falou para a sua tenente antes de continuar o seu caminho.— Encontre Ryan também e mande-o para a biblioteca para me esperar. Eu voltarei logo.—
— Espere, Dimitrius! Você precisa me dizer onde está indo, os outros arcanjos irão me questionar sobre a sua saída.—
— Apenas diga que irei encontrar minha amante.—

Dimitrius não iria admitir que estava indo encontrar Gaia, pois todos iriam pensar que o intuito desse encontro era a morte da filha dos elementos por tê-lo machucado e o deixado em coma. Além do mais, o arcanjo preferia levar um tiro do que dizer que estava procurando a outra imortal para garantir que ela estava bem.