E assim como seu amigo havia pedido Dudu deixa seu lar na calada da noite para buscar por uma resposta.

Algo que possa acalmar sua alma.

Indo contra tudo o que achava correto, mais uma vez ele desobedece seus pais e chega ate a estação. O vento da madrugada já não era algo tão estranho para um jovem que havia se acostumado as “escapadas noturnas” que sua namorada o forçava a fazer.

E lá estava ele.

Apenas uma mala grande a seu lado olhando o vazio esperando que o ultimo dos ônibus chegasse.

–--- Du? ---- a voz soa fraca não por canseira mas sim por medo.

–--- Dudu! ---- o maior se ergue fitando o amido que parecia afoito e constrangido. ---- Não sabia se viria...

–--- Não podia deixar de vir. ---- ele sorri para tentar quebrar o clima tenso que se estabelecia, deixando a mostra os dentes tortos e desalinhados. ---- Tem outra mala? ---- sempre astuto e perspicaz o menor observa uma segunda mala que tão desgrenhada e maltrapilha quanto a de seu amigo se mostrava um pouco afeminada de mais para ele. ---- Anm... ---- a ficha finalmente cai e ele se senta. ---- Acho que não fui o único a ficar pensando no que o Edu disse...

–--- Não foi o Edu. ---- o maior pontua firme vendo que a loura retornava do toalete, mas mantinha distancia percebendo que Dudu havia chego. ---- Foram... os meus pais.

–--- Como assim? ---- espantado o menor não nota a loura que se aproximava, vendo seu amigo bufar e logo suspirar indo o explicar tudo o que tem passado des... desde sempre.

Revela sobre os maus tratos e do escárnio; como se sentia vivendo naquela casa e tudo mais que “preferia não falar” a seus amigos. Dudu fica perplexo, sempre estranhou o fato do amigo ter o quarto no porão, mas achou que fosse um modo de dar privacidade ao mesmo como era o quarto de Edu com saída para fora de casa, e não por puro descaso.

Horrorizado com tudo o que ouvia ele não pode pedir para que o amigo ficasse, apenas se preocupava de como ele iria ficar depois, e como eles se reencontrariam; pois não queria perder o contato com o amigo.

–--- Você não vai para aquela escola metida? ---- a vozinha meio fanha da loura cobra atenção do distraído Dudu que logo a encara como se fosse uma aparição. ---- Pode ir para lá sem medo. Não tinha como os outros dois te seguirem não é mesmo? ---- ela senta a seu lado logo pegando suas mãos. ---- Eu e minhas irmãs nunca conhecemos nosso pai por que... bem ele era um canalha. Mas ganhamos na justiça por ele nunca ter nos dado pensão alguma então... Bem temos dinheiro.

–--- M-ma mais...

–--- Eu não me importo de fugir com o Du. ---- ela sorri deixando seus grandes incisivos a mostra. ---- Amo ele desde criança e apartir da próxima semana todos vão estar tomando seu rumo certo? Você para aquela escola por exemplo. Claro que vocês vão voltar a se ver, só não vão ser mais vizinhos a vida toda.

–--- Verdade. Uma hora isso ia rolar... ---- ele murmura de cabeça baixa, queria chorar e desta vês não se contem; não era a pessoa mais forte do mundo. ---- Então suas irmãs sabem? O Du não tem mais o celular que é pra não acharem ele mas e você? ---- questionava e pontuava entre os soluços que atrapalhavam sua fala, não conseguindo conter o pranto. ---- Posso te ligar?

–--- Claro Dudu! ---- ela exclama o abraçando tentando o consolar vendo suas lagrimas sentidas rolarem; se sentia um pouco a vilã separando os três Du’s. ---- Eu vi a onde é a escola. A onde vamos ficar não é longe. Vamos nos ver todo final de semana! Promete? ---- a loura lacrimeja ao ver o pranto sentido do rapaz, impossível não sentir sua dor.

–--- S-sim. Todo final de semana. ---- ele acena que sim com a cabeça, mas era sentimental de mais para conseguir para de chorar sozinho.

E assim o ultimo ônibus chega.

O homem estava com pressa e não iria fazer pausa, queria apenas partir.

–--- Ei Dudu!!! ---- o maior abraça firme o amigo quase o partindo ao meio. ---- Quando for nos visitar leva a Marie. ---- ele se afasta pondo um dos pés no ônibus como se isso o impedisse de partir. ---- Ai podemos ser uma família de verdade. Cada um fica com uma! Nossos filhos serão primos e vão brincar juntos todas as férias.

E assim o ônibus parte e Dudu fica ali a imaginar o futuro narrado pelo amigo.

oOoOoOoOo

No dia seguinte todos os boletins foram postos nas paredes.

Os cartazes de parabéns estavam por todo lado.

Todos podiam ver quem iria para a faculdade e qual seriam elas, e aqueles que não tenham conseguido se sentiam um pouco mal, rebaixados ou apenas queriam “um tempo sem estudar” e apenas trabalhar.

O maior de todos os cartazes era de Dudu que havia conseguido uma vaga na mais disputada de todas as escolas. Mas este não se mostrava nem um pouco feliz; arrastava os pés pelos corredores; imaginava as palavras de seu amigo. “Ai podemos ser uma família de verdade.” Isso o fazia sorrir, mas não era o suficiente.

–--- Ei Dudu! Muito legal, vai ser o orador da turma! Já preparou o seu discurso?–--- a mão pesada do amigo quase o destronca, Rolf sempre foi bronco, mas nunca rude; e perto do frágil e meigo Dudu mais se parecia com um touro. ---- Deve estar nervoso eu entendo. ---- o sotaque rústico do amigo era mais outra coisa que ele sentiria falta.

–--- Estou bem. Obrigado... Não sei o que vou falar. Já pensei mil coisas mas nada parece correto.

–--- Sei que você vai achar algo! É um cara esperto.–--- o maior comenta animado o dando mais um “tapinha” de companheirismo e seguindo seu caminho.

Mas Dudu fica ali, olhando aquele velho corredor, se lembrando de tantas aventuras que teve no beco; nunca imaginou deixando tudo aquilo para traz. Ele era o único a ficar triste com aquilo?

Seu grande amigo Du parecia partir sem nenhum pesar; ele esperava mesmo que tudo desce certo, tinha planos e tudo mais. Mas enquanto a ele? Sim sempre teve seus planos para o futuro, mas agora que estava tão perto temia; uma mudança tão drástica de vida o fazia fraquejar.

–--- Eita! ---- o ruivo se aproxima sorrateiro por entre os pensamentos profundos do distraído Dudu e o puxa o colarinho da blusa de modo a chamar a atenção de quem passava. ---- Marca de batom? Péra isso é um arranhão? Aeeee siiim em! Sempre achei você meio viado.

O grito frenético do ruivo fez com que Dudu corasse da cabeça aos pés, e logo mais olhos se voltam sobre o mais tímido dos Du’s.

–--- “Come quéto”? Quem diria. ---- o comentário de Rolf não fez a situação melhorar. Como horador da turma e com tantos cartazes dele nas paredes querendo ou não o assunto estava consentrado sobre ele.

E sua única reação é apagar.

oOoOoOoOo

O mundo parecia turvo a sua volta. ---- An? Onde estou? ---- ainda tonto ele se ergue se vendo na cama da enfermaria.

–--- Você apagou no meio do corredor. ---- de braços cruzados Edu fitava o chão. Parecia irritado e logo o desafeiçoado de dons físicos se mantém calado. ---- Os povo começou a te zoar por causa da marca de baton etc e tauz. Ai você ficou mais branco, começou a suar; a galera quis saber quem era, mas você já não estava mais entre nós. ---- o menor faz piada mas a voz entoa nervosa e recheada de ódio.

–--- Por que esta bravo? ---- ainda tremulo ele questiona, não era de fazer rodeios pelo menos não quando se tratava de Edu e Du. ---- Eu fiz algo de errado?

–--- Você também vai me deixar!

O grito do menor pode ser ouvido do outro lado da escola.


Dudu ficou o fitando com os olhos arregalados se susto vendo pouco a pouco aquela expressão de raiva verter lagrimas verdadeiras.

–--- Você vai para aquela escola esnobe que eu não entro nem para usar a privada e... e... nunca mais vamos nos ver! ---- sua voz ainda entova irritada e cheia de magoas, ele se sentia traído; traído pelos dois melhores amigos que fizeram planos de ir para longe. ---- A quanto tempo você e o Du tinham esta idéia? Tah eu sei que você tinha se inscrito mas... Não tinha me tocado ainda... ---- finalmente o menor para de gritar, no vidro da porta se podia ver alguns curiosos e logo um revoltado Rolf os tira de lá, para dar aos Du’s restantes um pouco de privacidade. ---- É o fim não é? Nós vamos nos separar.

Dudu por sua vês engole seco, não queria assumir a ser verdade.

Estava temendo assumir namorar uma Kanker, mas isso era muito pior do que qualquer coisa que seus pais pudessem fazer como ele.

–--- Sim... é um adeus Edu... ---- o frágil e meigo Dudu se debruça sobre as pernas a chorar; sempre estiveram juntos. Como seguir sem eles? O que faria?

oOoOoOoOo

Do lado de fora os boatos se espalham mais rápido que a luz.

Os Du’s vão se separar.

Era lógico que as pessoas seguissem seu próprio caminho com o fim da escola, mas ninguém imaginava isso. O trio mais chato de todo bairro sempre foi muito unido, estavam juntos na saúde e na doença como diz a igreja; todos que sempre sofreram com suas “travessuras” no fundo gostavam dos trapalhões e sentiam o mesmo pesar.

–--- Eu não posso acreditar. Tipo... eu não sei ainda o que vou fazer da vida. Acho que vou fazer uns cursos preparatórios só pra não ficar parada. ---- a loura se senta sobre o beiral da praça, fitava as escadas se lembrando de quantas vezes não já se irritou com as tentativas “piegas” de cantada de Edu. ---- Pensei que esta escola fosse normal não um internato. O Dudu vai ter que se mudar, né.

–--- Por ai. ---- o ruivo tentava consolar a namorada, mas não tinha o que dizer; também não podia acreditar que de todos ali, os únicos a se separarem seriam os Du’s. ---- Se só o Edu vai ficar... vamos chama-lo só de Eduardo? Pra não fazer ele lembrar dos outros ou isso piora?

–--- Nossa ate o Kevin esta querendo ser legal com aqueles pamonhas? Fala serio você não passou a vida os chamando de que mesmo...? Ah! Panacas! ---- a voz da pequena logo surge, estava com sua básica expressão de fúria costumeira; mas desta vez havia algo a mais. Seus olhos pareciam inchados, inchados de chorar. ---- Ninguém aqui tem que ligar para aqueles imbecis. Não foram eles quem nos importunavam por toda vida? Não foram eles que...Não devemos nada a eles!

A pequena logo começa a chorar e o mais alto a acolhe, não sabia o que dizer a jovem Sara, não sabia o que dizer a ninguém ali. Ele provavelmente iria ficar por lá mesmo e cuidar das coisas de seus pais como sempre fez a vida toda; não era um cara de pensar no futuro. Na realidade sempre foi tachado de atrasado.

–--- Por que ele não se despediu de mim? ---- a pequena se encolhe nos braços de Rolf indignada com a partida súbita do irmão. ---- Nem me deixou uma cartinha explicando. Só aquela frase. Ele é um grande idiota! Odeio ele!

O sentimento da pequena era entendido por todos; implicância existia, mas todos iriam sentir falta. Muita falta.

–--- Do que você esta falando? ---- o calvo e sempre alterado Jonny era sempre o ultimo a saber de tudo, e logo que vê o grupo reunido daquela forma, se aproxima curioso. ---- O que ouve com o seu irmão?

–--- Ele foi embora. Ontem... deixou só uma carta com uma linha de frase. ---- a pequena se ergue para explicar a todos, que encaravam curiós. ---- Disse só que iria para longe a onde não desse mais trabalho. Se desculpou por ter decepcionado a todos e pediu para não o procurarmos.

–--- Fala serio. O Du grande? Você esta falando do Du grande? ---- perplexo o careca cai pesado sobre os degraus. ---- Cara... eles estão mesmo se separando que doze.

–--- Muito. Devíamos fazer uma festa de despedida para eles. Quando eles vão? Eles não o Dudu. ---- a loura logo se ergue animada.

Sse brigaram por toda uma vida pelo menos no fim queria que fosse tudo bem. Não queria que Edu acha se que ficou sozinho e abandonado sem amigos e cercado de inimigos.

oOoOoOoOo

Naquele dia Dudu não quis ir direto para casa, ficou perambulando vendo todos os locais em que já se escondeu para fugir da galera depois de um plano mal executado, imaginando que daqui a alguns dias aquilo seria apenas uma pagina no seu passado, uma daquelas coisas que se lembra quando se é mais velho e fala “nossa eu fazia isso”.

–--- Esta tudo bem? Te vi na escola mas... você sabe, não deu para ir falar com você estes dias. ---- ela estava sobre uma arvore, parecia um gato a espreita de uma presa; não vem ate ele ficando a olhar tudo la de cima e ele por sua vez se recosta sobre seu tronco. ---- Soube do Du. Eu tenho o endereço se quiser ir lá então...

–--- Verdade. Eu aqui bancando a vitima! Ela é sua irmã... ---- ele se assuta surpreso e logo ela desce o abraçando para que se acalma-se. ---- Desculpa eu...

O cala com um beijo simples. ---- Estou muito feliz por ela. Vai morar junto com o cara que ama. ---- logo se debruça sobre seu ombro, ficando ali a repousar alguns instantes. ---- E ela esta feliz por mim. Claro que a mãe esta surtando por ela ter feito isso; mas idai? Lee aprovou e é o que importa pra nós.

–--- Verdade. Eles estão felizes, então eu não devia ficar triste. ---- comovido com o pequeno momento ele entrelaça os braços pela cintura da namorada. ---- Isso não é um adeus, é só um novo começo né?

–--- Sim.