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Quando olho em seus olhos eu consigo ver um sentimento por mim... Está aí dentro... Só não sei onde... Nem quando se perdeu.

Quando você deixou de ser o Félix que eu conheci?

Quando você deixou para trás tudo que vivemos juntos?

Quando você esqueceu o que já passamos?

E as promessas que me fez?... E os planos que tinha para nós?...

Quando tudo isso se tornou apenas memórias jogadas ao vento?

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Eu quero, juro que quero muito parar de chorar agora enquanto me lembro de você! Mas, quando lembro que você não...

É doído demais para falar... Ou pensar.

As lágrimas simplesmente escorrem em meu rosto e os soluços escapam de minha boca sem que eu queira. Mesmo quando tento parar, meu peito aperta de novo e volta a sofrer...

Ao lembrar que você não é mais o meu Félix.

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Saí de debaixo do chuveiro onde tentava afogar minhas mágoas quando ouvi a vozinha infantil do meu filho me perguntando: - Papai? Tá tudo bem?

— Sim, filho. – Respondi engolindo o choro e tentando parecer calmo. – Vá para a cama que eu já vou te cobrir, está bem?

— Sim. – Ele foi, obediente.

Não tive outra saída senão sair do banheiro, vestir meu pijama e ir até o quarto do Jayminho que me esperava.

Eu tentava não pensar em mais nada enquanto cumpria minhas obrigações e prazeres de pai, só que não adiantava... Quanto mais em nada eu pensava, mais pensava nele. Félix. Aquele que era o homem da minha vida... E que já não existia mais.

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— Papai... Você estava chorando? – Jayminho me perguntou sempre observador e esperto.

— N-Não, filho... Eu...

— Eu ouvi, papai.

Eu não podia mentir para o garoto, mas não queria que ele visse o tamanho da minha dor.

— Eu... Só estou triste pelo Félix, meu filho.

— Ele tá muito machucado?

—... Está. Mas, já está melhorando.

— Ele vai ficar melhor?

— Vai. Se Deus quiser.

— Papai, vamos rezar para o tio Félix ficar melhor e a gente poder ir visitar ele?

Ah, a ternura das crianças! Meus lábios tremeram nessa hora, mas eu me segurei e peguei nas mãozinhas do meu filho para rezarmos juntos.

— Papai do céu... Obrigado por tudo que temos e pela nossa vida. Por favor, cuida da vida do Félix. Proteja-o e não o desampare. Amém.

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Depois dessa oração, fui ao quarto do meu pequeno Fabrício.

Meu bebê dormia como um anjo e mais uma vez eu fiz uma oração. Agradeci por ele estar comigo.

Mais de uma vez poderia tê-lo perdido...

E ele está aqui... Graças ao Félix!...

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Me pego pensando no Félix mais uma vez.

Não consigo evitar.

Nem consigo definir o que estou sentindo nesse momento.

É meio que inacreditável...

Eu não entendo por quê.

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Dei um beijinho de boa noite no meu bebê e voltei para meu quarto.

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Deitei naquela cama... E como nunca antes a senti totalmente vazia.

O Félix a preenchia inteira de amor, calor, alegria... Tantas coisas que me faltam agora. Sinto-me frio, triste... E o pior: sinto que perdi o meu grande amor.

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O Félix está lá... Mas, o meu Félix não está aqui. E eu nem sei se volta.

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E eu estive poucos dias atrás em seus braços... Poucas horas atrás, acalentando seu sono, esperando seu despertar, sem querer perder nem um segundo sequer da sua presença ao meu lado mesmo que dormindo profundamente... E agora?... Agora estou aqui, sozinho, com uma lembrança... E ele? Sem nenhuma.

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