Make a Memory

Capítulo XIX – Respostas


— M-Meu... Meu menininho!

Vi aquela mulher se encher de emoção a me ver. Provavelmente eu era importante para ela.

Eu não sabia como agir. A única coisa que pensei foi em cumprimentá-la.

— O-Oi, Márcia...

— Ah! Meu menininho! – Ela me abraçou forte como se não me visse há anos. Eu também a abracei, afinal, também não sabia há quanto tempo não a via, nem o que significava para ela.

— Você se lembra de mim, meu menininho? Oh! Félix... Eu fiquei tão preocupada, tão aflita, você nem sabe... Não sabe como eu fiquei quando o Gentil me contou sobre o seu acidente, meu menininho. E quando ele me disse que você tinha perdido a memória... Eu achei que... – Ela começou a chorar. – Eu achei que você não fosse mais se lembrar de mim. Que você não fosse mais se lembrar da sua Tetê.

— É... Márcia... Desculpa, mas... Eu ainda não me lembro quem você é.

— Quê! Como não? Como sabe meu nome?

— Ele me disse. – Apontei e ela se dirigiu ao mecânico.

— Onde você encontrou ele, Juscelino?

— Acho que ele dormiu na frente da minha oficina, porque quando eu cheguei agora pra abrir, ele tava lá. Mas... Ele tá tão diferente que eu nem reconheci de primeira. Só quando ele levantou, foi que eu vi que ele era alto, bonitão, vi esse corpão todo... E aí reconheci.

— Tá me falando a verdade, né, Juscelino? Você não tentou nada com ele não, né?

— Que é isso, Márcia! Eu não sou assim não, ora! Eu ia me aproveitar do coitado desse jeito que ele tá? Eu vi que ele tá muito mal, por isso trouxe ele pra cá direto.

— Tá bom... Fez bem, Juscelino. Fez muito bem. Muito obrigada, viu?

— De nada, Márcia. – Ele chegou mais perto dela para cochichar. – Ele tá bem sujinho, não tá? Que será que aconteceu?

— Eu vou conversar com ele e tentar descobrir. Pode ir agora.

— Ah, não, eu vou ficar! Vai que ele precisa de alguma coisa, vai que precisa que eu leve ele pra algum lugar...

— Precisa não, Juscelino. Eu vou telefonar pra a família dele, eles vêm buscá-lo.

Eu ouvi o que ela disse e interferi. – Não! Minha família não!

— Por que não, meu menininho? Você não quer que eu avise a ninguém?

— Não, não avisa a ninguém. Se você gosta mesmo de mim, não avisa, por favor.

Eu não sabia se ela entendia minhas razões, mas eu não queria ver ninguém da minha família. Pelo menos não enquanto eu não esclarecesse minhas dúvidas e colocasse meus pensamentos em ordem. Eu ainda estava me sentindo sozinho sem ninguém em quem confiar. Mas, aquela senhora, a Márcia, parecia querer mesmo cuidar de mim.

— Tá bom, meu menininho, eu não vou falar pra ninguém não, tá? Mas, me diz uma coisa... Como você foi parar de frente da oficina do Juscelino?

— Eu não sei. Eu nem conheço ele... Quer dizer, nem me lembro de conhecê-lo. Eu só saí andando sem rumo até que cheguei lá e me sentei.

— Onde você estava antes disso? Por que está assim todo sujo, descalço...

— Eu estava num beco escuro e fui assaltado.

— Assaltado? Que perigo! Eles te fizeram algum mal, te machucaram?...

— Só bateram com o revólver na minha cabeça aqui atrás... – Toquei na minha nuca e ela imediatamente se aproximou para ver.

— Tem um machucado, mas não é grande não. Dá pra botar um curativo. O que eles roubaram, meu filho?

— Levaram meu relógio e meus sapatos. Depois que me bateram na cabeça eu desmaiei. Acho que foi nesse momento que me jogaram dentro de uma caçamba de lixo.

— Uma caçamba?! Você disse uma caçamba de lixo? Misericórdia!

— Pela maneira como você ficou assustada, parece que... Que sabe algo que eu fiz relacionado a uma caçamba de lixo... Não é? Eu fiz algo terrível, não fiz?

Ela me olhou assustada. – Você se lembra? Você se lembrou do que você fez no passado, Félix?

— Então... É verdade? É verdade o que eu recordei? Que eu... Q-Que eu joguei... – Minha visão já ficava embaçada pelas lágrimas. Ela me parou para que eu não falasse mais.

— Shh... Não fala... Não fala mais nada, meu menininho. Não é hora de você ficar se magoando de novo com o seu passado, é hora de olhar pra frente. Você já sofreu demais. Você já tinha se perdoado por isso, não abre essa ferida de novo.

Enxuguei, então, minhas lágrimas. Já que ela tinha dito que eu me perdoei, eu aceitei, embora ainda doesse a confirmação de tão baixa verdade. Ela foi até o mecânico que ainda não tinha ido embora.

— Juscelino, me faz um favor. O Félix precisa tomar um banho, trocar essa roupa...

— Se quiser, ele pode fazer isso lá em casa.

— Oh, Juscelino! Tá pensando que eu sou besta? Eu tenho chuveiro aqui, tá bom? O que eu quero te pedir é que você compre umas coisinhas pra ele... Você pode?

— Claro que posso, Márcia. Manda.

— Deixa eu ver... Onde foi que você comprou aquela cueca que você deu no natal pra ele?

— Foi numa lojinha aqui perto.

— Pronto. Então vai lá e compra outra. Ele vai precisar.

— Ele me disse que aquela cueca deu sorte, sabia?

— E você fica todo feliz, né?... Ótimo! Vai que essa outra dá sorte também. Vai lá e compra também um chinelo pra ele não ficar descalço.

— Hum... Ele tem o pé grande...

— Juscelino! Se concentra, criatura! Não esquece, uma cueca, um chinelo... Ah, e passa na farmácia também e pega um daqueles remédios de limpar ferimento pra eu fazer um curativo na cabeça dele.

— Tá ok. Eu vou e volto ligeirinho, não vai dar nem dez minutos. A não ser que tenha muito trânsito ou que a loja esteja cheia demais ou que...

— Você só tá perdendo tempo aqui. Vai logo que eu só te dou o dinheiro quando você voltar.

Ele finalmente saiu e a Márcia veio até mim. Ela fez um carinho no meu rosto e sorriu, me dizendo para sentar.

— Não... Eu vou sujar seu sofá...

— Senta logo, Félix. Deixa de besteira.

Quando eu me sentei, ela me abraçou de novo.

— Oh, meu menininho... Que saudade de você!

Seu gesto me comoveu.

— Como pode me abraçar assim... Eu estou imundo.

— Oh, Félix... Eu já te acolhi aqui em casa quando você estava bem mais sujo que isso. E era uma sujeira pior, porque não era essa que sai com um banho. Era por dentro que você estava sujo.

Eu entendi do que ela estava falando.

— Você fala do que eu fiz? Eu joguei mesmo um bebê... A filha da minha irmã, numa caçamba de lixo?

— Jogou.

— C-Como eu pude fazer isso?... – Minha vontade já era de chorar outra vez.

— Você errou demais nessa vida, meu menininho. Mas, você fez isso há muitos anos. Hoje sua sobrinha já é uma mocinha.

— Mesmo assim... Isso não se faz.

— Não, não se faz. Mas, você se arrependeu de verdade, é o que vale. Ah, meu menininho... Eu ainda tenho certeza de que se você tivesse sido criado por mim, você nunca teria cometido os mesmos erros.

— Criado por você?... O que você é minha? Por que me chama de menininho desse jeito?

Ela sorriu para mim como se eu fosse uma criança.

— É porque você é o meu menininho. Você é como um filho pra mim, Félix. E eu te amo muito.

Aquelas palavras acalentaram meu coração e, a partir daí, eu sabia que nela eu podia confiar plenamente.

— Márcia... Essa noite quando eu estava lá no meio do lixo, eu tive um sonho. Eu tenho alguns sonhos ultimamente, que eu já sei que são lembranças na verdade. Eu me lembro de coisas que meu inconsciente trás à tona e, às vezes, até acordado eu vejo coisas que eu não sei nem quando nem onde vi.

— Então, você tá lembrando pouco a pouco, Félix! Que coisa boa!

— Estou. Mas... Justamente por isso, eu tenho um monte de perguntas na minha mente, uma confusão. Você me conhece bem, Márcia?

— Se eu te conheço bem? – Ela riu. – Bem até demais.

— Então, me conta. Me conta tudo que eu preciso saber. Por favor, responde as minhas questões.

— Eu respondo, meu menininho. Respondo tudo que você quiser.

— De verdade?

— Com toda a verdade.

Respirei fundo, feliz por saber que alguém me ajudaria a solucionar minhas questões. Tomei coragem e fiz a primeira pergunta, a que eu mais precisava para dar sentido a todas as outras.

— Márcia... Quem era o Cristiano?

Assim que falei esse nome, ela ficou pálida como se visse um fantasma. Provavelmente eu acabei tocando num assunto delicado, pois ela se levantou chocada e eu achei que ela havia desistido de me ajudar.

— C-Cristiano?

— Sim. Quem era ele? Era meu irmão?

— Como você sabe? Por que quer saber sobre ele?

— Porque eu acho que eu... Que eu sou ele. Ou, pelo menos, eu achava. E agora eu não sou mais, eu sou o Félix, eu sei que sou, mas... Ao mesmo tempo, eu não sei quem eu sou.

— Espera que eu me perdi. Eu não entendi nada.

— Nem eu entendo. Por isso preciso de alguém que me socorra, que me ajude a entender quem eu realmente sou.

— Tá... – Ela voltou a se sentar de frente para mim. – Me explica direitinho o que tá se passando nessa sua cabecinha.

— Márcia, pelo que eu consegui entender, quando eu acordei do acidente que tive, eu achei ser o Cristiano.

— Claro!... Bem que o Gentil me disse que você ficou confuso quando perdeu a memória, mas ele não me explicou direito. Foi por isso...

— Quem é Gentil?

— É o Atílio. Ah, você não deve se lembrar...

— Não...

— Deixa pra lá, meu menininho. Continua.

— Então... Eu achava até ontem que eu era o Cristiano, embora eu não me lembrasse da minha própria vida. Só que eu achei uns documentos no meu quarto que não tinham o nome ou a assinatura de nenhum Cristiano e sim, de Félix Khoury.

— Entendi...

— Antes de achar esses documentos eu tive uma discussão com o meu pai. Eu descobri que ele... Ele não gosta de mim. Nunca gostou.

— Oh, meu menininho...

— Isso eu não preciso perguntar por que eu já sei que é verdade. Meu pai nunca gostou de mim, nunca me suportou. Ele mesmo disse.

— Ele te disse isso na sua cara?

— Não... Não agora. Mas, disse nas minhas lembranças. E teve mais uma coisa que eu recordei.

— O quê?

— Que numa discussão com o meu pai, além de ele dizer que nunca me suportou, nunca me amou, nunca me quis... Ele também dizia que preferia o outro filho a mim. O Cristiano. Foi aí que eu me lembrei de mim mesmo... Era minha própria voz falando, gritando que... Que o Cristiano morreu... Que morreu e não ia mais voltar.

Ela me olhava atentamente, mas de um jeito que não precisava falar nada para eu deduzir que o que eu estava pensando era verdade.

— Márcia, me fala... Eu tinha um irmão chamado Cristiano, era isso? Ele morreu?

Ela estava emocionada. Levantou a cabeça, respirou profundamente e, enfim, falou.

— Sim, Félix... O Cristiano era seu irmãozinho que morreu.

De certo modo aquela revelação não me chocou tanto. Eu já sabia que eu era o Félix. Só me faltava saber quem sou na verdade.

— Como ele morreu? Quando? Por que eu não me lembro dele?

— Porque você era só um bebê quando ele morreu.

— Um bebê? Então... Por que eu acordei pensando ser ele?

— Olha, meu menininho... Eu vou te contar a toda a história de novo. Eu já te contei uma vez e vai ser com a mão no coração que eu vou te contar de novo. Mas, depois disso, não me peça pra repetir, por favor, porque é... É doloroso demais.

— Está bem. Me conte tudo.

...

Minutos depois ela havia me contado a história de como meu irmão mais velho, o Cristiano, havia morrido afogado e como ela havia levado a culpa injustamente. Eu comecei a compreender muitas coisas. E durante a conversa, tive a clara sensação de já ter passado por isso. Claro... Ela já havia me contado essa história antes.

Também conversamos sobre o meu pai. Porque ele nunca me aceitou. Eu também já sabia o motivo. Ele não gosta do meu jeito... Ou, dos meus trejeitos... Enfim, ele não gosta de como eu sou. Por isso ele queria o Cristiano, não eu. Porque ele achava que o meu irmão poderia ser igual a ele, já que eu sou totalmente diferente.

Eu passei a vida tentando entendê-lo, enquanto que foi ele que nunca me entendeu.

— Márcia... Eu preciso saber de mais uma coisa. É importante.

— Fala. Do que mais você quer saber?

— Tem uma pessoa... De quem eu gostaria muito que você me falasse.

— Quem?

— O Niko.

— Niko?

— É. Você o conhece?

— Claro que conheço, menino! É o seu carneirinho!

— Meu o quê?

— O seu... – Fomos interrompidos por batidas na porta. – Espera um pouquinho que eu vou abrir. Deve ser o Juscelino que voltou.

Realmente era o mecânico que havia voltado com as compras que ela pediu para fazer.

— Aqui, comprei tudo. O remédio e os chinelos você me paga, mas a cueca não. – Ele deu um sorriso malicioso e veio em minha direção. – A cueca é de presente para o Félix.

— De novo?

— Ah, Márcia, eu dou para ver se ele me dá alguma coisa em troca.

— Nem me diga o que você quer que ele te dê, Juscelino!

— Não seja maldosa, Márcia. Você sabe que eu gosto do Félix, só queria que ele me desse uma oportunidade.

— Hum! Oportunidade, sei... Eu ouvi dizer que você estava namorando, Juscelino.

— Ah, aquilo... É só um caso. Não é namoro sério, não.

— Tá. Você pode ter só um casinho, mas o Félix não. Ele tem um namorado sério, tá? Além de lindo, maravilhoso e bondoso, que não tem nada a ver com você.

— Ora! Como você sabe?

— Sabendo! Olha só, a gente estava até falando dele agorinha. Tenho até aqui no celular uma foto dos dois juntos que o Félix me mandou uma vez...

— Você tem? – O mecânico e eu indagamos ao mesmo tempo. Eu precisava ver aquela foto e ela nos mostrou. Era o Niko e eu, juntos, abraçados e... Felizes. Na foto eu beijava o rosto dele e ele sorria lindamente. Um sorriso totalmente diferente daquele que tinha naquela foto com o Eron.

— Êta! Também, com um loirão desses, até eu me rejeitaria. – O mecânico comentou.

— Viu só, Juscelino? Pra você ver... O Félix está muito bem compromissado. Você não tem chance.

— Ok, já entendi. Eu vou embora. – Ele se virou para mim, de novo. – Tchau, Félix. Espero que você melhore, seja lá o que for que você tem. E boa sorte com o seu namorado... Ele é lindo, viu?

— É... Obrigado. – Eu não sabia muito bem o que lhe dizer, mas tinha que agradecê-lo. – Obrigado mesmo. Por ter me ajudado me trazendo até aqui.

— De nada. E... Se um dia, de repente, você terminar com seu namorado ou resolverem dar um tempo... Eu estarei aqui. – Ele piscou pra mim e foi embora se despedindo da Márcia que olhava para ele com as mãos na cintura. Eu acabei rindo, achando graça da situação.

— Pode isso? Esse Juscelino não toma jeito!

— Eu o achei divertido.

— Ih, não fala isso senão ele volta pra te paquerar. Mas, agora, Félix, vai tomar um banho pra você comer alguma coisa e descansar. Não pense que não ouvi sua barriga roncando enquanto a gente conversava.

— É que eu não como nada desde ontem.

— Viu? Você não pode ficar assim, precisa comer.

— Mas, Márcia... E o Niko? A gente estava falando sobre ele...

— A gente pode continuar essa conversa depois que você tomar banho e se alimentar.

Acabei aceitando o que ela dizia. Ela me mostrou onde ficava o banheiro e me deu uma toalha. Disse para eu vestir a cueca que havia acabado de ganhar e o par de chinelos, e ela ia pegar uma bermuda e uma camiseta larga para eu ficar à vontade.

Fiquei um tanto desconfortável após vestir a roupa que ela me deu. Era uma camisa grande e uma bermuda vermelha colada ao corpo. Ela disse que eu já havia vestido aquilo antes, mas acho que eu tinha me desacostumado.

Depois ela me levou até a cozinha para eu comer algo. Eu confesso que nem olhei muito para o que ela me servia, eu estava mesmo era morrendo de fome. Ela me olhava enquanto eu comia, com uma satisfação que me deixava tranquilo e feliz por estar com ela. Eu me sentia protegido, como uma criança aos cuidados da mãe.

— É tão bom te ver comendo assim sem reclamar.

— Por quê? Eu reclamo muito?

— Você, Félix, é o rei das reclamações. Nunca gostou muito da minha comida, que eu sei. Mas, você aprendeu a gostar, não tinha outro jeito.

— Eu sou chato para essas coisas, tipo, comida?...

— Hum... É meio chatinho sim...

— Como que eu namorei um chef de cozinha, então?

Ela deu uma risada alta quando eu tentei voltar para o assunto anterior: o Niko.

— Esse carneirinho te conquistou pelo estômago.

— Carneirinho? Por que o chama assim?

— É você quem chama ele assim. Eu nunca entendi bem porque, mas você diz que ele é o seu carneirinho. Seu amado carneirinho.

— Eu?... Por que será?

— Olha, tenho duas suspeitas... Ou é por causa daquele cabelo enroladinho dele, ou é porque ele é muito bom, um verdadeiro cordeirinho como as pessoas costumam chamar.

— Ele é mesmo tão bom assim, Márcia?

— O Niko? Ele é um amor de pessoa! Foi praticamente um anjo que caiu na sua vida pra te salvar, meu menininho.

— Sério?...

— Lógico! Eu não sei como você conseguiu se esquecer dele, de tudo que ele fez por você.

— Eu queria muito lembrar, Márcia... Saber a verdade, saber se posso confiar nele...

— Você já se encontrou com ele depois do acidente?

— Já. Eu descobri o que existe ou existiu entre nós dois...

— O que existiu não! O que existe. Porque eu sei, do fundo do coração, Félix, que você e o Niko são feitos um para o outro e têm que ficarem juntos.

— Como tem tanta certeza?

— Porque eu vi esse amor nascer, meu menininho. Eu vi vocês juntos desde quando se diziam só amigos e depois, quando finalmente você decidiu ficar com ele. Sempre que você via aquele loirinho seus olhos brilhavam, assim, mais que luz em árvore de natal! E ele também não ficava atrás não... Quando ele te via, só faltava se derreter todo.

— Tanto assim?...

— Tanto assim sim! Eu fiquei tão feliz quando vocês finalmente assumiram o namoro, já era hora de se darem uma chance. Eu tô dizendo, Félix, vocês são feitos um pra o outro...

Interrompi-a, pois eu tinha que perguntar aquilo que me apertava o peito me fazendo sentir ciúmes.

— Se é tanto assim, por que ele tem outro?

— Quem?

— O Niko, ele tem um namorado, ou um ex... Sei lá! Eu só sei que esse ex quer voltar com ele, porque, segundo ele, eles dois ainda se amam.

— Mas, é o quê? De quem você tá falando, ô Félix?

— Não sei se você conhece... Ele se chama Eron. É o advogado do meu pai, pelo menos foi isso que ele disse. Ele me disse que é ex-namorado do Niko e pretende voltar com ele. Ele até me mostrou um foto deles dois juntos.

— Peraí... Quando que ele te disse isso?

— Ontem, depois que eu saí de casa.

— Então... Esse homem te encontrou já depois que você tinha fugido.

— Foi.

— Se ele é advogado do teu pai, porque ele não te levou de volta pra sua casa?

— Eu... Eu não sei. Bem... Depois que ele me mostrou a foto e me falou tudo aquilo, eu fugi. Para ser sincero, eu amassei a foto, dei um soco nele e depois fugi correndo.

— Hum... Olha, Félix, eu posso estar errada, mas acho que esse tal Eron aí não gosta de você. Ele não seria um que você chama de lacraia?...

— Eu chamo de quê? Lacraia?

— É. Lacraia... Ah! Lembrei! Lacraia do olho de bola de gude. Você já me falou dele sim. É o ex do carneirinho que trabalha lá no hospital da sua família.

— Então... É verdade o que ele disse?

— É verdade que ele é ex, sim. Mas, não que se amam, porque quem o Niko ama é você. Eu não preciso nem conhecer esse outro pra saber. Poderia ser um galã de novela, meu filho, até galã de Hollywood, mas quem o carneirinho ama é você, só você.

Eu não tinha porque duvidar dela. Comecei a entender a verdade.

— Então, esse safado me enganou! Eu... Eu poderia ter procurado o Niko... Poderia estar com ele agora como eu queria...

— Você queria estar com o seu carneirinho, é?

— Queria.

— Ué! É só ligar pra ele. Eu tenho o telefone, quer?

...

...