Make a Memory

Capítulo XII – Conversas


...

— Estou preocupada, Maciel. Eu não deveria ter deixado o Félix ir falar com o César. Nas últimas vezes que eles se falaram só acabaram brigando.

— Calma, Pilar. Você está esquecendo uma coisa muito importante e que muda tudo.

— O quê?

— Agora não é o Félix quem está indo falar com o pai... É o Cristiano.

...

...

Nos poucos minutos que esperou, César tentou não pensar em nada, mas estava ansioso para ver o filho outra vez, mesmo que isso fosse a última coisa que fosse admitir na sua vida. Ao ouvir a voz dele e a maneira de falar, entendeu então qual era a grande diferença.

— Pai?...

— Pai? Ele me chama de pai agora? Não mais de papi? – César pensou em silêncio enquanto o filho entrava no quarto.

— Eu vim ver como você está. Já sei o que aconteceu... Nos últimos anos, ou meses, sei lá. Como... Como você está?

César o conhecia o suficiente para não o reconhecer mais agora. – Esse não é mesmo o Félix. Definitivamente, não é.

— Você está diferente. Demais.

— Todo mundo disse isso... Que eu mudei. Acho que é por causa da minha memória, não é?

— Deve ser.

— Mas, e você? Como foi parar numa cadeira de rodas, pai?

A cada vez que ele o chamava de pai, César se surpreendia, pois via que não era o filho com o qual ele conviveu... Era outro. Era aquele outro.

— Você não disse que já sabe o que houve? Então?... Não me pergunte como acabei assim. Não vale a pena contar.

— Entendo...

— Eu quero saber de você agora... Como está? Como se sente?

— Eu acho que estou bem... Quer dizer, tirando as memórias perdidas, as lembranças confusas...

— Do que você lembra e do que não lembra exatamente?

— Ah, eu me lembro de você, da minha mãe, da minha avó... Eu me lembrei do Lutero também e... É só, eu acho.

— Você não se lembra de mais ninguém?

— Não. Às vezes eu tenho a impressão de que me lembro de algumas pessoas, mas não tenho certeza...

— Como quem, por exemplo?

— Meu filho, por exemplo. Quando eu vi o Jonathan, ainda no hospital, eu não o reconheci, mas agora eu sei que ele é meu filho. Não porque me contaram, mas porque eu sei que é.

— Você sente que é o seu filho? É isso?

— Sinto. De alguma maneira eu sei que ele é meu filho, sabe? É difícil explicar...

— Eu sei como é. – César não conseguiu segurar as lágrimas, surpreendendo o filho e até ele mesmo que não esperava sentir o que estava sentindo falando com o filho outra vez. E ao mesmo tempo não. Não falava com Félix outra vez, mas sim, com Cristiano, pela primeira vez. E aquilo que ele o havia dito fazia todo sentido. César agora estava sentindo algo novo, algo diferente, ou, simplesmente, algo que havia feito questão de nunca se deixar sentir... Amor pelo filho. Aquele filho que ele nunca teve e que ele tanto queria.

— Pai... O que você tem? – Perguntou ajoelhando aos seus pés.

— Não importa. – Respirou fundo controlando as emoções. – Continue me falando do que aconteceu com você.

— Bom... Como eu estava te dizendo eu tenho lembranças confusas. Eu até me lembrei de algumas coisas, outras eu sonhei... E isso é o que me deixa mais confuso. Eu não sei se os sonhos que tenho são lembranças, ou se são as lembranças que, às vezes, não passam de sonhos, ilusões.

César o ouvia atentamente e tentava entender o que se passava, mas era difícil encontrar uma explicação. Ele nunca havia prestado tanta atenção no filho.

— Por que acha isso?

— Porque algumas imagens que me vêm à cabeça são... Não sei explicar...

— Tente. – César disse, então, algo que nunca havia dito antes para ele. – Eu estou aqui para te ouvir.

Félix o olhou e sorriu como nunca havia sorrido antes para ele. Era como se uma confiança jamais existente entre eles tivesse acabado de nascer.

— Quer mesmo me ouvir? Me ajudar com minhas dúvidas?

— Fale. Se eu puder ajudar...

Félix respirou fundo e começou a contar.

— Sabe o que me deixa mais confuso, pai? É que eu tenho lembranças totalmente contrárias umas às outras. É como se eu fosse um ser ambíguo, sabe? Dois homens vivendo no corpo de um.

César não pôde deixar de se sentir incomodado com aquela colocação. Afinal, era o que estava acontecendo. Era o Cristiano a quem ele estava ouvindo, mas ainda era o Félix quem ele estava vendo.

— Sim. Continue...

— Então... Eu ainda não me lembro da minha irmã, mas, enquanto eu estava no hospital teve uma vez que eu tive um sonho muito estranho com ela...

— Como foi?

— Eu a via por todos os lados e gritava que a odiava, gritava com raiva, com todas as minhas forças, até cair no chão e me olhar num espelho que estava de frente para mim... Daí eu via que quem eu odiava, era eu mesmo. Eu gritava para o meu reflexo que eu o odiava e então eu quebrava o espelho.

César começava a compreender o significado que aquelas lembranças ou sonhos, o que fossem, continham. O inconsciente de Félix trabalhava para trazer suas memórias de volta ao seu consciente.

— E... Acabava assim?

— Não! Eu acordei assustado com esse pesadelo, porque depois de quebrar o espelho, eu pegava os cacos com as mãos mesmo, eu pegava tudo com cuidado, como se estivesse pegando um bebê... E aí eu ia jogar numa caçamba de lixo.

— Meu Deus!

— Só que... Quando eu chegava perto e jogava... Eu via que eu não havia jogado só cacos do espelho, eu havia jogado um bebê de verdade! Foi aí que eu acordei.

César estava assustado com aquele tipo de sonho. Era como se as lembranças e experiências de Félix se misturassem em sua cabeça formando imagens abstratas que, por tamanha complexidade, ele não conseguia compreender.

— O que pode significar isso, pai?

—... Eu não sei. – Respondeu após alguns segundos de silencio.

Félix deu um suspiro cansado e comentou:

— É tanta coisa que eu vejo, que sonho, que lembro e não sei se realmente aconteceu ou se é só imaginação.

— Você sonhou com mais alguma coisa?

— Muitas coisas, pai. Eu sonho quase todas as noites. Algumas vezes eu me lembro de partes dos sonhos, outras vezes do sonho inteiro. Tem até um sonho que é exatamente o oposto desse que eu te contei.

— Como é?

— No outro dia, eu sonhei que eu carregava um bebê nos braços e eu estava muito feliz. Eu conversava com o bebê e dizia que ele ia ser meu filho. Será que era o Jonathan?

—... Não sei. Talvez. Continue.

Félix ficou pensativo por uns segundos até perguntar:

— Pai, eu chamava o Jonathan por algum apelido quando ele era pequeno?

— Não, nunca ouvi.

— Então... Por que será que eu chamava aquele bebê do sonho de carneirinho?

César não soube responder e o pediu para continuar, mas Félix ainda tinha mais questões para solucionar.

— Eu... Eu não tenho outros filhos, não é?

— Não, apenas o Jonathan. Por quê?

— Porque eu sonhei com outro garotinho também... Além do bebê. Enquanto eu balançava aquele bebê nos braços e dizia que eu ia ser o pai dele, um menino vinha e me abraçava. Eu me abaixava para ele me alcançar e ficávamos os três abraçados, ele, o bebê e eu. E ele me perguntava todo emocionado: você vai ser meu pai também? E eu dizia que sim. Eu acordei nessa hora, mas com vontade de continuar dormindo e sonhando. Viu? Eu não entendo o que isso quer dizer! Será só um sonho sem importância ou algum tipo de lembrança?

— Eu não sei o que dizer. Não faço ideia.

Mas, ele ainda não tinha se dado por satisfeito.

— Tem mais uma coisa que eu queria perguntar, pai.

— Pergunte.

— Eu ainda não te ouvi me chamar pelo nome. Por que parece que ninguém quer me chamar de Cristiano?

Aquela questão fez César parar e pensar. Procurou respostas, procurou explicações, procurou um modo fácil para fazer aquilo... Mas, não tinha modo fácil. Só tinha um modo...

— É só impressão sua... Cristiano.

— Ah... Até que enfim. Pelo menos você vai me chamar de Cristiano normalmente quando eu vier falar com você?

— Vou. Eu vou te chamar assim sempre... – César olhou para ele e, com a mão esquerda, tocou em seu rosto como se ele fosse uma criança. – Afinal, você é o Cristiano. Meu filho.

Uma lágrima escorreu por sua face ao chamá-lo de filho. O filho, que lhe sorria docemente, enxugou sua lágrima e beijou sua mão antes de se levantar.

— Eu acho que eu vou descansar um pouco agora como a mamãe queria. Estou ficando cansado.

— Sim, vá. Vai te fazer bem.

— Eu só queria te perguntar antes se eu posso confiar em você, para te contar sempre que eu tiver um sonho estranho ou uma memória maluca...

— Confiar em mim? Você acha que pode confiar em mim?

— Eu acho que posso, você é meu pai.

—... Pode. Pode vir sempre me falar o que quiser.

Ele deu outro sorriso confiante e foi saindo do quarto deixando um pai extremamente emocionado para trás. Mas, a gota d’água para os sentimentos e arrependimentos de César, foi ouvir aquele filho, antes de sair e fechar a porta, lhe falar:

— Sabe, pai... Eu te amo. Eu te amo, pai.

A porta fechou após essas palavras e César desabou em lágrimas. Lágrimas pelo que jamais havia ouvido... Pelo que jamais havia dito... Pelo que jamais havia se deixado sentir: amor pelo filho e a reciprocidade desse amor.

Mas, qual filho ele amava? O Cristiano que ele tinha agora?... Ou, o Félix que ele havia perdido?

...

...

...

Mais tarde...

Em outro lugar, mais precisamente no restaurante, Niko terminava de servir as mesas na movimentada hora do jantar, quando um cliente bastante insistente voltou...

...

— Eron? Você aqui de novo? – Indaguei quando o vi entrando olhando insistentemente para mim.

— Vim jantar, Niko... E conversar com você.

Dei um suspiro cansado. Tanto por eu estar mesmo cansado, quanto por estar impaciente.

— Conversar sobre o quê, Eron? Eu não tenho tempo.

— A maioria das pessoas já está saindo, daqui a pouco o restaurante fica mais vazio e você terá tempo.

— Eron, como eu te faço entender que não temos nenhum assunto para tratar? Portanto, não temos sobre o que conversar...

— Nem se for sobre o Félix?

Sua indagação me surpreendeu e meu coração falou mais alto.

— O que você sabe sobre ele?

— Bom...

— Como ele está? Aconteceu mais alguma coisa com ele, Eron? Por favor, fala logo o que você tem pra me dizer.

— Primeiro se acalma, Niko. Você não ganha nada ficando nervoso, pelo contrário, só vai te fazer mal. Você vai acabar cometendo outros erros no seu trabalho...

— Eu paro agora, se for preciso. – Fui tirando o avental sem pensar duas vezes. – Mas, me fala o que houve. Você conseguiu me deixar preocupado.

— Mais preocupado, você quer dizer, né Niko? Porque você é um poço de preocupação com o Félix, enquanto ele... Ele nem sequer se lembra de você.

Aquelas palavras me doíam, mas eu não podia ser injusto.

— Não é culpa dele, Eron. Ele não teve culpa de perder a memória desse jeito.

— Sim, mas... Você sabe que ele não perdeu a memória completamente, não sabe?

— Eu sei. Ele só se lembra de pessoas da família, porque ele acha que é o irmão que morreu, o tal do Cristiano...

— Não acho que seja só das pessoas da família que ele lembra, afinal, ele tem recebido umas visitas bem... Hum... Curiosas...

— Do que está falando?

— Niko, vem sentar comigo na mesa para a gente conversar melhor.

Confesso que ele tinha conseguido despertar minha curiosidade, fora que eu queria muito saber notícias do Félix. Então, tomei uma decisão.

— Está bem, eu vou conversar com você. Mas, aqui não. Me dá uns minutos e nós vamos para o Café aqui perto.

— Ótimo. Eu vou te esperar.

Alguma coisa me dizia que eu poderia me arrepender de ter aceitado sair com o Eron, mas eu precisava saber o que ele queria me dizer.

...

Minutos depois...

Saí do restaurante deixando o Edgar cuidando do resto da noite. Chegamos ao Café e logo que fizemos o pedido eu perguntei:

— O que você queria me dizer sobre o Félix?

— Você... Você quer começar já falando disso? Vamos relaxar um pouco...

— Eron, não me enrola. Não vim aqui para ficar batendo papo, vim para saber notícias sobre o Félix.

— Você está muito sério ultimamente, Niko. Eu não consigo te reconhecer.

— Eu já te disse que as pessoas mudam. E desde que... – Não consegui evitar a vontade de chorar, mas segurei. – Desde o que aconteceu com o Félix, eu não consigo sorrir como antes.

— A sua vida dependia tanto da dele assim?

— Não é que dependia... É que eu o amo.

— Você se apaixonou muito rápido pelo Félix.

— Talvez... Talvez eu tenha me apaixonado muito rápido. Mas, o amor... Esse amor foi se construindo aos poucos... A cada dia que eu o conhecia mais e melhor...

— Será que você o conhece tão bem quanto pensa?

— Por que diz isso?

— Porque é injusto. Você deu tanto amor, tanta compreensão a ele... Você deu praticamente sua vida nas mãos dele! E como ele te paga? Te esquecendo.

— Já disse que não é culpa dele, Eron, ele não pediu para me esquecer e aposto que ele sofre tanto quanto eu por ter esquecido as pessoas que ama. E mesmo que fosse da vontade dele me esquecer... Quem é você para criticar? Quem é você para dizer que alguém foi injusto comigo, hein?

Sei que isso o atingiu profundamente, mas ele merecia ouvir.

— Pensei que você tivesse deixado o passado para trás, Niko.

— Quem parece que não deixa o passado para trás aqui é você. Por que foi me procurar no restaurante? O que quer conversar comigo, afinal?

— Niko, eu só queria abrir seus olhos! Já que eu fui tão injusto com você, fui um canalha que quase destruiu sua vida, e eu admito isso, agora eu quero compensar um pouco tudo que te fiz, quero te ajudar.

— Me ajudar em quê? – Ele já estava me deixando nervoso.

— Te ajudar a ser feliz, Niko! Eu quero muito que você volte a ser aquele rapaz alegre, sorridente e cheio de sonhos que eu conheci. Porque esse que está na minha frente, não parece você.

— Você quer me ajudar a ser feliz? – Perguntei num tom incrédulo. – Então, sabe o que você faz?...

— O quê? Me diz que eu faço.

— Faz um milagre. Faz o milagre de trazer o homem que eu amo de volta pra mim. Se você puder fazer isso você vai me fazer muito feliz.

Vi que o deixei pensativo com isso, mas me enganei. Ele entendeu tudo errado ao pegar na minha mão e dizer:

— E se eu pudesse trazer de volta o primeiro homem que você amou?... Eu.

Aquilo foi a gota d’água! Eu não podia acreditar no que ele estava falando.

— E se eu voltar a ser aquele que te propôs morar juntos, aquele com quem você queria formar uma família, aquele que você tantas vezes beijou e...

Joguei as mãos dele para longe das minhas com força e completei:

— Aquele que me traiu? Aquele que ficou com uma bandida aproveitadora dentro da minha própria casa? Aquele que quase me tirou meus filhos e mentiu pra mim? É desse homem que você está falando, Eron? Se for, não, obrigado, dispenso. Aliás, já dispensei!

Falei olhando fundo nos olhos dele com ar desafiador. Sei que geralmente não sou assim, mas a situação atual realmente havia me feito mudar.

— Eu sei que errei muito. Aliás, em tudo que eu podia errar com você, eu errei. Mas, pensei que tivesse me perdoado...

— Perdoei. Não guardo rancor. Mas, não admito que você me venha com esse tipo de proposta, de um retorno que você sabe que é impossível.

— Tudo bem. Não vou mais tocar nesse assunto. Apenas... Me deixe me aproximar de você e te ajudar no que eu puder.

— Está bem. Eu só quero saber o que você tem pra me falar do Félix.

— Claro... Seu pensamento é todo dele. E, no entanto, eu não sei se é recíproco...

— Se vai insistir sobre ele ter me esquecido, é melhor nem abrir a boca. Eu vou embora... – Me levantei, mas ele segurou em meu braço.

— Não é nada disso, Niko! É outra coisa...

— Que coisa?

— Eu só ia te dizer que o Félix recebeu uma visita hoje. Uma visita que o deixou muito pensativo...

— Que visita?

— Da Edith.

Ouvir aquele nome me fez voltar a sentar e ouvi-lo, além de sentir uma sensação nada boa.

— A... A Edith foi visitá-lo?

— Foi. E ninguém me contou, eu mesmo vi quando estava voltando ao hospital depois do almoço.

— E... E-Ela ficou muito tempo?

— Não sei. Quando eu cheguei ela já estava saindo, mas...

— Então, você não sabe nem se ela chegou a vê-lo!

— Ah, chegou sim! Ela esteve no quarto com ele. Até bem próxima a ele, eu diria...

— Como assim? – Encarei-o, mas eu estava com medo do que ele ia dizer.

— Niko, eu aproveitei que não tinha ninguém da família no quarto e entrei para ver como o Félix estava, depois que vi a ex dele indo embora. Quando entrei ele estava acordado. Nós trocamos umas poucas palavras... Eu me apresentei, claro, já que ele não sabia quem eu era, e... Eu reparei num detalhe bem interessante.

— Em quê?...

— O rosto do Félix estava manchado de batom. Era óbvio, né? A Edith tinha dado um beijo nele.

Aquelas palavras me deram uma tristeza tão grande, uma aflição!... Era como se eu estivesse sendo derrotado numa guerra em que eu nem queria estar.

— U-Um beijo? Ela... Beijou ele? Não... Você não pode estar falando sério!

— Eu não inventaria uma coisa dessas só para você se sentir mal, Niko. É sério! Ela o beijou!

— M-Mas... Como? Ele não se lembra dela!... Não é? Ele... Ele não pode lembrar!

— Quem sabe?

— Como quem sabe? Ele não se lembra da irmã, da sobrinha, do filho, de mim! Como que ele lembraria logo da ex-mulher?!

— Eu não sei, Niko. Eu não pude conversar muito tempo com ele porque o Lutero chegou e eu tive que sair. Mas, o mais provável é que ele lembre, você não acha?

Por um instante, me deixei confundir, mas logo voltei a raciocinar.

— Não, não acho! É claro que ele não se lembra, por isso mesmo ela deve ter se aproveitado para beijá-lo. Só pode! Se ele se lembrasse dela, não teria permitido o beijo.

— É... Se você prefere acreditar nisso, Niko...

— É isso! Mais lógico impossível!

— Tudo bem, talvez ela tenha se aproveitado da falta de memória dele para beijá-lo. Mas, com que pretexto?

— Sei lá, Eron! Ela pode ter inventado qualquer coisa, pode ter inventado que ainda é mulher dele, que eles estão juntos, como que eu vou saber...

Eu já estava ficando muito nervoso quando ele tentou me acalmar.

— Niko, Niko, se acalma!... Respira... Ficar assim não vai te levar a nada. Você não pode perder a cabeça.

Eu respirei fundo diversas vezes.

— Você tem razão. Eu preciso me acalmar, e... Não posso ficar pensando besteira.

— Isso. Não pensa mais nisso, tá?

Concordei com a cabeça, mas não conseguia parar de pensar.

— Eu preciso pensar em outra coisa, senão vou enlouquecer!

— É por isso que quero te ajudar. Que tal se nós fôssemos para outro lugar...

...