Make a Memory

Capítulo X – Os ex.


...

Dias depois...

Alguns dias passaram, pouco mais de uma semana. E Niko não havia mais voltado para ver o seu amor. Achou que seria melhor se afastar e dar um tempo para que, talvez, as coisas voltassem ao normal. Embora, outro lado seu dissesse que se ele não fizesse nada, Félix jamais o recordaria.

Assim, as dúvidas sobre o que fazer o deixava de mãos atadas. Ele voltou a trabalhar, mas aquele chef alegre e simpático de sempre, agora vivia triste, calado, quieto. Os funcionários e clientes notavam, pois nunca o haviam visto assim.

Não era só Félix que havia mudado. Niko também não era mais o mesmo.

— Seu Niko... Seu Niko...

— Hã? Oi?

— É que o senhor entregou o pedido errado daquela mesa. – Edgar apontou para uma das mesas.

— Não tinham pedido isso? Ah, não, não acredito! – Niko levou uma mão à testa, preocupado e abatido. Foi até o cliente e pediu desculpas, dizendo que já ia preparar o prato que havia sido pedido. Enquanto conversava, não reparou em alguém que entrou e que prestava bastante atenção nele.

—... Estará pronto em dois minutinhos. Prometo. – Niko voltou para o balcão falando com seu assistente. – Eu vou dar um jeito rapidinho. Agora, esse outro prato, infelizmente, vai ter que ser jogado fora. Eu odeio desperdiçar comida, mas esses ingredientes não duram muito tempo assim depois de preparados...

— Não precisa jogar fora, Niko.

O loiro logo viu quem falava. – Eron? O que faz aqui?

— Ora, vim almoçar! E olha só que coincidência, eu ia pedir justamente esse prato.

— Sério?

— Claro! Você sabe, é um dos meus favoritos.

— Tá bom, então... Sirva-o, Edgar. Eu vou preparar os outros. Com licença.

Enquanto Niko foi para a cozinha, Eron escolheu uma mesa onde foi servido pelo assistente.

— Bom apetite!

— Espera, Edgar!

— Pois não?

— Me diz uma coisa... O Niko está sempre assim nesses últimos dias?

— Assim como?

— Assim... Cabisbaixo, frio, distraído...

— Ah... Está sim. Ele nunca mais foi o mesmo depois do acidente do namo... É... Do...

— Eu sei muito bem de quem, Edgar. Depois do acidente do namorado dele, pode dizer.

— É. Coitadinho do seu Niko, eu acho que ele nunca sofreu tanto quanto agora, eu nunca o vi tão triste. É que ele ama muito mesmo o seu Félix, né? Também, seu Félix sempre tão simpático com todo mundo, carismático... Até eu tenho saudade dele! – Percebendo que tinha dado mais um fora na frente de Eron, Edgar se retirou. – É... Com licença. Bom apetite!

Eron apenas permaneceu calado. Ficou estampado em seu rosto o quanto os comentários de Edgar o incomodaram. Mas, o que mais o incomodava mesmo era o fato de Niko continuar sofrendo por Félix mesmo depois de dias sem vê-lo. Aliás, a curiosidade para saber por que Niko não estava indo mais visitar Félix é que havia levado Eron ao restaurante. O advogado queria procurar o ex e saber o que estava acontecendo com ele.

...

...

Por outro lado, Félix se recuperava bem e estava prestes a receber alta do hospital. Pelo menos, sua parte física estava bem melhor, diferente da sua memória que resistia em retomar as lembranças de sua vida de verdade. Tudo que existia em sua mente eram ideias confusas de uma vida que jamais existiu. A vida do Cristiano.

Mesmo com a mente conturbada, sua inteligência permanecia praticamente inalterada. E ele lutava para entender o mundo e as pessoas ao seu redor. Quem eram todos aqueles? O que significavam na sua vida? Ele não conseguia recordar para compreender. Mas, algumas sensações o incomodavam. Dentre elas, a de que sua família estava lhe escondendo alguma coisa. Mas, o quê?

Por entre exames e as mais diversas terapias, ele, quando estava descansando no quarto, não descansava, apenas pensava. Pensava bastante. As indagações se acumulavam em sua mente como grãos de areia numa duna... Cada vez apareciam mais e ele não podia controlar.

— O que será que escondem de mim?

— Eu sei que tem alguma coisa que não querem me contar.

Ele percebia as coisas muito facilmente...

— Por que será que todo mundo engasga quando vai chamar meu nome? Parece até que não gostam do meu nome! Principalmente minha mãe. Por que parece que ela não consegue falar meu nome? Qual o problema em dizer Cristiano?

Enquanto ele havia esquecido a vida antes do acidente, a vida pós-acidente ele lembrava muito bem.

... ... – Félix. ... Esse nome te diz alguma coisa?

— Ele é Félix?

— Hã? Não, não... Ele se chama Niko. ... Você não sabe quem é Félix?

— Não!... Quem é Félix? ... ...

— Quem é Félix? Por que o Lutero me perguntou sobre esse nome? ... É como se eu já tivesse ouvido muito esse nome antes, mas não me lembro de onde!...

Além disso, outra questão também persistia em sua cabeça.

— E aquele homem... O Niko. Quem é?

... ... - P-Por que me olha assim?

— É que... É como se eu já te conhecesse...

— Você me conhece, eu já disse. Somos amigos.

— Eu sei, mas eu não me lembro. E mesmo assim... É como se eu te conhecesse a vida inteira. ... ...

— Será que eu te conheço a vida inteira?... Se somos mesmo amigos, por que não veio mais aqui, Niko? Eu queria te ver de novo...

Se havia alguém em que ele não conseguia parar de pensar, era naquele loiro misterioso que disse ser seu amigo e que chorou por ele.

... ... - Por que chora?

— É que... Estou feliz que você tenha acordado... Que esteja fora de perigo, mas... É triste que não se lembre de mim.

— Para você chorar por mim, é porque deve ser mesmo muito meu amigo.

— Muito. Não faz ideia do quanto gosto de você.

—... Você não faz ideia do quanto eu queria me lembrar de você.

— Sério?

— Sim.

— Por quê?

— Não sei... Acho que eu também devia gostar muito de você antes de me esquecer de você. ... ...

— Pai. – Seus pensamentos foram interrompidos.

— Oi, Jonathan.

— Que bom ver que você já se lembra de mim.

— Eu não me lembro de tudo exatamente, você sabe...

— Mas, você sabe que sou seu filho, isso é que importa. E sabe o que importa também? Eu soube que você vai receber alta em breve.

— Mesmo?

— Mesmo! Você não me disse que não via a hora de sair daqui? Então? Agora você vai. Talvez hoje mesmo! Está feliz?

— Estou. – Ele respondeu com ar duvidoso.

— Está mesmo? Não parece.

— Eu estou feliz por sair, mas estou com medo.

— Medo?

— É, medo... Do que vou encontrar lá fora. É complicado...

— Eu imagino...

— Sabe... Quando eu saio daqui do quarto para fazer algum exame ou para a fisioterapia, eu vejo que as pessoas ficam me olhando de lado... E eu não sei por quê! Isso me deixa aflito, entende? É como se eu tivesse feito alguma coisa para elas...

— É... Não liga para isso, pai. O problema é que você não se lembra das coisas que já viveu e... Bom, você é praticamente um dos donos do hospital também, né? Todo mundo aqui te conhece e claro que vão olhar.

— É, deve ser por isso.

Estava sendo difícil para todos manter as aparências de que tudo estava bem. Todos tinham medo de pressionar a memória dele para fazê-lo recordar e acabar causando um trauma maior.

Enquanto Jonathan ficou calado, Félix ficou pensativo até indagar:

— Jonathan... Posso te fazer umas perguntas?

— Perguntas?... Sobre o quê?

— Sobre mim, sobre os outros, sobre minha vida.

— Ah... É... Pergunte. – Jonathan ficou preocupado quanto ao conteúdo das perguntas que viriam.

— Quem é o Niko?

— Quem? – Jonathan se surpreendeu com a primeira pergunta.

— O Niko. Eu não sei por que não consigo esquecê-lo.

— M-Mas... Você esqueceu...

— Estou falando desde que ele veio aqui. No dia em que eu acordei. Eu falei com ele antes de ele ir embora e... Desde então eu fico pensando: o que ele representa na minha vida?

Jonathan havia ficado realmente surpreso com aquelas indagações.

— Você quer saber o que o Niko representa na sua vida?

— Quero.

—... O que ele te disse?

— Disse que nós somos amigos. Que ele gosta muito de mim. Ele até chorou. Por quê?

— Ah, pai... É porque o Niko é um cara muito sensível, mas de um caráter enorme. Ele é demais! E... Ele realmente gosta muito de você.

— Quer dizer que nós somos amigos mesmo?

— Vocês são os melhores amigos do mundo. Você nunca teve alguém que te compreendesse tanto quanto o Niko. Vocês dois... Acho que se completam.

— Tanto assim?

— Oh! Não imagina o quanto...

— Quanto?

— Err... Pai, olha, o que eu posso dizer é que o Niko representa uma parte muito boa da sua vida. Foi através dele que todo mundo conheceu você de verdade e... – Jonathan suspirou profundamente.

— E o quê, Jonathan?

— E... Você foi feliz.

Félix ficou encarando o filho com ar questionador.

— Eu não era feliz antes?

— Você... Passou por muita coisa. Provocou muita coisa.

— Que tipo de coisa?

— Pai, não é bom conversarmos sobre isso agora. Não vai te fazer bem.

Foi Félix então quem suspirou profundamente e aceitou.

— Eu ainda não entendo...

— O que você não entende, pai?

— Por que tenho a impressão de que vocês evitam me contar o que eu preciso lembrar?

— Desculpa, pai... Mas, não tenho resposta para isso. Tudo que posso dizer é que não podemos te contar certas coisas. Coisas que são difíceis para nós que lembramos, quanto mais para você que não se lembra! Eu te peço que fique tranquilo e faça suas terapias. Eu tenho esperança que aos poucos você vai recuperar a memória e tudo voltará ao normal.

—... Espero que sim. Eu sinto um vazio muito grande. Talvez seja pela falta de recordações...

— Deve ser por isso.

Félix ficou como se já estivesse pensando em outra coisa.

— Quero te fazer outra pergunta.

— Faça.

— Quem é Félix?

Jonathan engasgou de tão surpreso que ficou com aquela pergunta.

— F-Félix?...

— O Lutero me perguntou se esse nome me dizia alguma coisa. Eu não me lembro de ninguém com esse nome, mas, por alguma razão, ele me é familiar. Por quê?

— É... É que... Err...

Sem saber o que responder, por sorte Jonathan foi interrompido por uma enfermeira que lhe falou que o estavam procurando na recepção.

— Pai, eu vou ver quem é, tá? Descansa agora e não fica mais pensando nessas coisas.

— Eu vou tentar, Jonathan. Mas, você não respondeu a minha pergunta.

Jonathan apenas saiu sem dizer mais nada.

Ao chegar à recepção viu quem o procurava.

— Mãe? O que faz aqui?

...

...

Enquanto isso, no restaurante de Niko...

Eron tentava uma aproximação, sem sucesso. Já havia saboreado prato principal, sobremesa e, no entanto, continuava lá, tentando puxar conversa com Niko.

— Eron, se já acabou você sabe que precisa desocupar a mesa. Está tomando o lugar de outro cliente.

— É tão triste quando você me trata como um cliente qualquer.

— Eron, por favor...

— Niko, eu tenho trabalho a fazer, mas eu só queria ficar mais para esperar que você se desocupasse para a gente conversar. Como nos velhos tempos.

— Eron, em primeiro lugar, eu também tenho muito trabalho e não vou me desocupar nem tão cedo. Em segundo lugar, você é um cliente qualquer e eu não vou me sentar para conversar com você. E em terceiro lugar, não tem “velhos tempos”, ok? Isso não existe mais, portanto, esquece! Se quiser pedir alguma outra coisa, pede, se não, eu peço que se retire.

— Poxa, Niko! O que é isso? Nem parece você!...

— As pessoas mudam, Eron.

— Eu sei. Mas, você mudou até demais depois do Félix, não foi?

— Não fala dele! – Niko alterou a voz fazendo com que algumas pessoas olhassem, logo voltando ao que faziam. O loiro respirou fundo e falou mais baixo: - Viu o que eu fiz? Eu não estou com a mínima vontade de discutir, Eron, então sai. Por favor.

Eron levantou pondo o dinheiro para pagamento da conta na mesa.

— Eu vou sair, Niko. Mas, ainda quero conversar com você. Você está diferente, estressado... Eu sei que você está passando por um momento muito difícil e precisa de alguém para desabafar. Eu estou disposto a ser esse alguém, Niko. Pensa bem. Você já confiou em mim um dia, pode confiar de novo.

Eron saiu do restaurante deixando Niko pensativo. O loiro realmente precisava conversar com alguém, receber compreensão e um abraço. Mesmo sabendo que Félix não tinha culpa de ter se esquecido dele, ele não conseguia lidar com esse fato. Logo ele que foi a compreensão em pessoa para o seu amado, agora não tinha ninguém que o compreendesse. Alguém que, pelo menos, estivesse disposto a ouvi-lo.

...

...

Já, no hospital...

— Mãe? O que faz aqui? – Jonathan indagou ao ver quem o esperava na recepção.

— Oi, filho! Eu te vi entrando aqui. Eu soube o que houve com o Félix.

— Como você soube?

— A cidade é grande, mas a vontade de fofocar das pessoas é maior, né? Não foi difícil ouvir por aí que um dos donos do San Magno tinha sofrido um grave acidente. Como ele está?

— É difícil de explicar, mãe...

— Está tão mal assim?

— Não, ele já está bem melhor, fisicamente... Mas... Ele ficou com uma sequela do acidente. É complicado...

— Fala, Jonathan! O que o Félix tem? Quando eu perguntei sobre ele às recepcionistas, elas disseram que achavam que eu não ia vê-lo, que ele nem ia se lembrar de mim... Não entendi. Como assim?

— Elas não se aguentam mesmo. Quase te falaram tudo já. Bom, mãe... O que acontece é que... O meu pai perdeu a memória.

— O quê?! O... O Félix perdeu a memória? Logo ele!...

— É, logo ele... Sim e não.

— Como assim, Jonathan? Me explica, por favor...

— Mãe, antes só uma perguntinha. Não me leve a mal, por favor, mas... Por que esse interesse repentino no meu pai?

— Jonathan... Você sabe que sempre amei o Félix. Eu sei que do meu jeito sempre doido de fazer as coisas, mas eu o amei. Sei também que ele nunca me amou, mas nós dois tivemos uma relação muito forte. E foi dessa relação que nasceu você. E você é o que há de mais importante pra mim, você sabe. Então... É claro que eu me preocupo com o estado de saúde do seu pai, porque eu... Eu ainda gosto muito dele.

—... Está bem, mãe, eu vou te contar tudo. Mas, vem, vamos para a lanchonete, lá vai ser melhor.

Na lanchonete, Jonathan contou a Edith o que estava acontecendo com Félix.

— Eu não acredito que ele pensa que é o irmão que morreu!

— Viu só? É difícil de entender e de explicar.

— Quer dizer que ele não reconhece ninguém, só a Pilar, é isso? Ele te reconhece?

— Na verdade, mãe, ele reconhece os membros mais velhos da família, ou seja, todo mundo que é mais velho que ele. Ele não se lembrou de mim no primeiro momento que me viu, mas depois parece que soube de algum modo que eu era filho dele.

— Que coisa! De quem mais ele não se lembra?

— Ele não se lembra da tia Paloma, da Paulinha, de... Mais ninguém.

— Mais ninguém? Então... Ele não se lembra nem daquele namoradinho dele?

— Mãe...

— É só uma pergunta, Jonathan.

—... Não, mãe, ele não se lembra dele. Como também não se lembra de você, nem de mim, nem de mais ninguém. Eu já disse, ele só se lembra dos membros da família mais velhos, como a mãe, o pai, a avó... Ele se lembra do Lutero porque sempre foi como se fosse da família mesmo antes de ele nascer. É como se meu pai tivesse recriado a própria história de vida na cabeça dele depois que ele passou a se ver como o Cristiano, entende?

— Não! É complicado demais pra minha cabeça!

— Eu te disse. E para explicar melhor só mesmo um psicólogo, um psiquiatra...

— Tá... É... Filho... Será que eu poderia vê-lo?

— Você quer vê-lo? Pra quê?

— Pra ver, ora essa! Pra ver como ele está depois de tudo isso.

— Ah, mãe, eu não sei...

— Por favor! Eu não preciso nem falar com ele se não quiserem, mas eu queria, pelo menos, ver o estado dele. Quem sabe ele não acaba se lembrando de mim.

— Mãe, ele não vai se lembrar de você.

— Ah, não custa nada tentar. Deixa, vai...

— Está bem, vamos. Mas, rápido, ok? Antes que a vó Pilar chegue.

...

Chegando ao quarto, Jonathan pediu:

— Eu vou repetir, mãe, não fala nada a ele que posso perturbá-lo, por favor.

— Já entendi, Jonathan, você já repetiu isso umas dez vezes.

— E vou repetir de novo caso seja necessário.

— Me ofende, filho, que você tenha toda essa desconfiança de mim.

— Mãe, me desculpa, mas como quer que seja diferente depois de tudo que já aconteceu?

— Tá bom... Você tem razão. Mas, você vai me deixar ver o Félix ou não?

— Vou. Mas, lembre-se, não o chame de Félix e não fale nada que possa deixá-lo nervoso.

— Como eu devo chamá-lo? Cristiano?

— Olha... Apenas fale o mínimo possível, tá?

— Tá bom.

Assim, os dois entraram no quarto.

Félix estava acordado e, como antes, pensativo.

— Pai...

— Você demorou, Jonathan. Pensei que não fosse mais voltar.

— Eu fui buscar a... Ela. – Apontou para Edith. – Você sabe quem ela é?

Félix a olhou atentamente e respondeu: - Não. Quem é?

— É difícil acreditar que estou te vendo assim... – Edith comentou.

— Pai, ela é... É a minha mãe.

Félix então a olhou assustado e confuso.

— S-Sua mãe?

— É.

— Essa seria uma das próximas perguntas que eu ia te fazer, Jonathan. Mas, agora... Não preciso mais.

Edith se aproximou dele. – Você não se lembra de mim? Nem uma mínima lembrança?

Ele ainda a olhava como se tentasse lembrar, mas nada surgiu em sua memória.

— Não. Eu não me lembro de você.

— Imaginei.

Ele olhou para Jonathan e voltou para Edith, olhando para as mãos dela.

— Você... Não tem aliança.

— Ah! É que eu tirei.

— Nós... Nós somos...

— Casados?

— Sim?

— Não. Já fomos, mas nos divorciamos. O único laço que restou entre nós foi aquele rapaz lindo ali. – Ela apontou para Jonathan. – É o nosso laço eterno.

Félix ainda olhava para as mãos dela, quando olhou para suas próprias mãos.

— O que procura? – Ela perguntou.

— Eu tenho marca de aliança... Você não.

— Você tem? – Ela estranhou já que fazia tempo que ambos não usavam alianças. Ela pegou em sua mão e viu que ele tinha mesmo a marca de um anel, mas na mão direita.

— Não é marca de aliança. – Ela constatou e Jonathan completou.

— Você devia estar usando algum outro anel que se perdeu no acidente, pai.

— Devia ser. Eu não lembro mesmo. – Félix concluiu, mas Edith ainda tentou insistir.

— E se ele estava usando a nossa aliança na mão direita, Jonathan? O F... É.. Ele sempre foi vaidoso, mas nunca gostou muito de usar joias...

— Mãe, não era a aliança. Eu sei que não porque eu mesmo a guardei no meu quarto. Ele não usava mais. Tenho certeza que essa marca era de outro anel que ele devia estar usando quando sofreu o acidente. – Jonathan afirmou com o palpite de que aquela marca só podia ser de um anel pertencente ao Niko.

Félix olhava para os dois com a expressão confusa e muito pensativo. Jonathan achou melhor sair para o pai descansar.

— Mãe, vamos. Ele precisa descansar e já está muito tempo acordado.

— Eu não fiquei nem dois minutos, Jonathan.

— Mãe, por favor...

— Me deixa conversar mais um pouco com ele.

— Pra quê? Você tá vendo que ele não se lembra de você.

Félix, então, se pronunciou.

— Pode deixar, Jonathan. Eu quero conversar com ela.

Jonathan titubeou, mas, sem saída, deixou os dois a sós no quarto. Não sem antes repetir para a mãe não dizer nada que deixasse o pai ainda mais confuso.

— Fico tão feliz que você tenha pedido para conversar comigo. Sabe... Antes nós quase nunca conversávamos. – Ela falou puxando uma cadeira e sentando-se perto dele.

— Não? Por quê?

— Digamos que... Não tivemos um casamento modelo. Mas, foi bom enquanto durou.

— E por que acabou?

— Chega uma hora que não dá mais. Um casamento baseado em mentiras é como um prédio mal construído, uma hora desaba.

Isso o deixou pensativo. Ele decorou as palavras da ex e decidiu não perguntar mais sobre isso.

— Eu estou fazendo perguntas e não lembro sequer seu nome.

Ela sorriu e comentou: - Você não lembra muitos nomes pelo que sei... Cristiano. Olha só, Cristiano... Quem diria...

— Por que fala assim?

— Por nada. Enfim... Meu nome é Edith.

— Edith... – Félix fechou os olhos tentando lembrar onde já tinha ouvido esse nome, mas nada lhe veio à mente. Ao balançar a cabeça em negativo, Edith falou:

— Não se recorda, não é?

— Não.

— Tudo bem... Eu posso te ajudar a lembrar, se você quiser.

— Como?

Ela olhou se o filho não estava por perto e chegou mais perto do ex-marido.

— Assim... – E o beijou.

...