Make a Memory

Capítulo V – InConsciente


...

— Como meu filho está? – Pilar perguntou.

Percebi o Lutero respirando fundo antes de abraçar dona Bernarda. Eu senti meu coração tremer e uma onda de ansiedade e adrenalina tomar conta de mim como se eu pressentisse que algo ruim havia acontecido.

Temi pelo pior por uns segundos até que notei a presença do cirurgião, o doutor André, que veio com Lutero e começou a falar.

— A cirurgia acabou bem, mas ele continua inconsciente.

— Mas, foi muito grave? O que houve exatamente com ele? – Dona Bernarda perguntou. Eu não conseguia nem falar.

— Ele sofreu um traumatismo craniano moderado. Estava em estado de coma quando chegou aqui...

A Pilar se sentiu mal ao ouvir isso e eu a abracei, segurando-a e segurando a mim mesmo. O médico continuou:

— Ele, praticamente, não corre mais risco, porém continua inconsciente. Não há previsão de quando ele pode recobrar os sentidos.

— P-Podemos vê-lo? – Indaguei quando finalmente consegui pronunciar alguma coisa.

— Ainda não. Ele está na unidade de terapia intensiva. Deve ficar em observação por vinte e quatro horas e dependendo da evolução ele poderá ir para um quarto logo depois desse prazo, mas só se não apresentar piora no quadro. Quando ele for para o quarto então poderá receber visitas.

Após as informações começou a cair a minha ficha sobre a gravidade do que tinha acontecido com o Félix. Voltei a me sentar inconformado por não poder ver o meu amor, mas, pelo menos, eu já podia ter mais esperança de que ele ficaria bem.

...

...

As horas passavam intermináveis. Cada minuto parecia uma eternidade. Contudo eu não cansava de esperar alguma novidade sobre ele, até que alguém veio falar comigo...

— Niko...

— Hã? – Era o Eron.

— Você não está cansado? Já está há muito tempo aqui...

— Não.

— Niko, eu sei que você quer esperar por notícias do Félix, mas você também não é de ferro. Por que não vai pra casa, descansa e volta depois? Amanhã talvez, afinal o Félix tem que ficar de observação durante um dia todo, não é?

— Não, eu quero ficar.

— Niko, é melhor você ir. Não vai ajudar em nada sua presença aqui.

— Eu quero estar aqui quando ele acordar.

— E se ele não acordar?

Encarei-o sem entender porque ele estava me dizendo aquilo. Me deu até raiva.

— Ele vai acordar, Eron! E se não acredita nisso eu não preciso da sua opinião.

— Também não precisa ser grosso, Niko. Eu só falei para o seu bem. Acredite ou não, hoje eu... Eu já aceito bem a sua relação com o Félix e sei que você realmente gosta muito dele. Imagino o quanto você deve estar preocupado com toda essa tragédia, mas... Onde está aquele homem sensato que você sempre foi? Você sabe muito bem que o Félix pode não acordar nem hoje, nem amanhã, nem daqui a uma semana. E ficar aqui sofrendo não vai resolver a situação dele.

Fiquei angustiado, pois, afinal, ele estava certo mesmo que eu não quisesse admitir.

—... Você tem razão.

— Como é? Faz tanto tempo que não te ouço dizer que eu tenho razão que... É até estranho.

— Eu queria ficar, quero ficar! Mas... Você está certo. Eu preciso ir para casa, preciso ver meus filhos, preciso recuperar as energias para voltar e esperar o Félix reagir.

—... É. É disso que você precisa.

Olhei para ele. – Quer saber? Eu jurei não seguir mais nenhum conselho seu. Nunca mais. Mas, dessa vez, eu acho que não tenho outra opção.

— Olha... Apesar do que você disse, eu vou levar como uma coisa boa.

Levantei-me para ir embora. Peguei meu celular para chamar um transporte já que não havia ido de carro, mas...

— Ah, não! Meu celular descarregou! Eron, sabe se tem algum táxi lá embaixo?

— Não... Você não veio de carro?

— Não, eu não conseguiria dirigir depois do que houve.

— Entendo. ... Se quiser, te dou uma carona...

— Não, é melhor não.

— Niko, não custa nada! É só uma carona, como amigos...

— Eron, desculpa, mas... Não. Sei que você vai querer conversar, tentar me fazer pensar em outra coisa, mas, não vai dar, ok? Eu vou pedir a Patrícia para chamar um táxi, uber, qualquer coisa...

— Não precisa. Se não quer que eu mesmo te leve eu posso, pelo menos, chamar alguém para te levar. Espera só um minuto.

Ele começou a ligar para alguém e eu não o impedi. A verdade era que eu não estava com forças para nada.

Enquanto esperava o transporte, fui falar com a Pilar e os outros que haviam ido para a sala da presidência. Durante as horas em que esperávamos, eles decidiram como dar a notícia para a Paloma. Ela também estava lá agora com o marido, além de Jonathan que, obviamente, também estava muito abalado com o que havia acontecido com o pai.

— É... Pessoal, eu queria ficar aqui com vocês, mas preciso ver meus filhos em casa.

— Tudo bem, Niko. Pode ir tranquilo. – Dona Bernarda falou.

— Eu vou... Mas, tranquilo eu não consigo ficar. Não enquanto ele não acordar.

— Mantenha a fé, meu querido. – Nós nos abraçamos e ela me deixou chorar um pouquinho em seu ombro. Logo após ela enxugou minhas lágrimas e eu beijei suas mãos.

Depois que me despedi de todos, parti para casa no táxi que o Eron havia chamado.

Eu estava completamente sem forças e precisava chegar em casa para recarregar minhas energias com minhas duas pequenas grandes pilhas: meus filhos. Só ver o rostinho deles iria me trazer paz naquele momento.

...

Durante o trajeto para casa eu olhava para o céu pedindo respostas. Nunca fui de contestar os desígnios divinos, mas alguma coisa dessa vez me tirava o sossego. Parecia que o som terrível do acidente que eu havia ouvido pelo telefone ainda ecoava na minha mente, repetindo e repetindo, sem me deixar esquecer. Foi quando ocorreu algo que me deixou perplexo. O taxista, que até então ia calado, chamou minha atenção ao passar por um local onde ele reduziu a velocidade e comentou:

— Nessa curva tem havido muito acidente. Deveriam arrumar esse trecho da estrada. Hoje mesmo se acidentaram aqui.

— Hoje? Aqui?... – Vi o local. Havia marcas de pneus no chão. E o pior foi quando olhei para o horizonte e vi que de lá dava para avistar minha casa. Logo cheguei à conclusão: - F-Foi aqui! Então, foi aqui! – Falei comigo e pedi para descer ali mesmo.

— Me deixa aqui, por favor.

— Tem certeza, senhor?

— Tenho. Para, por favor.

— Eu só posso parar um pouquinho mais à frente. É só um instante. – Ele avançou mais uns metros e parou. Eu desci, paguei e corri de volta para o local do acidente.

Fiquei na beira da estrada olhando tudo ao meu redor. O som da batida do carro que não saía da minha cabeça me fez quase visualizar a cena como devia ter acontecido. Era como imaginar um filme de terror.

Vi pequenas marcas de sangue no asfalto. Era o sangue do Félix! Meu coração doeu. Levei uma mão ao peito sentindo aquela imensa dor e me virei para ir embora. Ao dar os primeiros passos percebi um objeto brilhante em um cantinho no chão. Antes mesmo de pegar o objeto eu soube do que se tratava e meu coração bateu mais forte...

... ...

Nós dois nos despedíamos dos meus pais já no aeroporto antes de eles viajarem. Em um instante em que fiquei sozinho com o Félix percebi que ele não parecia muito bem. Parecia meio triste, decepcionado, mas não quis lhe fazer perguntas enquanto meus pais estavam presentes, o Félix poderia não me contar o que realmente estava acontecendo.

— Já está tudo certo, filho. Vamos embarcar dentro de alguns minutos. – Minha mãe disse.

— Ah, eu já estou com saudades de vocês, sabia? – Dei-lhes mais um abraço.

— Você sempre sentimental, hein, garoto? – Meu pai comentou.

— Ah, pai, eu sou assim.

— Vem comigo, sua mãe quer conversar um pouco mais com o Félix.

Minha mãe reclamou. – Eu disse para chamá-lo discretamente, que coisa!

Eu ri. – Mãe, não precisam inventar desculpas, eu percebi que você adorou o Félix.

— Ah, para ser sincera eu adorei sim meu futuro genro. – Ela agarrou no braço do Félix. – Posso te chamar de genro, não posso? – Ela perguntou e vi que o Félix ficou meio sem saber o que dizer. E isso é bem difícil para ele.

— É... Ah... Bom... Pode.

— Mamãe, tá deixando ele sem graça!

— Não estou não, Nicolas. Vai, vai passear com seu pai que eu quero dar uma palavrinha com o Félix.

— Uma palavrinha? Vocês conversaram o tempo todo! Você falou mais com ele que comigo.

— Ah, mas olha só!... – Ela apertou minhas bochechas como se eu fosse uma criança. – Tá vendo, Félix, como ele é ciumento!

— Ah, é, ciumento sim. Já comprovei. Ela já fez até ceninha de ciúme comigo, fez a geniosa! – Félix riu concordando.

— Não diga! Niko! – Minha mãe falou como se estivesse reclamando comigo.

— Mas, mãe!... Eu não fiz nada demais...

— Deve ter feito sim, como se eu não te conhecesse. Tinha ciúme de mim, ciúme de suas irmãs, até ciúme do seu pai tinha. Mas, isso eu até gostava, sabe, Félix... – Ela virou pra ele. – Porque assim ele não deixava nenhuma mulherzinha se aproximar do pai dele.

Félix riu. Eu vi que ele estava se divertindo muito com a minha mãe, então, deixei-os conversando enquanto fiquei um pouco mais longe com meu pai. Ainda podíamos vê-los, mas não ouvir o que estavam falando.

Eles ficaram alguns minutos falando baixinho. Eu até estranhei já que o Félix e a minha mãe têm a voz estridente. Mas, eles conversavam discretamente e eu vi quando minha mãe pôs algo na mão dele. O Félix olhou para o objeto em sua mão, sorriu e... Colocou no dedo! Foi aí que eu percebi que minha mãe havia dado um anel para ele. Mas, que anel era esse?...

... ...

Agora eu sabia que anel era esse! Não era um anel qualquer... Era um anel de compromisso igual ao que minha mãe havia mandado fazer para meu pai quando se casaram.

Ela me dizia quando eu era mais jovem que aquele anel havia sido o objeto mais valioso que ela já havia tido, e que por ser de grande valor, ela daria um igual aos seus mais valiosos presentes na vida, seus filhos, porém, só quando estes encontrassem o amor verdadeiro como ela encontrou.

Emocionei-me. Pela primeira vez depois daquelas horas de agonia após o acidente, me emocionei com alegria. Minha mãe havia entregado ao Félix esse anel que para nossa família significava o amor verdadeiro, o encontro de almas gêmeas. Ela nunca havia dado esse anel a nenhum namorado meu, nem mesmo ao Eron com quem passei tantos anos. Mas, por algum motivo, ela sentiu que podia confiar no Félix a ponto de entregar um tesouro tão valioso.

Não era só o anel... Era eu.

Com aquele gesto minha mãe, meu pai, minha família me entregou ao Félix. Eles sabem o que o universo sabe!... Que somos feitos um para o outro. Que eu não vivo sem ele. E que, como o anel que simboliza a união, eu quero me unir ao Félix eternamente.

...

Fui andando para casa. Eram só alguns metros mais adiante. No caminho fiquei pensando angustiado em como o acidente havia sido tão perto. O Félix já estava quase chegando a minha casa quando tudo aconteceu. Talvez por isso o impacto tenha sido ainda maior em mim e por isso eu ainda estava tão assustado, apesar de mantendo a fé e a esperança.

Eu estava pensativo durante o caminho. Ao chegar em casa, peguei de novo o anel e, olhando para ele, fiz uma promessa.

— Félix... Quando você voltar para mim... Eu te devolverei esse anel junto com um pedido. Você já fez seus planos para nós... Você quer um lar, uma família, uma nova vida. E é isso que eu quero te dar. Quando você estiver de novo comigo, Félix... Eu vou te pedir em casamento. Porque eu não vivo sem você.

...

...

...

Enquanto isso, na casa de Pilar...

César, em seu quarto, não queria pensar no que estava acontecendo. Pelo menos, era o que tentava fazer... Sem muito sucesso. A televisão e o rádio eram inúteis para distraí-lo. Chegou uma hora que ele simplesmente abandonou as tentativas de distração e ficou com o silêncio.

E que silêncio mortal que estava naquela casa!

Memórias vieram à sua mente.

Tantas vezes ele mandou o filho se calar...

— Cala a boca, Félix!... Cala a boca, Félix!...

Para quê? Tudo para permanecer no seu precioso silêncio. Silêncio este que estava agora ecoando em seus ouvidos, estourando seus tímpanos, sufocando-o e acelerando seu coração como se fosse o mais ensurdecedor dos barulhos.

— O Félix sempre quebra o silêncio. – A vozinha que ele teimava em nunca ouvir acabou falando mais alto que ele.

O comentário saiu baixinho, quase um sussurro. Ou, quem sabe, uma súplica para que aquele silêncio fosse quebrado pela voz do filho. Mas, se tivesse mais alguém ali com ele teria ouvido, e provavelmente seria o próprio.

Mas, Félix não estava ali. Tampouco sua energia contagiante que César insistia em combater com um escudo de rancor... E, muitas vezes, também com uma espada de preconceito. A qual sua ignorância não deixava ver o quanto machucava o próprio filho.

Félix já sofreu com muitas feridas na alma. Algumas cicatrizaram, outras permaneciam abertas... Havia aquelas que ele mesmo abriu e outras tantas que a vida foi abrindo aos poucos. Feridas abertas e profundas que o levaram ao caos por tanto tempo.

Pensando nisso, César fazia o comparativo entre o Félix do passado e o do presente. Quanta diferença! Um ser que havia feito todas as escolhas erradas no passado saiu de casa com um único propósito: fazer a escolha mais certa. Escolher o amor.

... –“... Eu vou ser feliz! Entendeu? Eu vou ser feliz com o homem que amo. E não se preocupe que já que sou o filho que nunca quis ter, de agora em diante será como se nunca tivesse tido. Ouça-me pela última vez chamá-lo de papi soberano, porque essa é a última vez que me vê.”...

César não queria admitir, mas começou a temer que a ameaça de Félix se tornasse realidade. Que aquela tivesse sido a última vez que o viu, a última vez que o ouviu, a última vez que esteve com ele.

Por mais que lhe custasse admitir, César não estava suportando o peso da consciência e das dúvidas.

A dúvida se teria chance de conviver em paz com o filho uma vez que fosse...

A dúvida se Félix realmente cuidaria dele como dizia...

A dúvida se o que Félix sentia pelo tal namorado era mesmo amor...

A dúvida se ele mesmo teria ainda oportunidade e coragem para chamar Félix de filho...

A dúvida se Félix se salvaria depois desse acidente...

E a dúvida se aquele silêncio de morte seria, mais uma vez, quebrado pela voz de Félix.

...

...

...

No dia seguinte, no hospital...

Niko chegou depressa após receber a notícia de que Félix havia saído da UTI e já podia receber visitas.

— Ele acordou?

— Não, ainda não. – Lutero explicou. – Mas, está reagindo bem. Pode acordar a qualquer momento.

Niko finalmente sorriu com a feliz notícia. A família Khoury também comemorou e, um a um, foram entrando no quarto para vê-lo. A primeira foi Pilar.

— Meu filho!... – Ela, chorando, lhe deu um beijo na testa. – Acorda logo, meu amor. Eu preciso te ouvir me chamando de mami poderosa, hein? Você sabe que eu adoro isso. – Ela tentava sorrir em meio ao choro. – Volta pra a gente, filho. Todo mundo te ama e está todo mundo aqui só esperando você abrir esses olhinhos e... E esse sorriso... O sorriso mais lindo do mundo.

Após mais alguns minutos ela saiu e foi a vez de Bernarda.

— Oi, meu querido neto! Sou eu, sua avó. Ou como você prefere me chamar vovótrix. – A avó pegou na mão dele que estava livre, sem soro ou aparelho. – Eu acredito na sua recuperação, viu? E acredito que você está me escutando, então, se estiver, escute só... Tem muita gente lá fora querendo te ver. Gente que te ama, filho, que quer seu bem. Nunca duvide disso, viu? Lute pela vida.

Depois foi a vez de Jonathan.

Ao ver o pai rodeado de aparelhos e desacordado naquela cama de hospital, ele se assustou um pouco e titubeou em entrar, mas respirou fundo e foi até próximo dele. Não queria chegar perto demais, tinha medo de machucá-lo. Félix não tinha nada quebrado, o mais grave havia sido o traumatismo craniano, mas segundo os médicos ele se recuperava bem. O pior havia passado e agora era questão de tempo. O tempo poderia ser seu maior aliado ou seu maior inimigo.

Jonathan se aproximou o máximo que pôde e começou a falar.

— Pai... Eu não sei se você pode me ouvir, mas se puder quero que saiba que eu te amo e te admiro. Você foi para mim como diz a música “meu herói, meu bandido... E hoje é mais, muito mais que um amigo”... Hoje você é meu pai. Hoje você é meu pai mais do que nunca!... Eu recordo as vezes que você não me tratou muito bem e eu me perguntava o porquê desse seu jeito. Mas, hoje eu sei o porquê. E quer saber? Quem se importa?! O passado não importa, porque hoje e para sempre você nunca mais vai se sentir sozinho. Pai... Nós temos um ao outro e... Agora... Que a gente é bem mais que amigos, agora que você é meu pai de verdade... Eu não quero te perder. Não posso te perder. ... Acorda logo, vai. Volta pra gente.

Ao sair, Jonathan deu passagem a Niko.

O loiro respirou fundo e entrou. Da mesma maneira que Jonathan, Niko também se sensibilizou ao ver o homem que ama, outrora tão cheio de vida, deitado agora imóvel numa cama de hospital.

Mas, ele não se assustou com aquilo. Sua esperança era tanta que ele chegou mais perto de Félix como que guiado por uma força estranha e fez a única coisa que aquela força estranha lhe mandava fazer... O beijou.

...

...

Ao ver o Félix naquele estado eu não consegui pronunciar uma só palavra.

Minha voz emudeceu e deixei que meu coração falasse mais alto e agisse por mim.

Cheguei bem perto dele e, ao olhar para seu rosto, tive a impressão de estar vendo um príncipe. Ele estava tão lindo, apesar de tudo. Ao contrário do que eu imaginei nas últimas vinte e quatro horas, Félix não tinha nenhum hematoma no rosto. Sequer arranhão. Na minha visão ele estava apenas dormindo. Era o meu belo adormecido esperando ser acordado com um beijo de amor.

Foi o que fiz.

Eu não tinha o que lhe dizer senão o quanto o amava, o quanto o queria vivo e comigo. Então, deixei que apenas os meus lábios dissessem tudo no silêncio de um beijo.

Eu ainda estava com os lábios colados nos dele, sentindo sua respiração leve, quando percebi o ritmo do aparelho que media seus batimentos cardíacos aumentar. Abri os olhos e olhei para o aparelho que mostrava a sua frequência cardíaca aumentando gradativamente. Me dei conta de algo especial naquela hora... Ele estava consciente.

Sim! Só podia ser isso! O Félix tinha consciência do que acontecia ao seu redor. Ele podia ouvir, podia sentir... E sentiu meu beijo. Sentiu o contato dos meus lábios com os dele. Ele me sentiu aqui!... E, com isso, o coração dele bateu mais forte.

Como eu não poderia ficar feliz com isso?!

Comecei a rir sozinho, pois estava feliz! Eu tinha certeza, de todo coração, que o meu Félix acordaria e voltaria para mim.

Voltei a me aproximar dele e tentei falar alguma coisa ao seu ouvido. Mas, as únicas palavras que consegui formatar na minha mente foram: - Eu te amo.

Dei-lhe outro beijo bem de leve e fiquei olhando para ele... Para aquele rosto lindo... Procurando aquele sorriso que tanto amo e que não estava ali, mas eu tinha fé que veria novamente e muito em breve. Fechei os olhos e rezei. Pedi em oração para sua recuperação ser breve, pois eu precisava tomar aquele homem em meus braços outra vez e não largar nunca mais. Eu precisava fazê-lo meu marido, meu companheiro, meu amante e melhor amigo... Para o resto da minha vida.

Quando eu estava terminando a oração, alguém abriu a porta do quarto.

— Niko?...

— Paloma? Eu já preciso sair?

— Não, é só que... Não queriam que eu o visse nesse estado, mas... Eu quero muito vê-lo.

— É por causa da sua gravidez, Palominha. Ninguém quer que você passe mal de repente...

— Eu sei, Niko, e agradeço a preocupação de todos, mas acho que agora é hora de pensarmos mais no meu irmão.

— Sabe... Acho que ele está nos escutando. E deve fazer muito bem a ele te ouvir chamá-lo de irmão.

— Eu sempre o chamei assim...

— Mas, agora ele sabe o quanto ele ama a irmã que tem.

Vi que a Paloma estava muito emocionada e que ela precisava ficar um pouco a sós com o Félix também. Eu poderia passar todo o tempo possível aqui com ele, mas não era necessário. Algo me dizia que eu teria aquele homem por toda minha vida! Eu poderia deixá-lo agora.

Mais uma vez cheguei bem pertinho dele e sussurrei: - Eu te amo. Nunca se esqueça disso. Eu vou agora... Mas, eu vou voltar, viu? Eu sempre voltarei para você.

Dei-lhe por fim um beijo no rosto e o deixei com a Paloma. Saí daquele quarto com esperanças renovadas.

— Meu Félix vai voltar!

...