– Eu acho que vou lá com o Nicolas - Falei para Bia na hora da saída.

– Não! Olha eu estou querendo contar algo pra você que estou tentando falar desde hoje de manhã.

– Nossa quanto tempo.

– Mas é muito importante.

– Diga.

Bia estava com a expressão seria. Respirou fundo e colocou uma das mãos no me ombro esquerdo.

– Descobri que o Nicolas já... Traiu você.

Meu coração não aguentou. Desabou como um prédio; com tudo no chão. Uma facada bem forte no meu coração. Eu era um vidro, mas fui quebrada... Abaixei a cabeça e sem eu perceber uma lágrimas já havia rolado dos meus olhos. Comecei a chorar.

Bia me abraçou forte e confortou-me. Disse que esse era o Nicolas. Realmente ele não gostava de mim. E isso doía demais.

Voltei pra casa e ninguém me viu entrando. Subi as escadas lentamente. A cada passo é uma decisão. E eu estava levando ao pé da letra isso, porque eu também senti raiva... Eu confiei e essa confiança foi quebrada e me machuca mais ainda que não estamos juntos porque eu sei que ele não gosta de mim, ele não gostava... Eu estou arrependida. Chorei por algum tempo no meu quarto. Pensei, e pensei tanto até que dormi.

– Julie? - Falou alguém me remexendo.

– Que é? - Respondi morrendo de sono.

– Julie! - Falou novamente, mas agora em um tom mais alto.

Me remexi até que sentei esfregando meu olhos. Quando dei de cara com Felix e levando um susto.

– Ah! Não me dê um susto desse! - Gritei.

– Desculpa! Mas você sabe...

– Ordens da parte do Daniel.

Felix se sentou na minha cama e eu abaixei a cabeça.

– O que é agora? - Perguntei.

– Você tem que falar com seu pai.

– Não quero. Não hoje e nem agora.

– Desculpa mas tem que ser. Mas o que houve?

– Estou passando por alguns problemas e não estou em condições de ser social com ninguém,

– E eu? Por que está falando comigo?

– Você é um fantasma!

– Mas eu estou aqui na sua frente. Sou real queira ou não.

Um silencio ocorreu entre nós. Até que Felix falou:

– Sei que Daniel é um total cabeça dura. Que não é legal ficar ameaçando sua família. Mas se quiser falar o que está te chateando pra mim prometo não contar pra ele sem sua permissão.

Pensei por um momento. A única coisa que fiz com a Bia foi chorar, mas não que ela fosse uma mal amiga. Mas e Felix? Realmente agora ele está sendo legal. E depois? Esse olhar sincero pode não ser tão sincero. Mas também é um fantasma, e se fantasma existem então também pessoas boas existem. É difícil encontrar, mas existem.

– Meu ex.

– Ex-namorado, esse sim é um assunto complicado.

– É e dói demais o que estou sentindo. Apenas isso, não quero mais falar nisso.

– Tudo bem.

– Você não acha certo o que o Daniel está fazendo, então porque está o ajudando?

– Julie, ele está preso há muito tempo. E já era um plano tentar se comunicar com você. Mas não dessa forma. E já que Daniel começou, se parar e pedir de um forma quase justa, você diria não. Somos fantasmas e Daniel pra completar complica as coisas.

Pensei um pouco e realmente, eles não podiam mais parar. Por que que fantasma tem que existir? Mas eu não queria sofrer isso.. Apenas existem! Fantasma existe!

– Vou falar com o Daniel - Falei determinada.

Pra conseguir o que se quer, tem que ter determinação, respeito...

Entrei no porão e olhei ao meu redor. Um local onde um fantasma vive preso. Como deve ser ficar preso por aqui por muito tempo? Sentei em uma cadeira e lá achei um papel e um lápis.

– Quem estava usando isso?

Virei a página e lá havia um pequeno paragrafo.

Se eu posso mudar

Não posso ficar parado

Se eu posso mudar

Não vou ficar calado

Se eu quero mudar

Eu vou lutar

Se eu quero algo que vale a pena

Então pode ter a certeza

Eu não vou desistir


Fiquei um pouco paralisada com o paragrafo.. Na verdade parecia uma estrofe. Música? Podia ser. Quem escreveu? Daniel... Só pode ser ele.


– O que está fazendo com isso? - Falou Daniel arrancando o papel de mim.

Quando dei de cara com Daniel vi uma pessoa... Quer dizer um fantasma um pouco diferente. Pra quem escreveu... Não! Ainda é o Daniel!

– Desculpa. - Falei.

– Hum. Então Julie, diga, quando vai falar com seu pai?

– Não hoje.

– Nem amanha e nem nunca não é?

Sabia, ainda é o Daniel. Mas quando a gente quer mudar as coisas não desistimos, podemos lutar. Tá ele escreve coisas legais.

– Daniel, as coisas sabe - respirei um pouco e continuei - podem ter outro rumo.

Daniel me encarou. Ergui minha cabeça, levantei e fui na direção dele. Continuei.

– Podem mudar. Você quer sair daqui... É difícil falar isso. Mas posso ajudar, só quero que não faça mal a minha família. Sei que quem faz as chantagem é você. Não foi justo você ser aprisionada aqui, assim como não é justo você me prender as suas palavras ameaçadoras - Respirei fundo quase sem ar. Nem acreditei que eu falara isso.

– Então está me dizendo que vai me ajudar por nada?

– Por nada, também não. Você não está aqui há muito tempo. Pra mim seria muito chato ficar aqui e tedioso sem poder viver , sem poder se sentir livre. - Daniel pareceu se prender as minhas palavras.

– Não é fácil.

– Pensa. Eu terminei com o meu namorado e descobri algo horrível. Hoje não vou falar com meu pai a respeito disso do plano e tal. Mas vou falar.

Eu ia saindo quando ele pronunciou um certo nome que eu não queria ouvir.

– Nicolas?

Virei de frente para Daniel.

– Você gosta dele Julie?

– Como sabe?

– Tenho minhas fontes.

– Investiga a minha vida?

– Sei o que é necessário para te obrigar a fazer o que quero.

– Me assusta quando fala assim.

Me aproximei mais ficando a pouca distancia dele, e o encarei.

– Isso não é legal.

– Está vendo, agora não vai querer seguir com o plano.

– Daniel você acha ruim as pessoas mudarem? Acha ruim elas fazerem o bem?

– Nesse mundo horrível? Pessoas boas é que falta.

– Não diga que não tem pessoas boas quando você não está sendo.

– E o que eu devo fazer. Pedir delicadamente...

– Pedi desculpas! Agora! - Berrei.

– O quê?

– Você acha que pode falar essas coisa e investigar a minha vida! Você é injusto!

Saí do porão revoltada, chateada. Como poderia agir logo um fantasma assim comigo?! Passei um bom tempo pensando naquilo. Mas eu estava certa e ele errada, não tinha no que pensar. Merecia ele um a chance? Só perguntar algo pra ele?

Peguei meu caderno de música e procurei a mais recente. Uma que só tinha o titulo. Irritada escrevi.

Impossível


Quem sabe essa história esteja bastante confusa para você


E só eu sei como está sendo pra mim

Somos vidas diferentes

Quem sabe inexistentes

Pra mim

Mas é real



Simplesmente parou ali. A inspiração foi embora e ficou naquela estrofe. Mas é real... Realidade.



No outro dia depois que cheguei a escola eu tive que ir ao porão. Daniel precisava de mim mais do que pra sair daquele lugar.

– Daniel? - Chamei e de repente ele apareceu triste.

– Oi Julie - A voz dele suava triste e sem vida.

– Poxa parece que está sem vida.

– Sério?

Olhei ele da cabeça aos pés.

– Então pensou?

– Pensei.

Daniel chegou mais perto e ficou em uma proximidade absurda. Muito perto.

– Fala - Exigi.

– Se quiser me deixar preso aqui, pode fazer isso. Mas não vou obriga-lá.

Soltei um sorriso vitorioso. Mas eu sabia que eu ia ajuda-lo. Só que ele não.

– Pode ficar rindo de mim.

Daniel ia se virando quando peguei a mão dele.. E aquilo foi físico, real.

– Não! Eu vou ajuda-ló!

Senti a expressão de Daniel mudar. Primeiro foi de surpresa.

– Como?

– Vou ajudar você!

Depois ele abriu um sorriso, e foi bom ver ele sorrir. Sem pensar ele me deu um abraço contente.

– Obrigado.

– De nada.

– Você está sendo boa comigo. E existe você Julie.

Saímos do abraço e olhei nos olhos do Daniel. E vi algo diferente e meu coração sentiu pela primeira vez conforto com ele. Mas era apenas aquilo... Ou não.

– Desculpa pelo abraço. - ele falou

Eu ia indo embora quando virei e disse.

– Daniel, eu fico feliz que você seja real.