–Vamos! O avião já vai partir! -gritava Bia.



Estávamos correndo pela sala de embarque procurando pelo portão 15 onde nosso voo seria efetuado.


Entramos na aeronave um pouco antes das portas se fecharem. A equipe do estúdio não tinha gostado da nossa demora. Por sorte Clair tinha pegado o voo da manhã e não estava lá para nos dar uma bronca.


Afivelei o cinto e me voltei para a paisagem que era deixada enquanto o avião se movimentava. Peguei meus fones de ouvido e o livro que sempre deixo na bolsa. Eu não queria pensar em mais nada.



–Signore e signori, benvenuti alla città di Roma -disse a voz do comissário de bordo.



Me levantei do assento e desci até o saguão do Aeroporto Internacional de Roma - Leonardo da Vinci, também conhecido como Aeroporto Fiumicin. O lugar estava cheio de gente. Pegamos um táxi que iria nos levar até o hotel.



–Meu Deus! Olha pra esse lugar, tudo parece tão histórico -falava Isabelle maravilhada com a vista de Roma.

–Parece que estamos dentro de um quadro -disse Bia igualmente maravilhada.



Nosso quarto era enorme e a equipe do Sr. Drizzo fez questão de nos deixar em uma suíte presidencial em um dos melhores hotéis da cidade.


Pra felicidade das minhas amigas encantadas, o quarto dos outros modelos também não era muito longe. Vi Scott segurando uma mochila e pegando o cartão de seu quarto.



–Oi, fez um bom voo?

–Fiz sim. Estou até acostumada com o barulho do avião decolando.

–Haha viajar demais dá nisso. Qual é o número do teu quarto?

–483 e o seu?

–489. Ficamos no mesmo andar.



O hotel era tão chic que havia somente 10 quartos por andar e todos bem decorados com vários quadros e uma arquitetura renascentista impecável.


Pensei comigo mesma, nesse hotel acho que nem o Bill esteve. Ri ao me lembrar do sorriso de meu namorado. O fuso horário também não me deixou ligar pra ele em um momento de saudade repentina.



–Carol, quero que você conheça a Cicilia -disse Scott me apresentando para um garota um pouco mais baixa que ele com longos cabelos pretos e olhos azuis.

–Olá, muito prazer.

–O prazer é meu. Scott falou muito de você. Vai ser uma honra trabalhar com alguém tão experiente que já trabalhou pela Europa inteira.

–Obrigada e eu digo o mesmo -falei um pouco envergonhada.



Descemos todos juntos até o andar onde também acontecia o café-da-manhã e nos sentamos para jantar e ouvir o comunicado de Sr.Drizzo. Havia cerca de 30 modelos no salão dentre eles, muitos muito famosos.



–Amiga, isso é o paraíso -suspirava Bia.



Em nossa mesa se sentaram mais três meninos. Eu já vira um ou outro em algum desfile. A equipe se pronunciava avisando o local e o horário das sessões de fotos. Teríamos também um desfile organizado pela estilista Tifany Pisanello.


Para minha surpresa, uma mulher alta me reconheceu e veio até a mesa.



–Boa noite, não sabia que iria te encontrar por aqui Srta. Manfredini.

–Oi, você é a Miranda certo?

–Isso mesmo. Naquele dia na festa, você disse que sua agente estava programando novos trabalhos em Nova York. O que te trouxe tão rápido pra Roma?

–Um pedido do Sr. Timorty Drizzo.

–Aquele cara é louco, mas nunca vi um fotógrafo com tantos prêmios na Itália. Eu estou aqui para prestigiar o desfile de minha amiga Tifany. Ela me ligou em Los Angeles dizendo que estava promovendo um novo desfile e eu não poderia deixar de ir.

–É eu não esperava o desfile, mas estarei lá na sexta.

–Vou estar na primeira fila se quiser conversar depois. Agora eu tenho que ir querida. Bom trabalho!



Miranda Bristol passou por mim desejando uma sorte que apesar da experiência, eu iria precisar. Voltei pro quarto e tratei de descansar. O dia amanhã seria bem puxado e começaria cedo.



–Isa, você vai subir pro quarto também?

–Não sei Bia. Quer ir ao saguão de entrada ver se tem alguma coisa?

–Leu minha mente. Tomara que tenha algum modelo fazendo uma festa.



As duas jovens agitadas foram até o andar da entrada e se sentaram em um bar que ficava nos arredores da recepção. Elas não estavam sozinhas. Pediram suas bebidas, mas lembraram da amiga que dormia no quarto e não iriam entrar em nenhuma confusão.


Dois garotos com perfil de modelo e sotaque europeu se aproximaram e cumprimentaram as duas garotas brasileiras que compreendiam somente inglês.



–Oi, de onde vocês são?

–Brasil e vocês?

–Finlândia. Viemos pra Roma por causa do desfile. Modelos?

–Não, a gente veio com a nossa amiga. Ela sim, é modelo -explicou Isabelle e o jovem de cabelos loiros e olhos de um castanho brilhante se sentou ao seu lado.



A conversa dos quatro variava entre banda favorita e a melhor festa que já foram. Eles estavam se divertindo. Bia era de fato a mais falante. Os dois garotos da Finlândia também conversavam com simpatia.



–Você ter namorado? -perguntou o mesmo menino dos olhos brilhantes para Isabelle.

–Eu, não. Você tem namorada?

–Eu ter a algum tempo. Ela me lembra você -ele tentava dizer em um inglês não tão aperfeiçoado mas compreensível.

–Vocês terminaram há pouco tempo? Por quê?

–Eu e ela sermos diferentes. Terminamos semana passada.

–Acho que entendo.

–Ela lembrar você. Desculpe, ela lem...bra você -ele disse tentando se corrigir.

–Em que sentido?

–Roupas, voz, o jeito de conversar... Seu sorriso é mais bonito que o dela. Você é bonita -ele dizia tomando cuidado com a fala e parecia gostar de Isabelle.

–Obrigada.



Estava ficando um pouco tarde. Bia e o outro garoto tinham se dado tão bem que pularam a parte de se conhecer melhor. Quando Isa deu por si, Bia e Trentinno já estavam se beijando. Ela olhou para Perseu um pouco envergonhada e continuou a conversa de forma indiferente ignorando qualquer sentimento e aproximação do lindo garoto de olhos brilhantes.



–Bia, vamos subir?

–É, acho melhor.

–Trentinno, foi um prazer, você beija muito bem, mas foi suficiente para uma noite só.

–O mesmo para você Bia. Ciau!

Ciau, Isa... -tentou dizer Perseu antes de irem embora.



As duas garotas entraram silenciosamente pelo quarto sem acordar a amiga que dormia na cama ao lado. A noite de Bia tinha sido perfeita. Ela não tinha problemas com romances de uma noite só. Trentinno e ela depois disso, seriam apenas amigos.



–E então Isa? O Perseu beija bem?

–Eu não sei. Não fiquei com ele.

–Por que não? Ele é até mais gato que o Trentinno.

–Ele é bonito, mas... não quero nada com ele. Não estou no clima pra isso. E outra, não sei lidar com esse tipo de coisa de só uma noite e acabou.

–Tudo bem, mas eu falei o número do quarto caso mude de ideia.



Isabelle ignorou. Ela havia rejeitado Perseu. Ele deu sinais de que precisava de companhia e deu em cima de Isa, mas, algo a afetara. Não seria capaz de se apaixonar. Sua mente pensava em outro. Outro sentimento e outra preocupação. Ela desejava que tudo estivesse bem. Outro garoto precisava mais de sua ajuda naquele momento.


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Solitário depois de mais uma noite de festa, Luca foi para a varanda. A garota do seu lado agarrava seu braço e forçava mais um beijo.



–Sabrina, foi mal. Eu estou cansado. É melhor outra hora.

–Luca, ontem você disse a mesma coisa. Está mesmo dizendo não pra mim?



Luca olhou para Sabrina. Ele até tinha desejo por ela, mas não passaria disso. A garota se oferecia de tal forma que Luca preferiu se afastar. Em poucos minutos ela já estava dançando ao lado de outro cara. Ele nem se importou.


O silêncio o incomodava. Ele precisava de alguém para conversar, ouvir... Tudo estava confuso. Ele não era mais o melhor jogador do time e ia a uma festa diferente por noite. Bebia com mais frequência e apresentava sintomas de carência.



–Preciso de ajuda -repetia ele em sua mente.

–Minha irmã não pode namorar aquele idiota, ele vai destruir nossa família...



"Quando você amar alguém de verdade vai entender Luca"



De repente, Luca se lembrou das palavras da amiga da sua irmã. E ele queria. Queria entender.


–Preciso de ajuda -pensou novamente.


O garoto foi para casa e tentou dormir. Uma falsa presença o reconfortou e uma voz alimentava a esperança de que tudo ficaria bem. Ele precisava de ajuda. Precisava dela.