– tenho uma pergunta- eu disse enquanto andávamos abraçados de volta para o bar

Ele riu e me olhou

–você é muito curiosa senhorita

–por favooorrrr

Ele revirou os olhos

– o que?

Eu corei e olhei para baixo por alguns segundos

– por que eu? Por que naquele dia?

#flashbackon #

Pov Ian

Tinha acordado tarde aquele dia, tinha sonhado com ela... de novo. Esses sonhos têm me atormentado ultimamente eu sabia que uma hora ou outra eu tinha que fazer alguma coisa à respeito.

Seus olhos, seu cabelo, seu rosto, cada sarda que continha em seu rosto.... à cada sonho uma nova característica era adicionada as coisas que me chamavam atenção nela. E isso estava me deixando louco.

Todo dia ter que vê-la ao longe conversando e rindo sem poder me aproximar sem um motivo real.

Como levantei mais tarde cheguei um pouco mais tarde do que o usual na escola, Kyle sempre ia com os caras do futebol pra escola e eu ia com o carro, não gostava muito daquele barulho todo que faziam quando chegavam, minha mãe nunca me acordava, ela dizia que eu tinha que me acostumar a acordar sozinho desde agora porque no futuro eu vou virar um homem adulto e ela não vai estar lá pra me acordar e blábláblá

O estacionamento estava vazio, todos já tinham entrado. Dei uma olhada ao redor enquanto retirava o óculos escuro e colocava a jaqueta até que vi um ponto loiro se mexendo.

Franzi a testa e me aproximei lentamente e parei quando a reconheci. Observei a cena: Ela estava tentando tirar a mochila do banco de trás, a mochila parecia pesar toneladas perto dela, seu rosto estava todo vermelho e um pouco suado, até que ela parou de tentar puxar e encarou a mochila. Continuei quieto de onde estava.

– Ah! Então você está deixando isso pessoal, é isso mesmo? – ela disse arregaçando as mangas do fino casaco e tentou puxar de novo para seus braços e desistiu deixando a cabeça cair e resmungou alguma coisa e me aproximei mais para poder ouvir- .... ah Peg, quer ajuda? Não está muito pesado pra você, está? – ela disse em um falsete- não, não, gente podem ir, está tudo sob controle – ela disse com a voz um pouco mais grossa e começou a bater a cabeça na porta e eu não pude conter minha risada.

Ela olhou pra cima na minha direção e assim que me viu começou a corar

–não sabia que falava sozinha Peregrina- eu disse me aproximando e abrindo um sorriso

Ela corou ainda mais e olhou para a mochila em seus pés

–n-não sabia que tinha mais alguém aqui

Ignorei seu comentário e olhei para onde ela estava olhando

–parece que precisa de ajuda

Ela olhou pra mim e seus olhos brilharam com a luz do Sol

Ah.

Soltei a respiração, Ah.

–hmm- ela disse chutando uma pedra invisível e eu acordei

– é assim todos os dias? – me aproximei mais um pouco e ela se afastou pensando por um instante

– talvez?

Eu sorri e me aproximei mais um pouco me abaixando para pegar a mochila

–o que carrega aqui? Tijolos?

– não precisa fazer isso

– você vai chegar atrasada pra aula – disse a ignorando de novo

– você também – ela disse enquanto trancava o carro e apressava o passo ao meu lado

– tenho certeza que você liga muito mais pra isso do que eu

Disse entrando na escola e virando para o corredor

– como sabe qual a minha aula agora?

A olhei com as sobrancelhas franzidas

– fazemos os primeiros horários juntos, Peregrina

Ela parou por um instante arregalando os olhos e depois continuou a me seguir.

Não sei se deveria me sentir ofendido, mas me senti. Inclusive me senti quase como um inseto. Ela nem se deu ao trabalho de perceber a minha existência.

Ainda um pouco chateado, parei na frente da sala e dei a mochila de volta para ela

– obrigada- ela disse pegando e deixando o objeto cair no chão

–disponha –eu disse sério e abri a porta da sala com um pouco de raiva – oi, professor, licença- disse indo para o outro lado da sala, onde sempre me sentava e não consegui mais prestar atenção em nada.

Não sei porque estou puto. Realmente não sei. Nunca me senti tão ignorável e insignificante na vida. Ela pelo menos lembra que costumávamos brincar quando crianças? Qual é o problema dela a final? Ela parecia zangada por eu estar ajudando mas ao mesmo tempo aliviada, seu semblante um pouco confuso a toda hora finalmente me fizeram sentido. Ela não fazia ideia de quem eu era e enquanto isso, minha mente se fazia obcecada por... bem, tudo dela.

Talvez eu pudesse me aproximar através do namorado daquela amiga irritadinha dela, Jared, ele estava no time de futebol e era um dos atacantes, Treinador Jeb colocou ele como capitão depois que eu e Kyle tivemos uma discussão sobre quem seria melhor. Ele nunca tentou se aproximar muito dos caras, mas tenho que admitir que ele é bom em estratégias, o time dele nunca perdia quando fazíamos peladas.

Planos e mais planos passaram pela minha cabeça, desde a uma casual topada nas escadas à simplesmente chegar como um doido e dizer Oi. Resolvi deixar as maluquices de lado quando o sinal tocou e fui para meu armário.

– e ai, cara- Brandt disse se aproximando e abrindo seu armário que ficava do lado do meu- que foi? Ficou até tarde vendo as ladies no pc?

– que? Cara, eu não sou desesperado como você- eu disse pegando os livros e fechando o armário

–arrumei um par pro baile

Olhei para ele com as sobrancelhas erguidas

–é sério, ela ainda não sabe, mas ta tudo nos esquema. Nós vamos nos encontrar acidentalmente na biblioteca...

– que você super frequenta...

– e ai vamos pegar no mesmo livro ao mesmo tempo

– bem natural

–e ai.... – ele disse fechando os olhos

Ergui uma sobrancelha

–BUM!

Eu ri

– o que?

– dai a gente se casa, cara. Temos dois filhos, dois meninos e vivemos felizes para sempre.

– tudo no esquema?

Ele sorriu

–tudo no esquema

– não acha que está muito cedo pra pensar no baile?

Ele pôs o braço na minha frente me parando e me olhou sério em um suspense

– nunca diga que é cedo ou tarde demais para o baile

Revirei os olhos

#6mesesdepois

Eu havia criado uma rotina.

Todos os dias acordava mais tarde que os outros e a encontrava antes da primeira aula. Foi o melhor jeito que achei de pelo menos falar com ela. Falávamos pouco, é verdade, mas era o suficiente para perceber algumas coisas .

Ela sabia meu nome e ela sabia que nós fizéramos o jardim de infância juntos. Fim. Essas cruas informações compunham tudo que ela sabia sobre mim e isso era irritante. Eu queria que ela soubesse mais de mim e eu queria desesperadamente saber mais dela. Eu queria parar de sonhar com ela todos os dias, mas não sabia como.

Agora sua voz mais do que nunca se faziam presentes nas noites

Eu sempre queria fazer-lhe rir mas seu senso de humor era um pouco mais difícil e complicado que todas as outras garotas que conheci, principalmente a Sharon que ria até se eu falasse um Oi.

Então os dias foram-se passando e eu já tinha me acostumado a essa rotina, gostava de vê-la irritadiça e adora ver como seus olhos brilhavam no Sol.

Até que teve esse dia, eu estava a observando de longe de novo no almoço, ela estava vermelha, era engraçado vê-la vermelha... principalmente quando... quando.. ela está na presença de Jared.

A compreensão me veio tão rápido quanto o sentimento de pena e raiva, raiva de mim mesmo. Ela tinha uma paixão secreta pelo namorado da amiga e eu fui idiota o suficiente para achar que pelo menos mexia com ela.

Olhei ao redor, o time fazia o costumeiro barulho de sempre e ninguém prestava atenção em mim, e eu não sei porque, eu simplesmente... me levantei e fui em sua direção.

#flashbackoff#

Ele me olhou por longos segundos e depois suspirou e abaixou a cabeça

–me deixa te contar essa parte depois, por favor.

Eu ri de sua expressão

– não vai escapar tão cedo de minhas perguntas O’shea

Ele sorriu de lado

–por favor

Não tinha percebido que tínhamos passado tanto tempo longe, a festa estava uma loucura

– Ian, por onde andou? Estávamos te procurando, vamos tirar uma foto com nosso heróis- Brandt disse batendo no ombro do Ian até que olhou pra mim de olhos cerrados – veja só quem temos aqui, prazer Brandt – ele disse beijando minha mão

Ian se colocou na frente dele

–mais tarde Brandt, deixa ela em paz, depois conversamos

Kyle de repente apareceu empurrando todo mundo pro lado, estava com um copo com o que provavelmente era cerveja

– ai está meu irmãozinho com a menina quem tem deixado ele tão distraído, estou certo? – Kyle se aproximou colocando os braços ao redor de mim e Ian o empurrou

–Cai fora Kyle

–Ian, vem logo cara, por onde você andou a noite toda? – Aaron gritava

Todos eles estavam com um copo de cerveja na mão e gritavam uns com os outros, a maioria eram muito mais velhos que todos nós, mas uma boa quantidade de pessoas não tinha nem idade para tomar álcool

Puxei a camisa de Ian e ele se abaixou

–Eu vou ligar pra Mel lá fora, faz o que você tem que fazer, ok?

Ele assentiu e eu fui indo sem antes receber uns gritos dos meninos bêbados

Tentei ligar para a Melanie várias vezes, já estava tarde demais, eu tinha que voltar pra casa logo. Estava sentada no banco um pouco distante da bagunça até que a vi ao longe, meio caída caminhando com Jared ao lado que sorria também bêbado. Corri até eles

–Mel, vem, temos que ir.

–aaah, tão cedo?

Revirei os olhos

–Jared, você tem quem te levar pra casa?

Ele riu ainda com um sorriso bobo nos lábios

–Combinei com o Ian, depois eu encontro ele , qualquer coisa vou de taxi

–ta certo, então. Mel, vamos já estou cansada desse lugar

Mel cerrou os olhos e olhou pra mim

–para de ser tão chata, Peg.

–Não, Mel, vamos pra casa agora

–argh, porque você sempre tem que ser tão.. taãoo...

Olhei para ela emburrada

– tão o que Melanie? Responsável? Consciente dos meus atos? Pois é, vamos- eu disse puxando seu pulso e ela bufou puxando o braço da minha mão facilmente

–Posso PELO MENOS me despedir do MEU namorado? – ela disse se virando para Jared sorrindo- ou você vai ficar com ciuminho como nas outras vezes?

Corei e a raiva tomou conta de mim, dei um passo para frente com os pulsos cerrados

– no carro, dez minutos – disse me virando e pisando forte

Estava no meu caminho para o carro, estava muito irritada, muito irritada mesmo, com aqueles meninos, com a Melanie e com todo mundo subitamente me tratando mal, é exatamente por isso que não frequento festas, é por isso que não queria me relacionar com ninguém, por que me desgastar tanto? Por que? Não estou bem sozinha ? As lagrimas começaram a surgir quando uma voz me chamou, Ian .

–Peg? Achou a Mel? Desculpe ter que fazer você passar por aquilo, eles são uns idiotas

–é Ian, mas são os seus idiota não são? – falei parando e me virando pra ele

–Peg? Está chorando? Me desculpa eu não queria que aquilo acontecesse, é exatamente por isso que me afastei de todos eles

– e é exatamente por isso que não frequento esses lugares! Olha só pra mim pelo amor de Deus, eu indo pra um jogo e depois para um bar, UM BAR. Todo mundo já me trata como uma criança, e eu realmente sou fraca e sei que não sou adulta mas ME colocar em perigo por outra pessoa? – gritei – não, não faço mais isso , nem que seja pela Melanie -eu disse com as lágrimas caindo no meu rosto

Ian se aproximou me puxando pelos braços e me virando

–Me desculpa, me desculpa mesmo, por favor não chore – ele disse se aproximando cada vez mais, eu solucei e fiquei encarando o chão enquanto tremia- por favor- ele disse me abraçando- por favor, pare de tremer

Então eu retribui o abraço e fiquei atada a ele por um tempo até me acalmar, me afaste e vi a Mel se aproximando

–e-eu tenho que ir... – disse me afastando mais ainda e entrando no carro e Mel entrava colocando o cinto. Ela estava com profundas olheiras, seu cabelo todo bagunçado e tinha algumas marcas de chupões no pescoço. Fiquei com ânsia de vômito

Ela estava com uma cara emburrada, não demorou muito para que falasse

– é, eu sempre soube do segredinho

–Melanie, você está bêbada, não está pensando direito e..

–você ainda gosta dele não é? Dá pra perceber Peg, não minta pra mim, eu te conheço

Segurei o volante com mais força

–e-eu- respirei fundo- não queria que se sentisse culpada ou algo do tipo

–você mentiu pra mim. – ela cuspiu

–m-mas...- gaguejei

– Ah, e só pra acelerar o processo de você se tocar com o que há de errado comigo, o Treinador Jeb é meu tio, e eu não queria que minha família começasse a me treinar de novo, você sabe como é ridiculamente chato e obsessivo esse negocio de esporte na minha família e eu não queria passar pelo mesmo estresse que meu pai passou quando era mais novo com o Tio Jeb...

– Mel....

– Então eu falei com ele e é é, eu vou participar do time. É. Legal. Agora cala a boca e fica com seus mimi pra você que eu não to com paciência

E com isso, fomos em silêncio durante o caminho enquanto mais lágrimas caiam do meu rosto... e tão rápido como tudo isso começou, aquilo aconteceu. Melanie estava cochilando com a cabeça pendendo e acordou subitamente enjoada vomitando por todo o carro, por alguns segundos eu tirei os olhos da estrada, e quando voltei, um carro vinha em alta velocidade em nossa direção. Então... de repente tudo ficou preto...

Tudo que conseguia capitar eram barulhos e algumas imagens borradas. Uma Melanie ensanguentada, o branco do airbag, vidros estilhaçados então... então, por fim, apaguei de vez.