Mais lindo que a Lua

O passeio e Christopher Morgan


P.O.V. Marie.

Mesmo lugar, muito tempo depois. Viemos parar na mansão Hollingwood.

—A Mansão Hollingwood. Á quanto tempo.

O passeio iria começar quando eu o vi. Eu reconheceria aqueles olhos azuis em qualquer lugar. Ele estava sem óculos, usava uma roupa clássica, um sobretudo e por baixo uma blusa preta.

—Já não era sem tempo.

—A senhorita já esteve na mansão Hollingwood?

—Já. Mesmo lugar, muito tempo depois.

—O que isso quer dizer?

—Nada.

O passeio começou e eu comecei a reconhecer as pessoas retratadas.

—E esse é Lorde Neville Hollingwood.

—Neville?! Aquele pirralho peste, cria do diabo... virou esse homem maravilhoso?!

—O que?

—Nada. Desculpe.

—Como eu dizia...

A professora continuou e eu vi o livro.

—Filho da mãe.

—Senhorita...

Eu a ignorei e puxei o livro abrindo a passagem.

—Nossa! Nós nunca descobrimos essa passagem. O que será que há do outro lado?

—Um jardim.

—Como pode saber?

—Mesmo lugar, muito tempo depois.

Eu disse entrando na escuridão da passagem. Eu já conhecia o caminho de cor. Logo eu estava no jardim, mas a porta estava trancada.

A guia do museu trouxe os alunos pela passagem.

—É mesmo um jardim.

—Como eu disse. Espero que ainda esteja no mesmo lugar.

Me deitei no chão e passei o meu braço pelo espaço que havia entre a porta e o chão. E eu senti a chave.

—Ah, Neville, seu diabinho.

Eu peguei a chave e abri a porta. O balanço ainda estava pendurado na árvore, bom o que sobrou dele. Mas, a árvore ainda estava firme e forte.

—É lindo.

—Cuidado onde pisa. Lady Hollingwood era paranoica.

—O que?

Um dos alunos pisou numa das armadilhas.

—Flecha!

Eu peguei a flecha antes que perfurasse o crânio do garoto.

—Esse lugar é cheio de armadilhas.

P.O.V. Chris.

Então, ela começou a cantar e a bater palmas conforme o ritmo da música. Era uma música infantil.

—Se está em depressão, mais baixo do que o chão e sente que você não tem mais chance... pra chegar na trilha ouça o guru e vai dançar igual ao Peter Panda. Pule três vezes como um canguru, dois passinhos pro lado como o caranguejo anda. Três passos pra frente e um pra trás, agora deite de costas como a tartaruga faz.

Ela estava passando por todas as armadilhas. Evitando-as.

—Role como um tronco até ficar bem cansadão, pule rapidinho como se não tivesse chão, tape o nariz, pule pra esquerda. E essa é a dança, a dança do Peter Panda!

—Você...

—Evitei as armadilhas. Nós colocamos na música uma maneira de evitar as armadilhas sem a Lady Hollingwood saber.

—Lady Hollingwood? Laura Hollingwood?

—A própria. O Neville era um peste, mas depois do acontecido no baile... acho que ele aprendeu.

—Você não pode ter conhecido Neville e Laura Hollingwood.

—E porque não?

—Eles viveram na era vitoriana!

—Eu sei. Neville era um mimado.

—Assim você me ofende.

—O que?

—Sou eu. Little witch.

—Neville?! Espera, o Christopher Morgan é na verdade o Neville Hollingwood?!

—Depois que você e a sua mãe simplesmente sumiram eu fiquei deveras intrigado, mas o conselho da sua mãe me serviu muito bem. Acho que depois de ter que fazer a minha própria comida e ficar sem roupas limpas por meses, eu aprendi o quanto é dura a vida de um criado.

—Como você chegou aqui?

—Alguns anos depois da partida de vocês, eu contraí uma terrível doença e um homem me encontrou, morrendo de varíola. Seu nome era Marcus.

—Marcus Corvinus?

—Sim. Você o conhece?

—Não. Mas, já ouvi falar.

—Ele me alimentou com o seu sangue e quebrou meu pescoço.

—Ele te transformou. Você afogou a minha mãe?!

—Não! Victória morreu afogada?!

—Não exatamente.

—Por mais que eu fosse como você chamou, um pirralho, peste, cria do diabo. Eu era tão ruim assim?

—Não. Você era pior.

Eu ri.

—Acho que eu mereço. Mas, por mais que eu fosse mimado e metido eu... adorava a sua mãe com todo o meu coração infantil. Eu tinha ciúmes de você.

—É. E por isso, você prendeu a minha mãe no labirinto e fez ela levar a culpa de um monte de coisa. Peste.

Ela me deu um empurrãozinho.

—Eu procurei por vocês por todos os lugares, mas eu não encontrei. Então, eu esperei. Sabia que a sua mãe tinha nascido na América por isso depois que o meu criador me criou eu vim pra cá e deixei um criado no meu lugar.

—Caramba!

—Quando Marcus me transformou ele não fazia a menor ideia do que estava criando.

Nós estávamos conversando, nós sentamos no chão do jardim completamente alheios á multidão de alunos e professores e gerentes que nos observava.

—O que quer dizer?

—Vocês não sabiam sobre mim, não é?

—Do que está falando Chris, quer dizer, Neville?

—Eu, meu pai, meu tio Major. Está no nosso sangue. É a maldição de ser um Hollingwood.

—Do que está falando Neville?

—Depois que eu me transformei eu fiquei com tanta fome. Muita fome e quando eu tirei uma vida...

—Puta merda! Você é lobisomem!

—Sim.

—Então, o seu pai era de uma linhagem de lobisomens e o que isso te torna? Um vampiro ou um lobisomem?

—Eu sou os dois.

O queixo de Marie Jeanne caiu.

—Um vampiro, nascido numa linhagem de lobisomens. Você é um híbrido, como eu.

—Híbridos são mais fortes que puros sangues. E um híbrido de vampiro e lobisomem é mais letal e mais forte que os dois.

—Existem outros? Como você?

—Existem. Eu fiz outros.

—Caramba!

—Eu descobri que quando um lobisomem, mesmo que seja um puro sangue é ferido por prata, ele cura.

—E como você os transformou?

—Eles eram lobisomens que... morreram com o meu sangue no sistema deles ai eles voltaram e completaram a transição.

—Então é como criar um vampiro?

—Isso.

—Caramba! Isso é além da insanidade Neville!

—E eu não sei? Eu nem sabia que lobisomens existiam até aquele dia. Eu nem fazia ideia e de repente, do nada eu descubro que sou um?

—Deve ter sido... difícil. Marcus ficou lá pra te ajudar?

—Não. Depois que ele descobriu o que havia criado... saiu correndo. Metade vampiro, metade Lycan porém mais forte que os dois.

—E a lua cheia?

—Não exerce influencia sobre mim. Eu posso me transformar em lobo quando e onde eu quiser. E também posso não me transformar.

—Então ser um híbrido bloqueou a maldição?

—Não. Eu ainda sou lycan. Ainda posso me transformar em lobo, a maldição só... virou um dom.

—Você poderia se transformar aqui e agora? Se quisesse?

—Poderia. E eu não preciso mais da metamorfose completa.

—Como assim?

Eu mostrei os meus olhos e as minhas presas.

—Caramba! Isso é demais!

Então ela mostrou os dentes e os olhos de volta.

Mas nós voltamos ao nosso normal quando os flashes de câmeras estouraram na nossa cara.

—Lobisomens existem! Maneiro.

—Você perdoou a minha mãe por matar a sua?

—Lady Laura Hollingwood pode ter me dado a luz, mas ela não era a minha mãe. Ela nunca esteve lá por mim.

—Se a sua mãe não era a sua mãe, então quem era?

—Victória Lyndon.

—A minha mãe? Você considerava minha mãe como a sua mãe?

—Sim.

—Você só aprontava pra cima dela! E ela sempre levava a culpa por todas as merdas que você fazia!

—Sim. Verdade. Mas, eu queria que ela me amasse como amava você.

—Nossa! Caramba Neville, você é... muito confuso. E você achava que aprontando pra cima dela ela ia te amar? Ela só ficava puta da vida!

—Sim. Mas, ao menos ela olhava pra mim.

—Você devia conversar com ela.

—Com licença. Eu... eu sou... sou Amanda, a gerente do museu e gostaria muito de fazer algumas perguntas.

—Fala.

—Nós posicionamos os móveis corretamente? Tem algo faltando?

—Eu não tava prestando atenção. Posso verificar se quiser.

—Seria... ótimo.

—Calma. Se eu quisesse te matar, já teria matado.

—Neville!

—É verdade. Eu poderia ter matado todos eles em minutos e o que isso teria provado? Mas, você... Turner. Se me encher o saco mais uma única vez eu juro por Deus que quebro o seu pescoço como se ele fosse um galho. Isso se eu tiver de bom humor, o que eu acho pouco provável. Vamos lá.

Nós fizemos o caminho de volta e comecei a notar os erros.

—Esse quadro. É o quadro de meu pai, ele ficava encima da lareira do salão principal.

Eu tirei o quadro da parede e o prego junto. Depois, coloquei o prego na parede acima da lareira e pendurei o quadro.

—A mesa de mogno fica na sala de jantar, no canto.

Eu ia colocando as coisas de volta em seu lugar.

P.O.V. Diretora Saltzman.

Ver aquele menino carregar uma mesa de mogno como se fosse uma bola de futebol era inacreditável e aterrorizante.

—Quantos anos você tem menino?

—Eu tenho quatrocentos e cinquenta anos, senhora.

Ele me chamou de senhora, de forma respeitosa e ao mesmo tempo um tanto irônica.

—O aposento da minha mãe. Laura. Essa cama é de um dos quartos de hóspedes.

Ele entrou de quarto em quarto até encontrar a cama certa e as trocou de lugar e trocou os lençóis também.

—Agora é a minha casa.

Então, um vulto passou e jogou Marie Jeanne longe. Logo havia uma mulher encima dela e ela tentava afastá-la. Ela a sufocava.

—Morra abominação.

As duas lutaram. Acabaram quebrando algumas coisas e a mulher acabou morta.

—Marie?

—Eu matei ela. Eu matei ela. E eu nem sei como.

O rapaz teve que levantá-la e levá-la ao banheiro para se lavar.

—Você está bem Marie Jeanne.

—Não. Eu matei alguém Neville. Eu nunca mais vou ficar bem.

Chamaram a polícia e ela foi presa.

P.O.V. Detetive Burkhart.

Nós levamos a menina presa. Ela parecia estar em choque, não piscava.

—Eu sou o Detetive Burkhart e esse é o Detetive Griffin.

—Eu posso sentir você. Você não é um deles. É um de nós.

—Um de nós? Quem seria nós?

—Tem magia no seu sangue. Sinto ela fluindo dentro de você.

—Vai dizer o que aconteceu?

—Ela me atacou. Me chamou de abominação, me sufocou. Eu senti... senti a magia saindo de mim e ai, de repente ela tava morta. Foi como se fosse eu, mas não eu. Quando eu acordei... as minhas mãos estavam cheias de sangue e a mulher tava morta.

—Você, mas não você. O que isso significa exatamente? Possui algum tipo de transtorno psiquiátrico?

—O seu parceiro deve compreender do que estou falando. Quando está caçando, quando usa suas habilidades, quando persegue a sua presa... você não está sendo você. Não está sendo Nicholas Burkhart, o Detetive. Você não é Detetive quando persegue sua presa, você é Grimm. Seus instintos de caça e de sobrevivência prevalecem. Eles dominam você. Não é?

—Nick?

—É. É sim. Eu gosto de caçar, de ser Grimm.

—Se você fosse atacado, como eu fui é muito provável que a pobre alma que decidiu te atacar tivesse o mesmo destino da mulher.

—Você conhecia a mulher que te atacou?

Perguntou o Hank. E ela respondeu:

—Não.

—Você é Wessen?

—Não. Acho que sei o que ela era. Sempre pensei que fosse só um mito. Parece que estava enganada.

—O que ela era?

—Uma vampira. Ela é membro de um tipo de seita, Ordem de Sangue. Eles acham que híbridos são abominações, que somos uma ofensa a ordem natural.

—Híbridos?

—Minha mãe era uma bruxa, mas meu pai é vampiro.

—Sinto muito.

—Minha mãe não ficou morta. Ela voltou e agora ela é uma vampira.

—Vampiros existem também. Ótimo.

—E lobisomens e híbridos metade vampiro, metade Lycan.

—Lycan?

—Lobisomem. É feio chamar um Lycan de lobisomem, é ofensivo.

—Bom saber.

—Então você matou a mulher em legítima defesa.

—Foi. Melhor ela morrer do que eu. Cara, isso soava melhor na minha cabeça.

—Vamos ter que te fichar.

—Vocês não podem.

—Não podemos?

—Você não compreende não é? Eu nunca vou morrer e nem envelhecer, eu vou ter essa aparência para sempre. Se me fichar, vai revelar para o mundo que vampiros existem.

—Ele não vai precisar. Você já fez isso.

—O que?

—O vídeo foi postado a algumas horas e já tem milhares de visualizações.

Ela viu o que estava passando na tela.

—Neville. Eu estava tão feliz de ter encontrado outro híbrido que... acabamos esquecendo da multidão á nossa volta. Minha mãe vai me esfolar viva.