— Gazelle?!Não, obrigado.

— Mas Nick, é uma chance única – quando que você iria de graça a um show da Gazelle?

A raposa, já impaciente, não via a hora de ir para sua toca descansar...Por mais que gostasse de Judy não conseguia entender essa necessidade dela de sempre ter uma companhia.

— Por que você não chama algum amigo coelho seu? Aposto que há vários coelhos em Zootopia querendo ir ao show com Judy Hopps, a policial.

Não era seu forte desistir assim tão fácil, mas e se ele se irritasse? Bom, ele já estava, havia quinze minutos que estavam no parque em que Nick morava.

— Já entendi Nick...bom, melhor eu ir, boa folga pra você amanhã.

Aquele tom de voz não era familiar a Nick, mas por quê ela insistia em convidá-lo para esses passeios cheios de bichos, não era da indole de nenhuma raposa ser tão sociável assim, para isso já existiam os coelhos, coelhos que não deveriam andar com as orelhas baixas como aquela que se distanciava rumo a entrada do parque.

— Cenourinha? Cenourinha?

— Tudo bem, Nick...Eu já entendi...Você já tem outros programas para amanhã, só se lembre que você agora é um policial...

— Graças à você, cenoura... – Ele sorriu, talvez não fosse tão ruim assim levá-la ao show da Gazelle.

— Amanhã, cinco horas no cruzamento da Sétima com a rua 93, meu apartamento é o 201.

E foi assim que Nick Wilde aceitou ir ao show da Gazelle, por mais estranho que aquilo lhe parecesse era ótimo ir dormir com a sensação de ter feito alguém feliz.

....

— Você deveria alugar um apartamento e sair daquele parque!

— Cenoura, eu não ganho tão bem quanto antes...Acho que vou precisar de um segundo emprego pra conseguir pagar um apartamento, por sorte não tem 274 irmãos para me visitar...

— Você tem irmãos?

— Não... Meu pai morreu cedo e minha mãe você já sabe a história...

— Eu sinto muito...Eu não sabia do seu pai...

— Há muita coisa que ainda não te contei, Judy...

Chamando policial Hopps, policial Wilde, assalto na rua Elm, o suspeito está armado”

— É hoje vai ser um dia daqueles...

...

Com o pssar do tempo Nick aprendeu a não ser tão fechado e em contrapartida Judy a não ser tão curiosa, como toda coelha ela não conseguia ficar tanto tempo calada, especialmente se estivesse ao lado de Nickolas P. Wilde.

....

— Gazelle?! De novo, a não, dessa vez não...

— Mas Nick...

— Eu já sei, é uma chance única, mas quantas vezes você já se perguntou o quanto eu gosto da Gazelle?

— Todo mundo gosta da Gazelle!

Orelhas abaixadas, ela já sabia que ele não iria resistir a vê-la triste e acabaria aceitando. Era só começar a contar em seus pensamentos – “1, 2, 3, 4”

— Eu vou!

— Você já sabe onde eu moro, até amanhã!

— Não, não coelhinha...Eu vou com uma condição: uma pergunta uma resposta. Aceita?

— Está bem...manda!

— Por que raios você não convida um coelho – co-e-lho? Há tantos coelhos por aí, não vai me dizer que todos os coelhos interessantes estão fora de Zootopia.

Nick já sabia as milhares de expressões de Judy para raiva, nervosismo, vitória, tristeza, mas aquela era realmente nova pra ele – ela parecia decepcionada com a pergunta. Mas por quê?

— Eu achei que você gostava de fazer alguma coisa comigo no seu dia de folta...Eu sempre esqueço, bem, esqueço que muitas vezes você não quer companhia. Desculpe. De verdade...

— Não é isso, é que eu sou uma raposa e raposas...

— Eu sei Nick, não são coelhos. Desculpe se te incomodo...

E de repente seus olhos se encontraram para desespero de Nick que podia ver lentamente uma lágrima se formando.

Contra seu próprio instinto de predador Nick estendeu a pata não só para evitar a lágrima, mas para desculpar-se por muitas vezes ser tão raposa.

— Cenourinha...Eu não quis te magoar, eu só...

— Você é mais um daqueles do DPZ que acha que por eu ser uma policial dedicada eu não tenho tempo para fazer amigos aqui em Zootopia. Pois fique sabendo, fique sabendo que eu tenho amigos aqui!

Ele a segurou antes que ela pudesse fugir, não era o tipo de conversa que dois amigos deveriam ter acima da casa de alguém ao final do dia. A casa de Nick Wilde abaixo da ponte.

— Judy, desculpe... – Mais uma vez ele tentava conter a próxima lágrima que teimava em se formar naqueles olhinhos violetas.

— O que é essa cicatriz aqui cenourinha? Logo aqui...

No fundo ele sabia que era um arranhão de alguma briga, só que coelhos não se arranhavam daquele jeito. O efeito surpresa fez com que ele a soltasse.

— Hã, isso aqui, você não tem mais perguntas por hoje, lembra? – Enxugando o rosto olhando para cima ela tentava se recompondo, não queria parar para pensar o motivo daquelas palavras lhe terem magoado tanto. Talvez fosse tempo de aprender a andar sozinha.

— Por favor, cenourinha...

E Nick aprendeu que aquela cicatriz abaixo dos pelos acizentandos de sua amiga foram feitos por uma raposa como ele, a única dúvida que tinha era se a conversa que acabaram de ter deixaria mais marcas em sua amiga.

Naquela noite ele não dormiu – por que ele insistia em afastá-la quando a única coisa que queria era deixá-la por perto...talvez ele que devesse se acostumar a não ser tão sozinho.

Judy desabou quando finalmente chegou a seu apartamento, que alívio poder deitar em sua cama pra deixar as lágrimas que quisesse cair. Uma de suas patas procurava as cicatrizes que havia ganhado na sua primeira diligência policial, ainda criança. Pelo menos aquela marca ela podia sentir com suas patas.

“Isso é uma loucura...Você não gosta da Gazelle, você não gosta de multidões, você gostaria de passar o dia na sua cadeira admirando o parque...”

— Sim, esse está ótimo. Obrigado, pago com dinheiro.

“Isso é uma loucura...Ela deve estar furiosa...Eu não sei onde estou com a cabeça nem a cauda”

Toc. Toc. Toc.

— Eu já disse que não estou pra ninguém hoje...

Toc. Toc. Toc.

— Mas o que é agora? Deixa eu abrir logo...Nick?!

Antes que ela pudesse fechar a porta, a raposa já havia travado a porta com seu pé para ao menos ter tempo de lhe pedir desculpas.

— Eu quero ficar sozinha...Eu posso lhe denunciar por invasão de domícilio.

— Raposas ficam sozinhas...

— Acho que estou andando demais com uma raposa.

— E eu com uma coelha. – Ambos riram e foi o suficiente para que Judy soltasse a porta.

— Nick, eu quero ficar sozinha.

— E eu quero ficar com você...Desculpe...

Era a primeira vez que Nick entrava no apartamento dela, normalmente ele a esperava na portaria. Nem sabia se ela tinha um vaso para aquelas rosas.

— Aceita meu pedido de desculpas? Eu fui um idiota mal-educado como a maioria das raposas que você conheceu. Eu estou tentando mudar...

— Obrigada pelas flores...Vamos dividir o buquê em alguns copos? Eu não tenho vaso...

Por que justo ali ela parecia mais adorável encabulada por não ter um único vaso dentro daquele cubículo, talvez porque finalmente em tanto tempo eram só os dois como Nick tanto queria?

— Ainda dá tempo de ir para o show?

— São quatro-horas, sim ainda dá tempo, mas você não precisa ir...Está tudo bem.

Será que ela havia arranjado algum acompanhante?

— Você deu o convite? – Os pêlos de Nick pareciam assentar-se na expectativa da resposta, talvez fosse melhor pra ela ter alguém da sua espécie.

— Não, os dois estão ali no gaveteiro...Eu acho que vou sozinha...Acho que preciso aprender a ser um pouco como você...

— Não, definitivamente não precisa.

— Eu vim de uma família grande, 274 irmãos, se eu já te incomodo, imagina o dia que você conhecer a família completa? – Ela riu aliviada pela cena, jamais funcionaria uma raposa nas tocas fazendo um social.

— Acho que é assim:

I messed up tonight

I lost another fight

Dusting myself but I'll just start again

I keep falling down

I keep one hand on the ground

I'm always scared I'm not seeing what's next

Chega, eu canto muito mal!

Você canta muito bem, Nick!

Eu não sei o que vem depois Judy, mas eu não vou me perdoar se eu deixar marcas em você como essa cicatriz que está escondida no seu rosto.

Nós vamos mesmo ao show?

Sim, coelha boba, eu te levo!

Era tudo que Judy precisava ouvir para abraçar aquela raposa sem medo de ser devorada, sem medo do que poderia vir depois.

— Desculpe, eu muitas vezes gosto de ficar sozinho no meu canto...Eu não queria te magoar naquele dia.

Judy criou coragem pra se levantar e dar-lhe uma abraço de verdade, ela não sabia o que dizer. Será que precisava dizer algo?

— Nós vamos nos atrasar, Judyy...

— Está bem. – Devagar ela se ajeitou na cama agora de frente pra ele, ainda nervosa por não ter sido devorada e duplamente nervosa pois pela primeira vez o show da Gazelle havia deixado de ser importante.

Num impulso, ela voltou abraça-lo pra também desculpar-se.

— Está tudo bem...Coelhos são tão emotivos...

— Semana que vem...eu prometo não te convidar pra nada...na nossa folga...

— Semana que vem, eu espero estar mais coelho e menos raposa pra não perder você. Eu já não sei ser tão sozinho.

Judy exitou em soltá-lo, queria mais um minuto que fosse ali com ele sem a multidão por perto. Também era bom se sentir raposa de vez em quando.

Fim.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.