Faltavam três dias para o aniversário de Hyunseong, e ele estava me ignorando pelas duas últimas semanas. Talvez fosse minha culpa por tê-lo ignorado primeiro, mas eu sempre ignorava e ele insistia em me procurar assim mesmo. Já achei esse comportamento irritante, até briguei com ele por causa disso, mas o que mais queria agora era que ele viesse correndo me abraçar dizendo que não ia me largar não importa o que acontecesse. Parece que dessa vez, o que aconteceu foi demais para ele continuar querendo ficar perto de mim.

Há três semanas estávamos sozinhos dentro de uma sala de ensaios. Deveríamos estar ensaiando, mas estávamos apenas jogando conversa fora. No meio dessas conversas chegamos a falar de amor, todas essas idiotices que se fala as duas da manha com um pouco de sono. Sempre achei que falava demais quando estava perto de Hyunseong, ele parecia ter um encanto que fazia com que eu falasse tudo que estivesse pensando, meus sentimentos, esperanças, medos, coisas que eu não falava para ninguém, com ele se tornavam naturais. Tão natural que eu mal percebi que estávamos perto demais um do outro, só me dei conta quando nossos lábios se tocaram. A coisa sensata a fazer seria se afastar, afinal, não é uma das coisas mais morais e politicamente corretas beijar seu melhor amigo numa sala escura à noite, mas a única coisa que se passou pela minha cabeça no momento foi "Aproveite, você pode não ter outra chance como essa" e simplesmente me parecia a coisa certa a se fazer me entregar àquele beijo. Hyunseong pareceu pensar o mesmo, pois logo ansiava por mais contato. Ficamos por um tempo ali nos beijando, apenas parando para respirar e voltando ao beijo. Retornamos à nossa casa sem conversar sobre o que aconteceu.

No outro dia, acordei me sentindo um bêbado que tinha feito uma besteira enorme sob efeito do álcool, com a única diferença de que nenhuma substância era responsável por aquilo, apenas um sentimento mais forte que eu que havia me controlado. Parando para pensar, aquilo soou um enorme absurdo em minha mente, beijar Hyunseong? Por quê? Desde quando eu gostava de beijar garotos? Nenhuma dessas perguntas pareceram importantes na hora, mas agora precisava encontrar uma resposta.

Consegui encontra-la, a resposta era que estava me sentindo carente por muito tempo, e por ser próximo de Hyunseong esse carinho se transformou em desejo por alguns minutos, apenas uma coisa sem importância, e foi isso que disse a ele quando conversamos sobre o assunto. Ele sorriu e disse que eu estava certo, para esquecermos tudo, mas enquanto sorria, seus olhos pareciam tristes. Deve ter doído um pouco nele terminar o que nem havia começado, e por incrível que pareça, também doeu em mim.

Parecíamos quase estranhos depois disso, nossas conversas se resumiam a comentar algo que estava passando na TV, toda a proximidade que construímos ao longo dos anos pareceu desmoronar em minutos e aquilo me matava por dentro. Sentia tanta falta dele que indaguei se aqueles beijos realmente foram um erro, ou se foram algo que eu negava sentir. Também me lembrei que não perguntei a Hyunseong o que ele achava daquilo, estava tão desesperado para negar tudo que me esqueci completamente dos sentimentos dele. Com certeza fui um amigo horrível, não me admirava que ele me ignorasse.

Mas com essa data chegando, não pude me esquecer de uma promessa que fiz quando nos conhecemos. Uma semana antes de seu aniversário, o perguntei se ele estava animado, e ele me respondeu que não ligava porque não era nada especial. Para mim, aniversário é uma data incrível, é o seu dia, para se lembrar porque estava ali por mais um ano, para as pessoas próximas se lembrarem porque se tornaram próximas, a melhor data de todas. Naquele dia, prometi à Hyunseong que a partir dali, faria com que seu aniversário fosse especial todos os anos. Me esforçava sempre para fazer festas e comprar presentes, qualquer coisa que me deixasse ver aquele lindo sorriso e olhos radiantes de felicidade. Esse ano parecia que seria diferente, mas não queria deixar algo tão bobo estragar uma coisa de dimensões extremamente maiores. Então, faria o de sempre, mesmo que as coisas não fossem mais as mesmas.

X

Segunda-feira, faltavam menos de vinte e quatro horas para o grande dia, fui ao mercado e comprei algumas coisas para comer, os pratos favoritos de Hyunseong. Sem me esquecer de um bolo de frutas da melhor confeitaria da cidade, nunca fui bom em cozinhar, preferia que alguém fizesse o bolo por mim. O presente dessa vez achei melhor não comprar, queria começar a fazer depois de hoje, o resultado da conversa com certeza iria interferir no produto final.

Cheguei em casa e Hyunseong estava dentro de seu quarto, em silêncio. Já era noite, comecei a arrumar tudo o que tinha comprado na sala, não havia mais ninguém em casa, paguei um jantar para que todos saíssem e nos deixassem em paz por um tempo.

As onze e cinquenta e nove, estava na porta do quarto, contando os segundos para entrar. O nervosismo tomava conta de mim, mas desistir agora não era uma opção, eu tinha que fazer isso. O relógio marcou meia noite, respirei fundo, abri a porta, entrei e logo em seguida a fechei atrás de mim. Hyunseong estava deitado, jogando em seu PSP, quando entrei ele parou de jogar para olhar para a porta, parecia surpreso de me ver ali, provavelmente nem notou que já era seu aniversário. Fui até sua cama, me joguei em cima dele e o abracei.

- Feliz aniversário, Hyunseong - ele começou a rir, não sei qual é a graça da situação, mas ele sempre ri de tudo, independente de ter graça ou não.

- Obrigado Jeongminnie, não sabia que já era tão tarde.

- Vamos para a sala, sua festa está lá - ele me olhou chocado.

- Festa??

- Sim, vamos? - ele concordou e fomos até o outro cômodo - Meu objetivo era fazer uma festa surpresa e chamar algumas pessoas, mas achei que precisávamos de um tempo sozinhos, se não se importa.

- Fico feliz que quer ficar comigo, e obrigada por preparar tudo isso, eu realmente não esperava - ele sorriu para mim, me senti dez vezes melhor só de ver aquele sorriso de novo.

- Não se lembra que prometi passar todos seus aniversários com você?

- Claro que me lembro - continuou sorrindo e então sentou no sofá da sala, me sentei ao seu lado.

- Hyunseong, sei que as coisas andam estranhas entre a gente nas últimas semanas, eu sinto muito a sua falta, não tive coragem de falar isso antes, mas não poderia passar de hoje, não dava mais para adiar.

- Também sinto muito a sua falta, você não sabe o quanto - se aproximou e segurou minha mão. Me senti mais seguro em ver que ele não parecia bravo comigo ou nada assim.

- Olha, preciso te dizer uma coisa.

- Pode falar, Jeongminnie - ele continuava segurando minha mão, fazendo um leve carinho nela e olhava diretamente em meus olhos. O nervosismo que eu estava sentindo antes tinha desaparecido completamente, Hyunseong sempre me fazia ter segurança em falar o que quer que seja, sabia que ele consideraria tudo o que eu falasse, sabia que podia confiar nele.

- Acho que fui um pouco precipitado naquele dia, do beijo sabe, eu não sabia o que pensar, a primeira coisa que me veio na cabeça era que eu estava ficando louco, mas esse tempo que tive para pensar melhor, percebi que o significado daquilo foi outro, que eu só não queria ver. Eu gosto muito de você, Hyunseong, acho que talvez não só como seu melhor amigo - ele me olhava sem nenhuma expressão aparente, comecei a ficar nervoso, ele não sentia o mesmo, sentia? Já me arrependia de ter dito tudo antes que ele quebrasse o silêncio.

- Também preciso te dizer algo - chegou mais perto de mim antes de continuar - Eu te amo, Jeongmin, sempre amei - o que? Como ele falava aquilo com tanta facilidade? O olhava com os olhos arregalados pela surpresa - Sei que parece estranho, mas eu te amo desde sempre, só não podia chegar falando algo assim do nada. No dia que nos beijamos, achei que as coisas finalmente iam mudar, mas você me disse que foi tudo um erro, achei melhor me afastar, pensei que não me queria mais por perto depois daquilo.

- Sempre vou te querer por perto - cheguei mais perto para o abraçar, me sentia tão bem próximo dele, e depois de contar tudo e ouvir sua resposta, era como se um peso enorme fosse tirado das minhas costas. Ficamos ali por um tempo sem falar nada, apenas aproveitando o momento, que pareceu eterno mas quando acabou era como se o eterno não fosse o suficiente.

- Jeongmin... nós estamos juntos agora? Você sabe... juntos - ele falava com uma excitação que beirava o medo, apenas ri, antes de responde-lo.

- Claro, se você quiser podemos ficar juntos.

- Eu quero, quero muito - não pude evitar sorrir de novo antes de capturar seus lábios em um beijo.

Ele parecia surpreso, mas em menos de um segundo nossos movimentos já entravam em sintonia. Esse beijo era tão intenso quanto o último que dividimos, o qual eu não esqueci um detalhe sequer, mas era ainda melhor, não sei se o fato de saber exatamente o que estava fazendo melhorava ou piorava as coisas na minha mente, mas tentei apenas focar no que estava acontecendo ali, tudo parecia um sonho. Fomos interrompidos por várias vibrações ao mesmo tempo, seguido de um celular tocando. Gemi em reprovação e continuei o beijo por um tempo, até Hyunseong nos separar.

- Jeongmin, eu preciso atender, deve ser minha mãe desejando feliz aniversário.

- Tudo bem, tudo bem - não queria ser interrompido, mas também não queria que a mãe de Hyunseong ficasse se perguntando por que ele não atendeu o telefone.

Ele ficou falando no telefone por um tempo, quando desligou, fomos comer e ele estava respondendo algumas mensagens, pelo jeito, muitas mensagens.

- Não sabia que você era tão popular - ele riu sem tirar os olhos do celular.

- Não sou popular.

- Claro que é, olhe quantas mensagens você está recebendo.

- Já está com saudades de me beijar, é isso?

- Na verdade é isso sim - ele não disse mais nada, apenas veio em minha direção e me beijou. Nos deitamos no sofá juntos e ficamos ali, o celular ainda vibrando em cima da mesa, indicando que mensagens ainda chegavam - Não vai responder? - disse ao separar nossas bocas.

- Faço isso depois, não posso te deixar aqui com vontades, Jeongminnie - apenas ri e lhe dei um selinho, que ele já ansiava para responder, mas o parei antes.

- Pode ir lá, eu espero.

- Mesmo? Não vai ficar bravo comigo?

- Claro que não, Hyunseong - ele me deu um último beijo antes de se levantar e ir em direção ao celular.

Poucos minutos depois, nossos colegas de apartamento chegaram todos cantando (gritando) feliz aniversário para Hyunseong. Ficamos todos conversando por um tempo, até decidirmos que já era hora de dormir. Tive que arrumar tudo já que eu havia bagunçado, então fiquei para trás, já calculando ao menos mais meia hora acordado. Enquanto começava a levar as coisas para a cozinha, senti dois braços se entrelaçando em minha cintura por trás e não pude deixar de sorrir.

- Precisa de ajuda com isso?

- Não preciso, hoje é seu aniversário, pode descansar - Hyunseong fingiu que não me escutou e me soltou para pegar os pratos que faltavam e levar para a cozinha. Terminamos tudo e ainda ficamos um tempo na cozinha conversando, principalmente sobre o que havia acontecido nas semanas em que passamos separados, era impressionante quanta fofoca se acumulava em tão pouco tempo.

- Jeongmin, você realmente cumpriu sua promessa, não conseguiria pensar em um aniversário melhor que esse.

- Mas o dia ainda nem começou, vai ficar ainda melhor - sorrimos um para o outro antes de começar outro beijo.

Talvez o aniversário fosse mesmo uma data especial e mágica, mas percebi que perto de Hyunseong todas as datas eram especiais e mágicas, todos os dias, todas as horas, todos os segundos, absolutamente tudo. Como não ser assim se eu estava perto da pessoa mais especial da minha vida?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.