Magnólia

Capítulo prólogo: A palavra divina.


Certa vez, as palavras amargas e cruéis daquele anjo ecoaram por todo o luxuoso cômodo do castelo até chegar a seu Rei. Ele não dispensou folego ao contar a impensável decisão da grandiosa Deusa da Paz.
Bartra Liones estava indignado.
- Eu não vou aceitar essa decisão, espero que retorne minha resposta a sua mestra. – disse o grande rei dando as costas para o anjo, que em nem um momento tirou sua atenção do enorme pergaminho que segurava.
- Meu rei, essa decisão será necessária para que o bem prevaleça na terra.

Bartra não parou, subiu o lance de escadas até seu aposento, mas antes de prosseguir virou seu olhar novamente àquela criatura estupenda.
- Sua Deusa está sugerindo que sacrifique a vida da minha filha em prol de um futuro de paz? Não espere que eu aceite algo assim.
- Sua alteza, coopere. Sua filha nasceu para esta causa. Você mais do que ninguém não negará isso, viu a marca em seu olho direito. – pronunciou o anjo.

O rei de Lyonesse não prosseguiu. As lembranças de uma guerra cruel tomaram sua mente, e então ele concluiu:
- Se minha filha aceitar seu destino, não tenho a quem me impor. Mas saiba que até ela completar seus 20 anos, não permitirei que encoste um único dedo em Elizabeth.
O anjo assentiu, e pode deixar um sorriso aliviado escapar.
- Se o senhor me permitir cuidarei da segurança de sua filha em primeiras mãos. É o mínimo que posso fazer após essa decisão equivocada de minha Deusa.
- Faça o que preferir. – respondeu Bartra, o rei estava abatido de mais para se importar com a sugestão de um anjo.
Mas naquele momento um brilho azul rodeou o salão real. Bartra voltou sua atenção até o arcanjo e não pode deixar de arquear uma sobrancelha quando viu em primeiras mãos uma transformação divina. Mas não deixou de se decepcionar quando viu o grandioso anjo se transformar em um suíno.

O rei não segurou a risada. Mas logo se conteve.
- Escute meu anjo. Qual seu nome?
O anjo, agora tomado pela forma arredondada de um porco o respondeu: - Hawk, meu senhor.
- Então, sir Hawk. – Bartra cruzou os braços e tentou encarar o animal com a mesma expressão séria de sempre. – Saiba que minha rainha detesta porcos.
- Ah... – Hawk pareceu triste, mas logo se ergueu – o que sugere meu rei?
- Pode ficar caso tome outra forma. – concluiu Bartra.

Hawk sorriu, e então um brilho azul tomou conta do salão novamente, e não demorou muito para se revelar um pequeno garoto de cabelos rosados e um olhar redondo e acastanhado. Logo suas vestes se tornaram serviçais, e ele parecia mais um filho de alguma empregada do castelo do que um anjo real.
Bartra concordou quando Hawk lançou um olhar esperando aprovação, mas apesar de lhe confiar à segurança de sua filha o grande rei não deixou de se entristecer por seu destino.

Faltavam duas décadas para o Ano Luz.

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