Magic Mystery Theatre

Capítulo 7 - Bilho da Garrafa.


Mais uma vez Cordélia Stellun acorda assuntada. O seu corpo está todo suado e ofegante. O terror noturno a domina depois que aconteceu aquela tragédia. A Qareen de cabelos loiros e com uma meia lua envolvendo entorno do seu olho direito e cinco pequenas faixas transpassando o semicírculo que apontam a sua íris amarela. Esta marca característica dos Qareen é tão marcante quanto um estigma. Por isso o seu nome, Estigmad.

A meio-gênio costuma dormir nua, enrolada em lençóis e travesseiros felpudos. Cordélia tem lágrimas em sua face, pois a culpa de matar pessoas que amou a consume. Mesmo sendo um acidente involuntário e bem intencionado.

As suas lembranças a levam para uma pequena vila que nasceu no interior do reino de Callista, a vila de Moved era produtora de Trigo e vegetais em geral. Cordélia era uma menina feliz e amada por seus pais adotivos. Pois a sua mãe biológica morreu no parto, quando foi seduzida um encantador gênio de Luz e abandonou-a por razões misteriosas. A sua mãe sempre acreditou que o seu pai poderia voltar para levá-la ao mundo dos seus antepassados.

Infelizmente, isso nunca aconteceu.

Durante a gravidez, a sua mãe nunca maldiz o seu amado, pelo contrário, amou e amaria, se estivesse viva. Tanto que o seu último pedido que os seus pais, ou seus avôs maternos, cuidaram e protegeram a menina de Luz, como todos na vila a chamaram.

Cordélia teve uma infância muito feliz. Todos a amaram. Mesmo quando começou a manifestar os seus poderes. A Qareen ajudava a todos habitantes da vila, o máximo possível, em retribuição de tanto amor e carinho que era recebida por eles.

Tudo mudou quando houve o inverno mais rigoroso dos últimos séculos. Um frio polar atípico que matou dezenas de animais e a fome ameaçava vila. Cordélia nunca iria admitir que aquelas pessoas passassem por tantas dificuldades. Ela tinha que fazer alguma coisa...

Ela tinha poderes para isso...

A Qareen voou aos céus e achou que os seus poderes poderiam dissipar as nuvens usando o máximo de suas forças mágicas. Pensou e concentrou-se para empurrar a frente fria para distante dali ou a eliminasse de uma vez.

Cordélia não se lembra bem, como foi, mas o brilho foi equivalente há uma explosão atômica e como todos os seus efeitos devastadores. Tudo num raio de seis quilômetros foi destruído, pelo calor e por alguma coisa venenosa que destrói por dentro dos seres vivos com tumores e disfunções orgânicas de todo tipo.

O trauma de ver todos os habitantes mortos e a devastação enlouqueceu a garota. Durante meses, a qareen enterrava os restos mortais de sua vila e das vilas vizinhas. Desesperada, tentava curar e reviver, em vão, a floresta e as plantações. Ela ficou assim durante cinco anos, até que os efeitos radioativos amenizaram e outros seres puderam atravessar o território sem muitos danos. Só ai, que Cordèlia resolveu procurar ajuda.

Encontrou na Academia Arcana a solução dos seus problemas, mas quando confessou os seus pecados para pessoas erradas, foi responsabilizada e quase foi linchada. Neste momento, o elfo Tensey, que já era estudante da Academia Arcana a convidou para ingressar junto com ele. Como o apoio do professor Carlos Castanheira, a Qareen começou a se recuperar dos seus traumas.

Depois de uns meses, a garota voltou a sorrir...

Atualmente, Cordélia procura servir, da melhor forma possível aquele elfo que a salvou daquele linchamento e mostrou que poderia dar uma nova chance a Vida. Infelizmente, a Qareen tem uma luta interna. Um lado sombrio que quer se punir por tudo que fez e se acha suja, monstruosa e indigna das oportunidades que a existência pode oferecer.

Do outro, está uma mulher no início de sua juventude, que deseja amar e ser amada. Uma pessoa que sabe que foi um erro, mas tive a intenção de ajudar, agora tem oportunidade de modificar isso e não errar mais.
Estes dois lados lutam ferozmente por sua alma. Cordélia procura na servidão, uma forma de que essas vozes internas se calem e satisfaçam.

Servir para punir-se e sobreviver...

Os seus pensamentos estão enevoados devido ao despertar. Os seus belos olhos de íris amarelos e sua face angelical nem parece alguém dominado pela culpa. A loira se espreguiça e rola na sua cama de cetim e seda. Na verdade, o local inteiro é a sua cama. Como uma gata despertando, Cordélia faz gestos com as suas mãos e acaba completamente vestida. As suas roupas são leves e com traços orientais. Lantejoulas, brilhantes, argolas em seus pulsos e cabelo dando-o uma característica de crina de égua.

A linda loira está muito mais sensual do que o habitual.

Com um passe de mágica, a Qareen sai daquele local desconhecido e acaba revelando que o interior de uma garrafa ornamentada com pedras preciosas e símbolos místicos. Depois que transmuta do seu corpo de gasoso para sólido devido aos seus talentos mágicos, Cordélia fica diante a cama do seu amado elfo, Tensey que ainda dorme profundamente.

Com outro gesto, a meio-gênio faz uma mesa de café-da-manhã mais completo que alguém possa ter. A linda Qareen se senta e começa a se servir com um suco nutritivo e tâmaras. O seu alimento favorito ao despertar.

Depois de uns minutos, o elfo desperta e vê a garota se servindo. Mesmo esfregando os olhos o rapaz sorri ao ver a mulher tendo um pouco mais independência. Ele mesmo não agüentava mais tanta submissão daquela sua auxiliar poderosa e, aparentemente, apaixonada.

– Bom dia, Cordélia. – cumprimenta o elfo.

– Bom dia, Amo! – retruca. Fiz tudo que gosta. Tem queijo de cabra e pão sem fermento com ervas. Para beber, frutas da estação. – e sorri bebendo o seu suco.

– Vou me lavar. Já volto. – e se levanta e parte rumo ao banheiro.

Teve uma vez que Cordélia tentou acompanhá-lo no seu banho. O elfo ficou tão furioso que ficou sem falar com ela durante três dias. Isso machucou demais a Qareen, O seu sorriso meigo e cativante fez que o seu amo a perdoasse. Entre nós, quem resiste uma garota tão bonita e com olhos tão brilhantes?

Depois que o elfo toma o seu banho e se senta no seu lugar na mesa, a Qareen o serve com tudo que é do gosto do seu amo. Depois de alimentados, Tensey é vestido e mimado por sua serva. Em meia hora, a dupla está deixando o alojamento dos alunos e indo ao setor de informações. O elfo quer saber quais serão as próximas aulas e Cordélia só acompanha.

Foram seis aulas e duas provas. Cordélia só participou de duas aulas em comum com o seu amo. No término de todas as atividades acadêmicas que Tensey se encontra com os outros colegas de grêmio. Luiza e Jennifer. A cadeirante e a Lefou de cabelos ruivos. O elfo esperava a costumeira briga entre a sua assistente e a ruiva. Porém, dessa vez, nenhuma das duas se dirigiram a palavra de uma a outra. Para quebrar o clima de tensão, Tensey puxa assunto com Luiza, ou melhor, a irmã desta, Elisa.

– Noto que não há muitas novidades. – antecipa o elfo.

– É verdade. A minha irmã se encontra em “poucas atividades” no plano espiritual. Lá não é tão ativo quanto aqui, mas o perigo maior é a chamada “Entropia”, segundo a minha irmã. Os fantasmas dizem que é a “Morte após a Morte” e quando a Entropia está ativa, não se dá para fazer muita coisa. – explica a cadeirante.

– Será que a Entropia é o que os antigos chamando de “Ovo do Mundo” ou a Roda das Reencarnações? – cogita Tensey.

– É uma teoria. Mas eu prefiro que a minha irmã fique bem longe dele até a minha chegada lá. Prometi a ela que soltaríamos juntas lá. – e sorri.

– Isso que eu chamo de Amor fraterno. Descobriu se o Deus que está com a investigadora é Tanna-Toh, a Deusa do Conhecimento? – questiona o elfo lembrando que tinha conversado com Jennifer de manhã.

– Nada. É estranho, pois a Deusa do Conhecimento é bem solicita não é o caso desse Deus. – conclui Luiza.

Um aceno de agradecimento e o elfo se despede da cadeirante. Todavia, para a surpresa de todos, Cordélia diz que tem que ir para algum lugar oculto e desconhecido. Depois de alguns minutos, foi à vez de Jennifer de deixar o recinto. Acontecimento que deixaram Tensey e Luiza ainda mais confusos.

Depois de uma hora do encontro daqueles alunos, Cordélia espera uma pessoa surgir nas dependências das salas ociosas da Academia Arcana. A pessoa que surge é uma ruiva de olhos verdes e de caminhar determinado. É Jennifer Nice com o seu jaleco branco e de expressão séria.

– Você foi seguida? – pergunta de forma cúmplice.

– Não sou estúpida como imagina, Jenny. – responde. Aonde vamos?

A Lefou segura à mão da Qareen com força e a conduz para uma daquelas salas escuras e supostamente abandonadas daquele setor. No escuro, ouvisse ruídos, como estalos e respirações ofegantes.

– Pára... Não... – sussurra Cordélia. Aquela noite foi um erro... Ahhnn...

– Então foi o melhor erro da minha vida... Ahnnn... – responde a Lefou.

Silêncio. Mais estalos e respirações profundas e ofegantes.

Então um pigarro que não é de nenhuma das duas garotas.

Súbito as luzes se acendem.

Aquela sala supostamente “abandonada” estava sentada e se apoiando os seus pés em uma daquelas mesas a investigadora Louise Burker com a sua característica cor de rosa choque. As garotas estavam abraçadas e com as suas bochechas coladas uma na outra. Os olhos esbugalhados de ambas refletem o choque de serem flagradas naquele momento.

A investigadora respira fundo e diz:

– Olha... Eu não tenho nada contra relações homo-afetivas. Todavia, eu costumo usar esta sala como a minha área de reflexão e costumo fazer isso de luzes apagadas. Por efeito da providência, espero contar com um pequeno interrogatório com a senhorita, Nice. Por isso, senhorita Stellun, poderia me dar o obsequio de se retirar? Posteriormente, as duas poderão continuar o seu... Encontro. – diz em tom de indiferença.

A Qareen sai do local vermelha como um pimentão voando o mais rápido possível.

Jennifer fica gélida e assustada. Ou melhor, paralisada de medo e receio.

– Sente-se, garota. Não se preocupe. Não vou contar a ninguém que és lésbica e está “roubando” a namoradinha do elfo detetive. – a investigadora aponta para uma cadeira em frente ao dela.

– Eu n-não sou lésbica... Eu... Eu... Ahhnn... – e a ruiva coça a nuca, acaba por obedecer ao pedido da mulher.

– Está seduzindo a Qareen, não é? – e a mulher de rosa põe uma varinha de madeira na boca e começa a mastigar. Sei dos seus poderes de converter Magia em energia elétrica. Fazem parte dos seus dons de sua espécie, os Lefou. Ou melhor, corrompidos da Tormenta. Sendo a senhorita Stellun um ser de Magia, óbvio que temos um caso de parasitismo. Fazendo sexo com ela, os seus poderes aumentam, enormemente... – conclui a investigadora.

Jennifer abaixa a cabeça e se cala.

– Sabe, ruiva... – e a mulher de rosa puxa um caderno e começa a ler. Eu andei lendo umas coisinhas interessantes ao seu respeito. Como o seu estudo em Engenharia Mágica. Por sinal, uma das melhores da Academia Arcana. O problema é que o meu ex-marido foi morto por um estratagema utilizando os conceitos dessa Engenharia. A questão é... Você o matou para proteger o seu segredinho de ser lésbica vampira?

Jennifer fica chocada e balbuciante...