Lágrimas da Realeza

Capítulo Especial - Cintilantes sobre nós - Parte 1


Ela fazia-me sentir como se eu fosse tudo.

A sua presença aquecia o meu corpo, dando uma energia celestial á preciosa jóia mágica que suportava minha existência.

É algo completamente inexplicável. Uma tremida sensação única. Não existe quaisquer palavras suficientes para descrever aquilo que minha mente sempre alcançava, quando meus olhos se encontravam com os dela…

Estávamos mesmo aqui, neste lugar, no meio deste monte, neste simples e selvagem planeta desconhecido, sentadas sobre este mesmo grande rochedo de superfície plana, recheado de tufos de plantas rasteiras que ainda mais o embelezavam, localizado entre as vastas sombras aconchegantes de peculiares saliências de todas as formas, saliências estas, conhecidas, e chamadas, entre os mais inteligentes povos orgânicos, pelos encantadores e simplórios nomes: árvores e flores.

Simplórios nomes tão encantadores como aquele que governava a identidade da minha companheira, mas, eu pessoalmente, acredito, que o dela conseguia ser ainda mais superior, superior em tom, superior em tamanha natural beleza…

Sozinhas, embaladas pela solidão, mesmo ali juntas, sentadas, sim, sentadas ao lado uma da outra, e o mais importante de tudo, juntas, juntas mesmo ali, a apreciar as vistas, com calma, sem preocupação, sem qualquer incómodo, apenas embaladas pelo silêncio… Estávamos ali juntas, sem grandes motivos específicos, só estávamos ali assim, quase apenas num porque sim… Estávamos ali, numa paz bela, como se fizéssemos parte da própria paisagem, estávamos ali, quase como se nós as duas, fossemos uma só…

— É um planeta muito bonito… - A sua voz, repentina, quebrando o clima de completo profundo sigilo, penetrou nos meus ouvidos, como uma grande melodia serena, uma melodia que, sem qualquer explicação, moveu completamente todos os meus sentidos.

Não sabia como responder, nem como reagir exactamente. Sabia que ela estava a puxar conversa, que queria ouvir também a minha própria voz, ser embalada pela melodia das minhas palavras, porque, sem dúvidas, eu sabia que ela sentia o mesmo por mim… Mas não, eu permaneci de boca calada… Que estúpida que eu fui!

Afastei-me um pouco, para a outra extremidade da lisa rocha, envergonhada, até reparar que ela olhava para mim, e procurava fitar directamente meus olhos.

Apesar disso, moveu sua mão, cobrindo a minha, apertando meus dedos com carinho... E nós as duas, só não nos tornava-mos uma só neste momento, porque eu era tola demais para isso, idiota e tímida demais para avançar na relação… Pateta demais para exprimir tudo o que eu sentia por ela…

Eu poderia ter lutado por isso, era o que eu mais queria, mas não… Além de todos os meus sentidos parvos, algo mais marcante me impedia de dar um passo em frente, de prosseguir na conquista daquilo que eu pretendia á anos, sempre pretendi, desde o momento que nós as duas começamos a trabalhar juntas, desde o momento que comecei a ver o quanto éramos semelhantes, de pensamentos e ideias… Não foi assim que aconteceu, quando eu me aproximei dela, pela primeira vez… Só muito mais tarde, ela me conquistou… Conquistou meus sentimentos… Sensação única que eu despertei por ela…

E esse mesmo algo marcante que me impedia de prosseguir, seria então, sem mais nem menos, sem tirar nem por, as pesadas e infelizes leis da nossa sociedade… Tudo isto só podia ser uma maldita ilusão! Eu estava a viver um autêntico amor proibido, e avançar, seria cometer autentica traição perante aquelas que nos governavam, traição perante aquelas que nos controlavam, traição perante as grandes Jóias que nos criaram!… Traição perante as grandes senhoras que nós nascemos exclusivamente para servir!…

Apesar de eu ansiosamente desejar isso, apesar de querer me aproximar ainda mais dela, tocar com meus lábios nos dela, um gesto simples mas muito, muito especial… Beija-lha, beija-lha até o mais tardio anoitecer, levar nossos corpos até o real infinito, misturarmo-nos uma na outra, transformar meu corpo com o dela, sermos uma só…

Ainda com os dedos bem firmes, entrelaçados nos meus, apesar da marcante distância que nos mantinha separadas… Durante todo esse tempo, ela ainda segurava a minha mão… Gentilmente, coloquei a minha outra sobre a dela. E depois… Foi só um gesto impulsivo, como se alguém poderoso manipulasse as minhas vontades, removi a mão dela da minha, acho que de uma forma violenta… Ela não pareceu zangada, até a sua expressão facial demonstrou plena compreensão… Só pareceu ficar um pouco mais triste… Minha pedra mágica doeu muito, naquele singular momento. Eu não queria isto… Não queria, apenas não queria… O que eu fui fazer a tamanho momento?... Uma oportunidade assim, oportunidade perfeita, totalmente despedaçada…

Ela deve ter passado horas a ganhar coragem para pronunciar tais palavras, para realizar tais seguintes gestos, e eu, eu simplesmente, estraguei tudo… A oportunidade perfeita para usufruir de maior intimidade… Minha falta de coragem, coragem para enfrentar tudo o que seguia, tudo o que sentia, tudo o que me impedia de prosseguir, derrubou praticamente a oportunidade perfeita para eu conquistar o que eu mais queria.

E ela então, desiludida, talvez, afastou a face que me encarava, olhando em frente, ao planeta pouco deserto que se seguia ali, mesmo em frente, que se mostrava, que de forma ainda imponente, estava ali, firme e selvagem, selvagem como meus sentimentos dentro de mim, sentimentos estes que não se acalmavam, que não se tranquilizavam, e sempre se remexiam… Eu não aguentaria muito tempo, mas ao mesmo tempo, não conseguia avançar… Estava numa mistura de emoções constantes, que nem sei como se deve explicar… Muitas sem lógica, é claro, emoções completamente sem qualquer lógica, que eu devo pensar, constantemente por ai… Que se misturavam sempre que eu pensava nela…

Seu novo olhar perante a paisagem pareceu ficar triste, ainda mais triste a cada segundo que passava, a cada segundo que ela usufruía de tal vista linda, repleta de vida, vida orgânica…

E tal foi o que me incomodou ainda mais, de certo modo… Culpa percorreu meu corpo… Será que agora, tal gesto de tamanha repulsa fria, ainda era uma sequela daquilo que eu evitei? Será que a tal proibida oportunidade, vontade que ela queria, que, de modo infeliz, não se concretizou, também a deixou frustrada? Será que se apercebeu, que ela estava infeliz, por se notificar que estava a viver, num completo amor proibido?...

Eu não quis reparar muito, mas seus puros olhos de esmeralda pareciam fitar tudo com o mesmo intenso desejo despedaçado, desejo este que eu pressentia fortemente no agora triste interior de mim.

— É uma bonita paisagem… Tudo tão maravilhoso… Uma pena… Não vai demorar muito tempo… - Pronunciou em murmúrios, quase pouco sonoros, como se não quisesse admitir, depois de longos segundos de angustioso silêncio…

Uma verdade, era apenar uma verdade, uma daquelas verdades que ninguém quer ouvir, ou admitir… Tais novas palavras acabaram, desta vez, numa melodia triste e muito pouco trabalhada nos meus ouvidos… Por algum razão, senti a existência de certo subtexto em tal melodia desvanecida, mas a minha emoção parou completamente o meu pensar… Por isso não a compreendi bem, mantive-me em silêncio… E ela, depois, prosseguiu

— Eu só queria, viver tudo isto durante muito e muito mais tempo…

Queria anima-lha, o que me fez segurar, encolhida, o meu próprio braço, cheia de anseio, medo, vergonha, uma mistura de emoções misteriosas e confusas que eu nem sei explicar… Porém, não sei se ela reparou, se ela sentia o mesmo, se ela sabia o que nós as duas tanto queríamos, e não podíamos fazer… O amor que nunca iriamos usufruir…

Pareceu respirar fundo, e num novo gesto, virou a cabeça, novamente, para mim. O seu olhar cristalino fez meu corpo parar, como sempre fazia. Eu não sabia o que fazer, como reagir, mais uma, outra e mais outra vez, sempre a mesma confusão, sempre o mesmo sentimento, eu não sei descrever, não existem palavras suficientes para explicar…. Isto tudo está uma bagunça total! Nem consigo me lembrar do que realmente quero dizer e pensar!...

— E tu… Porque aceitas-te vir comigo até aqui?... Eu só vim conferir o perímetro… Em breve temos que regressar… Antes que os nossos soldados dêem por nossa falta… - Questionou, parecia uma pergunta meia forçada, ela só queria puxar mais conversa…

Com certas tais informações, seu olhar pareceu dar duvida, profunda incerteza… Logo cheguei a uma conclusão, eu sabia o que ela sentia por mim, mas ela, ela, ela apenas não sabia o que eu sentia por ela… Ou será que fingia não saber?... Mas que raio de conclusão foi esta? Tudo está tão confuso, neste precioso momento!…

— Estamos aqui, juntas… - E esta foram as únicas palavras que eu tomei coragem em pronunciar de forma breve, depois de mais um típico momento de silêncio…

Mas nisto, eu fui muito sacana, só pronunciei tal, esperando a reacção dela, esperando olhar-lhe nos olhos e saber, confirmar que ela sabia o que eu sentia por ela, esperar uma correspondência sincera, por parte dela… Afinal, parecia ter ainda mais coragem em seu corpo, muito mais coragem para prosseguir nesta relação… A energia dela era imensa, mais imensa do que a minha… Recheada de encantador poder.

— E… - Gaguejou, e corou, ela entendeu, ela compreendeu, finalmente experienciei a confirmação da minha tremenda incerteza… E foi o que me fez sorrir muito em tal breve momento. Um sorrir de felicidade preencheu minha face… Sentia-me muito viva…

Ao mesmo tempo, ela pareceu querer tocar em mais algum outro tema, talvez, relacionado com tais falas, ao prosseguir, com inúmeras pausas em sua pronúncia, agora, adotando um tom ainda muito mais infeliz. Á medida que sorria, noticiei uma mudança súbita, que também moveu minha própria expressão, por completo… Meu sorriso se desvaneceu em segundos, tudo o que eu de modo breve sentia, se desvaneceu, em segundos… Apenas isso…

— E… E… E quando não estivermos?... Quando não estivermos… Assim… Juntas?...

Não sabia como reagir face a tal questão, mais uma súbita e estúpida questão, daquelas que só existem para destruir a minha mente, ferir e rachar a minha pedra mágica, dissipando a energia que me mantinha vida… Não queria pensar, mas tinha que lhe responder… Tinha que encarar esta pura realidade…

Pois eu… Infelizmente, eu… Sabia que, e relembrei que, daqui para a frente, a coisa seria muito diferente para nós as duas… A própria recém dita frase o confirmava de forma lateral… Existia a tremenda possibilidade, de daqui para a frente, não estarmos mais juntas… Talvez… Nunca mais… Nunca mais reunidas… Nunca mais a ouvir suas esplendidas palavras, nunca mais a pressentir sua presença… Nunca mais a ver o seu sorriso, o seu olhar…

Em breve… Ela desapareceria… Para sempre…

Mas… Eu precisava de alguma plena fantasia, eu necessitava!... Alguma resposta que explicasse, alguma coisa que arrancasse de mim parte do que eu sentia, e que transforma-se esse terrível e confuso sentimento de perda ou morte, ou sei lá que coisa horrível é, na mais viva esperança, minha esperança interior inquebrável… Transformar… Na nossa, viva interior esperança…

E, sem proceder a nenhuma lógica reflexão, prossegui… Por muito idiota que fosse, por muito idiota que seja a minha seguinte afirmação… Foi o que eu pensai no momento, o que veio aos meus sentidos, meu instinto falando por si, e tal foi aquilo que mais me acalmou, e aconchegou… Aquilo que eu iria pronunciar em tom acentuado, para acalmar-me oficialmente a mim. E acalmar a minha tão desejada amada.

— Tudo o que não acreditamos é real, real em nossa mente... Mente esta que é pura imaginação, imaginação que vive e controla um plano superior muito além do nosso, e muito pouco compreensível, plano este governado por, seres celestiais conhecidos por espíritos, espíritos estes que são as mais puras manifestações das personagens e criaturas, das memórias e figuras, da nossa mais pura imaginação…

Senti-me uma tremenda parva depois de falar aquilo, que raios é que eu disse? Que porra eu estive a pensar?... Que coisa estupidamente orgânica andei a dizer? É tão idiota, sem lógica, mas que porcaria foi aquela?...

Eu não podia ter dito outra coisa? Não existia nada mais bonito do que aquilo para se dizer?... Algo mais bonito, e mais aconchegante, em um tom melhor para os ouvidos de uma pessoa tão bela como ela? Mais adequado para pronunciar directamente a tal magnifica Jóia?

Eu não sei, não sei nada, não sei completamente nada… Não entendi… Mas por algum motivo, senti-me melhor… Muito melhor, após pronunciar tal… Já ela, adotou uma posição positiva, começou a sorrir, e eu fiquei aliviada, agora, afinal, as mais inúteis e estranhas frases que havia pronunciar pareceram resultar…

No final… Talvez, elas não foram tão más assim…

— O que queres dizer com isso? - Questionou, imediatamente, entre pequenos risos, com a mão na boca, para fingir, que na altura, não ria de ter observado a minha autêntica vergonha e frustração… E neste mesmo momento, só fiquei com vontade de abraçar aquela safada… Mas não o fiz, evitei meus sentimentos mais profundos… Como sempre fazia… – Pareces uma daquelas pomposas Jóias da Elite e suas filosofias - Comentou ironicamente.

— Bom… - Não sabia, apenas não sabia explicar aquilo, não sabia, mas tinha, apenas tinha que explicar… Apesar disso, agora tudo pareceu engraçado, corei ainda mais, e ela continuou a rir da minha cara totalmente vermelha – Eu queria dizer que… Mesmo que não estejamos juntas, é só imaginarmos as nossas presenças, uma ao lado da outra… E assim, já ficaremos juntas, sempre… Para sempre…

Não sei se esta fora a minha melhor explicação, mais uma coisa que viera á minha mente, improviso vindo do meu eu mais profundo… Mas, de certa forma, ela parou aquela estranha gargalhada… Sim, o seu humor sempre fora uma grande regalia, fácil de conquistar… Ao contrário do meu… Esta era uma das poucas diferenças entre nós, apesar disso, era algo que raramente afetava a amizade que usufruíamos...

Ai… Como eu amava ouvir aquele sorriso, rir, assim tão alto…

— Eu nunca fui de compreender essas coisas… Sou uma guerreira de alto estatuto, tal como tu! Onde foste aprender isso? – Questionou, ainda a conter o riso – Por acaso, não andou a ler os documentos que aquela Zircon enviou para as Diamantes, no outro dia… Pois não?

— Não… Nada disso! - Logo respondi, um tanto ofendida, por algum motivo que eu nem sei.

Mas porquê? Porque eu me senti assim tão ofendida com aquilo? Nunca toquei nos relatórios daquela Zircon, velha nossa convidada da nave, uma advogada nata, que só fazia um simples serviço numa das nossas viagens focadas em limpeza de monstros, neste mesmo planeta. Comecei a pensar no motivo que me levou a tal, encarei o céu, depois novamente o chão e todas as plantas ao meu redor. Decidi ser sincera, sincera… Bom… Sincera, pelo menos, numa parte de meus sentimentos… Já que a outra magnifica parte, escondida, já fria e trémula, não se manifestava… Não podia se manifestar… Por muito triste que fosse, não podia…

— São apenas umas palavras bonitas, que vieram aleatoriamente á minha mente… - Respondi, adotando um ar ainda mais pensativo, ao encarar o chão, as plantas, focando ainda mais meu olhar na paisagem, até onde eu conseguisse alcançar minha visão, e uma pequena lágrima, lenta, e brilhante, saiu, involuntariamente.

Encontrei, só por puro acaso, mesmo á minha frente, uma flor, uma pequena e delicada flor rosa… Por algum motivo, gostei dela, e um impulso disse-me para segurar na flor… Então, depois de um tempo na profunda observação, limpei minhas poucas lágrimas que escorriam discretamente… Peguei nela, arranquei-a do chão, com cautela, e observei as suas pétalas murchas a caírem entre meus dedos, uma a uma… A planta já começava a se desmoronar…

Todas as plantas, todas as vidas ali encontradas… Se eu fosse observar ainda mais a fundo todo o redor que elegantemente me recebeu, claramente reconheceria o grande impacto da nossa presença… Aquele planeta aos poucos se deteriorava, dando origem a um campo liso, pronto a ser trabalhado, pronto para novas estruturas que ali se ergueriam brevemente… Pronto para tornar-se num novo paraíso para a sociedade das Jóias, a nossa sociedade, a minha sociedade… Fiquei triste com este fim, e, ao mesmo tempo, muito feliz com aquilo, o fim marcava o inicio de um novo começo… Ali se ergueria em breve uma nova colónia, nova conquista para as nossas grandes líderes!... Essa era a única parte das consequências desse fim que me deixava feliz…

Mas, sobre esse tal outro profundo acontecimento futuro, chamado, de forma firme, fim, só me deixava triste, muito triste, porque não era um fim qualquer, fim qualquer além de um começo para uma nova colónia ali mesmo, erguida… Era o fim, o nosso fim, aquele temido fim que estava a chegar… O fim do nosso tempo juntas, cada vez mais, e mais, e cada vez mais próximo de terminar...

Ela viu meu gesto, observou atenciosa as pétalas caindo, todo o processo da flor desabrochando, pétalas estas que caiam em movimentos calmos em direção ao chão, perto dos meus pés. Moveu então o corpo em direção ao solo, com o objectivo de pegar nas pétalas caídas, por um motivo que nem eu compreendi… Talvez ela tinha como foco principal outra coisa qualquer naquele gesto simples e delicado…

E eu estava certa….

Nesse simples novato processo, encontrou outra flor igual, mais límpida, mais viva, mais bela e ao mesmo tempo sinistra. Entregou-me a nos meus próprios dedos, removendo aquela que já estava velha e murcha. Enterrou a mesma no solo, com um simples empurrar, cavar procedido pelo seu pé…

Ao início não entendi, esta nova proximidade, tanta proximidade do corpo repleto de energia dela, energia que me fazia voar mais alto… Só fez meu corpo estremecer de desejo. Mais uma vez, senti minha existência num magnífico buraco, buraco cujas paredes não passavam de sentimentos que se desmoronavam, poucos aguentavam, e muitos tentavam erguer-se e atingirem a límpida luz… Mas eu estava bem lá no fundo, e devido á sua tremenda escuridão bem nesse fundo de sinistro buraco, não distinguia qual sentimento era qual… Era como se a minha emoção bela e fria, não me salvaria, nunca…

Até que ela agarrou a minha mão, a mesma que suportava a tão novata e magnifica flor rosa… Minha salvadora… Observei as suas mãos, rodeando a minha, rodeando a flor. Senti a energia do meu corpo fluir mais e mais alto, não compreendi, mas apenas vi, vi que esta flor, ao contrário de muitas plantas do planeta, ainda estava viva e tenra, não estava murcha, suas cores pareceram brilhar ainda mais, uma pobre planta que não estava a morrer como todas as suas semelhantes… Estava viva, viva, muito viva, viva em esperança…

— Vamos dançar… - Pediu delicadamente, á medida que erguia seu corpo, ainda com suas mãos nas minhas, e na saudável flor.

E eu, permaneci quieta, observando seus límpidos olhos, á minha frente, agora elevados, quase como se atingissem o céu… Senti-me inferior a ela, mas ainda mais próxima a ela, com mais confiança em mim, e na nossa relação, apesar de conhecer todos os nossos riscos... Foi inexplicável… Senti-me um pouco fora do meu corpo, quando meus olhos se encontraram com os dela naquela magnifica paisagem… Foi como se eu quase saia fora do buraco… Mas tentai-me conter… Isso não podia acontecer… Uma pequena brisa de vento repentina movimentou os nossos cabelos, principalmente os dela, transmitindo-lhe uma beleza surreal que moveu ainda mais minhas emoções confusas, únicas, constantes…

– Então… Aproveitar nossos últimos momentos… Aqui mesmo… Juntas…

Eu engoli em seco, não sabia como fazer, como assim dançar? O que ela queria? Será que eu tinha coragem para prosseguir nessa ideia? Continuei confusa, imóvel, muito confusa, eu não sabia, já não sabia nada nem mais nada de tudo… Mas por um lado, me senti feliz, muito mais feliz, uma elegante felicidade emanava do meu interior, ao ouvir sua voz bela e doce soletrar tal incógnito pedido…

Eu não tinha coragem, mas ela, ela tinha coragem, e vontade, ela começou a puxar por mim, meu corpo se elevou quase como obrigação… Desse modo forçado, ergui-o, em quase sintonia com os movimentos de ordem dela. Ficamos uma ao lado da outra, assim, uma ao lado da outra, em pé, a observar a paisagem, o planeta inteiro em frente… Já anoitecia, o céu transformava-se em cor, um laranja sereno… Tão sereno como nossa existência, ali, juntas…

Ela era uma Jóia tão forte fisicamente, em comparação com o meu corpo lingrinhas de aparência frágil… Ela era boa com os punhos, eu era rápida com uma espada e outras armas, eu continha habilidades e estratégicas intelectuais grandes com recurso a tais instrumentos, mas a minha força física, em geral, não se comparava ao dela… Dai, fora muito fácil ela remover meu corpo do seu acento quase fixo na superfície plana de tal grande e velha pedra.

Mas que físico magnifico… Bela força, tão perfeita… Sim… Ela era totalmente perfeita… O ser mais perfeito que eu alguma vez conheci…

— Afinal… Dás-me a honra desta dança?... – Pediu, de novo, com palavras delicadas.