Lágrimas da Realeza

Capitulo 6: Se não fosse ela


Pouco tempo depois, Hessonite, voltou do túnel, ainda mantinha em sua cara um olhar sério e de certa desconfiança sobre o que iria encontrar em frente, ou sobre o que iria acontecer quando completar o objetivo.

— O caminho está livre, aparentemente – Informou de imediato.

Jaspe moveu sua cabeça, concordando com a informação, e então, prosseguiu.

— Temos que ir lá abaixo analisar o estado da ‘’Maquina’’, tens a certeza que nesta área é seguro, e não existiu nenhuma fuga do produto da Erosão nem nada? Não existem armadilhas, nem monstros, nem nada? – As questões que Jaspe entregava, foram realizadas em um estranho tom. Ao mesmo tempo, pareciam questões de preocupação, ou questões simples, ditas apenas por dizer, como obrigação de seu estatuto.

Hessonite se apercebera daquilo, achou bastante estranho tal sonoridade, por alguma razão, parecia não ser a voz normal de Jaspe, mas não fez aquilo ser algo de grande caso em tal momento, e por isso, respondeu o que sabia, apenas o mais essencial para lhe entregar uma considerada simples resposta.

— É o caminho direto que vai dar até a sala de controlo – Hessonite esfregou a cara, pensativa, enquanto endireitou seu óculo especial, clicando no mesmo, mostrando fotografias de algum mapa – De acordo com os arquivos que eu encontrei no Oeste, antes da minha Nave ser destruída, o caminho é por aqui, e de acordo com este mapa, vai direto á sala, apenas isso, uma das poucas saídas de emergência, livre de gases ou qualquer outro derivado material ou perigo.

Depois de pronunciar, desligou o mapa que seu visor transmitia como holograma.

— O local onde eu construi esta base, fora o local onde se encontrava uma das naves de fuga usadas – E aquilo, explicou grande parte, de imediato, em relação a tal estranha localização para tal general se instalar temporariamente – A nave foi usada, mas não a entrada. Existe mais algumas outras entradas, mas considero esta a mais segura, porque, pelo que parece, foi totalmente selada logo depois de sua criação, e antes da tal explosão, e logo, nunca usada.

— E porque que nunca foi utilizada? – A questão de Jaspe deu uma grande impaciência em Hessonite, a general parecia que não queria dar mais nenhuns detalhes, porém, viu-se forçada a tal.

— Fazia parte de um plano de fuga secundário, caso o primário não funciona-se – E deu um suspiro semelhante aos dos seres orgânicos, tentando então, ser mais breve ainda.

Não adicionou mais nada ao discurso assim, afinal, parecia não existir mais nada a declarar sobre as origens daquele lugar. Silencio típico foi pronunciado durante longos segundos, até ser finalmente quebrado pela voz poderosa da guerreira.

— Otimo! Vamos preparar então tudo… Nós as duas damos conta do recado, como combinado anteriormente. Devemos demorar poucas horas.

Jaspe mencionou aquilo, e já ia, então, penetrar pelo túnel a dentro, com uma pressa aparente até ser interrompida em um gesto súbito proveniente de Hessonite.

— Ainda não – Hessonite impediu Jaspe de avançar, depois, encarou a sua empregada – Eu quero levar a minha Pérola – E suspirou, mais uma vez, de forma longa, a general parecia confiante na sua decisão.

Naquele instante, Jaspe não fez uma boa cara. Já a nobre Pérola simplesmente corou com o súbito convite, ou melhor dizendo, com sua nova obrigação. Pérola não se imaginava a acompanhar uma missão assim, era algo parcial contra vários dos princípios para aquilo que uma Pérola originalmente servia.

— Eu também tenho outras coisas que fazer neste momento, tal como todos os preparativos para a nossa fuga – Acrescentou a general.

— Não acho que seja boa ideia… - Comentou a guerreira, murmurando, ao virar a cara, depois de passar os olhos levemente pelo corpo frágil daquele brinquedo vivo.

— Eu é que mandou aqui não é? – Hessonite afirmou de modo irónico, mas um pouco mais abrutalhada , dando uma indicação um tanto indirecta á conversa antiga que ambas discutiram alguns minutos anteriores – Depois da demora a conferir a maquina, será só questão de tempo até a nossa única oportunidade de fuga. E assim será.

Jaspe não dissera mais nada, apenas saiu do local, em pleno silêncio, parecia um tanto mal humorada. Hessonite continuou a encarando, até desaparecer, era de notar que ela ainda mantinha em seus olhos o seu especial e típico óculo - visor. Retirou o mesmo em tal instante, que desapareceu num brilho, logo depois de já não existir mais nenhum sinal da presença de tal guerreira.

De seguida, virou-se em direção a Pérola. Ambas estavam a sós naquela parte da base, naquele preciso momento. Como reacção, Pérola então, meia nervosa, decidiu demonstrar um pequeno sorriso, meio forçado, enquanto segurava suas duas mãos encostadas a seu peito, de forma delicada.

Hessonite apenas ergueu a sobrancelha, num olhar sério, como reacção aquilo, era uma das poucas e das primeiras vezes que ambas estavam juntas, totalmente a só, sem nenhum guerreiro ao redor, ou ali perto, sem nenhum guarda, mero personagem figurante, a acompanhar a senhora de categoria alta. Podia ser um pequeno momento interessante para a relação de ambas.

— Vou fazer isso é por mim – Comentou, e a Pérola não entendeu a afirmação, desfazendo o seu sorriso e movendo a cabeça de forma leve, para o lado.

Ainda se manteve de forma bem nervosa, até, seguidamente, observar sua senhora tomar uma aproximação das caixas onde Pérola guardou os objectos limpos e que ainda estavam por limpar. Isso despertou ainda mais o que Pérola sentia, com medo de ter limpado algo errado, ou, pior, com medo da grande possibilidade da sua senhora reclamar de Pérola não ter limpado parte das peças, ou seja, dela não ter cumprido a tarefa de forma total.

Deu alguns passos atrás, e então, manteve seus olhos bem atentos, analisado á distancia cada passo que Hessonite dava.

Esta, pegou em algumas das peças, especificas, determinados tipos, tamanhos, e materiais, então logo retornou, ao local onde esteve antes, mesmo ao lado da sua empregada.

— Preciso que faças o seguinte – Comentou – Quando eu não tiver mais nada para te pedir, claro, será a tua obrigação de tempo livre, por assim dizer – E acrescentou – Não te preocupes se é muita coisa, irei pedir a outras Jóias para ajudar.

Quando deu por si, Pérola estava a encarar algo no exterior, graças aos ecrãs, ainda ali ativos, demonstrando um pouco de tudo ao redor da nave, e assim um pouco distraída Pérola se manteve, apesar dos seus nervos, algo lá fora lhe tinha chamado atenção. As vezes, era mesmo assim, pessoas nervosas e meias tímidas eram assim, procuravam outras coisas para tomar foco, para tentarem algo para se acalmarem, algo para se distanciarem das situações reais. E tal era o que Pérola fazia, podia não ser a melhor das suas escolhas, no final das contas, mas sua simples reacção natural em relação ao pequeno medo que pressentia em estar ali, com sua senhora, só…

— PRESTA ATENÇÃO! – Gritou Hessonite, repentina, com um tanto de ódio nas palavras recém cuspidas, e Pérola, sobressaltada, assustada, encarou logo então a general, e inclinou seu corpo para a frente, usando uma vénia como se fosse um mero pedido de desculpas.

E mais uma vez, levou outra chapada na sua cara, no lugar onde recebera a primeira de todas, e doeu um pouco, Pérola não se demonstrou surpresa, apenas adotou um ar meio entristecido por conta daquilo.

— Para a próxima, quero que te atentes nas minhas palavras – Informou com um pouco de mais calma, não era lá muita, mas na tonalidade suficiente para Pérola conseguir ligar totalmente sua atenção ao que ai vinha.

Hessonite pegou num dos objectos que recolhera, um género de esfera, lembrava um olho sua pintura. Com extrema facilidade, abriu esta ao meio, e cortou os circuitos que em seu interior estavam posicionados, a dois, em pleno tamanho igual entre si, com auxilio a uma pequena faca que criou com o seu punhar metamórfico.

De seguida, segurou os circuitos a um género de caixa criando um dispositivo bem semelhante a uma aranha. Agora, que ela havia juntado ambos, criou um género de parasita, bem semelhante aos dispositivos anti corrosivos em aparência. Os fios, quase como magicamente, pareceram já se interligarem entre si de forma magica, de modo á general dar poucos ajustes e configurar os mesmos. Pérola olhou profundamente para cada gesto que Hessonite tomava, desde a montagem, até a programação daquela robótica criatura.

A parte de cima, o olho, contara com um botão, incluída na peça originalmente, já Hessonite clicou no mesmo, para se certificar de que estava a funcionar. Uma pequena luz encarnada em seu centro indicava que sim. Desligou o aparelho, ao abrir o olho, através de uma outra pequena peça que existia numa das extremidade, ao lado numa das pernas de aranha da caixa, e pressionou um botão interior durante várias vezes seguidas, quase como se fosse um código de toque que servia para desactivar tal coisa de modo total.

— Simples, certo? – Questionou com naturalidade – Vou precisar de… Cerca de cem, destes… Ou então. Utiliza todas as peças do mesmo género que encontrares e faz o máximo que conseguires. Quanto mais, melhor! – Adotou um olhar sério, mais um, concluindo, aparentemente, o que queria em sua ordem - Desta vez, irei me certificar se todas as peças estão totalmente perfeitas… Como eu te demostrei.

Com esta ultima frase, ela deu um género de desconfiança a Pérola, a pobre empregada entendia o porquê, depois de toda a culpa que teve em cima, sobre tudo o que aconteceu anteriormente, era bastante normal alguém lhe dar aquela reacção, principalmente se esse alguém fosse a sua própria senhora.

A general continuou a analisar o que ela tinha em suas mãos construído, parecia satisfeita com aquele resultado.

Pegou numa outra peça, criou o mesmo sistema do primeiro, ajustando outras configurações através de um certo código que inseriu nas patas do dispositivo, mas tal peça, era apenas um género de controlo, ela podia ligar e desligar a peça principal com aquilo.

— Agora, é a tua vez – Pronunciou, ao entregar as peças as mãos de Pérola, de forma bruta, ela quase as ia deixando cair no chão por conta de tal ferocidade.

E assim, Pérola Rosa, o fez. Hessonite sentou-se de novo em sua poltrona flutuante, e enquanto acariciava estranhamente o ovo, analisava todos os gestos de sua empregada. Pérola parecia relembrar de todo o processo.

Cortou os circuitos, arrancou parte de determinadas peças para usar em outras. De vez em quanto Hessonite lhe dava uma ou outra instrução sobre o que cada peça continha, podia fazer, se junta a outra, os efeitos mágicos ou colaterais que tal criava em estranhas reacções eletricas.

De certa forma, a pequena Jóia ficou bastante interessada naquilo, seus olhos reflectiam um pequeno brilho ao analisar o seu produto final. Hessonite parecia extremamente impressionada com a rapidez da aprendizagem mecânica e daquela construção. Pérola Rosa podia ser um desastre em limpezas, mas suas mãos eram habilidosas para construir coisas. Quem sabe, Pérola podia ser uma boa engenheira, se tivesse nascido com a consciência em outro tipo de pedra, que naquela sociedade, existia exclusivamente para essa finalidade, e se tivesse aprendido um pouco mais com alguém. Talvez, nem teria ganho tantos problemas com o tal estranho aspirador, se o tivesse conhecido, ao seu sistema, e circuitos, primeiro.

Terminou passado um tempo, e estava não empolgada por ter aprendido tão depressa, que acabou construindo um pouco mais. Hessonite rasgou um pequeno sorriso na sua face, que fez Pérola corar por completo, mas continuou confiante a construir e a desmantelar. Até ser interrompida pela voz da sua grande Jóia, passado alguns momentos.

Então, Hessonite saiu de sua poltrona flutuante, deixando-a naquela exata sala. Escondeu o ovo de Chupa-Pedra que trazia consigo, num lugar quente, sobre o acendo na mesma, um compartimento especial. Depois, encarou a empregada que devidamente se posicionou ao seu lado.

— Muito bem! Vamos testar, ver se funciona – Informou, começando a sair da sala, Pérola, logicamente, a seguiu, pelos corredores a fora, com um pequeno sorriso rasgado na sua face depois de tal elogio.

Elogio simples, mas para ela, um momento bem, muito especial…

Na outra extremidade do corredor, entraram então por uma porta. Seguiram outro mais fundo corredor, desta vez, ainda mais escuro do que os outros que eram alumiados pelas luzes artificiais. A noite estava fria, e por isso, mal chegara até uma grande jaula no fundo de tal corredor, um beco quase sem saída, Pérola persentiu algo, remexendo num dos cantos.

Ali, aninhado para se aquecer, estava alguma coisa sinistra, com grandes olhos negros e pele azul escura, olhando a dupla, fixamente.

Pérola, olhou com curiosidade, aproximou-se, focou o olhar mais a fundo, para aquilo que parecia uma simples bola peluda, porém, contava com dois pequenos braços, com uma única garra em suas extremidades, e um longo, afiado bico, cuja ponta relembrava um conjunto de afiados dentes. Apesar da escuridão, a nobre empregada conseguiu observar bem aquilo, não sabia o que era, mas Hessonite sabia, e muito bem. Era um Gota-de-Ave, um género de pássaro gigante, omnívoro, que habitava Luas de colónias abandonadas, e apesar de não conter asas, seu corpo mole conseguia pairar pelos céus.

— Este é o Espécime 51 – Hessonite apresentou a criatura a sua Pérola ao seu aproximar da jaula.

O bicho, piou, abrindo seu grande bico em direção a Hessonite. Sinal de que estava com fome… Muita fome. Ela, removeu imediatamente da sua pedra, um pedaço de carne, brilhando, dentro de uma bolha. Estourou a bolha, e entregou ao seu animal, que devorou tudo em instantes só deixando os ossos.

Era notório que era a perna de algum animal que fora rasgada, arrancada do corpo com alguma pressa, uma parte inferior e os dedos grossos, pele escamada, indicavam pertencer a algum réptil. Pérola encarava com uma atenção extrema, devia ser a primeira vez que estava tão próxima de uma criatura orgânica.

Continuou a encara o ser, até reparar que um dispositivo, bem semelhante aos que a Hessonite lhe tinha mandado construir, estava apegado ao seu corpo, num dos finos braços. Não era de admirar aquela criatura parecer não agir de forma totalmente natural. Estava domesticado.

Aquela carne era pouca coisa, o Gota-de-Ave observou sua dona, ainda com fome, e piou, levemente. Hessonite se aproximou da Jaula, esfregando as mãos no bico da criatura que pareceu completamente derretido por tal estranho, carinhoso gesto. O dispositivo preso em seu corpo brilhou ainda mais. Espécime 51 estava completamente leal, manipulado, para parecer um animal manso que seguisse qualquer que fossem as ordens ou gestos daqueles que se aproximariam dele.

- Não se preocupe meu querido, daqui a alguns dias irei te entregar um autentico banquete - Hessonite pronunciou, com voz suave e pura, além de misteriosa.

Pérola deu um pequeno sorriso com aquele gesto, afinal Hessonite não era tão má assim. Pérola, apesar de tudo, ainda pretendia ajudar e ser fiel no que poder. Não tinha mais nenhuma opção, claro, a não ser que fosse uma das famosas rebeldes, acabando por um caminho que lhe podia levar a sua morte.

Mas o que estava a fazer, e pensar, não era obrigação, e sim, estava a fazer aquilo, queria fazer aquilo, quem sabe, por algum gosto. Talvez, seus pensamentos ainda estavam mantidos de uma forma subtil, não entendia a realidade, talvez, essas razões que encontrava, não passavam de ilusões, ou, quem sabe, apenas pensamentos passageiros, ideias aleatórias.

Mas era inegável que elas existiam, e Pérola, queria seguir tal, para já.

Ou… Pelo menos… Queria isso… Antes do que ai vinha…

Com o comando que construíra, Hessonite desativou aquilo que controlava o seu Gota-De-Ave. Agora, livre de uma manipulação cerebral qualquer, autentica magia dos dispositivos de alta tecnologia das Jóias, o Gota-de-Ave pareceu um feroz. Uma mudança repentina. De um momento para o outro, estava completamente mudado. Já não era o mesmo ser que a empregada tinha conhecido inicialmente.

E exatamente por isso, Pérola, assustou-se. O animal remexia-se e remexia-se embatendo contra as grades de luz artificial que o prendiam, de forma tão violenta, que o próprio monstro acabou por destruir o que restava do antigo dispositivo que o controlava a instantes anteriores.

Ela só conseguia ver que a criatura iria acabar por destruir tudo e ganhar sua liberdade, até que…

— Entra, lá, dentro – Pronunciou calmamente uma voz, a voz da poderosa, Hessonite, ao entregar directamente ás mãos de Pérola o tal dispositivo de controlo que lembrava uma aranha.

Uma sinistra ordem, pérola observou a coisa em suas mãos, e a Hessonite, tentando entender se realmente tinha percebido aquilo.

— Entra, lá, dentro – Ordenou mais uma vez.

Pérola andou vários passos atrás, não acreditava que acabara de ouvir aquilo, começou a estremecer. Apertava entre seus dedos aquilo, não acreditou, e não acreditava, não conseguia acreditar no que acabara de ouvir, lágrimas começaram a sais dos seus olhos, freneticamente.

Nunca tinha visto nenhum ser orgânico antes, muito menos, um daquele tamanho, um dotado de tamanha ferocidade sobre si agora.

O bicho corria, gritava de raiva, espumava do bico, embatia nas grades, tentando a sua liberdade. Hessonite só podia estar louca em dar uma ordem daquele género.

— ENTRA, LÁ, DENTRO! – Ordenou mais uma vez, desta vez com ainda mais acentuação em suas palavras. De forma, bem assustadora.

Pérola Rosa, estremecia ainda, e ainda mais, enquanto que o monstro enjaulado, rugia, e embatia contra as grades, de tal forma que o próprio corpo do monstro começara a ficar danificado, cheio de arranhões, cada vez mais profundos. Uma poça de água vermelha, aquilo que era chamado sangue, começara a se acumular no chão, proveniente do próprio corpo danificado do bicho.

Rugiu, e rugiu mais uma vez, feroz, muito feroz, com muita fome, enquanto encarava sua dona, que se mantinha séria, parado, o observando fixamente, e enquanto observava a sua apavorada Pérola

Com os fragmentos do antigo dispositivo no meio do chão, agora, não existia mais nenhuma volta a dar. Pérola, teria que entrar ali, Pérola estava a ser obrigada aquilo… Pérola tinha que instalar, com suas próprias, trémulas mãos, o dispositivo de controlo cerebral no corpo daquela feroz, que jamais desejava ser uma domável besta.

O bicho nicava as grades, e embata, e com suas garras tentava cortar as mesmas, sem sucesso, apesar de aos poucos as mesmas já se deteriorizarem.

— O que estás á espera? ENTRA AI DENTRO E INSTALA ESSa PORRA DE DISPOSITIVO!

Pérola recuou mais alguns passos, preparava-se para correr e sair dali…

Até…

Ela sentir…

… Hessonite a agarrar.

— Se não vais a bem, vais a mal! – Disse com raiva em suas palavras.

E quando deu por si, só viu Hessonite abrir, em segundos, tal especial jaula, fechando-a logo a seguir.

E então, ela caiu no chão empoeirado de sangue, e antes de ter a oportunidade de se alevantar e tentar dali então sair, só sentiu o Gota-de-Ave atacar seu corpo. Segurando uma das suas pernas de luz e arrancando-a.

Pérola deu um pequeno guincho de dor, mas não pronunciara mais nenhuma palavra, mantendo-se silenciosa enquanto tal besta esfomeada tentava comer seu corpo inorgânico, sem sucesso, e desfazia sua raiva na pobre jóia que de nada tinha culpa.

E entre a confusão, Pérola reparava que Hessonite nada fazia, e nada dizia, apenas, observava a cena, com calma em seu olhar

Olhar que…

… De certa forma…

… Era…. Sádico…

Até o momento que Espécime 51 segurou mais uma vez Pérola, atirando-a contra o chão, o corpo da pobre empregada estava a ficar em danos sérios, depois de tantos consecutivos ataques, ela começou a sentir, na pedra de sua barriga, algo a rachar, e tudo o que sentia, bastante instável. Sentia dor, angustia, só lhe apetecia gritar, mas agora já nem isso conseguia.

Até observar um vulto, uma bolha de pelo em chamas embateu na jaula, destruindo uma parte, e atingindo igualmente o animal feroz, Pérola caiu no chão, solta finalmente, das garras do pássaro gigante, embateu na outra extremidade da jaula.

Sim, finalmente livre das garras do tremendo animal, mas ainda sentia uma dor horrenda em seu corpo… Tentou abrir seus olhos para perceber, entre suas tonturas, o que acontecia ao redor agora.

Até que reparou que a tal bola salvadora, era, sem mais nem menos, Jaspe…. Sua salvadora. Que ao longe a observava, com medo, extrema preocupação, e uma lágrima saia d seu olho por ver Pérola em tal estado. E a mesma, ao mesmo tempo, imobilizando o animal, com seus braços e tudo o resto que conseguia utilizar das capacidades do seu corpo forte.

Pérola reparou que em suas mãos estava um dos tais dispositivos com patas de aranha, que Jaspe logo, de imediato, instalou num dos braços do Gota-de-Ave. Ligou o mesmo ao clicar no tal botão com certa pressa, saltou de cima do bicho e afastou-se para o outro lado, esperando o dispositivo domar o Gota-de-Ave, o que não demorou muito tempo.

Pérola, com imensa dificuldade, ergueu seu corpo, até que caiu, desmaiando, deixando somente sua jóia para trás. E Hessonite, só observava de braços cruzados seriamente, e nada o tempo todo fazia.

O animal então amansou, abriu seu bico, e começou a cheirar a estranha pedra no chão. Antes que ele a nicasse e despedaça-se completamente, de vez, Jaspe correu naquela direção e recolheu tal preciosa jóia.

Observando o Gota-de-ave a lamber suas feridas, limpando o sangue em seu corpo, era notório que o mesmo sentia alguma dos hematomas causados durante sua fúria, mas ele não estava fraco, e ficaria bem. Jaspe então, agora que o monstro estava finalmente calmo, saiu da jaula, e reparou o buraco que criou com a entrada, com seus braços fortes, amolgando as grades para dentro.

Jaspe então, foi contra Hessonite.

— EM O QUE É QUE ESTAVAS A PENSAR? – Gritou a guerreira cheia de frustração.

— Eu só queria ver o quanto essa miserável conseguia aguentar – Hessonite respondeu, piscando os olhos, ainda séria e calma.

Jaspe rugiu, explodiu com ainda mais raiva, até Hessonite lhe pronunciar algo.

— E tu? EM que estás a pensar? – Questionou com um pouco de relevância em sua voz, mas ainda mantendo a calma – Porque estás tanto interessado no que eu faço com a minha Pérola?

Jaspe deu uns passos atrás naquele momento, ainda fúria demonstrada em seu olhas encharcado de lágrimas.

— Eu não estou interessada nela – Respondeu, brutamente – Só posso garantir que, TU, não tens qualquer, decência, para teres uma!

— Então… Eu acho que já entendi…

Hessonite pronunciou aquilo enquanto dava uma ultimo carinho ao seu animalzinho, que foi para as grades, no lado onde ela estava, procurando inocentemente conforto, devido a dor que sentia dos seus ferimentos. E então, depois do Espécime 51 receber seu ultimo gesto de simpatia do dia, pelas mãos da suposta e agora, amada dona, ela retirou-se da sala.

Jaspe, fez o mesmo, depois de dar um soco numa das paredes como forma de se auto acalmar ao dirigir sua raiva a algo. Saiu igualmente dali, dirigindo-se para seus aposentos, no outro lado do corredor.

E enquanto caminhava, observava e acariciava a Jóia rachada de Pérola em seus dedos.

Acordou mais rapidamente do que o normal. Quando deu por si, estava no interior de um género de banheira. Pérola sabia o que era aquilo, um liquido conhecido por curar Jóias danificadas a uma velocidade maior que o normal, uma tecnologia bem recente, inovadora, e extremamente funcional na sociedade actual do mundo dos cristais. Tinha aprendido o que era no tal centro em que fora aprender certas coisas, ainda no jardim de infância. Era uma informação crucial actualmente.

Encarou seu corpo, tinha a sua perna perdida de volta, e a sua jóia ao poucos recuperava as fendas que a nicada do animal lhe tinha causado. Por sorte, o dispositivo anti corrosivo não fora estranhamente atingido, talvez por ser bem resistente fisicamente.

Pérola, encarou suas mãos, tentando relembrar o que tinha acontecido, primeiramente, antes de vir parar ali. Até lhe vir uma recordação a mente, algo que ela não esperava… Algo que nunca esperou…

Sua senhora, lhe atirando para o meio de um recinto, e nada fazendo para a salvar… A cara seria de Hessonite, olhos desejando ver sua empregada morrer, morta por um ser orgânico… O seu olhar, sádico, observando o querido animal de estimação arrancar a perna a outra Jóia.

Acabou por se desfazer em lágrimas. Nunca se tinha sentido assim tanto triste por algo, que fora ainda mais doloroso do que as tais simples, lhe dadas chapadas… Por algum motivo, sentiu que esta seria a primeira vez de muitas que ai vinham…

Refletiu, ali sozinha, e refletiu, enquanto sentia a tal substância curativa cuidar das suas feridas aos poucos… Ficou imóvel, somente a chorar.

E… Sobre tudo aquilo, todas as reflexões suas, em tais tempos anteriores, tempos, talvez, horas, gastadas, com relação ao que Pérola pensava sobre Hessonite… O seu desejo em querer ajudar…

Desejo… Suposto objetivo então… Que agora… Não estaria…

Nunca mais vivo…

Depois deste momento, ela nunca mais quis saber de nada disso… Magoada, profundas cicatrizes marcavam seu corpo, e sua preciosa pedra.

Que aos poucos podiam desaparecer fisicamente…

Mas de certa forma…

Ainda ficavam…

Se não fosse Jaspe, Pérola ainda não saberia se neste momento, ainda, se ainda…

Estaria ali…

Se ainda, estaria assim…

Viva…

Se…

Sobreviveria…