Lágrimas da Realeza

Capitulo 5: Enquanto EU estiver presente


A Jaspe, olhou-a então, e a Pérola, se apercebeu repentinamente, a mesma sabia que esta guerreira lhe observava de lado, e sua principal reacção foi corar, e focar um pouco mais na limpeza das peças, ao encolher igualmente os ombros. Típico sinal de vergonha... A guerreira sorriu, e soltou uma pequena gargalhada maldosa.

Passado algum tempo, fez sua pedra brilhar, e um pequeno dispositivo saiu da mesma, e esta, tocou num dos botões do mesmo, voltando a guarda-lho de seguida no interior, bolsa mágica da própria pedra.

A parte superior daquela sala abriu-se, quase como uma cúpula, mostrando um grande ecrã, seguido de outros menores, que representava com clareza filmagens cheias de realismo daquele céu nocturno, cintilantes estrelas a brilhar bem nítidas entre as luas, alguns planetas dos arredores, e entre as poeiras e gases mortíferos expelidos pelo planeta, que se acumulavam, formando peculiares nuvens no céu.

— Já estive em cada um destes planetas aqui vistos, pelo menos… Umas 3 vezes, no mínimo… Quer em missões ou em qualquer outra coisa… - Começou a pronunciar, de forma calma, acompanhada por inúmeras calmas, como se tal guerreira fosse uma pessoa sábia, que ainda andava por ai, já desde á muito - Sabes… Quando se vive tanto tempo… Acabas conhecendo muitas coisas, desde outras Jóias até outros seres alienígenas… E… Existe muita coisa que muda, já outras, por incrível que pareça, nem tanto…

Jaspe encarou bem tais luzes, pequenas, cintilando a ritmos diferentes, as vezes quase nulos, as vezes demasiado acelerados que nem sua visão conseguia acompanhar tais estranhos flashes. De vez em quanto, uma estrela cadente radiava o céu negro e esverdeado do planeta, com sua cauda de luz.

Depois dirigiu seus olhos a Pérola, focando-se na marca da chapada, que apesar de quase desaparecida, ainda podia ser vista na face da pobre empregada. A Pérola, como reacção a tal estranha atenção, colocou uma das suas mãos sobre esta marca, baixando ainda mais a sua cabeça em direção á água suja que usava para limpar as tais peças misteriosas.

— Sabes… Hessonite passou maus momentos aqui… Muito maus… Ela não costuma agir desta forma, em situações normais... – Jaspe baixou a cabeça, pensativa – Vir novamente até aqui numa missão direta da própria Diamante Amarelo, foi uma tarefa bem, difícil… Porque Hessonite odeia este lugar, e só ficará descansada até ver cada rocha, cada grão de areia, por mais pequeno que seja, pertencente a este planeta miserável, desaparecer completamente do universo.

Pérola, continuava concentrada no seu dever. Limpava e observava sempre as peças, enquanto ouvia tudo, atentamente, apenas se fez de despercebida. Jaspe continuava.

— Algumas cicatrizes nunca se curam. As feridas que Hessonite tem na sua mente, são… Eu nem consigo pensar bem na dimensão das mesmas… Eu e todas as restantes guerreiras dela, tentamos fazer nosso melhor… Quer dizer, quase todas… - Ela parece dar um suspiro, como os seres orgânicos fazem, um suspiro puro de impaciência - Sempre tem aqueles malditos calhaus que só gostam de confusão e de nada mais, nem se preocupam com a possibilidade de alguém lhes partir completamente a Jóia.

Pérola, neste instante, encarou Jaspe, que lhe olhava com um olhar triste. Finalmente ouvia alguma coisa que, apesar de bem vaga e extremamente indireta, já era o suficiente para saber um pouco mais sobre a jóia que nascera para servir durante toda uma eternidade

— Bem, estou feliz por ela, depois de tanto tempo numa missão árdua, depois de tantos anos, finalmente ter conseguido sua própria Pérola… Isso não é nada fácil para Jóias da Hierarquia dela. Ela é uma das Jóias mais influentes na Elite agora… A Grande Elite… Um grupo de Jóias da mais alta classe, e com grande influencia na sociedade, logo atrás ás Diamantes – Pronunciou de forma um pouco fria, Pérola não entenderam os motivos exatos pra tal repentina mudança de tom, seguida de silencio.

Jaspe limpou mais algumas peças, sem pronunciar quaisquer palavras, e depois voltou seu olhar para a tal grande cúpula artificial, que reflectia imagens do céu em tempo real.

— Eu e a Hessonite já devemos ter visitado cada um destes pontos cintilantes, no mínimo, umas 3 vezes… Como eu disse á pouco… E bem… Como sabes, nós as duas nascemos no mesmo Jardim de infância, na… - Finalmente, ela disse algo. De seguida, fechou os olhos e suspirou, um suspiro meio triste, um peso de saudade - Interface 102F….. A muito que não vou a esse lugar, fica no outro lado da galáxia…

Fez uma pausa de silencio, mais uma, e outra, e mais outra, e de seguida, prosseguiu com suas palavras.

— Eu e ela somos das guerreiras mais antigas da sociedade que ainda se mantém Jóias firmes e funcionais. Quando se vive mais de sete mil anos…. Durante sete mil anos… tanta coisa mudou… - Depois de contemplar o céu, voltou a encarar as peças, limpando-as com cada vez mais cautela, ainda, mas mais vagarosamente, sua voz agora adotava um tom mais calmo e de extremo lento ritmo - Por vezes… Eu estou aqui, e sinto que… Estou parada no tempo, olhando o infinito, vendo gente constantemente a chegar e a partir... As vezes, eu penso.... Será que da mesma forma que eu me lembro dessas pessoas no dia a dia, eles alguma vez pensam em mim? Ou eu me preocupo demais com esses supostos amigos que sumiram da minha vida e já não me dão mais valor, nem nunca mais voltarão?... Será que eles ainda estão vivos?... Será que eles ainda se lembram do que eu fiz por eles?… - Parou, colocando uma das mãos na face, limpando uma pequena lágrima que começava a cair de um dos seus olhos – E será que eles se lembram do que… Do que eles fizeram por mim?...

Pérola sentiu um estranho pesar profundamente em relação a Jaspe, não compreendera bem aquelas palavras, mas vira uma estranha tristeza nos olhos e palavras da companheira, que continuava a lhe ajudar a limpar aquelas peças importantíssimas.

Era sempre bom ouvir o que os outros tinham a dizer. Como uma Pérola, não passava de uma ouvinte, não podia comentar grande coisa, só ouvia e sentia, cada desabafo, cada segredo… Era um dos trabalhos que ela nasceu para fazer. Estar lá, apenas presente, pronta para ajudar em algo, pronta para servir alguém, só ouvia, e ordens sempre seguia. Mas as Pérolas também tinham algo a mais, as Pérolas eram ferramentas, brinquedos para deixar os outros felizes, sim, um dos deveres das Pérolas, era ajudar alguém a esconder, ou esquecer, seus problemas, e olhar em frente, encontrar um sorriso na face das Joias mais altas… Isso parecia algo meio estranho, as Jóias nesta sociedade complicada geralmente não ligavam a bem estar próprio, mas isso era um pouco mais diferente nas Joias de Hierarquia mais alta, tais como as Diamantes ou as da Grande Elite.

Assim… Para esta simplória Pérola Rosa, em toda aquela conversa, tantas informações novas aprendera de forma constante, sobre a Jaspe, mas principalmente, sobre a sua Hessonite… Aos poucos, eram cada vez mais as coisas que faziam sentido ao seu redor. Aos poucos, sentia uma ligação mais forte com tudo, como se aos poucos, tentasse encontrar o rumo de parte daquilo que nasceu para servir… Parte daquilo que nasceu para fazer… Um dos seus papéis, ajudar a pessoa que nasceu para servir, a encontrar algo que á muito perdera… Um conforto… Uma mão amiga… Um sorriso… Uma felicidade…

— Eu estou aqui, indo para onde o vento me levar… Mas, a verdade, é que cada um de nós pode construir o seu próprio vento, porém, muitos, simplesmente, não tem quaisquer capacidades para tal…Porque, enquanto uns constroem e seguem seu próprio vento com sucesso, muitos apenas são levados pelos restos dos outros, raros ventos sem rumo, que procuram desesperadamente a ajuda dos menos capacitados. E estes, aceitam, porque não tem mais nenhuma opção, mais nenhum vento a seguir…

Jaspe, suspirou, quando sentiu um pequeno alarme soar… Lá ia, novamente, aquele peculiar planeta a expelir sua venenosa essência, vapor que dominou imediatamente o local.

A empregada, encarou o exterior pelas vidraças e ecrãs flutuantes presentes naquela sala, tudo estava espesso, e rapidamente, misturara-se com o vento… O vapor misterioso e esverdeado, fora levado assim, para longe… Ela não sentira tanta dor, desta vez, ela, e nem Jaspe, aquela área da nave parecia estar protegida, grande parte de tais gases, ali, não conseguiriam penetrar assim facilmente.

Pérola continuou a seguir a limpar as pequenas peças, mas como reacção normal quando ouvir tais palavras, encarou-a diversas vezes… Algo incomodava Pérola… Não esperava ouvir aquilo assim, dessa forma tão triste, lenta, depressiva., de um momento para o outro. Por algum motivo, começou a sentir algo ainda mais pela companheira, uma energia de pouca positividade. Seria tristeza? Por ver a Jaspe também assim? Não tinha certeza, sentiu-se igualmente mal por ela, por ouvir tais triste, simples, pequenos e sem qualquer falsidade, nobres pensamentos aleatórios.

— Muita coisa é… difícil de explicar… Simplesmente isso… - Concluiu a guerreira.

Parou mais uma vez, encarou novamente a Pérola, limpando os olhos, mantendo-se, e mais uma vez, na posição de guerreira firme, tentando fingir a sua fragilidade naquela situação, como se fosse tudo falso, como se as palavras que pronunciara antes não tivessem qualquer sentido, não tivessem qualquer propósito.

— Desculpa… Desculpa… - Disse num murmúrio, entre vários risos, em sua voz poderosa, tentando disfarçar assim, em um sorriso forçado, a sua dor e fragilidade, tentando voltar de novo, e de novo, á sua posição de guerreira poderosa.

Silencio fora pressentido em tal instante. Pérola continuava a encarar a Jaspe, por algum motivo, esperava mais do que aquele pedido. Sentia que conseguiria algo a mais se ouvisse mais alguma parte das desculpas de Jaspe… Só mais alguma observação, algo no seu interior lhe disse para fazer aquilo. E Jaspe, voltou a encarar a Pérola.

— É que… Eu gosto de conversar com alguém sobre isto… Já que não falas, e és no momento minha própria Pérola temporária, achei que serias uma boa ouvinte… Por um lado, agradeço sua paciência em me ouvir… - Acrescentou por fim.

A guerreira, passou o pano com água que utilizava, numa parte da peça que limpava no momento, fazendo a mesma, acabar por brilhar, ao revelar, debaixo de muita poeira, uma superfície lisa de vidro, vidro claro, reflexivo. Parecia um espelho de outras eras.

— Eu sei que te enchi com lições de vida que parecem estúpidas e essas coisas de carácter idiota em tão pouco tempo… Tudo pode parecer muito repetitivo, estranho, muito sujo, agora – Disse, enquanto acabava de limpar a peça, fazendo-a brilhar e refletir o redor, ainda mais - Mas, talvez, no futuro, estas frases para ti acabem fazendo mais algum sentido. Ainda tens uma vida inteira pela frente, um universo inteiro para ver e explorar…

E por certo motivo, Pérola sentiu-se um pouco satisfeita e menos confusa ao ouvir aquelas palavras… Sentimentos eram estranhos.

E então, Jaspe entregou a peça de vido a Pérola. E. pela primeira vez, Pérola pode ver o seu reflexo. Encarou, com imensa curiosidade em seus olhos, a sua imagem ali gravada, e gostou tanto da oferta de Jaspe, que decidiu guardar aquele espelho. Afinal, era inútil, Jaspe com gestos indicava-lhe isso, indicava que ela, com aquilo, podia ficar. E então, depois de analisar sua imagem, além de passar a mão e ver o local onde recebera a chapada, analisar a imagem que nunca tinha visto de si, pela primeira vez… Guardou tal vidro dentro da sua pedra, em seu ventre.

A nobre empregada, com aquela imagem ficaria gravada para sempre, a primeira vez que viu sua face, num espelho tão limpo, tão brilhante, espelho que á muito tempo sempre se manteve coberto de poeira, terra suja daquele planeta… Agora, um espelho revitalizado… Cuja a primeira coisa que conseguiu refletir com sucesso, depois de tanto tempo, foi a imagem daquela Pérola maltratada. Seu olhar pensativo. Seu olhar um tanto confuso. Sua boca que nunca ninguém ainda tinha ouvido falar, e principalmente, a imagem, a imagem feroz que a marca da chapada entregava a quem a visse. A marca que Hessonite, a marca que tal impulsivo seu gesto, lhe tinha deixado.

Pérola Rosa, depois de guardado, então, moveu um pouco a cabeça, concordando, aceitado aquilo, voltou a dirigir seus olhos para os instrumentos que manuseava e limpava com cuidado. Jaspe manteve seu olhar fixo nos movimentos da Pérola. Os olhos da empregada pareciam ter mudado, depois de observar sua imagem, pela primeiríssima vez naquele velho, rachado espelho… Aquilo, fora um momento muito especial. Que não estava claro agora, mas que, ficaria, em breve…

— Muitas pessoas tem demasiada vergonha na cara para demonstrar ás outras pessoas ao seu redor, o seu amor por algo, de forma tão pura assim – Pronunciou, repentinamente, Jaspe. Pérola apenas não entendeu o novo contexto súbito daquilo. Era apenas mais uma mensagem que carácter idiota, junta com todas as outras…

Jaspe parou, por um finalmente final, seus discursos, permaneceu em silêncio, não dissera muitas palavras, pelo menos, até quase metade de todas as peças ficarem limpar

Pelos vistos, a general chegara muito mais cedo do que o previsto…

Pouco depois de meia hora de silencio, ambas pressentiram algo. Aos poucos, a pérola pode contemplar pelo grande visor da nave, jóias em plena marcha, mandadas numa missão qualquer, entre a penumbra da noite, no exterior, a voltar, em direção á localização da nave desfeita… Vindas de caminhos estreitos que ultrapassavam as paredes de tal deteriorado jardim de infância, que cobria todo o horizonte.

Assustada, reparou na quantidade reduzida que era apresentada, um grupo de cinquenta jóias reduzido a meia dúzia de guerreiros, aproximadamente.

A Hessonite não chegava com uma cara boa, mas também não chegava com uma cara má de todo, estava seria, parecia natural, como se as coisas tivessem corrido bem e mal, ao mesmo tempo… Como se estivesse aliviada pelo retorno… E a Pérola, como também quase todas as antigas intrigantes na nave, agora desfeita e mesmo ali amontoada, que esperavam ansiosas pelo retorno, entraram completamente em pânico. Como se para as mesmas, as coisa não tivessem corrido nada bem, aparentemente, apesar de tal não ser exatamente uma verdade, ainda... Estavam apenas assustadas pela quantidade de jóias reduzida, que chegara.

Depois de se aproximarem, as guerreiras que vinham da missão, permaneceram no exterior, enquanto eram recebidas e acolhidas pelas Jóias que já lá no exterior se encontravam, como ordem de Jaspe que havia permanecido na nave, a controlar todas as que sobravam. A maioria já tinha começado a socorrer todas as recém chegadas, mesmo antes da ordem de Jaspe – ordens dadas directamente da sala onde a figura se encontrava, através de um dispositivo especial. As jóias que já estavam na base, ajudaram também, de imediato, a descarregar certas coisas que o grupo trazia no interior de grandes máquinas especializadas que tinham levado consigo. Eram rochedos, pareciam rochedos comuns de aparência, mas para alguém da categoria de Hessonite os ter recolhido, era claro que tal não era verdade, tais rochedos tinham algo de especial, algo a mais em si, mesmo que seja algo mínimo.

Hessonite entrou, teletransportada, graças a uma opção especial da sua poltrona, directamente para a sala onde Jaspe e sua Pérola Rosa se encontravam.

Perola encolheu-se, com medo do que poderia vir, não tinha completado o serviço totalmente, só quase 45% dele, e isso só fora possível graças á preciosa ajuda da Jaspe. Apesar do estar ansiosa, Hessonite não ligou muito ao trabalho da Pérola no momento, afinal, tinha coisas mais importantes com o que se preocupar. Apesar de que sua expressão neutral pareceu quase mudar por completo, ao entrar na sala. Pérola, enervou-se, e afastou-se ainda mais da dupla, que se encararam frente a frete. Jaspe realizou a vénia típica para honrar a chegada da senhora.

— O que aconteceu, sua clareza? – Questionou Jaspe, de imediato.

— O que aconteceu? Não estás a ver o que aconteceu? A situação está muito pior do que esperado lá nas ruinas do lado oeste… - Informou – Por muita sorte, consegui a quantidade de exemplares necessários.

— Pior… Em que sentido?... Pior do que da ultima vez?... – Jaspe questionou, engolindo em seco.

— SIM! – Pronunciou de modo um pouco mais brusco, ao dar um soco no braço da sua cadeira – Depois de tudo isto, o que eu vou dizer ás Diamantes? - Questionou para si, com voz mais irritada ainda, mas também, recheada com certa preocupação – O que eu vou escrever no meu relatório?

— Pelo menos conseguiste uns bons exemplares… - Analisou, ao encarar as pedras dentro das peculiares maquinas, a serem descarregadas, pelos ecrãs da cúpula daquela sala - Devias estar satisfeita, grande parte da missão foi concluída.

— Bons exemplares? Concluída?... Por acaso esses rochedos miseráveis vão recompensar a perda de um Pelotão praticamente inteiro? Quase quarenta Jóias dos mais altos exércitos do nosso mundo? Sem contar com as que foram perdidas quando a nave foi destruida, e sem contar que estávamos tão perto de conseguir exemplares muito melhores que esses.

— Bom… Não temos nada a fazer agora senão conseguir voltar para nosso mundo antes de sermos atingidos pela Erosão do planeta… Talvez as Diamantes sejam tolerantes. – Jaspe comentou com calma.

— Ouve lá seu grão de areia inútil. Acha mesmo que elas vão perdoar a destruição total de quase quarenta Jóias dos mais altos exércitos do nosso mundo? Estamos sem a merda de recursos para produzir novos soldados, e eu não posso perder mais nenhum assim numa missão tão simples, para piorar – Hessonite cuspiu estas palavras, estava realmente preocupada com seu estatuto, enquanto esfregava a mão nos olhos, sinal de clara impaciência e preocupação.

— Ei, pelo teu tom parece que a missão toda afinal não foi assim tão simples… - Argumento Jaspe, irónica, ao cruzar os braços.

— Só tinha que ir lá, e pegar numas amostras, apareceu uma quantidade absurda de monstros, e existiu dificuldades técnicas com nossos equipamentos – Hessonite pronunciou, enquanto saia da sua poltrona flutuante.

Seu objetivo agora? Avaliar a limpeza que tinha sido efetuada nas peças espalhadas pelo chão. Finalmente se lembrara de dar atenção ao trabalho da pobre empregada… Talvez, aquelas dificuldades técnicas teriam outro sentido por trás… Algo que fez Hessonite avançar de tal forma.

E tudo fazia sentido… Pérola apenas manteve-se imóvel, num canto, nervosa, de ombros encolhidos, observando tudo e ouvindo a conversa, o tempo todo. Pouco tempo depois de silencio, Hessonite aproximou-se da sua Pérola. Elevou a mão e deu-lhe uma poderosa chapada na sua face. Mais uma. Ao contrário da primeira vez, Pérola não se mostrou surpresa, já estava esperando isso. Apenas esfregou a mão na cara, no lugar da nova chapada. Uma lágrima saiu de um dos seus olhos, mas manteve-se forte, aguentou a dor, não era nada pior do que a que recebera da primeira vez.

— Ei... Então senhora… Porque fez isso á sua empregada?...– Questionou Jaspe um tanto exaltada.

— Pensava que estava tudo bem, mas ela instalou mal os dispositivos anticorrosivos… - Hessonite elevou novamente a sua voz, em direção a Pérola, desta vez, a mesma ficou mais afetada, por ouvir tais palavras mais diretas.

O observar de Hessonite mostrava tudo, principalmente, desprezo. Pérola, sentiu-se uma inútil em tais instantes, uma simples incapaz, ao observar tal assassino olhar, pois ela realmente pensou que os dispositivos que ela tinha instalado nas pedras das guerreiras, estavam perfeitamente colocados.

— Viste o que fizeste sua inútil desgraçada? Vai mas é arrumar e limpa toda esta bagunça!

A Pérola, estremeceu ainda mais e acelerou seus passos, não tardou nada, e com gestos atarefados, começou a recolher os materiais espalhados pelo meio do chão, a organizar estes e a levar, cuidadosamente um por um, até os locais apropriados daquela sala das ruinas. Cada peça, dependendo do tipo, tamanho, e se estaria já limpa, ou não, iria ser guardada num compartimento apropriado, caixas especiais existente ao redor das paredes.

Hessonite voltou para a sua poltrona, sentou-se. Enquanto Pérola trabalhava, ela escrevia e anotava tudo o que acontecera num computador flutuante, informações do seu relatório, estava também a decidir o que fazer a seguir, prosseguir na missão com seus soldados escassos para depois voltar ao planeta natal com um relatório vergonhoso. De vez em quanto, sempre analisava o trabalho de Pérola.

— Ainda agora ganhei uma Pérola por milénios de missões bem sucedidas… E aconteceu essas… Porque eu fui me fiar na ideia que a sorte, a partir deste momento, sempre estaria a meu lado? – Murmurou, entre palavras frias enquanto continuava a escrever numa língua antiga tudo o que acontecera até então, e os resultados das suas explorações até aquele momento.

Jaspe. Preparava-se para sair daquela sala, prosseguir normalmente seu trabalho, mas olhou Hessonite, e então, não deixou de reparar em algo, no assento da poltrona da general, ao lado das pernas da mesma, era uma estranha esfera, de aparência meia frágil. Aquela soldado, então, permaneceu imóvel, encarando tal coisa.

— O que foi? – Hessonite questionou com uma voz ríspida, depois de se aperceber de toda aquela atenção.

— Isso é?... – A Jaspe apontou, com firmeza, sua voz indicava uma indirecta questão.

— Um ovo de Chupa-Pedra – Hessonite respondeu séria, e confirmou – Sim.

— Estás maluca certo? – A guerreira comentou, de forma brusca - A mãe vai querer o ovo de volta, ela vai vir atrás do seu cheiro… Se já estávamos em perigo, estamos ainda pior agora!

E Hessonite apenas deu um suspiro, como os seres orgânicos, parecia resmungar para si própria.

— Não estás a dar nenhuma novidade que eu não saiba – Fechou então os olhos algumas vezes, e de seguida analisou o ovo mais uma vez, ao pegar no mesmo e acariciar sua superfície lisa – Eu apenas quero sair daqui o mais rápido possível. Tenho um plano… E por agora, com esta base reforçada, estamos bem seguras de qualquer ataque, e mais importante, consigo acabar a outra parte da missão.

— Vais voltar a fazer aquilo… Que eu estou a pensar? – Jaspe encolheu os ombros, um tanto impaciente, como também preocupada, lembrara-se de algo. Hessonite ter um ovo desses tais Chupa-Pedra parecia algo que lhe era completamente familiar.

— Sim… - Ela ia pronunciar algo, até ser interrompida de forma repentina, pela voz de Jaspe.

— Estás a gozar, certo? Da ultima vez que tentou, não funcionou! – A guerreira não concordava nada com o que acabava de descobrir, de forma a reagir por impulso, elevando ainda mais sua voz como desaprovação - Milhões dos nossos foram comidos! Quase ias morrendo! E olha o que aconteceu logo a seguir á Esmeralda!

Hessonite arregalou os olhos, em meros segundos, quase instintivamente, deu um soco na cara de Jaspe. Os olhos da general reflectiam quase tudo o que se podia contemplar em uma mistura, de tristeza, raiva, ódio…

Jaspe manteve-se imóvel, com um olhar sério, e a Pérola Rosa, apesar de pouco, ou mesmo nada, estar a entender, a conversa, estremeceu com o gesto brusco da sua senhoria, e recuou alguns passos, se afastando.

— EU JÁ DISSE! NÃO voltes A MENCIONAR esse nome, NUNCA MAIS, enquanto EU estiver presente! – Ordenou com grande relevância em sua voz, Jaspe apenas manteve um olhar sério, proposital.

— Eu apenas disse a verdade… Queres perder mais alguém que ames? – Argumentou Jaspe, de forma meia provocativa, sem grandes detalhes, e virou as costas, enquanto passava a mão na face, no lugar, onde recebera aquele soco.

— Eu já não amo mais ninguém – Hessonite respondeu, com um pouco de mais calma, mas, ainda fria, e firme.

— Então… - Jaspe pareceu meia ofendida com aquilo, por algum motivo, baixou o tom de sua voz - Faz o que quiseres, afinal, eu estou aqui, só para seguir as suas ordens, não é? Mesmo que eu não apoie suas decisões, irei respeitar e cumprir, já sabes como funciona o sistema – E começou a murmurar – Vá, arrisca perder mais guerreiros de alto estatuto… Veremos se as Diamantes vão mesmo gostar ou não desta vez.

Hessonite apenas ignorou, apesar de ter dado uma má cara ao ouvir aquilo. Prosseguiu.

— E minha ideia, então, será assim, realizada. – Concordou. Depois, Hessonite fechou os olhos, logo deu um suspiro tentando se acalmar novamente – O ovo eclodir, ou os pais da cria aqui nos encontrarem junto com seu clã, acredito que será o tempo necessário para completar o resto da missão. Dou pouco mais de três dias. Apesar de não termos muitas armas funcionais, eu conheço aquelas criaturas, e garanto que, com sorte, a base aguentará bem os ataques. É o tempo suficiente para acabar a missão, preparar tudo para a nossa captura e consecutivamente, nossa partida.

Jaspe parecia ainda não concordar muito com aquilo. Mas manteve-se em silêncio durante algum tempo, como se fingisse concordar… Afinal, tal como ela própria concordou, não tinha mais nenhuma opção… Ou concordava com a ordem de seus superiores, ou era presa, torturada, e quem sabe, despedaçada, esta era a regra, a regra principal do mundo dos cristais, o modo como tudo funcionava…

De seguida, prosseguiu.

— Não existe outra forma? Mesmo a sério que não podemos simplesmente esperar pelas Jóias da nave principal?

— Nossas opções são escassas… E se aqueles calhaus da minha nave principal realmente sabiam que aconteceu algo de errado comigo e com parte da nossa tripulação, então, já tinham começado as buscas á muito – A general argumentou, ainda com má cara – Estamos aqui á uns 3 dias… E como eu já comentai, nossa presença neste planeta tem prazo de validade… Já sabes disso, e não voltes a me questionar este assunto… Apenas não voltes…

Hessonite virou as costas, dirigindo-se a uma das paredes daquela parte das ruinas. Ela pareceu fechar os olhos.

— Confie em mim, garanto que desta vez vai funcionar.

Apesar da pequena palavra de considerado, conforto, Jaspe ainda não estava convencida… Algo em todo este dialogo não tinha cara de bater certo.

A general, então, esticou o braço, até as costas, e debaixo da sua capa, onde localizava-se a sua jóia, retirou um objecto. Lembrava o punhal de uma espada, com alguns diamantes falsos em sua decoração. Os mesmos, começaram a brilhar, criando uma arma de luz. Uma picareta grande, pesada, mas que Hessonite conseguia manobrar facilmente. Começou, com a mesma, a destruir e remover as pedras da parede. Como também as paredes com as tais velhas entradas tapadas por placas de metal. O trabalho foi rápido. Revelando uma entrada, sitio onde outrora existia uma porta, para um túnel que ia mais a fundo nas ruinas.

Ela, sozinha, penetrou pela entrada misteriosa. Naquele momento, Pérola estava lá bem perto do local, e sentiu que o cheiro que provinha do interior do vasto túnel era misteriosamente puro, já estava tanto habituada ao clima pesado do planeta, que, por apenas vagas horas em que estava ali, viva, já se tinha esquecido completamente de como era o ambiente limpo, sem nenhum gás mortífero pronto a atacar, apesar de que, a única vez em que sentiu tal respiração sólida, fora quando estava no jardim de infância onde nasceu, ou na nave de Hessonite, antes de ser misteriosamente destruída.

Hessonite andou alguns passos na escuridão penetrante, apenas uma forma de avaliar o perímetro, utilizava seus óculos especiais, uma saliência dourada com um género de visor mágico, que presa em seus olhos, conseguiam analisar a escuridão e todos os segredos que mantinha. Antes de voltar de tal vaga analise, fora o tempo suficiente para Jaspe dirigir-se a Pérola, e comentar algo.

— Sim, Hessonite ás vezes, quando está sobre grande pressão, em locais que odeia, muito marcantes como este, acaba assim, meia confusa das frases e dos seus planos, mas em outros sítios, ela até que é alguém muito racional. Aqui, ainda o é, claro, mas Hessonite pode não conseguir controlar tão bem suas memórias e traumas como em locais que nunca, ou pouco vivenciou, de forma bastante marcante em seu passado. Como eu comentai á algum tempo, ela odeia este planeta… Ela não queria voltar aqui… Ela finge ser forte…

Pérola abanou a cabeça, agradecendo pela nova informação. Sim, era notório, Hessonite era inteligente, mas em locais como aquele planeta, ainda o era, mas não tanto, maldições do passado, a incomodavam, sempre… Pérola finalmente sentia que tinha algo a mais em sua vida, ela tinha que descobrir o que sua senhora tanto sofria, e contrariar isso, levando-a ao bem estar, como qualquer outra Pérola comum desejava ver em suas donas.

A cada instante…

A cada esquina…

Á medida que caminhava para analisar a escuridão, algo não saia de sua cabeça, principalmente depois de Jaspe pronunciar tal palavra… Tal nome….

— ‘’Esmeralda’’ – Murmurou Hessonite, ao apoiar a mão num dos rochedos da parede.

Fechou os olhos, e deixou uma pequena corrente de estranho mas puro ar que ali existia, vinda do interior das ruinas recém abertas, embater em sua face.

— Vamos! Corre! Minha, ‘’Pequena’’!

Uma figura esverdeada, puxava a mão de uma outra figura de corpo alaranjado, ambas, corriam sem parar, ambas, corriam recheadas em gargalhadas. Um vasto campo aberto se erguia em frente, plantas bem verdinha crescia sem parar, clareando tudo de cor através de flores de todos os tamanhos e formas. O enorme campo, se estendia até o horizonte, sendo quebrado por um grande monte no seu centro, e diversas árvores que cresciam continuamente saudáveis, ao acaso, e bem mais ao longe, o pico mais alto de algumas das maiores montanhas na área acrescentavam um toque ainda mais especial a tudo. Uma brisa de vento calma e quente movia os cabelos do casal que assim, durante tanto tempo, sempre brincavam, sempre corriam e brincavam sem parar, aproveitando todo o tempo que tinham juntas.

Em tais tempos incógnitos, a beleza daquele planeta atingia níveis surreais.

Mas não atingia tanta beleza como…

Aquela felicidade, a felicidade de ambas…