Lágrimas da Realeza

Capitulo 1: Que sejas de bom uso


Ao redor, gigantescas e poderosas máquinas perfuravam o chão, criando um som ensurdecedor constante que estremecia toda a extensa rocha pelo qual seu buraco se encontrava. Uma pessoa, de cor e forma peculiar, característica de sua raça e classe da sociedade alienígena pela qual pertencia, caminhou de passos leves até a saída, e antes de entregar totalmente seu corpo aquela que parecia ser a liberdade ao final do túnel, permaneceu mesmo ali. Observou o céu negro e suas vastas estrelas, deixando fracos raios de luz embaterem em seu corpo.
Com uma das suas mãos, tocou com leveza na parede do orifício pelo qual saíra, observando as marcas neste cravadas. De seguida, mais uma vez, observou todo o enorme exterior, desviou o braço da parede com rapidez e apertou, nervosa, o punho junto ao peito. Aquele mesmo vasto local era repleto de buracos semelhantes ao seu, uns maiores que os outros, caracterizados por terem uma forma humanóide.

E quando deu por si, não estava sozinha. Os restantes buracos em todos os grandes rochedos de tal frio negro local, encheram-se imediatamente de vida, vida esta que surgira no meio de toda a presente poeira. De cada um dos orifícios, surgia em passos calmos, seres muito semelhantes a ela, que observavam o redor, num comportamento inicial muito idêntico ao seu. Cada um deles, sentiam a pequena brisa natural de vento, ouviam e fitavam as terríveis máquinas a perfurar constantemente a rocha, plantado no solo mais seres como elas, e era assim que elas apreciavam o primeiro momento das suas vidas...
Por algum motivo, apesar de serem todas iguais, só diferenciadas pelas cores e posições das suas pedras em seus corpos artificiais, aquela sentiu-se diferente das outras… Sentiu que sua existência seria para um propósito mais descomunal das restantes… Nascera para servir alguém considerada importante, alguém muito mais importante do que aquilo que indicava os destinos das demais…

Estes seres altamente inteligentes, conhecidos como Jóias, eram, nada mais nada menos, só mais algumas Pérolas, criadas feitas á medida, tal como todas as outras Pérolas que andavam por ali no Mundo dos Cristais... Era só mais uma fornada a sair, e mais um daqueles velhos e esgotados Jardins de Infância. Este em questão, provara seu original valor em produzir peças belas como aquelas, empregadas magníficas, brinquedos reluzentes de alguém.
Até agora, o local nunca lhe tinha desiludido... Porém, a gestora da área, parecia sentir profundo medo sobre as novas Jóias ali produzidas, um medo que podia custar a sua forma física, sua própria Jóia, a sua existência...
O Mundo dos Cristais estava a ficar cada vez mais sem valiosos recursos desde os primórdios da Era 2, e estas Pérolas, apesar da aparência bela e, comum, poderiam ser, diferentes, em algum outro sentido literal... Pois aquele Jardim de Infância, de algum momento a outro, poderia acabar escasso. Era necessário ter precaução, e por outro lado, aproveitar todas as condições de crescimento o melhor possível.

A maioria já havia emergido do solo, saíram totalmente de modo adequado de cada um dos seus orifícios, concentrando-se em uma área de terra plana. Foram, de seguida, encaminhadas até um determinado local para aquilo que parecia experimentos, acompanhadas e guiadas por guerreiros já ali encontrados, peças fortes de Quartzo, e alguns robôs programados que á muito faziam aquele serviço simplório.
As Pérolas aprovadas nos vários testes ali propostos seriam levadas até um outro centro especial para mais novos testes e uns treinamentos básicos, os rumores indicam, igualmente um género de lavagem cerebral (isto, uma opinião aos olhos dos mais rebeldes), onde elas iriam aprender de modo mais profundo os seus objectivos e o que era ser uma Pérola, e quem iriam servir.
As Jóias já nasciam sabendo o que deviam ser, mas, devido a determinados problemas que ocorreram durante a Era 1, e também pela falta de recursos da actualidade, todas as novatas teriam que, obrigatoriamente, passar por esta rotina inicial, uma fiscalização cuidada. Mais valia prevenir quaisquer erros agora, do que gastar mais preciosos recursos para resolve-lhos no futuro.
Tudo até agora correra bem, não existia nenhuma falha detetada, todas eram leais, saudáveis e normais, seguiam o padrão ético imposto pelos olhos exigentes do Mundo dos Cristais. Depois das devidas avaliações e aprovações, chegou a altura daquelas empregadas serem conduzidas até seus novos lares, encaminhadas até os serviços dos seus donos.

A gestora daquele vasto Jardim de Infância, era um Peridoto comum, que havia sofrido melhorias através de um equipamento tecnologicamente avançado preso ao seu corpo, como todos os demais Peridotos criados durante a Era 2. Esta, no momento, com um ecrã flutuante, preenchia um inquérito relacionado com a produtividade actual daquele local (ou alguma informação útil, de relevância, que necessitava de arquivação), que seria, posteriormente, enviado até a sua superior.
Passado algum tempo, as Pérolas que acabaram de emergir foram reagrupadas mesmo á sua frente, perfeitamente alinhadas e de cabeça erguida, encarando-a a ela, e umas ás outras, com ar calmos e, ao mesmo tempo, confusos. De seguida, todas, em sintonia, realizaram um gesto peculiar, cruzaram os braços entre si, formando um losango que representaria as grandes e honradas Matriarcas do Mundo dos Cristais no peito, a tão famosa saudação que todas as Jóias criavam para glorificar suas superiores.

A tal Peridoto, após observar o movimento de honra, começou então a transmitir algumas informações, chamando por determinadas Pérolas através de um código de identificação bem básico, típico da sociedade das Jóias. Estas, na devida ordem a qual eram convocadas, se dirigiam em direcção a diversos portais de pedra lapidada numa zona específica do Jardim de Infância, mesmo ali perto, onde seriam teletransportadas para toda a galáxia, e onde, de forma igual, conheceriam e serviriam eternamente os seus mestres.

— Interface-J102... Sempre impressionando... - Comentou o Peridoto, depois de sorrir, gabando-se do Jardim de Infância onde actualmente trabalhava e das suas capacidades enquanto observava as Pérolas recém-criadas e analisava inúmeros dados no seu ecrã flutuante. De forma repentina, parou, ao ler determinada informação nele gravado – Oh… Vejo que… Parece que temos uma entrega mais, especial…. Já me tinha esquecido…

Continuou a analisar os dados, agora adoptando um olhar mais preocupante, de seguida, elevou o braço, e todas as Pérolas quase instintivamente pararam a sua marcha em direcção a seus destinos. O tal Peridoto, de seguida, elevou a voz, chamando por uma determinada Pérola.

— Pérola Rosa, Corte-7OGD, aproxime-se - Ordenou, severa, por fim.

Depois de ouvir o seu número de identificação, uma delas, de cabeça baixa e passos rápidos, aproximou-se da alta superfície, onde a tal Jóia esverdeada encontrava-se, de modo quase imediato.
Esta Pérola era tão comum como todas as outras, seu corpo e sua própria Jóia adoptavam uma cor calma e brilhante. No caso, esta sua pedra, de superfície lisa, e dotada de uma cor rosa bem clara, era localizada perto do ventre. Magenta, roxo e púrpura, tingiam seu corpo de um elegante esplendor. Parecia uma empregada pomposa, de aparência bem caprichada, tudo indicava que era uma Pérola que serviria alguém extremamente importante.
Ela deu mais um passo em frente, e a cada passo que dava, seu corpo parecia estremecer de nervosismo. Aproximou-se cada vez mais do tal comum Peridoto, até parar numa superfície entre a terra e poeira do chão que parecia ser composto de um material mais artificial. A gestora tocou num determinado botão com seus dedos robóticos, gravado no seu pequeno computador flutuante. E quando deu por si, a nobre empregada encontrou-se no interior de uma máquina de teletransporte, muito diferente das restantes placas de pedra lapidada pela qual as restantes Pérolas se dirigiam. Era uma tecnologia mais especial e avançada.

— De acordo com os registos da minha superior, foste um pedido especial e exclusivo, criada para servir uma Hessonite, uma velha grande militar da mais alta elite do Mundo dos Cristais... - Analisou, e a Pérola Rosa acenou com a cabeça, de modo afirmativo, ainda um pouco nervosa pelo seu destino – Ela está a caminho da sua próxima missão, portanto, serás enviada directamente para a sua nave. Boa sorte... - O Peridoto acrescentou em um murmúrio final de suas palavras.

Todas as Pérolas ainda ali perto encontradas despediram-se dela, com um simples gesto ao acenar as cabeças, de modo formal, e a peculiar máquina fechou sua superfície completamente, estremeceu durante vários segundos, elevou-se um pouco vagarosa do chão logo depois de seu motor arrancar, levantando de forma consecutiva uma vasta poeira de fina terra seca que encobriu o seu redor.
A Pérola pode contemplar, por uma pequena janela, todas as outras Jóias que desviaram seus olhares da maquina e voltavam a caminhar, de modo igual, em direcção aos seus destinos, observando então o local onde nascera, por aquela que seria, a última vez. A nave começar a brilhar numa esbranquiçada luz intensa, e num movimento súbito, quase imperceptível ao olhar das outras Pérolas, que em parte observavam atenciosas tal partida, a cápsula de teletransporte subiu a uma velocidade incrível, cortou os céus negros tingidos de estrelas deixando um rasto de cintilante luz que dissipou-se rapidamente.
Aquela grande e especial distorção no espaço e tempo, demorou o tempo suficiente de um piscar de olhos, não tardou pouco mais do que isso até chegar ao seu final destino. Então, esta máquina logo parou, e em mais um novo gesto repentino, dissipou-se, desapareceu num brilho, soltando a sua passageira que quando deu por si, estava no interior de uma gigantesca nave espacial em movimento pelo vasto cosmos. A partir daquele momento, soube que aquele grande e nobre Jardim de Infância, agora, e para sempre, não passaria de uma das suas mais distantes e inúteis memórias, e que a partir de agora, sua verdadeira existência iria realmente começar.

Nervosa, aquela Pérola Rosa ordinária encolheu os ombros e baixou a cabeça, apertou ambas as mãos ao peito e com gestos pouco perceptíveis, encarou com uma extrema atenção o seu redor. Não tardou longos segundos em se aperceber que, mesmo em frente, sentada num género de poltrona flutuante altamente avançada, estava outra Jóia, muito diferente dela, mais alta, de uma aparência poderosa, e esta fora, na verdade, a primeira coisa que noticiou mal chegara ali, quase instintivamente.
Encolheu ainda mais o corpo, tremula, e tentou desviar seu olhar da observação pesada da aparente dona da nave, fitando a restante área com inquietação, aquela devia ser uma guerreira poderosa extremamente importante, era sem sombras de dúvidas a pessoa pela qual a nobre criada nascera directamente para servir.

— Finalmente a minha recompensa chegou... Pensava que as Diamantes já se tinham esquecido do meu brinquedo - Comentou com uma pequena gargalhada manhosa enquanto mexia em vários botões sobre o painel de controlo da nave - Pérola Rosa, 7OGD da Interface 120… Espero que sejas de bom uso...

O silêncio prosseguiu, e a Pérola aproximou-se, para honrar sua mestra, e sem nenhuma palavra, realizou uma delicada vénia, segurando uma parte do seu vestido para transmitir somente ainda mais elegância e honor.
Enquanto criava tal devoção, observou a Hessonite com um olhar discreto, o seu corpo pomposo e a postura elegante eram recheados em tons laranja, vermelhos, castanhos e dourados, com algumas marcas brancas, uma longa capa repleta de brilhantes estendia-se nas suas costas. Como qualquer Hessonite comum, um dos seus olhos era coberto por um visor de vidro encarnado, e quanto á sua Jóia propriamente dita, uma pedra rectangular lapidada, estava devidamente localizada atrás das costas, mesmo debaixo do pescoço, e era quase camuflada devido a longa capa que suportava.

— Óptimo, óptimo, querida - Sorriu de forma irónica, ao endireitar sua grande cabeleira castanha enquanto analisou a veneração da sua nova empregada, e esta, no momento, retomo uma posição formal de corpo reto, esperando, ainda inquieta, as ordens da sua senhora – No momento, estamos indo em direcção a uma nova missão… - Informou.

Depois de dizer tais palavras, num movimento súbito, esta alta guerreira atirou um determinado objecto em direcção a tal aia, e ela, assustada pelo repentino gesto, não conseguiu segurar o mesmo em pleno ar, deixando-o cais aos seus pés. Baixou o corpo com gestos tremidos, e agarrou tal coisa de seguida, era uma pequena máquina com formato de caixa, de um tom metal azulado, presumivelmente, algum género de comunicador altamente avançado.

— Preciso que vás até o porão e guardes esses registos no meu cofre, em segurança - Ordenou, enquanto voltava sua total atenção ao painel de controlo da sua nave e voltava a mexer nuns determinados botões e ler novas informações, talvez os requerimentos da sua missão – É fácil encontrar o porão, apenas atravesse o corredor… Não se preocupe, só vou terminar aqui um relatório, e de seguida irei ao seu encontro para te dar uma visita guiada mais precisa…

Esta era, de forma clara, a primeira vez que realizava um trabalho de verdade, a Pérola era nova, tinha acabado de nascer, agora mesmo saira do solo e já estava a receber ordens de alguém importante. Era, então, uma Pérola inexperiente, e apesar dos testes que sofrera no Jardim de Infância, não sabia, ainda, nada de nada, toda a situação parecia totalmente nova devido a seu nervosismo que sentia quase como uma maldição.
A única coisa que conhecia é que iria ser uma empregada eternamente de outra Jóia, e podia não parecer, mas sentia que ainda teria muito que aprender em relação a tal. Já a Hessonite, sabia de forma clara destas iniciais limitações da novata Pérola, e era notório que o facto de lhe dar um dever tão simples inicialmente não passava, possivelmente, de alguma estratégia para a empregada se habituar com calma ao ambiente ao redor.

— Porque é que ainda estás ai parada? - Disse a Hessonite num tom um pouco calmo, mas um tanto assustador aos olhos da tal empregada, ao se aperceber que esta sua Pérola continuava no mesmo local, parada, a observar a peculiar máquina em mãos – Vai lá fazer o que eu te pedi!

Desviou novamente o olhar em direcção ao painel da nave e seus registos, enquanto a Pérola virava as costas, procurando o seu caminho. Até agora só conhecia os centros de inspecção, as rochas, terras, poeiras e injectores do Jardim de Infância, era a primeira vez que estava no interior de um local tão vasto e estranho como aquele e, portanto, não sabia onde era esse tal porão, nem como chegar lá, e de outra forma, ainda desconhecia o modo como toda aquela estrutura altamente tecnológica funcionava.
Esta nave era uma grande arma de guerra, sua edificação exterior caracterizava-se por ser uma pirâmide invertida. Eram veículos espaciais conhecidos pelo nome simplório de Nave Imperial. Apesar de serem um pouco lentas em termos de velocidade, eram de grande resistência e conseguiam criar danos devastadores com seus canhões. Era uma das mais poderosas armas do Mundo dos Cristais.
A Pérola, continuou a encarar o redor, e noticiou vários outros soldados de postura forte e saudável, além de bem leais, e algumas outras Jóias menores focadas em áreas aleatórias além de combate, permaneciam naquele mesmo local, rodeando a Hessonite e seguindo as suas ordens de modo delicado. Eram maioritariamente Jaspes, Ametistas, Nephrites e Rubis, cada uma delas seguiam seus papéis comuns. As Nephrites conduziam a própria nave, seguindo todas as direcções da grande superior, também tratavam de outros assuntos com esta relacionados, tais como o accionamento de armas ou estratégias evasivas. Já as restantes, serviam em parte como guardas pessoais da Hessonite, e ganhariam papéis mais relevantes durante as operações. Eram Jóias claramente fortes, guerreiras superiores e de qualidade, as próprias Jóias de seus corpos emanavam uma energia assustadora que a Pérola persentia em seu corpo.

Um pouco confusa, fora então até uma porta, a única que existia a conectar aquela sala de controlou com a restante nave, ao dirigir-se até ela, sentiu certa pressão pelas outras Jóias que encaravam-na com um olhar sério. Acelerou então o passo, e atravessou esta, encontrou-se então num longo corredor, que conectavam com inúmeras outras salas. Mais alguns guerreiros, soldados da Hessonite, estavam no mesmo a fazer determinados serviços comuns ou esperando pacientemente pelo momento da missão. Entre eles, vários treinavam com suas armas, em devidas salas específicas para tal.

Acreditou estar no mesmo corredor que a sua senhora tinha referido anteriormente, portanto, o tal chamado porão ficaria no seu fim. Agora que estava parcialmente só, adotou um ritmo pouco acelerado, encarou todos os recantos do local, não estava com pressa em conhecer todas as divisões da nave a fundo logo no primeiro dia da sua vida, já que iria passar inúmeros milénios dentro desta a servir a dona da nave, para sempre, mas era o melhor a fazer, aproveitar aquele momento para analisar tudo de modo superficial, algo que poderia permitir a realização de melhores serviços no futuro. Continuou a caminhar, carregando a tal máquina em suas mãos com cautela, observando de passagem os interiores revelados pelas portas entreabertas de todas as salas.

Foi então, que já mais no centro do corredor, passou por um pequeno grupo composto por uma Jaspe e três Ametistas. Estas caminhavam na direcção contrária, pela outra extremidade do corredor. A Pérola Rosa, então, baixou a cabeça e tomou uma pose mais reservada, no exato momento em que passou ao lado das quatro guerreiras Quartzo.

De forma consecutiva, aqueles soldados começaram a cochichar entre si, á medida que se afastavam da localização daquela Pérola, após a observarem de lado, deveras com olhares curiosos.

— Olhem só, é o brinquedo novo da nossa líder! - Exclamou uma, de entusiasmo.
— Até que é uma raridade de Pérola muito bonita, o trabalho todo da nossa Hessonite valeu bem a pena! – Analisou outra Ametista.
— Queriam o quê? O que a nossa grande líder faz era merecedor de algo assim grande como recompensa – Comentou a Jaspe, encarando as Ametistas, com uma voz pesada – Ela não é uma preguiçosa irresponsável igual a vocês.

De seguida, uma das Ametistas parou, virou-se para trás, olhando a Pérola directamente, e deu um sorriso manhoso.

— Vamos ver se a sua beleza compensa, e se ela é realmente capaz de fazer um trabalho de empregada digno.

Um chicote surgiu nas suas mãos, e esta Quartzo chicoteou o mesmo em direcção ás pernas da empregada, que se situava já a distantes metros á frente. Ele fora longo o suficiente para chegar a tal localização e realizar uma investida com sucesso.
Esta pobre criada, claramente caiu e embateu com seu nariz no chão, não esperava um golpe daqueles. E deixou, de modo lógico, a máquina pelo qual teria como objectivo, guardar no porão, cair com certa ferocidade no chão, mesmo em frente.

— AHAHAHA! Oh minha! Estou rachando! - A mesma que cometera o golpe começou a dar uma boa gargalhada depois de arrumar seu chicote ao fazer o mesmo desaparecer num brilho.
— Hei! Acabou de estragar o primeiro dia de trabalho da longa vida dela! - Comentou outra, com voz irónica entre mais risos – Coitada! Mal surgiu do solo e já pode ser estilhaçada, castigo pelo seu comportamento desajeitado!

Ainda deitada no frio chão metálico, encarou o grupo de guerreiras distantes que gozava com muita satisfação. Tentou ignorar, sem choros nem outros rodeios sentimentais, apenas manteve um olhar pensativo e ao mesmo tempo, um tanto sério
De modo imediato, pegou na máquina que deixara cair e certificou-se se estava em condições. Por sorte, a mesma não se partira com o impacto da queda, apesar do mesmo ter sido, de forma bem clara, grande o suficiente para um vidro comum acabar em mil pedaços. Só não sabia se a coisa funcionava, e se os danos foram internos, já que não sabia activa-lho, mas manteve um pensamento positivo sobre este lado do caso.

A superfície daquele corredor da nave era lisa, lisa de forma a ser escorregadia, e escorregadia o suficiente para aquela pobre empregada cair de novo á medida que tentava erguer o corpo, para prosseguir no seu dever. E tal novo acontecimento repentino fora motivo suficiente para o grupo rir ainda mais alto.

— Socorro, vou ficar mais rachada que a Diamante Rosa! - Comentou uma, quase a chorar de tanto dar poderosas gargalhadas, depois de observar a queda da pobre Pérola.

Mas pareceu que tal comentário não fora bem-vindo por parte da Jaspe e das restantes Ametistas que acompanhava aquela guerreira de bom humor. Estas, depois de pararem de forma imediata as suas gargalhadas, dirigiram-lhe um pesado olhar.

— O que foi? - Questionou a mesma, tentando se acalmar, enquanto limpava uma lágrima que escorria de seu olho.
— Mais respeitinho ai, não se brinca com isso - Comentou a Jaspe, as outras duas guerreiras concordaram.
— Não tenho culpa, o trocadilho tem muita graça! E eu sei que também estás a querer rir com essa piada, ou vais negar? - Respondeu, em sua defesa, mais uma vez, segurando o riso, além de desafiar figuradamente a outra.
— Não tem graça! - Gritou, furiosa – É algo sério! Experimenta dizer isso em frente as Diamantes, deixavas de ser um pedregulho e te transformavas em areia.
— Nah… - Esta Ametista voltou a dar uma risada – Mais areia que aquela Diamante eu não ficava, além disso, quando eu trabalhava na Terra, a própria Diamante Rosa rachava com as minhas piadas!

Tais palavras foram a gota de água, e aquela Ametista risonha acabou recebendo um bom soco na cara, seguido de puxões de cabelo e outras agressões físicas diretas, era claro que aquela Jaspe e as outras duas Ametistas tinham levado a ofensa muito a sério.
Por um lado, não era algo que se devia dizer assim de tal forma sarcástica, a Diamante Rosa fora em tempos uma figura de relevância, uma integrante da grande e honorável autoridade de Jóias matriarcas do Mundo dos Cristais, e sua memória, apesar de séculos e mais séculos depois da sua morte, ainda era honrada e respeitada por muitos.
Não fora só a Ametista que sofrera golpes, todo o local do conflito sentido, as paredes do corredor e as portas para outras salas, sofreram pesados golpeamentos e arranhões, ficando amolgadas de uma forma que parecia nem ter reparação.

Um brilho rápido surgiu, de repente, atrás das quatro Jóia desordeiras, como se fosse um portal de teletransporte que acabara de se abrir, e após poucos segundos, as Ametistas e aquela Jaspe só poderão contemplar seus corpos cederem, serem desestabilizados, devido a repentinos golpes de uma espada a uma velocidade quase supersónica. Os corpos das quatro estoiraram, suas pedras caíram no chão, e antes de voltarem a assumir a forma física, várias bolhas brilhantes como ouro as aprisionaram.

— Finalmente consegui encontrar aquelas malditas desordeiras… - A voz da Hessonite ecoou em todo o corredor.

A Pérola Rosa ergueu imediatamente o corpo, desta vez com mais cuidado para não voltar a cair, mal apercebeu-se da presença da sua superior, mesmo ao seu lado, segurando as quatro bolhas douradas, que flutuavam ao redor de sua mão direita. Já na sua mão esquerda, uma espada de lâmina fina desfez-se em luz.

— Achavas mesmo que eu iria deixar uma novata como tu andar assim, sem qualquer supervisão ou instruções, na minha nave? – Comentou ela, com um tom mais pesado, de seguida, encarando directamente os olhos da empregada.

A pobre Pérola, corou, inclinou a cabeça para baixo, fitando o chão, num gesto vagaroso, e encolheu os ombros, envergonhada, sem entender exactamente o motivo da frase.
Num movimento rápido, a Hessonite removeu das mãos da Pérola a máquina peculiar, e esta, agora entre seus dedos, receberia uma inspecção mais profunda. Agarrou com força numa parte daquele cubo rectangular, e puxou a outra para o lado, articulando esta. O simples movimento ativou um mecanismo que revelou um holograma, divulgando fotografias de raros manuscritos em uma linguagem ancestral. A Pérola evitou, quase instintivamente, ler aquelas informações, mal sabia que estava presente a uma raridade…
Com um simples toque dos seus dedos, a Hessonite tocou no mesmo, puxando as informações demonstradas para cima e para baixo para estender a sua leitura, e para os lados, mudando de fotografia. De seguida, depois de consultar grande parte das páginas, desligou a pequena máquina, articulando a peça que movera inicialmente, num movimento inverso.

— Felizmente isto não se estragou… - Suspirou ela em alivio ao devolver a maquina ás mãos daquela Jóia inferior, e de seguida, colocou a sua própria mão na cabeça dela, enquanto observava as bolhas douradas, fazendo as mesmas desaparecer ao tocar no topo de cada uma delas, puxando-as para cima – Á meses que eu andava á procura das alegadas Jóias responsáveis, por uns problemas, confidenciais, aqui na minha nave… Já desconfiava dos comportamentos destas quatro, e já sabia que grãos de areia da mesma laia delas não iriam resistir em chatear uma criada… Obrigado Pérola, foste o meu isco perfeito…

A Pérola Rosa assim compreendeu que fora, de modo inconsciente, usada como uma armadilha, para caçar guerreiras problemáticas, pouco sérias, amantes de boémia, que já não seguiam, ou já começavam a deixar de seguir, a tão cuidada ética exigida nas hierarquias da considerada perfeita sociedade das Jóias. De modo igual, estas já não se encaixavam nas exigências que a Hessonite pretendia no interior de sua nave, ela queria guerreiras sérias e não peças ornamentais inúteis que só sabiam estragar suas coisas, além de causar possíveis problemas.
Este acontecimento igualmente provara que aquela honorável Hessonite era uma líder nata, dotada de uma grande inteligência e profunda capacidade para a criação de estratégias precisas. Não seria de admirar a mesma ter conseguido um posto tão alto na sociedade do Mundo dos Cristais, e ter ganho sua própria empregada pessoal.

Repentinamente, uma Ametista apareceu, correndo, parecia ofegante.

— O que é que queres, soldado? – Questionou, com voz severa.
— Nossa clareza, finalmente chegamos ao planeta Orbmev 71! - Informou em palavras aceleradas.
— Ótimo… Vamos lá fazer mais um excelente trabalho… - Analisou, com palavras convencidas, á medida que começava a caminhar no corredor, de volta á sala de controlo - Espero que desta vez a missão corra melhor do que da última vez, pois já apanhei finalmente as Jóias inúteis que quase sempre estragavam meus planos…

A Pérola, sem compreender agora o que deveria fazer, seguiu a sua senhora e aquela Ametista de volta á cabine de pilotagem. Esta não se queixou, e até, por outro lado, aproveitou o momento para lhe pedir um serviço menor, como o simplório abrir e fechar a porta. A Pérola Rosa não tinha nenhuma outra opção senão obedecer de imediato, afinal, aquele era o objectivo de sua vida.
Sempre em suas mãos, manteve a peculiar máquina dos hologramas, que revelavam informações antigas, não sabia os motivos da Hessonite ter-lhe devolvido tal coisa, especialmente depois de este objecto ter corrido o risco de se estilhaçar totalmente quando ela deixou-o cair, no momento que tropeçou no chão do corredor desastrosamente.
Á medida que esta simplória Pérola sentia a peculiar nave estremecer ao penetrar na atmosfera do negro planeta desenhado nas janelas da nave, ela fitava o objecto rectangular, e de forma igual, não compreendeu o porquê de sua senhora não lhe ter obrigado a arrumar esta máquina no local onde pertencia, no tal cofre do porão que a mesma havia referido…

Mas uma coisa era certa, ouviu um estranho chamamento para ler as informações nestes arquivos contidas… A curiosidade, aos poucos, a consumia…