Clara sentiu-se sair lentamente de seu inconsciente. Uma leve dor de cabeça se insinuava por trás de seus olhos, por isso ela não os abriu de primeira. Com os olhos fechados, sua audição se tornou seu sentido mais aguçado; tudo estava silencioso, embora conseguisse ouvir um barulho parecido com o som de uma cachoeira. Franziu o cenho, não morava perto de nenhuma cachoeira. Estava deitada em alguma cama macia. Lentamente, as lembranças anteriores surgiram em sua mente, quase como se houvessem sido apenas um sonho. Ela e sua mãe indo ao túmulo de seu avô, as flores sendo depositadas, a dormência em seu corpo quando tocou as letras na pedra... e então tinha desmaiado. Abriu os olhos lentamente, e acabou por encarar o teto. Parecia... diferente, plano e com vigas impecavelmente entalhadas.

— Ah, você acordou! - uma voz melodiosa e feminina a assustou - Meu pai gostará de falar com você.

Clara se virou. Ao lado da cama em que estava, se erguia de forma alta e elegante uma mulher que parecia ser uma princesa. Seu rosto era lindo e delicado, com a tez pálida e os olhos de um cinza brilhante. Cabelos negros como a noite desciam pelas suas costas em uma cascata. Mas suas roupas eram estranhas. Lindas, na opinião de Clara, mas ainda assim estranhas... do tipo em que uma senhora nobre usaria na Idade Média.

— Se sente bem? - a mulher sorriu, e a examinou com os olhos.

— Eu... aonde eu estou? - perguntou, sentindo a voz rouca.

— Em Imladris, minha querida. - respondeu - Conhecida como Valfenda, na Língua Comum.

Clara, a principio, achou que havia ouvido mal, mas logo se sentiu prestes a desmaiar novamente.

— Isso é algum tipo de piada? - perguntou, rindo de nervosismo - Katie quer pregar alguma peça em mim logo hoje? - exclamou, lembrando-se subitamente de sua amiga.

— Se acalme. - a mulher tocou seus ombros - Nenhum perigo será oferecido a você aqui. Irei avisar ao meu pai que você já está acordada.

— Quem é seu pai? - a garota engoliu em seco, já sabendo a resposta - E quem é você?

A mulher sorriu. Mulher não, elfa.

— Eu sou Arwen, filha de Elrond. - ela fez um gesto para que Clara se deitasse - Descanse, meu pai virá em um segundo.

— Isso é impossível. - Clara murmurou - É impossível que eu esteja em Valfenda.

— Muitas coisas são possíveis. Meu pai irá conversar com você, Clara. - Arwen se afastou.

— Como sabe meu nome? - perguntou, mas já estava sozinha no quarto -Ótimo. Ótimo. Eu só posso estar enlouquecendo... - choramingou, esfregando o rosto - E minha mãe... talvez isso seja apenas uma alucinação, eu devo ter batido com a cabeça e logo vou acordar em um hospital com minha mãe pairando sobre mim. É.

Deu mais um riso nervoso. Aquilo estava sendo um teste para sua sanidade.

— Isso é só um sonho. Isso é só um sonho. Isso é só-

— Isso não é um sonho, Clara Tolkien. - uma voz interrompeu seu mantra - Tudo é real.